em 08/02/2005 por Hugo Montarroyos
A última noite da décima edição do festival RecBeat teve como principais destaques o emocionante show do Samba de Coco Raízes de Arcoverde e a elegância e sofisticação musical de Júnio Barreto. Comecemos pelo primeiro.
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Possuindo um público já sedimentado, muita gente foi ao Caís da Alfândega para conferir a apresentação do excelente Samba de Coco Raízes de Arcoverde. Numa noite inspirada, como de costume, o grupo colocou todo mundo pra dançar ao som de seu coco envenenado, onde é difícil apontar um só destaque; a percussão é envolvente, as letras são cativantes e o sapateado é algo simplesmente fora do comum. Dois dançarinos desceram do palco para fazer passos junto com o público, num momento de pura integração entre artista e espectador. Assim como no ano passado, o show teve direito a bis. Ao saber que o disco do grupo estava sendo vendido atrás do palco, uma multidão se encaminhou até lá para comprar o CD. Para surpresa de todos, o Samba de Coco Raízes de Arcoverde continuou a se apresentar ali mesmo, para deleite do público, dos seguranças e da imprensa que cobria o evento. Foi, para usar uma expressão ingênua, a coisa mais linda do mundo. Detalhe: não sobrou um CD sequer.
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Depois foi a vez do show musicalmente mais completo de todo o RecBeat. Júnio Barreto (Caruaru) fez uma apresentação marcada por uma ótima combinação de samba, bossa nova, jazz e um pouco de eletrônica. Júnio chamou Ortinho (ex-Querosene Jacaré) para cantar com ele a boa Amigos Bons , e modernizou a tradição com excelentes versões para A Fonte Secou , do sambista carioca Monsueto, e A Mesma Rosa Amarela , pareceria de Capiba com o poeta Carlos Pena Filho. A excepcional banda formada por Simone Soul (bateria), Gustavo Ruiz (guitarra/violão), Alfredo Belo (baixo), Marcelo Monteiro (flauta/sax) e Dudu Tsuda (teclado) foi responsável por momentos absolutamente sublimes. Tanto que, ao anunciar a última música, o público respondeu com um ahhhhhhhh, como quem quisesse dizer: Mas já acabou ?. Formidável.
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O Bonsucesso Samba Clube é uma banda que me intriga bastante, pois oscila bons momentos com outros de extrema chatice. Pensei se há e O Samba Chegou renderam bons momentos, com ótima sintonia com o público. Mas quando o grupo investe nas partes mais lentas e viajadas, causa tédio. A percussão é fraca e enfadonha, e a sensação que dá é que trata-se de uma banda ainda mal resolvida, sem saber ao certo que caminho tomar. Ainda assim, Rogerman mostrou uma boa presença de palco, e o grupo agradou a uma parcela significativa do público.
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Agora, triste mesmo foi o show do F.U.R.TO. , nova banda de Marcelo Yuka. O grupo lembra justamente o que o Rappa tem de pior e mais chato, ou seja, muita enrolação e muita viagem desnecessária, tornando tudo extremamente cansativo. Tanto que foi a apresentação com resposta mais fria do público. O guitarrista e vocalista Maurício Pacheco parecia encarnar um Falcão ainda mais sem graça. Se esforçou, se esgoelou, bateu palmas, pulou e nem assim conseguiu a atenção popular. O som do microfone de Yuka, que vez por outra dizia algumas palavras de protesto, estava muito ruim. Não dava para entender nada do que o cara dizia. A formação do grupo no palco também é estranha, com todos os músicos ocupando as laterais e o fundo, deixando um vazio imenso para ser preenchido por Maurício, que ficou completamente isolado na frente do palco. O melhor da banda fica por conta do excelente percussionista Garnizé, e o único momento que rendeu algo foi quando a banda chamou ao palco o Faces do Subúrbio, que cantou as músicas Perito em Rima e Coisas que Vem de Dentro . No mais, o boato acabou tomando corpo. O F.U.R.T.O é apenas e tão somente um Rappa piorado.
Lenine, tocando em casa e respaldado por uma ótima banda formada por Júlio Tostói (guitarra), Guila (baixo) e Pantchico Rocha (bateria) se aproveitou bem da ótima estrutura de som local e tocou boas músicas como O Homem dos Olhos de Raio X , JackSoul Brasileiro e Alzira e a Torre com a participação de Lula Queiroga, Pedro Luís (sem a Parede) e Silvério Pessoa. O show terminou com todo público cantando Leão do Norte, mas ficou nítida a impressão de que o Cordel do Fogo Encantado deveria ter fechado o festival, naquele que talvez tenha sido o único pecado da escalação do RecBeat.
Em seus dez anos de história, o RecBeat mostrou que tem bala para gastar por pelo menos mais dez, quinze, vinte anos. Que o festival permaneça sendo o que sempre foi: um evento que aposta no inusitado e que faz da diferença sua maior e melhor característica.
Clique na foto abaixo para abrir a PopUp com as fotos da quarta noite do RECBEAT 2005:

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» Samba de Côco Raízes de Arcoverde no RecifeRock
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