
Faixa a Faixa
em 20/06/2004 por Ricardo e Joaquim (Habagaceira)
Faixa a Faixa: Habagaceira – Parto (Farto de Espera) 2004 – Independente
Por Ricardo Mello e Joaquim Pessoa (vocalista/guitarrista e baixista da Habagaceira)
01 – Lento Convecimento (por Ricardo Mello)
“…é o 1º verso de uma canção do 1o cd (chamada “3 ponteiros”) e virou título desta música por questões de parentesco e continuidade. Achei as idéias de uma letra inacabada de Joaquim perfeitas, para então acrescentar trechos raivosos no estilo ultra-sincero de Bob Dylan, que eu reservava especialmente para um acerto de contas… Já existia a melodia feita no meu piano desafinado. Na verdade, os cortes e ajustes que fiz na letra de Joaquim foram direcionados a uma ambigüidade. De qualquer modo foi essa a motivação inicial: falei sobre viradas de mesa, falsidades mascaradas, competições inúteis, confrontos desnecessários, conflitos baratos, maus perdedores etc. A música não se resume a isso. Como o episódio ocorreu em 2000, hoje, em 2004, só provoca risadas. Fábio canta alguns versos reforçando-os. Daqui também saiu o nome deste cd: PaRtO…”
02 – Madrugada (por Ricardo Mello)
“… após 4 dias lendo sem parar as 700 páginas da auto-biografia de Paul McCartney fiz esta música ainda na última página do livro. Foi no dia 06 de Julho de 2000. Os versos vieram 1 mês depois, quando retornava de um show. Fabinho deu preciosas sugestões na hora H. Na introdução há o inesperado cavaquinho tocado por Joaquim…”
03 – A Perda de Cada Vitória (por Joaquim Pessoa)
“…nasceram juntas, a letra e a música. Fala sobre a incompletude da alegria ou da nostalgia associada a toda circunstância feliz por senti-la fugaz. Como Ricardo e Fabinho se atrasaram para o ensaio, eu e Rildinho tivemos que nos bastar, assim o arranjo nasceu da guitarra e da bateria. Cheio de vazios. Depois de gravarmos o corpo da música, colocamos por cima uma base acústica que terminou sendo usada no final, alternando com a original. Dentre vários, esse foi o melhor take pra essa música, mesmo com a segunda corda da guitarra desafinada…”
04 – Nu (por Joaquim Pessoa)
“…revés de uma canção de ninar. É dedicada à memória do compositor Cândido das Neves…”
05 – Dia de Acordar (por Joaquim Pessoa)
“…feita na volta da última viagem ao Rio, a letra fala de um lugar. Um lugar de aparências, egos inflados, mas de uma beleza arrebatadora. Tendo do outro lado um lar, um dia a dia. Talvez um paralelo entre Rio e Recife, ou talvez não. O lugar talvez fosse dentro da gente. Tudo aquilo que se viveu. Atração e medo. Atração por acordar pra viver novos dias. Medo de expor sonhos e ansiedades… ”
06 – Normal (por Joaquim Pessoa)
“…um quase samba sobre a permissão da loucura. Foi gravada como foi criada…”
07 – Sofia (por Ricardo Mello)
“…freqüentemente elaborava os versos separadamente das melodias. Parecia complicado executar de uma só vez um começo-meio-fim. Após a leitura do “mundo de Sofia” na quarta-feira de cinzas de 2000, fiz esta num só ato pela 1a vez – algo estranho/emocionante. Ouvia diariamente, na época, a banda ‘Savoy’…”
08 – Enterrando Sonhos (por Ricardo Mello)
“…Joaquim trouxe a 1a metade pronta. Rildo deu o título, cada um contribuiu com um dos quatro versos finais. A insistente capacidade de sorrir do sertanejo inspirou a letra. O desafio foi não falar de seca, chuva e sertão. Essa foi a primeira a ser composta, e não apenas arranjada, pela banda conjuntamente. Foi uma sensação nova vê-la surgir. Talvez ela seja a mais filha das filhas…”
9 – Ainda (por Fábio Pedrosa)
…Ainda (ou Ainda Comeremos Maçãs, como preferir) fala de política; da infeliz desconfiança eterna na máquina estatal. Compus a música depois de ver em algum noticiário mais uma trapalhada jurídica. Mostrei essa música à banda numa ida à Maceió. Início da noite. Aquela hora da viagem em que todos acordávamos após um cochilo no ônibus. Inspirei-me numa música de Sarah Mclachlan, “Wait”, em que a bateria é toda atravessada. Durante os ensaios, eu e Rildinho tratamos de desengonçá-la. Não tentem fazer isso em casa…”
10 – Meus Olhos Ardem (por Ricardo Mello)
“…outra feita no piano. Era bem devagar. Fiz a letra antes de um show, em Natal, ainda no começo de 2001. Fala da infinita capacidade de adiar. O desenho da 2a voz que Fábio faz, completa o tom geral da música. Felizmente as palavras não são as coisas, e nem nos resumimos ao que falamos…”
11 – Agressão #1 (por Ricardo Mello)
“…certamente é a mais engraçada do cd. Quando a tocávamos ao vivo me dava calafrios. De fato, é uma ode megalomaníaca e egocêntrica. Fala do paradoxo insolúvel que é o de querer ser livre na criação e ao mesmo tempo preocupar-se com a receptividade do público. Realista por outro lado. Foi um desabafo transparente sobre o fato de não só fazer alguma arte mas de vivê-la da raiz dos dentes ao fundo da carteira nas 24hrs do dia. A parte musical interage com as palavras espantando o ouvinte até ele rejeitar a canção. Convidamos Léo D. e William P. (MAD MUD), para acrescentar algo eletrônico. Pensávamos na luta dos artistas em geral e na relação entre fama & talento. ‘Adorei ser odiado’ é mesmo uma excentricidade de dar cócegas…”
12 – Desapego (por Ricardo Mello)
“…acrescentei poucas palavras a uma letra de imagens sugestivas de Joaquim. Estava ouvindo Billy Holiday e daí o tom as vezes melancólico da música. Apesar da letra falar sobre desistências, a ênfase é numa ‘nova inspiração’. Começamos a trabalhar nela na tarde que antecedeu a 1a viagem para as seletivas do Rock’n’Rio 3 (ainda em outubro/2000). Quem toca o violoncelo é Michele Pimentel…”
13 – Urgência (por Ricardo Mello)
“…a música é tão velha, acho que de 1997, quando ouvia muito “The Who”. Após ler biografia de Albert Camus, já em janeiro de 2001, andei uns 35 minutos até a casa de Joaquim escrevendo a letra pelo meio da rua. Sem fronteiras ou medidas! Era o momento mais livre nos shows, porque falava da desgraça glorificada. Ela tem aquele hálito dos pântanos de Memphis, terra do Elvis (hahaha). Camus, pensador do absurdo e da exploração total dos instantes impulsionava minhas inquietações. Instintos desesperados guiados pela dança até à rouquidão. Era sempre intrigante acompanhar as transformações que a música sofria quando processada por nós quatro juntos…”

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