Entrevistão Superoutro

Por Recife Rock! em 26 de abril de 2005

Confira o entrevistão com Bernardo, Rafael e Arthur, da Superoutro…
em 26/04/2005 por Guilherme Moura, Breno Mendonça, Tiago Barros e Bruno Negaum

Entrevistão com Superoutro

Definitivamente o Superoutro foi a banda do dito cenário indie que mais se destacou no ano passado. Tocaram em um grande festival de outro estado, foram comentados em quase todos sites e publicações impressas sobre música do país e até tiveram resenha do seu primeiro CD lançada em uma revista estrangeira. Com isso tudo, depois da banda tocar em mais um grande festival, o Abril Pro Rock, estava mais do que na hora de rolar um entrevistão com a rapaziada, não é mesmo ?

Dessa vez o QG utilizado para se fazer a entrevista foi o prédio do guitarrista Bernardo Braga, já que o mesmo se encontrava doente nesse dia. Talvez isso tenha contribuído para o clima intimista de algumas perguntas e também para algumas revelações curiosas a respeito do passado musical de alguns integrantes da banda.

Sem maiores delongas, confira abaixo a entrevista com Bernardo Braga, Rafael Guerra e Arthur do Superoutro:

Falem um pouco do começo da banda, como vocês se conheceram ?

Bernardo: Eu sou vizinho de Zeca (Bezerra, guitarrista e tecladista da banda) há muito tempo e desde dessa época nós marcávamos para tocar junto. Guga (Ramos, ex-vocalista e guitarrista da banda) estudava com Zeca, né ? (perguntando para Rafael)

Rafael: Guga estudou com Zeca no colégio e eu entrei na faculdade de Jornalismo com ele em 2000. Em 2001 a gente começou a andar junto, ouvir som junto e vimos que os gostos eram parecidos. Pouco tempo depois surgiu a idéia de formar uma banda e a gente começou a se reunir lá em casa, tirando um som com teclado e violão mesmo. Daí Zeca chamou Guga e Bernardo, e eu chamei um baterista que tocava comigo quando eu era moleque, o Tiago, que hoje toca no Terceira Edição. Isso tudo rolou em 2001, a primeira vez que a gente se juntou com Tiago na bateria foi em dezembro de 2001, um pouco antes do natal. A gente chegou a ensaiar umas cinco vezes com essa formação, mas Tiago já tocava em outras bandas na época, então acabou saindo por falta de tempo. Foi aí que me lembrei de Sérgio (Kyrillos, baterista da banda) que eu conheço desde de 94 e sabia que ele tocava bateria. Chamei ele pra tocar e depois do carnaval de 2002 começaram os ensaios com essa nova formação.

E esses ensaios, como foram? Vocês tocavam covers ou já partiram para o trabalho autoral ?

Bernardo: A gente já chegou com a idéia de fazer música própria. Logo no primeiro ensaio a gente já tocou “Microfonia”, música de Guga que está no nosso disco e que até hoje a gente toca.

Rafael: Cada um chegava com uma composição própria e a gente começava a trabalhar a partir disso. A gente também se reunia bastante fora do estúdio para compor e trabalhar as músicas. Eu acho que no começo do 2002 a gente já tinha praticamente todo o repertório do CD (“Autópsia de Um Sonho”) que viríamos gravar depois.

Vocês tinham outro nome nessa época, certo ?

Rafael: A gente ensaiou muito tempo sem nome. Depois de quatro ou cinco meses de ensaios, por volta de maio e junho de 2002, a gente marcou um show e, pô, tinha que sair um nome.

Bernardo: Esse show foi no La Prensa e o proprietário do bar chegou pra gente: “Oh, bicho, vou colocar no jornal, preciso de um nome para colocar vocês também…”.

Rafael: E foi nessa pressão que a gente escolheu o fatídico nome Microfonia Drasta.

Vocês chegaram a fazer quantas apresentações com esse nome ?

Rafael: Um bocado. Em 2002 a gente já começou a fazer uns shows pequenos. Tocamos muito no Vitrola’s, umas três vezes no La Prensa, Instinto, Capibar também…

Vocês tocavam com quem na época ?

Bernardo: Tocamos com o Profiterolis.

