Coquetel Independente 2 (Primeiro Dia)

Por Hugo Montarroyos em 18 de dezembro de 2004

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COQUETEL INDEPENDENTE 2 (Primeiro Dia)
data: 17/12/2004 (Sexta) – local: Rua da Moeda
com Retrôvisores, Profiterolis, The Honkers (BA), Rádio de Outono e Volver
Resenha por Hugo Montarroyos – Fotos por Bruno Negaum

The Honkers enlouquece Rua da Moeda
em 17/12/2004 por Hugo Montarroyos

Pelo senso comum, critico de música (ou de cinema, literatura, artes plásticas e afins) é um cara que serve basicamente para duas coisas: (embora eu não concorde)

a) Babar

b) Destruir.

Seguindo essa máxima, prefiro começar pela babação (que prefiro chamar de elogio). É louvável a realização de um festival em plena Rua da Moeda que agregue boas bandas tocando numa estrutura de palco e som mais do que decentes. Melhor ainda se o público comparece.. E, mais louvável ainda quando o nível dos grupos (em sua grande maioria) é bom.

Retrôvisores

A primeira pista de que a noite seria boa ficou por conta da passagem de som do ótimo Retrovisores. Sem maiores pudores, os caras mandaram ver os acordes de “Gigantic”, do Pixies, enquanto acertavam os últimos detalhes do som. Melhor ainda foi a abertura do show, a cargo de “Love Will Tear Us Apart”, do Joy Division. Mas é nas composições próprias que eles de fato dão conta do recado. Com apenas três integrantes na formação, Márcio (teclados), Daniel (guitarras e voz) e Nílton (bateria), o trio impressiona pelo vigor sonoro que são capazes de produzir. “Houston”, por exemplo, chama a atenção pela introdução violenta e clima mais viajado que transparece no decorrer da canção. Já “Otto Palace” é uma música que faz de seu tom denso e monocórdico suas características mais marcantes. Ainda teve tempo para uma correta e eficiente versão para “All Right”, do Supergrass, com participação especial do baixista Fernando, do Volver, que conseguiu em uma música detectar a principal falha do grupo; a carência de um baixo cadenciando e encorpando o som da banda. Mas isso não chegou a constituir um problema, principalmente na hora de executarem “José”, música esquizofrênica com letra não menos esquisita. E, pasmem, funciona. O Retrovisores é uma boa banda da nova safra. Tem um belo futuro pela frente, apesar de alguns pequenos deslizes. Daniel precisa trabalhar um pouco a voz, pois tem horas em que, na ânsia de atingir o tom certo, acaba desafiando vertiginosamente. Mas nada que o tempo e alguns bons ensaios não corrijam.

Não tenho nada contra cultura popular. Agora, colocar o Maracatu Traga a Vasilha no meio de um show de rock foi tão salutar e saboroso quanto misturar sardinha e leite condensado. O pior foi ter que agüentar mais de uma hora de batuques para turista ver…

Profiterolis

Mas o grande beneficiado com isso foi o Profiterolis, que desta vez não pareceu tão ruim como de costume. Aliás, eis uma banda que me intriga. Como pode um bando de moleques inteligentes e bons músicos produzirem algo tão canhestro. Eles até começaram bem, tocando a inofensiva e pop “Doce e Salgado”. O problema é que depois o Profiterolis se deu conta do quão chato é e mandou ver “Licor de Jenipapo” e “Chumbo” de uma só vez. Não teve coca-cola que desentalasse aquilo. É o tipo de banda que, em disco, para impressionar menininhas que acabaram de entrar no curso de comunicação, pode funcionar. Mas, na real, o resultado é patético. Vide a tenebrosa “Sapatos Coloridos”, canção onde toda a banda compete para ver quem desafina mais. Nem Milton Nascimento consegue ser pior (e olha que o cara se esforça). Triste.

Rádio de Outono

Já o Rádio de Outono fez um show corretíssimo. Foi último do baixista Fernando, que será substituído no baixo por Kleber Crócia. A banda amadureceu um bocado em cena, demonstrando maior desenvoltura e presença de palco. Tem um quê de Pato Fu, é verdade, mas isso não chega a ser demérito. E, na boa, músicas como o quase punk de shopping “Nem o Pó” e a sagacidade da letra de “Sabe Tudo” fazem o mais mal-humorado dos seres enxergar um baita potencial pop e radiofônico na banda, ainda mais quando tais termos podem vir casados sem qualquer atestado de armação de gravadora.

The Honkers

Mas a noite foi mesmo do The Honkers. Os baianos mostraram com quanta atitude se faz um bom show de rock n’ roll. Rodrigo Sputter, o surreal vocalista da banda, simplesmente tocou no meio do público, participando de rodas de pogo e dando uma autêntica aula de performance. A banda também não fica atrás. Com uma pegada para lá de vigorosa, os caras mostraram que nasceram para brilhar nos palcos, ou, no caso da banda, fora deles também. O baixista T-612 é de um carisma que ultrapassa a fronteira da sanidade. O baterista Dimmy é outro que merece destaque pela violência com que conduz baquetas e bumbos. O resultado de todo esse azougue sonoro ? Para citar uma das letras do Ratos de Porão, o que acontece com o público diante da sonoridade dos caras é o seguinte: “Histeria coletiva, atitude anormal”, no melhor dos sentidos. Rodrigo Sputter canta no meio de rodas de pogo, acompanhando de Felipe Brust. Rodrigo decide ficar de cueca e o público fica dividido entre o êxtase e a gargalhada, entre a perplexidade e a felicidade plena. O som ? Punk, rockão, rockabilly e até ska bem tocado (pasmem), como no caso de “Monkey Man”, do The Specials. Se tiver que escolher um único show de rock para assistir em 2005, fique com o The Honkers. Absolutamente competente e endiabrado.

Volver

O Volver fechou a noite com o carisma de banda da vez. Não tiveram muito trabalho em agradar ao público, afinal, essa é uma arte que os caras dominam muito bem. Tocaram em casa, para um público que era deles e, decididamente, deram conta do recado. Não, não vou dizer aqui que “Você que Pediu” é a melhor música deles. Prefiro “Não Trate Ele Assim”. Mas, divergências à parte, o fato é que a banda possui uma formação invejável, com todos fazendo os vocais na boa, num resultado que justifica até demais a escolha da cover de “Mr. Postman”. Resumindo, o Volver é uma banda irretocável de tão boa, como todo grupo pop deveria ser. Enfim, na maratona rock do primeiro dia do “Coquetel Molotov Independente 2 – Retrospectiva”, saiu ganhando quem teve mais disposição, fôlego e, principalmente, humor.

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Links:
» Retrôvisores no RecifeRock
» Profiterolis no RecifeRock
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