Recbeat 2004 (Quarto Dia)

Por Hugo Montarroyos em 24 de fevereiro de 2004

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RECBEAT 2004 (QUARTO DIA)
data: 24/02/2004 (Terça) – local: Cais da Alfândega
com Nação Zumbi, Abuela Coca (URG), Bojo e Maria Alcina (SP), Samba de Coco Raízes de Arcoverde e Zambo
Resenha por Hugo Montarroyos – Fotos por Guilherme Moura e Bruno Negaum

Nação Zumbi encerra Recbeat 2004 com show memorável
em 24/02/2004 por Hugo Montarroyos

Pelo fato do RecifeRock ser um site que trata essencialmente de rock, achei que a cobertura do última dia do Recbeat seria difícil pra gente. Afinal, quase todas as atrações de certa forma trabalham com ritmos regionais, o que acabou gerando um certo relaxamento de minha parte, sem falar no cansaço natural de tantas noites sem dormir e de sonos pouco reparadores durante o dia.

Bem, assim sendo, confesso que não vi a apresentação do Maracatu Estrela Brilhante, comandado por Siba, do Mestre Ambrósio. Em compensação, ouvi tudo do backstage. Achei muito engraçado a hora em que o grupo mandou ver o tema dos Flintstones, acompanhado pelas batidas do Maracatu.

Não entendi patavina do espetáculo teatral “Zambo”, que mistura dança pós-moderna, batuques regionais e, lógico, teatro. O público aplaudiu bastante, especialmente os momentos dedicados à capoeira. Não consegui ver relação nenhuma entre o “Zambo” e o festival, mas a platéia curtiu, o competente grupo não fez feio e todo mundo ficou satisfeito no final das contas. Mas continuo sem entender. Vai ver que Tico e Teco já estavam cansadinhos no último dia de trabalho.

Acho que não existem palavras no dicionário capazes de descrever o que foi a apresentação do Samba de Coco Raízes de Arcoverde. com um peso fora do comum provocado pelas batidas dos pés do integrantes no palco (!) e pelos instrumentos de percussão, os sertanejos provaram que, como já disse Euclides da Cunha, “O nordestino é, antes de tudo, um forte”. Atrás do palco, os integrantes do uruguaio Abuela Coca e do carioca Bojo viam tudo de queixo caído. A recepção da platéia foi extraordinária, tanto que, pela primeira vez em todo Recbeat 2004, uma banda teve direito a bis. Acho que nunca fiquei tão orgulhoso de uma atração local. Foi talvez o momento mais bonito da história do Recbeat. Quem testemunhou, sabe que não estou exagerando. Nunca pensei que o coco pudesse ser tão pesado e tão contagiante ao mesmo tempo. A imprensa que cobria o festival, particularmente a de outros estados, ficou boquiaberta. Acho que o xenófobo Ariano Suassuna ejacularia pelas narinas se tivesse presenciado a apresentação do grupo. Pra mim, o melhor show deste ano!

Bojo e a veterana Maria Alcina tiveram que se desdobrar para manter o público no estado em que este foi deixado pelo Samba de Coco Raízes de Arcoverde. Especialmente Maria Alcina, que pulou, dançou, desfilou e fez o possível e o impossível para ganhar a galera. E conseguiu. Embora sua animação contrastasse com o freio de mão puxado do Bojo. “Fio Maravilha”, de Benjor, foi o ápice da apresentação deles. Maria Alcina transborda simpatia. Disse que se estivesse 20 quilos mais magra, tiraria a roupa. Afirmou que estava sentindo uma “quentura na bacurinha” para, finalmente, anunciar em alto e bom som: “GOZEI!”. Maravilhoso. Tanto que a platéia pediu bis, e a banda mandou “Kataflan”, estranhíssima canção que, mais estranho ainda, funcionou ao vivo. Muito por causa de Maria Alcina., é bom que se diga.

Meu chapa Guilherme achava que o Abuela Coca estava com a vida ganha. Segundo meu colega, a galera queria festa, e a banda pegaria carona na expectativa do público em ver a Nação Zumbi. Já eu tinha outra teoria. Por que diabos um público essencialmente composto por fãs da Nação iria receber de braços abertos uma banda uruguaia da qual nunca ouvira falar e que sequer conhecia uma música ? Acho que o Abuela teve sim seus méritos. de minha parte, não imaginei nunca que uma banda uruguaia tivesse um negro rastafari como vocalista. Achei genial! A banda mistura ska, hardcore e ritmos latinos, e fez uma apresentação digna. Os caras, que não são bobos, chamaram o time de percussionistas da Nação Zumbi para uma canja. Pronto, a partida estava ganha. Foi um bom show, embora a platéia estivesse visivelmente se poupando para a apresentação da Nação.

Como toda boa banda profissional, a produção da Nação Zumbi não permitiu a entrada de ninguém no palco. Resultado; tive que correr para o fosso destinado aos fotógrafos para poder ver a apresentação dos caras. Pela primeira vez na vida senti na pele como é difícil o trabalho dos seguranças.

A banda entrou em cena e abriu o show com “Mormaço”. Lúcio Maia estava hilário fantasiado de Hendrix, assim como Jorge du Peixe vestido de Talibã e Dengue de indigente, com uma faca “perfurando” o crânio. Foi um show estúpido de bom, mas ninguém esperava outra coisa da Nação. Destaques para “Macô”, “Banditismo por Uma Questão de Classe”, “Um Satélite na Cabeça” (responsável pela abertura de uma roda de pogo), “Meu Maracatu Pesa Uma Tonelada”, “O Cidadão do Mundo” (minha preferida da Nação) e “Manguetown”.

Só que, aos 44 do segundo tempo, houve uma puta briga no meio do público que quase estragou a festa. Jorge du Peixe fez um apelo sincero para que a galera parasse com o tumulto, pois ele não queria ver ninguém machucado, muito menos sua filha, que estava no meio da galera. Após a intervenção da polícia e de pedidos de calma de Gutie, a banda voltou a tocar. Eu, que gosto da muito da Nação Zumbi mas não estava disposto a morrer por ela, corri para os bastidores, e presenciei a cena mais engraçada do mundo; jornalistas, produtores, músicos de outras bandas e descolados em geral dançando ao som de “Da Lama ao Caos” e “Umbabarauma” (nessas duas músicas, Zeroquatro da mundo livre S/A, subiu no palco para uma canjinha). Muito legal. E foi o fim do Recbeat 2004.

Queria registrar o esforço de uma galera que rala pra cacete nos bastidores para que tudo dê certo e, ao final do evento, permanece no anonimato. Me refiro ao trabalho dos seguranças, técnicos de som, roadies, iluminadores, assessoria de imprensa e produtores. Se o Recbeat 2004 foi tão bom, muito desse resultado final é fruto do trabalho dessa galera. Sem outras palavras que expressem melhor qual foi a minha sensação após quatro noites de trabalho, me limito a dizer que foi “do caralho”. Até 2005!

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Links:
» Nação Zumbi no RecifeRock
» Samba de Coco Raízes de Arcoverde no RecifeRock
» Site da Abuela Coca

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