Rafael: Não sei se a gente chegou a fazer algo com a Rádio de Outono ou com o Mellotrons…

Bernardo: Não, eu acho que a Rádio de Outono nem tocava na época, né ?

Rafael: Acho que tocava sim. Mas o show mais organizado que a gente fez foi no Instinto com o Mula Manca & A Triste Figura. Já estávamos bem mais entrosados como banda e pintou uma galera legal para assistir os shows.

Já existia interesse de gravar algo nesse período ?

Rafael: Desde do comecinho a gente já pensava nisso…

Bernardo: Chegamos a gravar um demo no finalzinho de 2002, comecinho 2003, não sei ao certo. Inclusive algumas músicas desse demo chegaram a entrar no CD, como “Na Areia”, que era mais longa do que a versão atual, “Novos Monstros”, que tinha um arranjo diferente, mais jazzístico, “O Castelo” também já estava lá, etc.

E quando começaram os shows já com o nome Superoutro ?

Bernardo: A gente chegou a mudar o nome outra vez antes, mas nem chegamos a fazer um show depois disso.

Rafael: Nunca curtimos o nome Microfonia Drasta. A gente deixou porque não tínhamos uma outra idéia de nome até então.

Bernardo: O nome Superoutro surgiu mesmo quando estávamos em estúdio gravando o CD. Um pouquinho antes de começarmos a gravar já tínhamos pensado nesse nome, mas eu lembro que o momento decisivo foi quando Zé Guilherme (produtor do disco “Autópsia de Um Sonho”) escreveu o nome em uma mesa logo após a gente falar a respeito dele.

Mas vocês chegaram a tocar com outro nome, não ? Autoreverse parece…

Rafael: Autoreverse não durou nem uma semana, bicho! A gente descobriu que tinha outra banda com esse nome, sem contar que esse nome não agradava tanto a gente não.

Entrevistão com Superoutro

Como foram as gravações do disco ?

Rafael: Pensamos em gravar no primeiro semestre de 2003. Um tempo depois, chamamos o Zé Guilherme e ele começou ir aos ensaios, fazendo uma espécie de pré-produção com a gente. Passamos um bom tempo, de abril até outubro, ensaiando e decidindo o repertório porque nessa época já tínhamos bem mais do que as dez músicas que entraram no CD.

Bernardo: Eu acho que limamos umas sete ou oito músicas nessa época.

Mas o Zé Guilherme foi realmente a primeira opção ? E o Leo D. e o William P. ?

Bernardo: Não, o Zé Guilherme sempre foi a primeira opção, a gente só não sabia onde gravar. Aí, como ele trabalhava no Fábrica, ele falou que seria interessante gravar bateria e baixo lá. Tínhamos vontade de gravar uma parte com Leo e William, mas eles não estavam aqui para gravar o resto.

Rafael: O Zé Guilherme já estava definido como produtor até porque Zeca já o conhecia faz um tempo.

E o que mudou no som de vocês na gravação ?

Rafael: Eu acho que a parte mudou mais foi quando a gente estava ensaiando

O Zé Guilherme ajudou a mudar os arranjos das músicas ?

Bernardo: Não, bicho, o que ele mudou foi algumas coisas que a gente ainda não sacava bem. Ele ajudou a mostrar que às vezes duas guitarras estavam na mesma freqüência, essas coisas. A única coisa que a gente mudou foi na música “Novos Monstros”, que de um jazz foi pra aquela detonação que a gente faz hoje em dia.

Mas realmente dava para sacar com os shows que vocês fizeram depois de ter gravado o cd que o som da banda tava bem diferente, bem mais limpo e sem excessos…

Bernardo: É, mas gravando você cresce muito como músico.

Rafael: Eu acho que isso foi uma evolução natural da banda mesmo. O Zé Guilherme ajudou também nesse negócio das três guitarras, que elas não poderiam estar sempre na mesma freqüência, nesse tipo de detalhe. Mas ele não chegou a mexer nas estruturas das músicas.

Bernardo: Até porque os arranjos do disco são praticamente os mesmo que a gente fazia ao vivo. A gente não tinha a idéia de mudar as músicas. O que mudou foi um detalhe ou outro como algumas coisas em “Na Areia”, por exemplo.

