em 20/11/2004 por Breno Mendonça
Segunda noite das semifinais do Microfonia. Se no primeiro dia apenas o Comuna Experimental fugia um pouco da proposta das demais bandas, o que marcou o segundo dia foi a maior variedade de estilos que o dia anterior. Rock’n’Roll clássico, jovem guarda, eletrônicos, punk e até hip-hop. A variedade, porém, não foi sinônimo de qualidade e de público, que foi bem minguado. A ordem das apresentações foi The Insites, Advogados’ MC’S, Physalia, Chambaril, Volver e Del Chifre.
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O The Insites começou sua apresentação com uma difÃcil tarefa. Tocar seu rock’n’roll cru e direto para quase ninguém. Pela vibe do som dos caras a interação com o público é vital para um bom desempenho no show. O público do sábado foi pequeno e na hora do Insites era menor ainda. Isso os prejudicou muito. Antes do grupo subir ao palco conversei com o baterista Gilvandro e ele me disse que aquela seria a segunda apresentação deles. E isso ficou nÃtido depois. Falta a eles uma manha, que se adquire com o tempo mesmo e com shows. Os caras pareciam meio verdes. Mas agitaram bastante. E conta a favor deles que suas músicas são legais. Eles resgatam bandas como The Who, MC5, Rolling Stones em canções onde a sujeira das guitarras é um elemento primordial. Bom show, mas dificilmente eles entram. Pelo menos ficaram mais conhecidos.
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O Hip-Hop também teve seu espaço no Microfonia. Pena que a escolha do representante do estilo não foi a mais acertada. Porque acredito que existam grupos de Hip-Hop bem melhores que o Advogados MC’s em Pernambuco. Boas bases contam muito no resultado das músicas e eles têm algumas bem legais. Mas o grande lance do rap está justamente na mensagem das letras, sejam elas de cunho social ou de diversão. E se essas letras, ou versos, são fracos como no caso do Advogados, então tudo vai por água abaixo. A música ‘Vai Vendo’ é o melhor exemplo disso: as rimas são fracas e sem criatividade. É aquele discurso de dez em dez grupos de rap nacional. As mazelas da periferia e toda a injustiça social. Muito válido, mas como isso é um concurso de música então eles ficaram devendo. Sem falar que quando tentaram botar uma melodia no vocal foi um desastre. Dizer que eles desafinaram é pouco. Se houver algum critério de qualidade musical, eles não entram.
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Provando que o primeiro dia reuniu bandas melhores, tivemos na sequência o Physalia. Cara, essa realmente não entendi… Como foi que essa banda entrou nas doze finais… O pior é que as meninas não têm culpa. São até esforçadas e parecem se divertir muito. Mas não é justo para com as outras 376 bandas que ficaram de fora. E não estou exagerando não. Elas mal conseguem tocar seus instrumentos. Mal conseguem cantar com o mÃnimo de afinação. E isso com quatro anos de existência, como a vocalista disse durante a apresentação. Precisam comer muito feijão com arroz ainda. Quem sabe daqui a mais quatro anos elas estejam no ponto.
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Hora da incógnita Chambaril. No dia anterior conversava-se que o ‘chefeÂ’ do Chambaril, Cláudio, estaria doente e não viria para sua apresentação. Pois foi exatamente o que aconteceu. Apresentaram-se Pierre e Igor, a formação ‘reservaÂ’ da banda. Munidos de toda uma parafernália eletrônica os caras sentaram no meio do palco e assim ficaram durante as três músicas. ‘Setembro’ é só piração – batidas, teclados, colagens de músicas, psicodelia. Uma piração ordenada. O cover do Iron Maiden ‘The Trooper’ foi o mais curioso do concurso, com um arranjo que mais parecia música de videogame das antigas. O trabalho deles é interessante, mas cai no mesmo problema do Comuna Experimental. Em meio a tanta guitarra fica difÃcil do Chambaril chegar as finais.
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A noite estava deveras vacilante com apenas dois shows bons, mas que não chegaram a empolgar tanto, e dois ruins. A Volver chegou com a moral de ser um dos favoritos e com responsabilidade de melhorar o nÃvel das apresentações. E foi isso que se viu. O clima jovemguardiano tomou conta do Borracharia. Ficou clara a diferença de qualidade do Volver em relação aos outros grupos da noite. Os caras estão em outro patamar. É visÃvel. E isso deve ter contado muito a favor deles, já que se destacaram sozinhos. Com a recente mudança de baixista, a banda deu um upgrade considerável. O novo baixista Fernando toca melhor e ainda faz uns backings espertos. A diferença pôde ser sentida mais fortemente na ótima ‘Máquina do Tempo’. A outra tocada foi ‘Você Que Pediu’, um verdadeiro hit dos shows deles, mas que até quem não conhece se diverte. E diversão é a palavra chave do Volver. O show deles tem clima de festa, de celebração. Eles são bons mesmo e merecem passar para as finais.
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Fechando a noite na qual somente uma banda brilhou, era hora do Del Chifre. Som redondo, muitÃssimo bem ensaiado, presença de palco segura e até vibrante, ótimos músicos. O Del Chifre tem tudo isso. O problema deles é que o Charlie Brown Jr também tem. O Tihuana também tem. O Detonautas também… Esse discurso de sol-mar-e-praia, aliado a um instrumental que tem como maiores referências o já citado Charlie Brown e Red Hot Chili Peppers, é mais do que manjado. E isso contou negativamente pra eles. Apesar dos bons arranjos e tudo mais a música deles tem aquela estampa de descartável. Mas nem tudo está perdido. Vejam quem era o Los Hermanos na época de ‘Anna Júlia’ e o que eles são agora. Identidade é fundamental. E o Del Chifre deve correr atrás disso. Precisam também dar uma garibada nas letras, porque “o bicho vai pegar” não dá. Tirando isso, as canções são hits radiofônicos potenciais. Eles têm tudo para alcançar o mainstream e faturar uma grana. Só que como o concurso aqui leva em consideração a originalidade então Del Chifre está fora do páreo.
E a fatura está encerrada. Esse sábado só serviu mesmo para a confirmação do favoritismo do Volver. O Insites é uma boa pedida. Chambaril é interessante. Physalia e Advogados têm muito que trabalhar ainda. E o Del Chifre a essa altura já deve ter agendado shows no próprio Borracharia para a semana que vem.
O Microfonia veio para somar e dar uma balançada na produção local. Vários grupos gravaram suas músicas para poderem assim participar do concurso. Só isto já foi de alguma serventia. Se o resultado será um espelho do direcionamento da cena rock local pros próximos anos só o tempo dirá.
Clique na foto abaixo para abrir a PopUp com as fotos do Microfonia (Segundo dia):

Links:
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