em 29/08/2003 por Hugo Montarroyos
Antes de ir direto ao assunto, gostaria de esclarecer algumas questões sobre a intenção dessa resenha. Existe uma raça um tanto quanto pérfida denominada “crítico musical”. Normalmente é um cara meio chato, com opiniões já formadas e gosto bem consolidado. no entanto, o que essas pessoas (me incluo no meio delas) escrevem não reflete a verdade. Portanto, não levem muito à sério o que escreverei e, sobretudo, não mude de opinião por conta de um reles texto… melhor tirar suas próprias conclusões e, depois, se tiver vontade, entrar no site para dar suas opiniões e até xingar a minha mãe se for o caso (embora, garanto, ela não merece tal tratamento).
Mas vamos ao que interessa. É louvável que uma escola (no caso o Colégio Idéia) promova um festival no Armazém 14 destinado a revelar novos talentos entre os estudantes. Justamente por isso, fiquei com pena de chegar um pouco atrasado e ter perdido o início da boa apresentação do Antigravity Noise Song. com o perdão da palavra um tanto forte, o som dos caras é fodaço, além de violento e cantado em inglês. O vocalista Luiz Paulo tem ótima presença de palco e o fato da banda possuir uma menina na guitarra (a tímida Cristiana) aumentou meu interesse pela performance deles. O som é pesado, bem tocado e berrado. Foi uma bela abertura para um festival bacana, bem família, onde era possível presenciar pais tirando fotos da gurizada no palco e crianças de colo movidas pelo bom e velho rock. Imagens gratificantes.
Depois foi a vez do grupo Corpus Percussivos – Tambores do Pilar mostrar todo o balanço do batuque do maracatu, afoxé e demais ritmos africanos. Bela apresentação, que soou um tanto exótica em comparação com o que ainda estaria por vir. Mas foi muito bonito ver crianças e adolescentes tocando com tamanha personalidade e atitude.
Inaugurando o palco principal, o Escravos de Jó foi responsável pela primeira roda de pogo da noite. Não esperava muita coisa deles, pois todos os integrantes pareciam recém saídos de um episódio de “Malhação”. Quebrei a cara. O show foi instigante e a banda mostrou uma pegada pesadona que entusiasmou o público. Entre recados para o pessoal do 2º ano do Colégio Geo, o vocalista Xikito “cuspia” letras de uma delicadeza ímpar. Aliás, o moço possui um vocabulário mais sujo do que a minha coleção do Nepalm Death, o que, em se tratando de rock, é um puta (ops!) elogio. Apesar de sentir um “cheiro” de Korn no ar, gostei bastante da apresentação dos caras.
“Estou tremendo aqui”, foi a primeira frase do vocalista Rodrigo, do Devônia Charlotte, enquanto a banda mandava ver “Enter Sadman”, do Metallica, na passagem de som. Apesar do nervosismo natural, o show foi legal. O Charlotte é mais um daqueles grupos que conseguem se dedicar ao emo sem cair na chatice que marca o gênero. O baterista Iuri, que tocou descalço, conduz muito bem as baquetas, e a banda conquistou fácil a platéia com músicas como “Você me Faz Bem” e “Eduarda”.
Depois, a primeira grande ironia da noite. Uma banda chamada Los Primos tocando covers do Los Hermanos. Assim é covardia…ganharam a simpatia de todos, tocaram o belo repertório dos barbudos e depois foi só “correr para o abraço”. Enquanto a banda tocava “Sentimental”, não resisti e liguei para a minha namorada, afinal, os críticos também amam…
Injustiça foi colocar o ultra competente Ala 7 no palco 2. O repertório da banda é excelente, com destaques para “Agressão” e “Adrenalina”. Sem falar nas já manjadas (e boas) versões para Raimundos ( “Andar na Pedra) e Sheik Tosado (“Toda Casa Tem Um Pouco de África”). Esses meninos ainda vão longe…
Serpente Negra fez um show tecnicamente impecável. Afinal, são dez anos de estrada, um belo time de músicos, a liderança do experiente vocalista Júnior e a percussão segura de Nino, Beto, Adnan e Edna. Vale ressaltar também que a iluminação e o som estavam perfeitos. A banda, de Peixinhos (um belo celeiro da cena pernambucana) mostrou com quanta experiência se faz um belo som “mangue”. Beirou a perfeição.
Acho que agora começarei a ser xingado. O pessoal do Limite Extenso levou o nome da banda ao pé da letra (o que talvez não tenha sido culpa deles). O som ficou insuportavelmente alto. Fora isso, o show foi correto, os caras mostraram competência e, quando já estava pronto para elogiá-los, eis que os garotos mandam um cover de “Desconfio”, do pedófilo CPM 22. Cara, é preciso ter bem menos de 18 anos para gostar do CPM 22. Aliás, analisando a letra desta música, percebi que ela tem a mesma intensidade e lirismo que as canções de Daniel e Leonardo…
Democratas fez um show curto e grosso. E competente. Os caras do CPM 22 deveriam aprender alguma coisa com eles, nem que fosse um pouco de atitude, peso e vigor. Bela apresentação que, inexplicavelmente, foi muito curta.
Quando achei que o evento tinha acabado, tive a melhor surpresa da noite. Eis que entra em cena o furioso Kronnun, de longe o melhor show da noite. Thrash metal invocado, muito bem tocado e com direito à uma excelente versão para a clássica “Troops of Doom”, do Sepultura. Literalmente, bati cabeça e fiz o sinal do metal com toda a raiva e emoção que a ocasião pede. O guitarrista Xaqui toca muito, e foi venerado por parte do público. Fiquei com a sensação de ter sido recompensado após passar um belo período apenas na base da coca-cola e de um punhado de pipoca, gentilmente cedido pela colega Juliana, da Rádio Jovem Cap.
Hora do Massacration. Os caras dos Caravellus que me perdoem, mas detesto heavy melódico. Reconheço que os rapazes são excelentes músicos, mas não tenho mais paciência para escutar nada do gênero que não seja Iron Maiden pré-1985. Pérola da noite. Um dos integrantes da banda reclamou do retorno, e pediu desculpas para a platéia, pois, segundo ele, o grupo foi prejudicado por “fatores auditivos”. Acho que vou mandar essa para o José Simão, da Folha de São Paulo.
Fechando a noite, o ótimo Rádio Carbono deve ter feito um belo show, totalmente regado pelo rockão dos anos 70. Digo “deve” porque só tive tempo de conferir as três primeiras músicas, “Rock’N Roll”, “Som de Vinil” e “Sympathy For The Devil”, dos Stones. A essa altura do campeonato, já não tinha mais pernas, fôlego e ouvidos para acompanhar o show. Quem ficou até o fim, por favor, me conte depois como foi, pois saí com a impressão que seria a melhor banda da noite. Aliás, noite que poderia ter apenas metade das bandas, pois o festival, por melhor que seja, ficou inviável com 12 bandas. Mas, de toda forma, valeu, e muito, conferir o presente e o futuro do rock pernambucano.
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