Rafael: O lance em “Novos Monstros” mesmo, que era até uma música que a gente estava em dúvida se ia gravar ou não, foi o Zé que disse que aquele arranjo jazz podia ficar bom, mas corria o risco de soar como uma piada ou algo do tipo. Mas fomos nós que mudamos o arranjo, não foi ele que chegou e disse: “Olha, muda isso aí e tal!”.

Bernardo: Mas mesmo assim ela não deixou de destoar bastante do resto das músicas do disco.

Rafael: Inclusive essa música é uma que eu fiz quando eu era guri e quando eu trouxe pra banda a gente fez um arranjo diferente, mais leve, jazzístico. Mas depois que Zé falou para gente votar a tocar ela de uma forma mais pesada, ela ficou bem parecida com a versão que eu tocava nas bandas quando eu era moleque.

Vocês eram comparados e ainda são comparados com algumas bandas do dito pós-rock, como Mogwaii e Explosions In The Sky. E inclusive vocêss parecem que não conheciam essas bandas até então…

Bernardo: Não, Mogwaii a gente até conhecia, mas quando saiu a primeira matéria com a gente comparando o nosso som com o Explosions In The Sky, a gente teve que procurar pra saber o que era, velho! Mas até já rolou no show de uma menina perguntar: “Olha, vocês tocaram uma música do Mogwaii, né ?”, a gente disse que não e ela ainda ficou: “Ah, vocês tocaram sim!”

Mas o que vocês acham dessa comparação com essas bandas do pós-rock ? Elas são influencias diretas no som de vocês ?

Rafael: Eu acho que essa relação com o pós-rock vem mais das músicas instrumentais que fazemos e das músicas que tem uma parte instrumental mais importante dos que as partes cantadas.

E as influências do começo, quais eram ?

Rafael: no começo da banda uma coisa que era unanimidade para todos que faziam as composições era o Radiohead. As pessoas também comparavam ainda mais por causa das três guitarras e do cover que a gente fazia de uma música do Radiohead, “Lucky”. Mas isso era bem mais no começo do que agora.

Rafael: Outras influencias óbvias eram os Beatles e muita Mpb também. Todo mundo na banda é fã de Chico Buarque. Mas as influencias em geral da banda vão do Jazz ao Pós-Rock, ou seja lá o que for isso. Nunca fomos muito presos a algo e nunca definimos uma linha do que iria fazer.

Rafael: Atualmente o que mais tenho escutado é Wilco, Clube na Esquina, Beach Boys…

Bernardo: Eu praticamente não escuto rock hoje em dia.

Voltando ao CD, quanto tempo levou para lançar o mesmo ? Demorou ?

Rafael: Teve um hiato nesse tempo. Terminamos de gravar em janeiro de 2004.

Bernardo: A gente pegou o cd pronto mesmo em abril. Chegamos a fazer um show de lançamento no Garrafu’s em maio, mas antes disso a gente já tinha vendido um bocado de cópias de cd-rs do disco.

Foi antes do MADA?

Bernardo: Não me lembro, cara! Acho que foi dia 17, por aí.

Rafael: Ou foi uma semana depois…

Entrevistão com Superoutro

E como rolaram os contatos lá no MADA ?

Bernardo: Tás falando de Lariú (Rodrigo Lariú, proprietário do selo carioca Midsummer Madness, que esta distribuindo o “Autópsia de Um Sonho”), né ? Na verdade, o Lariú entrou em contato com a gente antes mesmo do disco ser lançado, através de uma matéria que saiu no JC Online. Por sinal, depois que saiu essa matéria muita gente começou a entrar em contato com a gente.

Quais foram os selos que entraram em contato com vocês ?

Bernardo: A Bizarre Records entrou em contato com a gente, o Guilherme Barrella (proprietário do selo paulista Peligro Discos) também, o próprio Lariú inclusive mandou um e-mail pra banda perguntando se a gente tinha demo porque ele tinha escutado a gente de alguma forma e até hoje eu não perguntei como.

O JC Online disponibilizou um mp3 no final dessa matéria…

Bernardo: Ah, então foi por isso mesmo!

Rafael: Foi, eles disponibilizaram “O Castelo”.

