em 21/05/2004 por Marcelo Benevides
Prólogo
Na primeira noite da 6ª edição do MADA (Música Alimento da Alma) , que começou em Natal (RN) na quinta-feira, 20, e terminou no último Sábado (22), muita coisa já tinha acontecido desde a minha chegada à Arena do Imirá, para onde o festival transferiu-se neste ano. Tinha garantido um apoio para a hospedagem – com alimentação inclusa, segundo o assessor do hotel – e só quando cheguei ao hotel, cansado de cinco horas de viagem e com pouquíssima grana no bolso, descobri que a comida não ia mais ser cedida gratuitamente. Detalhe: Um cheeseburger com refrigerante não saía por menos de R$ 11. Já morrendo de fome (não tinha comido nada além do café da manhã, em casa), decidi traçar um pastel na própria arena, só que a dona de uma das lanchonetes achou que eu queria passar uma nota falsa de R$ 5 e não aceitou o meu dinheiro – terminei encarando uma pizza com dois dedos de óleo, comprada com a mesma cédula que a “gentil” tia não queria aceitar.
Todo esse longo blá-blá-blá (que, por sinal, está bem resumido, até) é para citar aquela velha história que dizem que o estado de humor do jornalista influencia totalmente na sua crítica. Tentei esquecer essa teoria, juro. O máximo possível.
Primeira Noite – Na Cidade do Sol, Derrick Green é rei
Na abertura do evento, com a Parole , de Mossoró (interior do Rio Grande do Norte), senti um imenso dejá-vu. Mistura de ritmos regionais, percussão e pegadas pesadas de bateria e guitarra não soam mais como novidade. É preciso ter um grande diferencial para poder se destacar, o que, mesmo com a boa presença de palco do vocalista, não é o caso dos caras.
Pouco antes de entrar na Arena do Imirá (que fica colada ao hotel de mesmo nome, na Via Costeira), já tinham me falado bem da local Funk Samba Soul , a segunda atração. O nome do grupo já dá uma idéia do que se trata – letras à moda de Jorge Ben e levadas roqueiras, misturadas com samba, que às vezes lembram a Eddie, de Olinda (PE). O power trio adicionado de percussão deu uma geral no repertório do último disco, Descarrego. Apesar da boa performance, o público não parecia dar muita bola, sem mesmo bater palmas, estranha atitude que se repetiu em vários outros shows de bandas locais até o final do festival.
Outro dejá-vu veio logo em seguida, desta vez de maneira mais descarada. Os paraibanos da Star 61 carregavam nos enfeites, maquiagens e posturas andróginas, fazendo lembrar figuras como Bowie na fase do Ziggy Stardust e Marc Bolan, do T. Rex.
A Jane Fonda e a Peixe Coco , ambas de Natal, fizeram uma seqüência mais do mesmo na abertura do festival. Enquanto a primeira alternava-se entre flertes com o – tão em voga – new metal e baladas, a segunda unia hip hop ao rock da mesma forma que o Rappa e Planet Hemp fazem há anos.
Tendo lançado recentemente um disco independente, a Bugs (RN) fez um show competente. Rock básico com influências diversas, do britpop à psicodelia e harmonia de bandas como Secos & Molhados e Mutantes é a fórmula certeira do grupo. Uma curiosidade: em quase toda a apresentação, os telões não transmitiam as imagens da apresentação, e sim propagandas dos anunciantes do evento, prejudicando o conjunto. O rap entrou em cena em seguida, com o aclamado Agregados FDR , que apesar de tocar para os ansiosos fãs do Sepultura, mostraram-se fortes em palco, com a presença de B-Boys e mensagens sociais.
