![]() FESTIVAL NA BASE 4 data: 23/04/2005 (Sábado) – local: Casa do Frevo com Vamoz!, Rabujos, Deep Home, Nômades, Subversivos, Sick Sins e Scream Resenha por Tiago Barros – Fotos por Bruno Negaum |
em 23/04/2005 por Tiago Barros
Se há uma coisa inegável aqui na cidade é que o público roqueiro médio realmente sabe botar a “boca no trombone“, no bom sentido da coisa, claro: Reclamam que não há espaço para tocar, reclamam que determinada cena não é devidamente “prestigiada” pela mídia, reclamam disso e reclamam daquilo. Ótimo, estão exercendo seu direito de contestar e, caso um bom debate seja gerado, tudo isso acaba se tornando válido. Mas o que é o debate sem a existência de um pragmatismo posterior? Qual seria a utilidade das idéias se elas ficam eternamente circulando em campos teóricos? Ou de uma maneira mais sucinta e clara, de que vale ficar discutindo balela se não se faz porra nenhuma a respeito de nada???
Em contramão a isso tudo, o pessoal da organização do Festival Na Base é um bom exemplo de que quando se quer tirar certas indagações de mesa boteco e transformá-las em algo efetivo, os resultados são bem mais apreciáveis. Já na sua quarta edição, o Na Base tenta se estabilizar como um festival underground que dá uma boa oportunidade as bandas que fazem um tipo de música que não possui tanta facilidade para chegar em Festivais mais populares. Pena que a audiência presente nesse ano não foi tão numerosa quanto a dos eventos anteriores, o que acaba sendo mais uma comprovação de que muita gente nessa cidade prefere mesmo ficar discutindo ao invés participar de algo concreto.
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Quem deu início à noite foi o Vamoz! , que, pasmem, seria a banda mais leve a tocar nesse evento. Leve não seria a melhor forma de se adjetivar o som ruidoso da banda, mas, em comparação com os outros grupos que tocariam depois deles, eles realmente foram a atração mais “tranqüila” do festival. Infelizmente, esse que vos escreve não conseguiu chegar a tempo de ver a apresentação inteira dos caras e só pegou as 4 últimas músicas tocadas pela banda. Em compensação, deu para sacar que o som estava muito bem equalizado (coisa que infelizmente e inexplicavelmente não se perdurou nos outros shows) e que muitas figuras portando moicanos balançavam a cabeça ao som do rock duro do power trio. Fecharam a apresentação com uma bela e esporrenta versão de “Cinammom Girl”, de Neil Young, e deixaram um saldo bem mais do que positivo para um público que em sua grande maioria não era o que vai para um show normal do Vamoz!.
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O Rabujos foi o segundo grupo a pisar no palco e os problemas técnicos em relação ao som já começaram a se manifestar em profusão; o bumbo da bateria estava excessivamente alto em detrimento a caixa e demais peças e o vocal quase inexistia, quando não sumia de vez em alguns casos. Uma pena isso ter acontecido já que estava ali uma das melhores bandas de hardcore/power violence dessas plagas, estilo o qual a banda executa com muita propriedade. Flertando descaradamente com as sonoridades mais extremas e agressivas do hardcore, o Rabujos ainda possuem a pachorra de fazer letras que fogem dos lugares comuns fáceis desse tipo de som. Claro que no meio pancadaria sonora ao vivo seria bastante difícil entender o que o amedrontador frontman Jacques gritava, mas vale a pena sacar as letras da banda. Mas atendo-me ao show em si, a apresentação foi tijolada atrás de tijolada, com direito a participação de Élder, vocalista do Revolta Civil, na música “Declaração Ato (I)” (pena que não tivemos na íntegra o impagável discurso que inicia a referida canção) e versões extremamente competentes de “Red Tape” dos californianos do Circle Jerks e de “Massa Faminta” dos paulistas do Sick Terror. E se a apresentação já foi muito boa mesmo com os problemas técnicos, é de se imaginar o estrago que a rapaziada deve fazer com um som melhor.
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Sai de cena o hardcore extremado do Rabujos, entra o new metal do Deep Home. Eu estaria sendo mentiroso caso afirmasse que nutro simpatia pelo estilo que a banda, mas pelo menos o Deep Home não envereda pelo lado bunda mole do new metal (Limp Bizkit, Linkin Park e congêneres) e tem forte influências de bandas mais pesadas desse estilo, como o Slipknot. Porém, o grupo carecia de um pouco mais de intimidade com o palco (começavam e paravam algumas músicas do nada, entravam errado em algumas partes de suas próprias composições, etc) e um maior cuidado em relação ao uso de afinação grave, recurso tão utilizada pelas bandas de new metal, já que era quase imperceptível entender o que as duas guitarras da banda faziam tamanha era a embolação que se tornava o som deles em todas as suas músicas. Tudo bem que, como já foi falado anteriormente, o som de casa não estava ajudando em nada, mas, se nas outras bandas ainda dava para entender as bases e riffs básicos das canções, no caso do Deep Home as canções soavam como uma ininteligível maçaroca sonora na grande maioria das músicas. Um dos vocalistas do Psycho Clown cantou duas músicas com a banda, mas ainda assim a apresentação da banda não desandou, que ainda possui uma sonoridade muito derivativa e quadrada. Quem sabe na próxima vez, tendo em um vista um maior cuidado com a própria sonoridade e com uma presença de palco mais segura, a coisa melhore para eles.