E como é que esta rolando o processo com o Midsummer Madness ? Ele dão um suporte legal para vocês ?

Bernardo: É uma cooperativa, sabe ? Ele ajuda na distribuição dos contatos, dá uma maior visualização, uma certa credibilidade, até porque queira ou não o selo já existe há 15 anos e é respeitado nesse meio. Mas acho que no próximo disco teremos melhores resultados.

Aí depois disso o que mudou para a banda ?

Rafael: 2004 foi quando a gente começou a tocar mais, fazer shows melhores…

Bernardo: E Recife já era outra coisa.

Rafael: Pois é! Antes a gente só tocava em festas que a gente organizava e a partir de 2004 começaram a surgir convite de casas de shows ou de eventos particulares. O público também mudou, antigamente era formado por amigos, namoradas, amigos dos amigos e um ou outro curioso. Mas foi a partir do primeiro semestre de 2004 que começamos a perceber uma diferença no público, que havia pessoas que a única relação que tinham com a banda era porque o fato de terem ouvido o CD ou algum mp3, ou porque leram alguma coisa da gente. Rolou uma boa divulgação nos jornais daqui, nos blogs, no site de vocês também…

No Reciferock, pô ?!

Bernardo: Mas eu acho que o Reciferock patrocinou isso tudinho mesmo.

Rafael: É, o Reciferock já faz até parte da imprensa daqui.

E Goiania Noise ? Como é que vocês foram parar lá ?

Bernardo: Antes disso tinha saído muita matéria com a banda. Saiu na Dynamite, saiu na Losing Today, que é uma revista da Itália, saiu uma resenha na Outracoisa…

Rafael: E quase sempre as resenhas e comentários eram positivos. Não to dizendo que a gente é uma unanimidade, mas o que saiu quase sempre era bem positivo.

Bernardo: Recebemos uma resposta boa até da Losing Today, teve gente da Itália mandando e-mail dizendo que curtiu pra caralho “O Castelo”, que saiu numa coletânea encartada na revista, dizendo que ouvia a música umas dez vezes por dia. A gente viu que tinha alcançado algo que a gente nem pensava alcançar. Aí o Noise…

Rafael: Mandamos o material pro Fabrício Nobre e o Léo Bigode (organizadores do Festival Goiania Noise), entrou contato com eles e rolou. Aí em um mês e meio eles ligaram e confirmaram com a gente. Mas o mais legal, além do show ter sido muito bom, era sacar que o público de lá pra conhecer bandas novas, vão pra prestar atenção mesmo nos shows.

Tinham quantas bandas no festival ?

Bernardo: Eu acho que no Noise tocaram um pouco mais de 40 bandas, bicho! E o público vai lá pra assistir o show mesmo, como Rafa falou, pesquisam as bandas que vão tocar, tinha uma galera que já conhecia a gente, sabe ? Quando rolou o nosso show, o teatro em que a tocamos, o festival rolou em dois teatros que ficavam na frente um do outro, tava cheio. E o show foi muito bom, apesar das bandas em geral tocarem um som bem diferente da gente, um rock mais agitado…

Vocêss tocaram num dia bem pesado, né ? Tinha até umas bandas de Stoner Rock e tal…

Bernardo: Tinha sim. Tinha de tudo, né ? Mas o Violins tocou nesse dia, o Pata de Elefante também tocou, mas não sei se foi nesse dia também…

Valeu o investimento de ir pra lá ? Porque vocês que arcaram com tudo, certo ?

Rafael: Valeu sim, porque, além da oportunidade de fazer um show fora de Recife, boa parte da imprensa do país estava por lá. O pessoal do Jornal do Brasil estava lá, eu acho que tinha alguém Folha de São Paulo também, etc. Aí é legal porque a banda começa a aparecer pra toda imprensa nacional. A gente também fez contatos com muitos produtores locais, com o pessoal do Tramavirtual…

Bernardo: Acabou sendo, no mínimo, uma viagem muito divertida. A viagem em si foi do caralho!

Rafael: Se a gente tivesse dado todo o dinheiro que foi arrecadado com shows e com a venda de cds, tinha pago tranqüilamente a viagem. Mas acabamos usando esse dinheiro para outras coisas, infelizmente ainda sai mais grana do que entra.

