Já se vão dez anos desde o primeiro RECBEAT. O festival surgiu como uma opção a mais para aqueles que não queriam sair atrás dos blocos subindo e descendo ladeiras. Era o espaço do rock no carnaval. Muitos são os nomes que marcaram a história do festival, que já trouxe até a lendária banda americana Mudhoney em uma edição.
O RECBEAT é o tipo de acontecimento que credencia com louvor o carnaval de Recife e Pernambuco como uma grande festa de todas as culturas e estilos musicais e artísticos. A alcunha de Carnaval Multicultural é mais do que apropriada e merecida.
E apostando justamente na pluralidade de estilos é que teve início nesse sábado a edição 2005. Foi uma noite que teve rap, samba, punk e pop n’ roll. Uma combinação de grupos novos e promissores com experientes expoentes do underground nacional.
Dando início à festa, a Rádio de Outono mostrou consistência e vigor numa das melhores performances do grupo até hoje. Uma das bandas da nova leva do rock local, o grupo não mostrou inibição perante um grande público. O som estava impecável, cheio e bem forte. A apresentação serviu também para mostrar que eles funcionam muito bem em um show grande. E suas músicas estão aí para credenciar isto. Destaque para a sempre ótima performance de Bárbara e para o baixista Kléber e sua forma peculiar de tocar seu instrumento, como se fosse uma guitarra.
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O Negroove veio na sequência trazendo todo o seu swingue do samba e da black music para o público do RECBEAT. Não tem como negar que os caras mandam bem na sua proposta de botar a galera pra dançar. O instrumental da banda é impecável. Chama a atenção o fato das guitarras terem tanta importância em meio a sambas e funks. Ponto pra eles. Fica difícil escapar das mesmices e dos clichês do samba/funk, mas o Negroove até que consegue encontrar alternativas que tornam seu som interessante.
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Mantendo o clima dançante e cheio de groove, era hora de China enfim apresentar para sua terra natal o seu trabalho solo, lançado ano passado. Um China descontraído foi o que se viu. Cercado de amigos na sua banda de apoio, o ex-vocalista do Sheik Tosado mostrou a mesma desenvoltura dos tempos de sua antiga banda. As canções são estruturadas no samba, mas vão mais além disso. Os sintetizadores, efeitos de guitarra e arranjos não usuais presentes na sua música remetem ao também local Mombojó. Mas sem a mesma força das canções dos mombojovens. China ainda está um passo atrás, tentando formatar sua cara. Seu repertório tem alguns acertos, como ‘Ultravioleta’ e ‘Contra Informação’, onde ele deixa de lado experimentalismos vazios e sem foco. Mas no geral ainda carece de boas canções que façam jus à sua performance como ótimo frontman.
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Sai o ritmo quebrado do samba e entra a fúria do punk. Com seus 22 anos de existência e pela primeira vez no Recife com a formação clássica, era hora da gaúcha Replicantes, verdadeira lenda do punk nacional. Com sua legião de admiradores à espera eles foram logo mandando um clássico, a vibrante ‘Astronautas’. Porém nem tudo são flores no mundo do punk. Sem o mesmo brilho dos clássicos do grupo, as canções mais recentes foram responsáveis pelos momentos mornos (seriam chatos?) do show, que começou muito bem, mas que empacou na metade. A partir do meio pro final, porém, a coisa ganhou força e a sede do público por hinos punk e rodas de pogo foi devidamente saciada. ‘Festa Punk’, ‘Nicotina’, ‘Vórtex’, e claro ‘Surfista Calhorda’ chutaram o pau da barraca mostrando como o punk tem que ser: sujo, irônico e sem firulas. Vale ressaltar que grande parte da diversão da banda vem da performance tresloucada do vocalista Wander Wildner.
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Pra finalizar a noite outra banda com vários anos nas costas, o Faces do Subúrbio, que a muito não se apresentava num show grande como este. Isso talvez explique a grande quantidade de fãs do grupo ansiosos pela apresentação dos rappers. Confesso que não tinha maiores expectativas em relação ao Faces por simplesmente nunca mais ter ouvido falar deles. E eles provaram que estão melhores do que nunca. Foi o show com a maior resposta do público, de longe. A mistura mais do que conhecida do rap/embolada com o rock/metal que o grupo executa está na sua melhor forma em muito tempo. Riffs precisos, sem excessos, cheios e ganchudos que criam o clima adequado para os versos de Tiger e Zé Brown. Uma cozinha mais do que eficiente. O discurso continua o mesmo, mas sem cair na mesmice, sem aliviar pra ninguém, mostrando que os caras têm muito a dizer ainda. Longa vida ao Faces e à tudo que eles representam.
Clique na foto abaixo para abrir a PopUp com as fotos da primeira noite do RECBEAT 2005:

Links:
» China no RecifeRock
» Negroove no RecifeRock
» Rádio de Outono no RecifeRock
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