Festival Do Sol 2005 (primeiro Dia)

Por Hugo Montarroyos em 9 de agosto de 2005

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FESTIVAL DO SOL 2005 (PRIMEIRO DIA)
data: 06/08/2005 (Sábado) – local: Largo da Rua Chile (Natal/RN)
com Mombojó, Gram (SP), Experiência Ápyus (RN), Officina (RN), Polar (RJ), Os Bonnies (RN), Fossil (CE), Snooze (SE), Retrofoguetes (BA) , Edu Gomez (RN), Peixe Coco (RN), Uskaravelho (RN), A Válvula (RN), Calistoga (RN) e Revolver (RN)
Resenha por Hugo Montarroyos – Fotos por Guilherme Moura

Festival DoSol dá exemplo de organização e competência
em 06/08/2005 por Hugo MontarroyosDireto ao ponto: O Festival DoSol , realizado nos dias 6 e 7 de agosto em Natal, no Rio Grande do Norte, foi um dos eventos mais bem organizados e bacanas que já cobri na vida. É tão gratificante para este repórter que vos digita falar sobre essa iniciativa que dividirei o texto em tópicos para facilitar a minha vida e a compreensão do leitor.

Estrutura

O evento é resultado do esforço do pessoal da “DoSol”, “pequeno conglomerado” de Natal que envolve um bar, um estúdio, uma produtora de vídeos, um selo e, agora, um festival. Este é realizado na Rua do Chile. Ou seja, eles fecham um quarteirão da cidade muito parecido com alguns trechos do bairro do Recife, e esse local abriga bares e restaurantes, além de um palco monstruoso dividido em dois para agilizar os shows.

Parte do excelente produto final deve-se muito ao fato de toda a produção ligada ao festival ser formada por músicos. Dos assessores de imprensa aos produtores, dos técnicos de som aos donos do evento, todos possuem bandas. Isto sem dúvida facilita na hora da montagem de palco, na organização da estrutura, na pontualidade britânica dos shows e etc, pois produtores e artistas dialogam melhor por conhecer os dois lados da moeda. Ou seja, tecnicamente, se o festival não foi perfeito, chegou bem perto disso.

Público

Em média mil pessoas por dia circularam no festival. O público, extremamente receptivo e carinhoso com as atrações, desde as locais até as mais desconhecidas, era muito jovem (entre 15 e 25 anos, em sua grande maioria) e segmentado. Ao contrário do MADA, que reúne uma população que parece vestida para uma micareta ou trecos do gênero, o público era constituído de consumidores de rock.

Shows – Primeiro dia

A festa começou no bar DoSol , espaço agradável que ostenta uma peculiar decoração. Ladeados, saltam aos olhos quadros na parede com caricaturas de Lennon, Joey Ramone, Chico Science (!) e Bob Marley . Três bandas locais se apresentaram no bar; Calistoga , A Válvula e Revolver . O destaque ficou para o Revolver , que faz uma ótima mistura de rockabilly com rockão de garagem, lembrando muitas vezes o Ultraje a Rigor.

Após as apresentações no bar, que reuniram um bom punhado de pessoas, o público é convocado para rumar ao palco principal. E surge a primeira grande ousadia da noite: três atrações instrumentais seguidas .

A primeira foi o chapado Fóssil , do Ceará, banda que faz um som difícil de ser traduzido em palavras, mas muito bom de ser testemunhado. Com ênfase no noise e parecendo querer soar propositadamente desconfortável, o grupo trilha um caminho sonoro tortuoso, que cria uma interessante ruptura de dicotomia: é angustiante, mas muito bom.

O segundo instrumental da noite foi o potiguar Edu Gomes , que faz o tipo de música que maravilha músicos e atordoa a paciência de quem não tem intimidade com notas musicais. Ou seja, trata-se de um excelente guitarrista virtuose que faz um som masturbatório e chato, daquele que parece querer dizer o tempo todo: “olha só como eu toco pra cacete”. de fato, toca. Mas é tão chato quanto técnico.

Retrofoguetes (BA)

A terceira atração da noite acabou sendo a melhor de todas. Os baianos da Retrofoguetes repetiram a excelente performance do último Abril pro Rock, com uma “pequena” diferença: o público de Natal interagiu e curtiu pacas a surf music envenenada do trio, que consegue se agigantar no palco. Fora dele, todos dançando, se divertindo ao extremo. A banda também se diverte ao máximo, e proporciona um espetáculo de puro hedonismo traduzido em punk-surf-ou-sei-lá-que-diabos-eles-fazem. Tocaram “Misirlou “, de Dick Dale, e levavaram a platéia à beira da insanidade. Ao anunciar a última música, o guitarrista Morotó diz: “Vamos tocar a saideira e descer para beber com vocês “. Nota mil !