[ Nesse momento chega Arthur, atual vocalista do Superoutro, com a namorada…]

Entrevistão com Superoutro

Aí rolaram os contatos pro Abril Pro Rock nessa viagem, certo ?

Rafael: Outra coisa importante nessa viagem foi ao fato do Paulo André ter ido também pro Noise e eu acho que ver o show da gente lá ajudou na escolha dele. Se bem que ele já tinha falado comigo antes sobre chamar a gente pro APR, falou de fazer uma noite mais indie e tal. Inclusive rolaram também outros contatos pra outros festivais, como o CPF, o Humaitá Pra Peixe e o Bananada, que é outro festival organizado pelo Fabrício do Goiania Noise.

E a saída do Guga da banda ? Vocês já foram pro Noise naquele esquema vai-ou-não-vai, né?

Bernardo: Não, a gente ia pro Noise de qualquer jeito, a banda não ia acabar nunca. O que acontece é que em um certo momento você tem que fazer algumas decisões pessoais, fazer aquilo que provavelmente te trará um bem maior mesmo tendo que fazer um sacrifício. Guga tava passando por um momento em que ele achou melhor sacrificar sua participação na banda. Mas ele saiu como o grande amigo que ele ainda é de todos nós da banda, a gente sempre entra em contato e tudo mais.

O Guga era o principal letrista e compositor da banda ?

Bernardo: Não, tudo sempre foi bem dividido na banda. Todo mundo compõe e eu acho que a maioria das músicas do CD nem são de autoria dele, até pq a gente não credita a ninguém as músicas que a gente compõe, sempre é o nome da banda toda nos créditos.

A saída de um vocalista de uma banda sempre causa um abalo muito grande. Mas no caso do Superoutro, que tem mais essa viagem do pós-rock, de ter músicas bem calcadas nos instrumentais, a saída do Guga causou algum efeito na sonoridade de vocês ? Também houve a perda da terceira guitarra, né ?

Bernardo: Em termos de composição não tem influenciado muito não. Claro que a gente perdeu a parcela que Guga acrescentava na banda, mas as novas composições vêm surgindo normalmente, até porque, como a gente já disse, todo mundo compõe e o nosso som já tem uma cara. E a perda da terceira guitarra eu acho sinceramente que não mudou muita coisa, estamos conseguindo nos sair bem desse problema.

Rafael: Eu acho que talvez a maior perda seja essa marca das três guitarras, até porque ninguém escreveu ou falou algo sobre a gente sem citar as três guitarras. A falta da terceira guitarra é um elemento a menos na banda, mas não acho que perdemos nada em relação a potência ou algo assim.

Bernardo: Até nas músicas novas que a gente vinha tocando, a participação do Guga como guitarrista estava diminuindo.

Rafael: Eu via que o Guga tocava guitarra mais por uma questão de segurança pessoal do que porque ele queria mesmo.

Aí vocês partiram para a procura de um vocalista…

Rafael: Em dezembro de 2004 a gente passou um período parado e resolveu fazer uns testes em janeiro desse ano. Rolaram uns dois ou três testes, mas no final das contas a gente acabou chamando o Arthur.

Bernardo: Eu acho que o próprio Arthur poderia falar melhor sobre isso.

Arthur: Bem, eu tava em casa e recebi uma ligação do Sérgio falando da saída do Guga da banda e eu já tava sabendo isso a uns dois dias antes por Diogo, que é o guitarrista e o vocalista do Parafusa. Falei pro Sérgio que tinha ficado triste com a saída do Guga porque eu gostava da banda, eu geralmente ia pros shows deles, mas foi aí que ele me perguntou se eu tava a fim de fazer um teste com a banda. Fiquei super lisonjeado e topei na hora. Fiquei também meio apreensivo porque era uma puta responsa também.

Tu tinhas alguma experiência anterior como vocalista ?

Arthur: Eu cantava nos Autistas e os meninos do Superoutro me conheciam porque a gente tocou umas três ou quatro vezes juntos, quando eles ainda suavam o nome Microfonia Drasta. Quer dizer, o último show que tocamos juntos foi no Capibar justamente no primeiro show da banda como Superoutro. O Mellotrons até tocou nesse dia também.

