
em 20/02/2004 por Hugo Montarroyos (entrevista) e Guilherme (intro)
Bom, essa vou ter que contar… Fomos quase que intimados por Hugo pra fazer essa entrevista com o Rogério Skylab! (e valeu a pena!)
Desde que recebemos a programação do RecBeat 2004, Hugo só repete uma palavra: Skylab! Skylab! Skylab!. no começo, eu e Bruno ficamos desconfiados… afinal, Hugo tem um gosto meio esquisito (bricaderinha!)… que vai de Neil Young, Teenage Fanclub e passa por Sepultura…
Resultado, pra não ficar pra trás… tivemos que correr atrás dos cds do Rogério Skylab, e pra nossa surpresa, já na primeira audição o cara emplacou pelo menos 4 hits aqui no setlist do RecifeRock: Caçador de Passarinho, Música para Paralítico, Bunda Suja e Arrebentados. Agora, Bruno não consegue escutar uma música do Skylab sem ter uma crise de risos e pra reforçar a posição de fã, Hugo ainda completa Isso é só o cd… vocês precisam ver o cara no palco!.
Em 2 dias, aqui no RecifeRock, Rogério Skylab passou de cult-quase-desconhecido para aposta de surpresa do RecBeat! É, podem ir se preparando para surpresas… nesse momento o Skylab está à caminho do Recife junto com o pessoal do Abuela Coca do Uruguai… agora é esperar o que vai sair de mais essa viagem do cara…
Veja a entrevista com o trash, grotesco, monotemático, cult e principalmente roqueiro: Rogério Skylab… Na entrevista ele fala sobre o terceiro momento do rock brasileiro, faz um convite-apelo-de-fã para Cannibal e ahh.. curta aí:
Como você recebeu a notícia de que tocaria no Recbeat 2004 ?
Com muito prazer. Pra mim é uma honra fazer show em Recife. E isso vai acontecer pela primeira vez. Ao meu ver o rock brasileiro viveu dois momentos bem distintos: nos anos 80 (Rio, São Paulo e Brasilia) – é o “rock brasil”, onde o Circo Voador no Rio tornou-se o grande centro irradiador – estamos aqui nos primórdios do rock brasileiro, com uma cena pela primeira vez organizada; e o segundo momento, nos anos 90, com o hip-hop e o Mangue Beat – aqui, Brasília desaparece do mapa, o hip hop continua centralizado no eixo Rio-São Paulo e a novidade é Recife e adjacências. Como nós estamos vivendo hoje um terceiro momento, por enquanto “inclassificável”, acho que podemos olhar com uma certa distância o que aconteceu e concluir que a grande “diferença” no rock brasileiro, fora do eixo, foi o Mangue Beat. Tocar em Recife vai ser foda!!!!!!!
Como você acha que será a reação do público ao seu show ?
Não faço a menor idéia. Eu estou no coração desse terceiro momento que já não é mais Mangue Beat. Então eu te confesso que me sinto meio estrangeiro dentro do Rec Beat. Não sei se vai haver hospitalidade.
Seu trabalho é todo inspirado no grotesco, no bizarro. Você não tem medo de se tornar monotemático ?
Monotemático? Caramba!!!!! Será possível um artista não ser monotemático? Te confesso que esse é o meu objetivo: monotemático.
Você assume um personagem quando está em cena, ou o Rogério Skylab que está no palco é o mesmo cara do dia a dia ?
Sei lá, isso é uma confusão dos diabos: às vezes o palco invade o dia-a-dia, outras vezes é o dia-a-dia que invade o palco… de tal maneira que palco e dia-a-dia é tudo a mesma coisa e ao mesmo tempo diferente
Qual o processo de composição ?
Isso é tão importante no meu trabalho. Outro dia eu ouvi dizer que o Djavan quando vai gravar um disco, entra em estúdio sem nenhuma idéia das músicas. Á medida que vão gravando, as músicas e as letras vão nascendo.