Depois foi a vez do promissor Os Bonnies entrar em cena. Seu rock simples, cru, direto e calcado em Stones rendeu ótimos momentos. A banda, de Natal, mostrou que tem um belo futuro pela frente. Basta trabalhar melhor as letras e o vocal, ambos ainda um tanto verdes. Mas isso não foi empecilho para o grupo cativar a audiência, que entrou legal na instigação e garra dos caras.

Já o também local Uskaravelho , apesar de contar com excelentes músicos, insiste numa sonoridade que caiu, digamos assim, no ostracismo. É 100% influenciado pela geração dos anos 80 do rock nacional, o que não é lá muito agradável de ouvir em pleno 2005, principalmente ao vivo. Os anos 80, pelo menos no terreno da música brasileira, envelheceram mal. Continuam ótimos com os ícones da época, mas estou para ver surgir hoje uma banda convincente que se dedique a tal gênero. O show deles acabou sendo apenas morno.

Com o Peixe Coco , também de Natal, foi pior ainda. A banda atira para todos os lados; reggae, regional, universal, Charlie Brown, Rappa e etc e tal. E acaba sofrendo de falta de personalidade.

Representando Aracaju, o Snooze fez um show discreto. Mostrando um bom rock psicodélico, tocado com muita competência, mas que carece de algo mais. A apresentação acabou não vingando e não convencendo, apesar de ser claramente perceptível que dali poderia render um bom caldo…

Officina (RN)

O Officina foi, para mim, a grande surpresa da noite. Com um histórico passado na cena local, a banda fez seu show de despedida, que, diga-se de passagem, foi muito bom. Bem resolvido sonoramente, o grupo mostrou um pop consistente e de boa pegada comandado pela carismática e ótima vocalista Ana Morena. Sinceramente, não entendi o motivo do encerramento da carreira. A balada “Fácil de Fazer ” foi cantada por boa parte do público. Eis uma boa banda que injustamente interrompeu a carreira antes do reconhecimento nacional.

O carioca Polar fez uma apresentação fraca. Com um pop que convenceu pouquíssima gente, o grande momento do show foi um cover tosco de “Can’t Stand Me Now “, do The Libertines. E só. O resto foi puro tédio.

O surpreendente Experiência Aypus , de Natal, é dono de uma refinada e muito bem trabalhada simbiose. É uma espécie de Jorge Benjor nordestino e com um pé fincado no jazz. Sua performance foi interessantíssima, mas acabou causando mais estranhamento do que empatia. Uma pena.

Mombojó

Já o Mombojó viveu uma noite comovente. Foi o primeiro show deles que vi fora de Recife, e fiquei impressionado como a banda é popular em Natal. Felipe S evoluiu horrores, tanto na parte vocal quanto na presença de palco (este último requisito ele deve ter aprendido com China). Os hits (hits????) foram cantados um a um pelo público: “Deixe-se Acreditar “, “Adelaide “, “Merda “, “A Missa “. O cover de “Amor de Muitos “, de Chico Science, caiu como uma luva no repertório do grupo, e parecia até ter sido composta por eles, tamanha a coesão com o set list do Mombojó. As novas músicas, que ainda não possuem título definitivo, indicam um caminho mais ousado e experimental, flertando com o noise e sempre reverenciando de forma majestosa o passado. Felipe S não se conteve de tanta felicidade e acabou se jogando nos braços do público no final do show, que teve direito à bis de “Deixa-se Acreditar “, que foi responsável por um dos momentos mais constrangedores da minha vida: chovia nesse momento, e eu era o único ser vivo neurótico o suficiente em todo o local a ter um guarda-chuva aberto em mãos. Acabei frevando feito um louco ao som da música, pagando um mico daqueles e sendo alvo de chacotas de meus colegas de profissão. Dane-se! Sou fã assumido do trabalho dos meninos, e fico impressionado como eles evoluem a cada show. no fim das contas, acabei ficando com um puta orgulho pelo fato da banda ser pernambucana. Sentimento bobo, porém justificável, de quem vê um banda do Recife sendo aclamada em uma terra que não é a sua.

Gram (SP)

O Gram enfrentou problemas técnicos de som, mas agradou assim mesmo. Os caras abriram o set list com “Sonho Bom “, tocaram “Across The Universe “, dos Beatles, e deixaram satisfeitos os muitos fãs que foram prestigiá-los.

E foi o fim do primeiro dia de um dos festivais mais bacanas surgidos recentemente no país.

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