Bernardo: Por sinal, foi até Marcos do Mellotrons quem deu a dica de chamarmos Arthur pra fazer um teste na banda.

Como é que está rolando a adaptação ?

Bernardo: Desde que ele entrou a gente viu que rolava, que ele tinha um perfil que se adaptava a banda. Inclusive a gente já esta com várias músicas novas prontas e outras sendo compostas com a participação dele nelas.

Mas uma coisa que dava pra perceber com algumas músicas que vocês viam tocando com antiga formação, “Janeiro” e “Cinza” pra ser mais específico, era que vocêss pareciam estar caminhando para uma direção que daria mais ênfase ao instrumental e que teria vocais mais esporádicos. Como fica então com essa entrada de Arthur, que é um vocalista que não toca outro instrumento ?

Bernardo: Eu acho que ele tem que ser bem paciente nos ensaios porque a gente passa muito tempo trabalhando o instrumental. Sempre tivemos uma preocupação muito grande na composição dos arranjos, etc. Pra fechar uma música passamos muito mais tempo na parte do instrumental do que em qualquer outra coisa.

Arthur: Eu acho que isso do vocal vai surgir naturalmente. Não vai ser algo do tipo: “Olha, vamos encaixar um vocal de qualquer jeito aqui porque o Arthur tem que cantar.”

Rafael: Até porque nunca foi assim o processo de composição da gente. Sempre colocamos nas nossas composições aquilo que as músicas pediam. Quando tocamos a primeira vez em estúdio “O Castelo”, que é uma música que eu fiz a base com Bernardo, a música saiu e depois ninguém cogitou de fazer uma letra, pois já percebemos ao tocá-la que ela seria uma instrumental.

Bernardo: A mesma coisa aconteceu com “Cinza”. Tem tamém uma surpresa que preparamos pro Abril Pro Rock que também é uma instrumental…

Rafael: Então o lance é o Arthur trazer a bagagem musical dele e assim as coisas vão fluindo normalmente.

Quantas músicas novas vocês tem prontas ?

Bernardo: Músicas pós-Autópsia do Um Sonho são seis prontas, mas no total já temos umas 8 músicas novas.

E quais são as músicas do repertório da banda que vocês mais gostam ?

Rafael: Do disco a que eu mais gosto é “O Castelo” e atualmente as que mais sinto prazer de tocar é “Dezembro” e “Vai Voltar”.

Bernardo: Do disco, “O Castelo” e atualmente “Dezembro” e “Janeiro”

Arthur: Sempre gostei muito de “O Castelo”, eu sempre achei a melhor música do grupo. Eu também gosto muito de “O Lago”.

Rafael, por você e Zeca serem jornalistas e você até fez matérias sobre as bandas que estão surgindo na cidade para o Jornal do Comércio, você acha que isso ajudou e ainda ajuda a banda ?

Rafael: Acho que pode ser que ajude sim. Eu fiz matérias sobre o Mellotrons, sobre a Rádio de Outono, porque achava legal fazer matérias com essa nova cena e sempre pedia pra fazer matérias sobre as bandas daqui. Mas a primeira matéria que saiu no Jornal do Comércio sobre o Superoutro foi feita pelo Schneider (Carpegiani) e aquela matéria grande sobre as novas bandas da cidade que tinha o Superoutro na capa foi feita pela Diana Moura e saiu quando eu não estava mais no jornal. Saiu meu nome nessa matéria, mas foi porque a Diana me chamou uma matéria veiculada a respeito dos lugares que estavam abrindo as portas pra essas bandas tocarem.

Entrevistão com Superoutro

Mas você acha que o fato de ser jornalista abriu as portas pro Superoutro ? Em relação a contatos e coisas assim…

Rafael: Eu acho que ajudou sim, mas não foi um mérito só meu. Hoje em dia se tem bem mais espaço aqui pras bandas na mídia em geral. E público também.

Por falar nessas novas bandas, que a mídia categorizou de cena ou circuito indie recifense, vocês se consideram uma banda indie ? Isso incomoda vocês ?

Bernardo: Sinceramente eu nunca entendi esse conceito.

