Parafusa – Meio-dia na Rua da Harmonia

Por Hugo Montarroyos em 26 de janeiro de 2005

Parafusa - Meio-Dia na Rua da Harmonia - 2004 - Independente
O melhor do álbum fica para o final…
em 26/01/2005 por Hugo Montarroyos

O Parafusa é uma banda que trilha o árduo caminho de tentar tirar o mofo da cada vez mais empoeirada MPB. Estrada das mais ingratas, pois não é difícil, nessas condições, empacar entre a reverência exacerbada aos medalhões da música popular brasileira e a tentativa desesperada (e por vezes frustrada) de conseguir uma identidade bem delineada neste terreno pantanoso chamado música. O disco mostra bem tal dualidade, oscilando momentos de criatividade intensa com picos de exagerada contemplação ao que já foi feito e refeito neste campo. A abertura com a ótima “Parece Filme” denuncia a vontade de renovação, em arranjo forte para uma canção que consegue abrigar o frescor pop com elementos mais rebuscados.

“A História do Boi Tatau” traz uma levada bobinha, que culmina num refrão marcante. Mas, para quem conhece a banda ao vivo, parece faltar um elemento central a este “Meio-Dia na Rua da Harmonia” : a alma. O disco não consegue captar a magia das apresentações da banda. “No Asfalto” , que é ótima ao vivo, virou em CD um pseudo samba de partido-alto com intenção de soar moderno.

“Última Troça” insiste no já batido tema “carnaval/melancolia”. Certamente sobrará (injustamente) alguns dedos dos Los Hermanos esfregados na cara do Parafusa. Mas a mão que permeia a obra deles é outra e atende pelo nome de Chico Buarque. “A Banda”, de Chico, faz-se presente em “Longa Canção sobre um Grande Amor” , marchinha carnavalesca que possui um teclado para lá de Jovem Guarda. A presença de Chico é marcante em todo o trabalho, seja na tentativa de sofisticação musical, seja nas letras que exaltam personagens simples do cotidiano.

O problema é que se trata de uma obra quase monotemática, com ênfase demasiada às frustrações carnavalescas. Quando o Parafusa deixa de ser um Pierrot chorão, produz momentos sublimes, como a endiabrada “Vou Cantar Noutro Quintal” , onde o lirismo birrento dá lugar ao mais puro exorcismo passional em forma de desrespeito verbal, vide a excelente letra que versa “então vá / não vou lhe prender, vou cantar noutro quintal/ você vai se fuder/ tu vais sentir que o coração não tem nenhum senso de humor”. É justamente quando deixa de ser bom moço e resolve ser cafajeste que o Parafusa obtém seus melhores resultados. “Tudo Bem” permanece o ícone pop do disco, o gosto de sal no meio de tanto açúcar refinado. Mas o melhor do álbum fica para o final. “Maria” consegue ser lírica sem ser chata, ensolarada sem soar irritante, otimista sem ser burra. É o grande achado de “Meio-dia na Rua da Harmonia”. Em disco, o Parafusa se revela uma banda confusa. É conservadora sem ser tradicional, saudosista sem ser lamurienta, MPB sem ser chata. Está quilômetros acima do novo pessoal da Trama, encabeçado por Max de Castro e asseclas. E, apesar de produzir um CD um tanto irregular, não é qualquer um que consegue em meio ao trânsito caótico chamado nova música popular brasileira extrair tantos e bons punhados de boas harmonias. E isso, hoje em dia, não é pouco.

Onde Comprar:

com a banda pelo site: www.parafusa.com.br

Parafusa

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