Comigo, isso seria impossível. Primeiro porque quem custeia os meus discos sou eu mesmo – e não dá pra ficar gastando tanto tempo em estúdio. Em segundo lugar, e talvez seja esse o motivo mais importante, “fazer música” é algo vital. É uma distração, é um desvio, é uma alienação, é uma transcendência. É solitário. É a etapa mais importante de todas.
O que você está preparando para o show ? Como será o show ? Tocará alguma música nova
O show é apenas 45 minutos. Então vai ser condensado – como eu gosto de fazer. Músicas novas? Como em todos os shows. O palco é um laboratório. Ali as músicas são testadas. 50% de músicas novas. Gostaria muito também de chamar o Cannibal pra dividir comigo um número do show (não sei se vou conseguir, eu não conheço pessoalmente o Cannibal). Se esse apelo pudesse chegar até ele. É que as coisas vão ser muito corridas: eu vou de ônibus, meu velho. Devo chegar sábado e domingo é o meu show, não vai dar pra conversar direito com as pessoas. Mas Canibal é meu ídolo, é como um personagem meio mitológico. Se eu ver o cara, sou capaz de tremer.
O que você acha de tocar na mesma noite com bandas de estilos totalmente diferentes ? Rola alguma apreensão ?
Tocar com bandas de diferentes estilos não rola pra mim nenhuma apreensão. Tenho muita curiosidade em ouvir o EDDIE – vai ser no mesmo dia que eu vou tocar. Mas apreensão vai rolar mesmo se por uma acaso o Cannibal entrar no meio do meu show e fizer um número comigo. Aí vai ser foda, meu irmão.
Você saberia dizer qual o perfil do seu público ?
O perfil do meu público? Punheteiro, dona de casa, advogado, militar, professor de matemática, comerciante, universitário, aposentado, menininhas entrando na puberdade, patricinhas e mauricinhos, maluco, diletante, dinossauros do rock e coisas afins.
Qual show do Recbeat você tem curiosidade de ver ?
Não tenho nenhuma curiosidade em assistir NAÇÃO ZUMBI. Graças a Deus que o “CORDEL” está fora do REC BEAT. Quero ouvir Eddie, Devotos (por causa do Cannibal) e essa turma aí do Piauí e do Recife que eu não conheço ainda. Esses uruguaios vêm comigo no ônibus: espero chegar vivo em Recife. Quanto a Lan Lan… bem, a Lan Lan… é, a Lan Lan.
Qual será o set list ? Vai ter MATADOR DE PASSARINHO, MOTOSERRA, CONVENTO DAS CARMELITAS E FUNÉREA ?
No meu set list tem: Motoserra, Convento, Matador de Passarinho. Funérea não. Derrame tem. Algumas do último, por exemplo: Parafuso na Cabeça – essa inclusive tem clipe e já rolou na MTV. E uma porrada de outras desconhecidas.
O que você conhece da música pernambucana ?
Cascabulho, Mundo Livre, Chico Science e Nação Zumbi, Devotos, Não sei o quê do Coco (uma senhora), Eddie, Otto, DJ Dolores, Cordel…
É isso, valeu! Se quiser acrescentar algum comentário, fique à vontade!
Pra concluir, te confesso que gosto de dar entrevistas via e-mail. As que eu dei via gravador, acabaram me gerando alguns problemas: a questão está na edição da entrevista; uma vírgula mal colocada, um ponto fora do lugar, pode provocar verdadeiros estragos. Por e-mail, esse problema desaparece.
Outra coisa: esse terceiro momento do rock brasileiro, a que me referi no início da entrevista, e que se situa no século XXI, ao meu ver, é uma trilha aberta pro desconhecido. Não é Mangue Beat, não é hip hop, muito menos MPB, muito menos indie rock – essa coisa nojenta situada no sul do país e que é pura cópia de modelos tais como Who, Beatles, Weezer, Clash… Desse mal vocês não padecem.
Um beijo pra todos
A banda de Rogério Skylabo é formada por Thiago Amorim (guitarra), Alexandre Guichard (violão), Rodrigo Sá (baixo) e Bruno Vieira (bateria). Eles tocam no domingo no Recbeat 2004.
Para conhecer mais Rogério Skylab, visite o site do cara…

Links:
» Site do Rogério Skylab
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