Rafael: Eu acho que a gente é uma banda de rock independente. Agora incomodar não incomoda até porque esse rótulo não remete a nenhum tipo de som específico. O que eu conheço por indie mesmo são aquelas bandas lo-fi americanas o começo dos anos 90. Mas se você ver as bandas que são chamadas de indies aqui na cidade, nenhuma faz um som parecido com a outra. A Rádio de Outono, o Mellotrons, o Volver, o Profiterólis, o Vamoz!, acho que todas elas fazem um som bem próprio.

E dessas novas bandas da cidade, quais vocês acham que tem a possibilidade de fechar com um selo ou com uma gravadora ?

Rafael: Não tem como fazer uma previsão em relação ao mercado fonográfico brasileiro, mas a cidade está muito bem servida de boas bandas e eu acho que existe a possibilidade das bandas daqui assinarem com uma Deck Disc ou uma Trama da vida. É uma questão de vários fatores, a mídia em geral daqui também tem um papel importante nisso.

Se chegar um produtor querendo bancar vocês chamando: “Oh, vamos pro sul agora”, vocês topavam ?

Bernardo Pagando a coca-cola e o cigarro, a gente vai tranqüilo.

E o clipe ? Vamos falar sobre o clipe antes que acabe a fita acabe…

Rafael: O clipe foi gravado em 2004 e só saiu agora porque passou por um processo muito demorado de edição e tratamento de imagem. Foi feito pelo Raul Luna e foi feito na brodagem mesmo, não gastamos nada.

Vocês tiveram alguma influência no roteiro ou em algo do tipo ?

Bernardo: Não, a gente deu uma liberdade muito grande pra que o Raul fizesse o que ele bem entendesse no clipe.

Rafael: Eu me reuni muito com Raul porque ele queria sempre saber o que a banda queria, mas a concepção do roteiro foi toda feita por ele e a Ana Maria.

E o que vocês acharam do resultado ? Vocês já tão sentindo algum retorno disso tudo ?

Bernardo: Bicho, de qualquer forma já foi um registro válido, porque o clipe ficou bonito pra caramba! E já deu um certo retorno pq ele foi escolhido pra passar na mostra competitiva do Cine PE.

Rafael: E não existe uma categoria especial pra videoclipe, ele tá concorrendo como curta digital mesmo. Só ver um clipe nosso passar numa tela de cinema como a do Teatro Guararapes já vai ter valido pra gente.

Vocês sentem falta de uma maior cobertura da mídia local ?

Bernardo: O ideal seria que as bandas de Recife se estabilizassem por aqui mesmo e que pudessem ganhar o suficiente pra se sustentar e compor. Um espaço maior numa rádio ou numa tv ajudaria muito nisso.

E vocês como se planejam em termos de divulgação ? O site de vocês tá meio paradão…

Bernardo: Nesse lado a gente realmente ainda fica preso no campo das idéias, na prática a gente ainda falha muito nisso.

Mas não tem dois jornalistas na banda ?

Bernardo: É, só que os dois são bem preguiçosos.

O que vocês esperam pra esse ano e para o futuro de vocês e da cena em geral ?

Rafael: Eu acho que na verdade tá surgindo uma mudança de atitude do público…

Arthur: E das próprias bandas também.

Bernardo: As bandas evoluíram muito, bicho! Ver um show de qualquer banda dessa ou da gente mesmo há um ano e pouco atrás e ver no que isso tudo se tornou hoje, dá pra ver que todo mundo está em outro nível. As bandas se profissionalizaram muito, até por causa da exigência de um público que tá crescendo e paga pra assistí-las.

Arthur: Tenho uma visão meio pragmática em relação a isso; Por exemplo, apareceu no cenário 2003/ 2004 uma quantidade enorme de bandas boas e você enxerga o esforço que elas fazem pra se sobressair. Só que esse prazo de projeção às vezes é curto, o próprio esforço em se projetar, em se profissionalizar por algo que pode não dar maiores frutos cansa. Mas eu percebo agora tocando agora com o Superoutro que existe um gosto natural na banda de tocar por tocar. Então, se tiver que não estourar, se tiver que não viver de música, ninguém vai acabar a banda por isso.

Bernardo: A gente pode muito bem manter uma rotina de trabalhar oito horas por dia e continuar ensaiando duas vezes por semana das 22h à 1h, como a gente faz hoje em dia.