Derrick Green e companhia fizeram seu primeiro show na capital do Rio Grande do Norte. 10 mil pessoas, de acordo com a organização, lotaram a Arena do Imirá para prestigiar o grupo, que também não deixou por menos e mostrou um repertório que contemplou vários momentos da trajetória da banda. No setlist, músicas do Morbid Visions (Troops Of Doom), Beneath The Remains (Inner Self) e Chaos A.D. (Slave New World e Propaganda), além de composições do Roorback. O único problema era o altíssimo volume do som do lounge do camarote, localizado acima da platéia (claro), que incomodava quem estava a fim de curtir o show dos mineiros – não eram poucos. Derrick Green ainda cantou com Falcão, vocalista do Rappa (que encerrou a noite), na apresentação do grupo carioca, em Ninguém Regula a América.
Segunda Noite – Para Lulu, música não combina com política
Diferente da noite abertura do festival, o público demorou a encher a arena quando as primeiras apresentações começavam. Afetada pelo pouco número de presentes, a Moonganjah (RN) convocava, em vários momentos, o público, que até chegou perto mas não chegou a ser contagiado. A banda parecia meio perdida, começou com intervenções poéticas, continuou com (muito) reggae e finalizou com baião, sempre citando a cannabis e a luta contra a “caretice”. A Pangaio (RN), que tocou em seguida, deu início a uma sessão de “cultura popular moderna”, a primeira definição que me veio à cabeça. O grupo começou como integrante de uma companhia de dança em 2001, misturando scratches, poesia, artes plásticas (a temática do show era a água) e instrumentos regionais como berimbau e percussão.
Na seqüência, mais rock n’ roll do bom. Direto do Piauí, a dupla Lado 2 Estéreo (guitarra e bateria) traz dois ex-integrantes da banda de metal extremo Monasterium. Agora, no entanto, a proposta é misturar sonoridades roqueiras ao samba. Elementos eletrônicos também aparecem, mais de leve. Seria como se Jon Spencer Blues Explosion encontrasse Jorge Ben no final dos anos 60. Além das músicas próprias, fizeram uma versão de The Model (Kraftwerk), nos mesmos moldes do Big Black.
Depois de uma série morna com Uskaravelho, Ramirez (cuja música mais aplaudida foi um cover de Esqueça, gravada por Roberto Carlos) e Dub da Loca , mais uma boa surpresa, com a apresentação do Los Canos (BA). Os caras (com backing vocal feminino) fazem rock com letras de amor propositadamente bregas – não é à toa, tocaram Estou Amando Uma Mulher, do grupo gaúcho Cascavelletes.
Chico Correia & Eletronic Band foram responsáveis pelo momento mais experimental da noite. Misturando ritmos regionais com efeitos eletrônicos, os paraibanos ainda faziam viagens nos telões, com inversão de cores das imagens e gravações do bando de Lampião e Maria Bonita.
Os shows de Lulu Santos e Marcelo D2 foram bem previsíveis. Lulu dividiu bem o repertório privilegiando músicas antigas como Condição, O Último Romântico e Adivinha O Que. Em alguns momentos, vestiu suas composições com arranjos eletrônicos, como em Tempos Modernos. Foi aplaudido quando xingou o DJ do – já citado – camarote que incomodava todo mundo e, “curiosamente”, foi vaiado quando dedicou seu show à governadora do Rio Grande do Norte. Marcelo D2, por sua vez, esticou sua presença até as últimas horas da madrugada, ainda dando uma canja como DJ na tenda eletrônica montada na Arena do Imirá.
Programação Completa:
quinta (20/05) – Parole (RN), Funk Samba Soul (RN), Star 61 (PB), Jane Fonda (RN), Peixe Coco (RN), Bugs (RN), Agregados FDR (RN), Sepultura (MG) e O Rappa (RJ)
sexta (21/05) – Moonganjah (RN), Pangaio (RN), Lado 2 Estéreo (PI), Uskaravelho (RN), Ramirez (RJ), Dub da Loca (RN), Los Canos (BA), Chico Correa & Eletronic Band (PB), Lulu Santos (RJ) e Marcelo D2 (RJ)
Clique na foto abaixo para abrir a PopUp com as fotos do MADA 2004:

Links:
» Site de Chico Correa & Eletronic Band
» Site da banda Lado 2 Estéreo
» Blogger da banda Jane Fonda
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