
em 18/09/2003 por Reciferock.com.br
Fotos: Braulio Lorentz e Charles Gonçalves
resenha cedida pelo PRATO DO DIA – http://www.pratododia.com.br
Noite de Lua, casa e palco cheios
Nação Zumbi no Pop Rock Café
Por Braulio Lorentz e Charles Gonçalves
Fotos: Braulio Lorentz e Charles Gonçalves
O mini-palco do Pop Rock Café – em Belo Horizonte – nunca esteve tão cheio como naquela noite de terça-feira. Sete pessoas se acotovelavam o tempo todo para fazer mais um daqueles espetáculos que entram direto para a galeria dos inesquecíveis. Era a Nação Zumbi de múltiplos sons, de múltiplos talentos. Um antenado no outro, mas ao mesmo tempo roubando a cena para si próprio; cada um à sua maneira.
Lúcio Maia, entre caras, bocas e semi-sexo, mostrou em cada momento do concerto que é um talentoso estuprador de guitarras, além de poser convicto e responsável por típicos devaneios noturnos. Não sei o que o camarada tem na cabeça, mas ele deveria estar seguindo o conselho da canção Um satélite na cabeça, décimo petardo do set. Só isso explicaria o porquê da comicamente poética frase: “Pouca gente reparou… Mas a lua tá cheia hoje. Ela está tão bonita”.
E nem mesmo uma camisa do esquete rubro-negro Sport Recife que fora empunhada por um dos torcedores da Nação ali, bem pertinho do palco e que contrastava com o desenho do Bruce Lee estampado no peito do performático guitarrista foi capaz de conter seus momentos filosóficos: “Hoje é o dia da missa de sétimo dia do Cidadão Kayne brasileiro. Temos algo pra comemorar?”. E segue então todo o discurso pertinente sobre mídia, controle, alienação, Rede Globo e Brasil.
Mas a Nação Zumbi não se resume ao sujeito que vem dominando por enquanto as linhas desta resenha. Jorge du Peixe, por exemplo, mostrou em cada momento que está cada vez mais se acostumando com o fato de ser o principal vocalista do septeto recifense. “Esta vai pro Luís Gonzaga, o pai do rock n roll”, anunciou o mais frontman da banda para em seguida dar início a uma faixa que não me lembro qual é.
E ele ainda diria depois, em tom de aviso: “Daqui a pouco vai rolar Da lama ao caos, espera um pouco aí…”, na tentativa de consolar uma das moças que pedia tal canção com entusiasmo digno de um show do Duran Duran ou The Calling.
Enquanto a tão pedida não aparecia, outras garantiam os momentos de agitação. Meu Maracatu Pesa Uma Tonelada, Blunt of Judah e Manguetown foram as que fizeram os caranguejos ali presente se afundarem de vez no caos da lama. E foi justamente nessas canções que o já potente baixo de Dengue se fez mostrar ainda mais. Os graves batiam fundo no peito e mais pareciam uma extensão dos tambores que compunham a cozinha.
Enquanto isso, entre os seres que se apertavam frente ao palco, notava-se a presença de pessoas surtadas que se acotovelam, que pisavam indiscriminadamente no pé alheio, que cantavam seu colega tímido de pratododia… E pensar que o palco estava tão ou mais saturado que a própria platéia. Lá em cima, o baixo de Dengue por vezes quase atingia em cheio a cabeça de Bola Oito, diga-se de passagem, sem boina roxa na cabeça.
O mesmo Bola Oito que minutos antes de se esquivar do golpe na moleira, resolveu ficar viajando nos cartazes da Cássia Eller que adornavam o Pop Rock Café, além de apontá-los para os camaradas da percussão zumbiniana. O cara não se importava nem mesmo com os insistentes gritos de “ÔÔ boooina, goleeeiro” e ostentava um Iml a cada palavra que cantava quando teve seus momentos de vocalista, nas canções Remédios, Zumbi X Zulu / Banditismo e Um Satélite na Cabeça.
O ápice da apresentação, entretanto, veio com a canção Manguetown, tocada antes do bis composto por Coco Dub e pela aguardada Da Lama ao Caos. Muitos não se conteram e abriram um mosh ali mesmo, naquele cubículo abarrotado de gente. E foi também nesse momento que o colega tímido de pratododia salvou a moça pisoteada, ganhando de vez sua atenção em forma de olhares libidinosos.
E depois de dezessete execuções perfeitas, esbarrões, batuques e vários devaneios que fizeram todos ali presentes literalmente implorarem por mais um, fica impossível deixar passar a brincadeira clichê: O maracatu da Nação Zumbi pesa muito mais que uma tonelada. Clichê sim, mas também uma grande verdade, de verdade. De malungo pra malungo.
Prato do Dia agradece:
Pop Rock Café (em especial a Ellen)

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