Rafael: Agora eu quero inverter os papéis dessa entrevista…

E pode, é ? Sabia não…

Rafael: Vocêss do Reciferock, que hoje em dia é o principal divulgador das bandas pernambucanas, perceberam alguma mudança da cena quando essa nova cena começou a aparecer ? no número de visitas no site, por exemplo ?

O site teve um crescimento muito grande. O número de visitas aumentou em 40% nos últimos meses.

Rafael: Deve estar sendo mais exigido também. Tá bom de atualizar mais, né ?

Ei! O que é isso, pô? Corta tudo, vamos embora daqui agora!

Rafael: Não, to tirando onda! Na boa!

Sem broncas! Mas hoje em dia a gente realmente não tem tanta estrutura para a quantidade de cobrança que a gente recebe. Algo parecido com o problema de vocês e de outras bandas com produtores e divulgação.

Bernardo: É, o mal é o mesmo pra todo mundo.

Entrevistão com Superoutro

Voltando a entrevista, o que vocês acham de uma galera do Manguebeat que diz que essas bandas que tem surgido são todas de classe média e quando o pai parar de dar dinheiro a “brincadeira” acaba ?

Rafael: Eu acho isso uma hipocrisia absurda, até porque também existem muitas bandas de Manguebeat que tinham e ainda tem integrantes de classe média. É algo que nem aquela rixa que existia nos anos 80 e nos 90, entre as bandas da classe operária e as bandas de estudantes de escolas de arte. Mas isso é uma besteira muito grande.

Bernardo: Sinceramente, isso pra mim é falta do que falar. Chico Buarque, na minha opinião, é o maior compositor de música brasileira e ele nasceu num berço bem provido, diga-se de passagem. Essas bandas hoje em dia em Recife que estão se projetando conseguiram isso porque tem um público que quer ouvir esse tipo de som, assim como existe o público que quer ouvir Manguebeat, o que quer ouvir Mpb, o que quer ouvir Chorinho, etc.

Rafael: Sempre existe esse lance; apesar de Recife ser uma cidade muita aberta pra cultura, sempre tem alguém querendo lhe colocar pra baixo. no Microfonia mesmo, eu nunca vi tanta besteira junta sendo falada a respeito do resultado final do festival. Era coisa pra rir mesmo!

Agora pra deixar o clima mais ameno, vocês foram escalados pro APR e o sonho de todo guri daqui de Recife que tem banda é tocar no Abril. E vocês quando eram guris, qual era o sonho de vocês em relação a música ?

Rafael: Eu sempre quis ter banda e comecei a me envolver muito cedo com música porque minha mãe me colocou no conservatório pra tocar violino quando eu tinha 5 anos. Mas eu não tenho nada haver com isso não, ela que me colocou lá…

Bernardo: “A culpa não é minha não!”

Rafael: Eu me lembro que eu era quinta série na época e eu estudava em colégio de freira, então todo evento eu ia lá tocar violino. Mais tarde, o primeiro contato que eu tive com rock foi ao onze anos quando eu conheci um pessoal mais velho que me chamou pra tocar numa banda. Eu me lembro que quando a gente foi ensaiar no primeiro dia e eles estavam com um disco do Nirvana, da Legião Urbana e do Sepultura.

Pô! Tudo haver, hein ?

Rafael: É, mas foi esse meu primeiro contato com o rock.

E vocês dois ? Quando foi que vocês começaram a ouvir som e se interessar a tocar ?

Arthur: O meu gosto por rock começou mais cedo do que os dos meninos, porque eu sou mais velho que eles. Quando eles, vamos dizer, se interessam por rock em 93, eu já tava ouvindo antes.

Bernardo: Ah, eu comecei a ouvir rock nos anos 80. O lance de tocar só veio nos anos 90.

[É vamos acabar por aqui entrevista pq o coitado que vai decupar as fitas vai sofrer um bocado com a quantidade de coisa que está nela]

A entrevista foi feita por Guilherme Moura, Breno Mendonça e Tiago Barros em 24 de março de 2005, decupada por Tiago Barros e editada por Bruno Negaum…

Entrevistão com Superoutro

Links:
» Superoutro no RecifeRock
» Midsummer Madness – Site Oficial

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