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A próxima a pisar no palco foi o Nômades. O grupo parecia uma versão mais porradeira do Dead Kennedys, que diga o excelente baixista Shurato que mandava linhas de baixo angulosas no melhor estilo do Klaus Flouride. Entretanto, a apresentação da banda se destacaria por coisas menos estimáveis: segundo os próprios membros da banda, o microfone principal estava sendo desligado pelos operadores da mesa de som porque o vocalista da banda, o Gordo, estaria pisando no retorno. Tudo bem, uma situação chata que podia ser muito bem consertada com o uso do diálogo. Mas mesmo após o vocalista se afastar do retorno, o mesmo problema perdurou e agora também estava afetando a guitarra, que vez ou outra sumia completamente. Sem falar que estranhamente três seguranças do estilo “armário embutido” subiram ao palco e ficaram encarando os membros da banda de um jeito bem pouco amistoso. Isso levou o vocalista e o baixista da banda fazerem um longo discurso no meio do show a respeito da situação inóspita na qual eles estavam se apresentando e, logo após tocar mais uma canção, o grupo deu término a sua apresentação deixando um clima tenso no ar. Mas o que chegou a ter sido curioso mesmo foi a reação apática da platéia a manifestação do Nômades, que foi única banda que reclamou da baixa qualidade do som do local, diga-se de passagem. Será que todo mundo estava curtindo aquela qualidade sonora abaixo da média ? Será que muitos acharam desnecessário o fato do pessoal do Nômades terem tomado partido contra algo que estava prejudicando a grande parte das apresentações da noite ? Eu espero sinceramente que a resposta não tenha sido sim.
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O Subversivos foi a próxima atração da noite e mandaram seu punk socialista cheio de refrões em coro à la “grito de torcida” para um público que finalmente começou a esboçar uma reação de maior ânimo nessa noite. A banda em si é bem compacta e coesa, mas o destaque aparte fica para o performático vocalista Camilo que tem uma presença de palco tão peculiar que acaba focalizando todas as atenções para si. O cara interpreta as canções do grupo de uma forma ao mesmo tempo agressiva e pândega, e acaba sendo o grande trunfo cativante do show do grupo. O Subversivos foram também os primeiros da noite a ter suas músicas cantadas pela platéia, entre elas, “Abaixo ao Vestibular”, “Todo o Poder ao Sovietes”, “A Internacional” (a versão deles para o hino dos trabalhadores socialistas) e “Esmague o PFL”. Terminaram sendo a atração que mais agitou o público até aquele momento.
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E eu falei que o Subversivos tinha sido a banda que mais agitou até aquele momento do festival porque ainda tinha o Sick Sins pela frente. A reação entusiasmada da platéia a cada música tocada pelo grupo certificava que essa era a banda mais esperada da noite. Mas realmente não tinha para onde correr, os caras provavelmente são a melhor banda de metal da cidade atualmente. Tentem imaginar uma mistura de Meshugghah com o Sepultura fase Chaos AD, aí acrescente uma pegada hardcore e uma boa dose groove em algumas partes das músicas e pronto, já se pode ter uma boa idéia de como soa o Sick Sins. Mas melhor do que especular como a banda soa, o bom mesmo é sacar o peso e a sincronia impressionante do instrumental da banda ao vivo (com destaque especial para o baterista/polvo Caio que domina seu instrumento como poucos) e o carisma do rotundo vocalista Colaço que se apresentou pela segunda vez com a banda nesse show, mas parecia ter um entrosamento de anos com outros membros das bandas. Fora que conseguiram tirar leite de pedra, fazendo uma excelente apresentação mesmo com toda precariedade técnica do som. Empreitada árdua mesmo destacar algo desse show, mas músicas como “Pretending” (a parte quebrada/groove dessa música é um verdadeiro convite a “bateção de cabeça”), “Show Me Wrong The Way” (que foi “dedicada” ao atual Papa Bento XVI) e “All The People We Hate” foram tocadas de uma maneira particularmente intensa. Melhor show da noite ? Pode ter certeza!!!
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Quem ficou com a tarefa de fechar essa edição do Na Base foi o Scream, que chegou com a moral de ter sido a única banda de metal a chegar na final do Festival Microfonia. Sonoramente o Scream tem uma proposta bem similar a do pessoal do Sick Sins, acrescentado a isso alguns vocais melódicos à la Fear Factory mas ainda não possuem a mesma maturidade da banda que os antecedeu no palco. Nenhuma aresta que não possa ser amparada logo, já que eles possuem composições próprias interessantes e um bom potencial que pode ser melhor trabalhado no futuro. Os caras ainda tiveram infelicidade de pegar poucas pessoas presentes no local e muitas delas demonstrando uma estafa após essa verdadeira maratona de mais de 5 horas de rock pesado (inclusive esse que vos escreve agora acabou não ficando até o final da apresentação deles devido ao cansaço), mas estavam cumprindo seu papel com a devida dignidade.
no final de contas, apesar do som horrível que teimou em tentar estragar as apresentações das bandas, das tretas e da ausência de boa parte dos roqueiros reclamões da cidade, essa edição do Na Base mostrou mais uma vez que falar é bacana, mas o tal do fazer é bem mais gratificante e proveitoso. E é realmente disso que a cena musical de Recife precisa.
Clique na foto abaixo para abrir a PopUp com as fotos do Na Base 4:

Links:
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