![]() MOMBOJÓ E JARDS MACALÉ NO PROJETO SEIS E MEIA data: 12/10/2004 (Terça) – local: Teatro do Parque com Mombojó e Jards Macalé Resenha por Hugo Montarroyos – Fotos por Joli Campello |
em 12/10/2004 por Hugo Montarroyos
É impossÃvel não estabelecer algumas comparações entre a última edição do VMB e o fenômeno protagonizado por Mombojó e Jards Macalé no “Projeto Seis e Meia”. Se a festa da MTV foi marcada por representar tudo que existe de mais capenga, falido, chato, desnecessário e horroroso da atual produção pop nacional, o “Seis e Meia” conseguiu mostrar o outro lado da moeda; juntou o expoente da pós-modernidade representada pelo Mombojó aliado ao Ãcone da vanguarda brasileira, Jards Macalé. Só a existência dos dois derruba todos os produtos empurrados goela abaixo pela MTV e suas gravadoras de meia tigela que fabricam artistas de talento no mÃnimo duvidoso.
O Teatro do Parque estava lotado. Lotação creditada em boa parte ao público do Mombojó, cada vez mais em expansão. Depois da exibição do estanho e lindamente tosco clipe de “Adelaide” (que inclui a participação da banda no programa horripilantemente brega de Pedro Paulo, entre outras cenas inusitadas), o grupo ataca com “Deixa-se Acreditar” . DelÃrio geral, noise na medida certa e a certeza de que tudo correria a favor do Mombojó. Na seqüencia, a melancólica e LupicÃnio Rodriguiana “Merda” dá a deixa para “Adelaide”. Partida já ganha, e de goleada, ainda que estivéssemos apenas nos 15 minutos do primeiro tempo.
O Mombojó mandou uma versão de arrepiar de “Cabidela” e, mais uma vez, desconstruiu “JuÃzo Final”, do genial Nelson Cavaquinho. Tocaram ainda a pouco óbvia “Amor de Muito”, de Chico Science e Nação Zumbi. Mas os melhores momentos do show foram “Faaca”, em versão psicodélica e destruidora, e a incendiária “A Missa”. O Mombojó está amadurecendo ao vivo. Seus integrantes estão ganhando uma presença de palco fora do comum. E, sim, eles continuam sendo uma tremenda luz no fim do túnel da cada dia mais sofrÃvel música pop brasileira.
Já Jards Macalé fez um show intimista e comovente. Amparado por um telão que exibia trechos de filmes de Glauber Rocha e Nelson Pereira dos Santos dos quais participou (Macalé fez a trilha sonora e atuou no clássico “O Amuleto de Ogum”, de Glauber, e se encarregou de boa parte da produção musical de “MacunaÃma, de Joaquim Pedro de Andrade). Munido apenas de banquinho e um violão neurótico, Jards provou que é mais ácido do que muito moleque pseudo revoltado. Cantou a hilária “Acertei no Milhar”, música dos geniais Wilson Baptista e Geraldo Pereira e imortalizada na voz de Miriam Batucada. Ainda deu-se ao luxo de interpretar o samba revolucionários “Favela”, de Padeirinho e Jorginho. Empunhou “Puntos Cardenales”, parceria com Jorge Mautner baseada em discurso de Fidel Castro. Ainda houve tempo para o lirismo de “Movimentos no Barco”, e a apresentação de “Negra Melodia”, primeiro reggae a ser gravado no Brasil, lá pelos idos de 1973.
Mas o melhor ainda estava por vir. Macalé chama ao palco o pessoal do Mombojó. Juntos, fazem uma versão atabalhoada e comovente de “Vapor Barato”, música que já havia sido tocada outras duas vezes por Jards durante a noite. E, em momento surreal, o vocalisra Felipe S diz, sem qualquer falta de respeito ao mestre: “Agora você vai tocar uma música nossa”. O Mombojó capricha nos acordes de “Deixa-se Acreditar”, e um alucinado Macalé levanta-se para gritar “Esse é o reino da Alegria” (única parte da letra que sabia cantar) durante toda a canção. Momento marcante e histórico, terminando no fraterno e sincero abraço entre o veterano Macalé e a promessa Felipe S.
Fica a lição para a MTV. O improviso ainda é o melhor remédio para a falta de criatividade de seus produtos (os artistas bancados pela MTV não passam de mero produtos descartáveis, coisa que ficou mais do que provada na exibição do último VMB).. Se a jam entre Macalé e Mombojó tivesse sido ensaiada, perderia a graça, ficaria orfã do elemento surpresa. Foi o encontro perfeito entre a nostalgia e o futuro, entre gerações distantes que rezam pela mesma cartilha; a da autenticidade provocada pelas “Lombrações espontâneas” defendidas por Felipe S. Foi uma quÃmica de gerações das mais bacanas, sem produção pentelha, sem forçada de barra, sem maquiagem, exatamente como a vida deveria ser…Quem viu, sabe do que estou falando. Aos que não viram, no VMB 2005, ao invés de ligarem a televisão, coloquem para tocar os discos de Mombojó e Jards Macalé. Seus cérebros e almas agradecerão.

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» Mombojó no RecifeRock
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