
em 04/02/2005 por Hugo Montarroyos
Antes da intimista e histórica apresentação de Wander Wildner no Garagem 27, levei um papo com o vocalista dos Replicantes, que falou sobre a expectativa de tocar no RECBEAT 2005, dos planos para esse ano e de sua eterna vida de andarilho. Confira abaixo a entrevista com o homem que quase pôs o Garagem abaixo.
Qual a sua expectativa em relação ao show do Recbeat ? Como será o show ?
É o show que a gente está fazendo desde que lançou o CD Os Replicantes Em Teste, em setembro passado. Tem umas cinco ou seis músicas novas e os clássicos de toda a carreira. Vai dar pra ter uma boa base do que foram esses 22 anos de carreira. Eu acho que vai ser bem legal, eu estou com um pressentimento de que vai ser um belo acontecimento, muito em função do amor que o pessoal tem pelos Replicantes e pelas coisas dos meus shows. E pelo show que eu vi do Devotos deu pra perceber que as pessoas têm uma admiração e se entregam…Vai ser um show bem legal, cara. A gente está bem otimista. E é a minha primeira vez com os Replicantes aqui no Recife. A banda veio uma vez pro Abril pro Rock, mas nessa época eu não estava no vocal. Vai ser legal também pelo local do show, a cidade, essa história de Recife ser multicultural é demais…
Por quê ?
Porque o carnaval de Recife é único. Não existe nenhum carnaval como este. Porque tá muito em função da cultura da cidade, de todo mundo manter as tradições enquanto absorve o rock n roll. E isso só tem aqui. Nunca vi em nenhum lugar do Brasil essa comunhão entre o tradicional e o contemporâneo. Isso é muito legal. Eu tenho andado pelas ruas desde ontem, e eu nunca tinha vindo aqui no Recife nessa época de carnaval. Isso aqui é o verdadeiro fórum. Eu estou saindo do Fórum Social Mundial e estou achando este fórum aqui de Recife muito mais ativo. Não tem blá-blá-blá, não tem muita história, e sim as pessoas tocando e se divertindo, e isso é muito legal.
Você tem uma relação muito antiga com Recife. Quais as semelhanças que você encontra entre as cenas de Pernambuco e do Rio grande do Sul ?
Eu acho Recife muito parecido com Porto Alegre, guardando as devidas diferenças. Recife me lembra muito a Porto Alegre dos anos 80. Acho que o que as cidades têm em comum é a distância do eixo Rio-São Paulo. Só que aqui é ainda mais distante. Só que lá rolou um fenômeno da cultura gaúcha não querer evoluir. Lá eles não aceitavam muito que se fizesse o folk, o urbano.
Por quê ? Sectarismo ?
Sectarismo total ! Eles fecharam as porteiras. E foi o maior suicídio cultural do Brasil. As pessoas mais ligadas à cultura conservadora gaúcha tinham medo que a cultura local acabasse com o surgimento do novo. Recife é uma prova de que isso não acontece. Não só Recife como todo o Nordeste. É a prova que a mistura não aniquila, muito pelo contrário. E aí o que acabou acontecendo foi que os filhos dos nativos acabaram montando bandas com teclado, baixo e bateria. E acabaram com tudo, com toda a cultura regional. Foi um verdadeiro suicídio cultural.
O que você como músico e consumidor de música aprecia na cena pernambucana? Quais são as bandas daqui que você mais gosta?
Bem, tem três anos que não venho aqui. Então eu não conheço o que tem de novo aqui. Eu conheço as coisas daquela época, Otto, Nação Zumbi, Cordel do Fogo Encantado, Mestre Ambrósio, DJ Dolores, Eddie. Não sei o que está acontecendo de novo aqui porque não tem como saber, da mesma forma que vocês não sabem o que acontece de novo em Porto Alegre, não conhecem a nova geração de lá. Agora eu recebi um CD do The Playboys, que por sinal eu já conhecia, e de outra banda que agora eu não lembro o nome. Mas eu ouço falar. Eu toquei esses tempos com o Eddie lá em são Paulo. A gente sempre se encontra. Encontrei o pessoal do Mundo Livre, encontrei o Jorge du Peixe no VMB. Lembro que o Jorge falou que a cena aqui em Recife estava legal, que tinha começado a abrir lugar novo pra tocar. E teve a própria volta deles, né? Eles saíram e voltaram. O Mundo Livre voltou também. E foi legal isso. Acho muito interessante isso porque eles viajaram e agora vão trazer um monte de coisa. E tem aquela história de que sair nem sempre é como a gente imagina. Da próxima vez que eles saírem, já vão sair diferente.
Rolou esse tipo de experiência com os Relicantes ?
Não. Os Replicantes nunca saíram e eu sempre viajei muito. Eu, por exemplo, estou na estrada desde maio. Eu não moro em lugar nenhum desde maio.
Isso já faz parte do seu histórico…
É, eu tenho essa história de viajar muito. Agora eu estou vivendo uma coisa meio de ter que ficar um tempo maior em São Paulo. Mas não é como nos anos 70, quando todo mundo foi pra São Paulo. É mais uma coisa de momento mesmo. Vai sair um Acústico MTV com bandas gaúchas, e é difícil viajar com banda. Eu já viajei muito com banda, só que não rola grana, e eu estou cansado de ter que dar 50 pila pros caras da minha banda depois do show. Então eu estou mudando a forma de trabalhar. Vou fazer mais show solo porque aí dá pra ter um retorno melhor de grana pra poder pagar um cachê mais interessante pros músicos.
Essa parte financeira atinge os Replicantes também ?
Não, eu estou falando da minha carreira solo. Os Replicantes é uma coisa à parte, paralela. Eles não vivem de música. Todos eles (Replicantes) têm outras profissões. A gente grava disco, como foi o caso do Go Ahed, vamos voltar pra Europa. Agora mesmo vai sair um DVD com a turnê da gente na Europa. Com os Replicantes é diferente. Não é uma banda que vive de música. Os Replicantes têm vida própria, tem a história deles. São 22 anos de banda. Eu já saí e fiquei 12 anos fora. Lógico que o meu trabalho acaba influenciando o dos Replicantes, assim como eles influenciam o meu. Mas os Replicantes têm vida própria.
Quais são seus planos pra 2005 ?
Vai sair o Acústico agora. Os meus discos vão ter uma distribuição nacional. Assim que passar o carnaval eu vou ver os lances de capa, e a gente vai lançar provavelmente pela Tratore. Eu conversei com a Trama também, mas acabou não rolando. E eu já tinha tido um papo com a Tratore antes. E agora chegou o verão e eu estou sem nenhum disco! Estou fazendo a turnê sem disco, mas foda-se. Agora finalmente vai ter uma coisa que nunca teve que são os discos no País todo. E isso é do caralho. Eu já tenho um disco preparado de inéditas, já comecei até a gravar. E agora, em função do Acústico, que vai sair pela Sony, a Sony está interessada em lançar um trabalho meu, que é uma outra idéia, um disco de versões, mais temático. Um disco meu, só que não vai ter músicas minhas.
Os Replicantes tocam sábado, dia 05, no RECBEAT 2005.

Links:
» Site dos Replicantes
» Site oficial do Wander Wildner
——–