em 07/08/2005 por Hugo MontarroyosO emo e o hardcore melódico dominaram o segundo dia do ótimo Festival DoSol , em Natal. Aliás, tais gêneros merecem umas linhas à parte. Eu, que nunca gostei de ambos, finalmente perguntei para quem entende do assunto a diferença entre os dois estilos. Em conversa animada no bar DoSol com o boa praça Maurílio , vocalista do cearense Switch Stance , ele me explicou que a única diferença (pelo menos foi o que deduzi de tudo que o cara falou) era o discurso. Emo aborda conflitos amorosos, enquanto que o hardcore melódico trata de questões mais abrangentes, existenciais, filosóficas e tal. Mas o som é o mesmo, e ele detesta o rótulo emo e reivindica o status de grupo de harcore melódico para sua banda. Ok, falou quem conhece.
Começo este parágrafo pedindo humildemente desculpas aos fãs dos dois estilos citados acima, mas não tem jeito de tal som descer na goela deste repórter. Gostaria imensamente que este texto fosse escrito por quem acompanha e gosta do estilo, mas, infelizmente, não é o caso. Críticos musicais evidentemente têm preferências, e as minhas passam longe do emo e do harcore melódico. Em compensação, não vou emitir juízo de valor sobre bandas que fazem essa linha. Não me julgo mais nesse direito. Apenas não gosto e continuarei não gostando. Também gostaria de pedir imensas desculpas ao pessoal do Sugar Kane e do próprio Switch Stance . Por motivos de força maior (alimentação e entrevistas com outras bandas), acabei perdendo os shows deles. Apurei depois com colegas que as duas bandas tiveram ótima receptividade por parte do público.
Ok, sem mais enrolação e direto aos shows. Três bandas de emo se apresentaram no final da tarde no bar DoSol para um grande número de pessoas, em sua grande maioria na faixa dos 15 aos 18 anos. Karpus , Calibre e Arquivo , todas de Natal, fizeram apresentações concorridas, com direito à mosh, rodas de pogo e tudo mais. As três saíram do palco com a missão cumprida: agradaram a molecada.
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Abrindo os trabalhos no palco principal, o irregular Projeto 50 fez uma apresentação que cativou alguns, mas a impressão que a banda paraibana deixa é a mesma do refrão de uma de suas músicas: normal demais. O som flerta com o peso, mas com pouca criatividade. As letras são de teor político, mas o discurso acaba soando meio aguado, panfletário e ingênuo. O grupo representou o país no Ano do Brasil na França . Deve ter lá seu valor…
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Depois foi a vez do Vamoz! entrar em cena. Durante o show, uma das produtoras do festival, empolgada, me perguntou: É sempre bom assim? . É, minha amiga. Foca, organizador do evento e vocalista do Allface, também não escondia sua satisfação com a performance dos caras: Trata-se disparado do melhor grupo do Recife . O trio, como de costume, fez um show tecnicamente impecável. Beside e Letter foram tocadas com esmero, raça e vontade. É o tipo de banda que combina com cerveja. E, no universo rock, isso significa que ela é perfeita. Talvez teria tido uma recepção mais acalorada se tivesse sido escalada no dia anterior, pois o público assistiu ao show deles com um misto de respeito e estranhamento. Afinal, não é todo dia que surge uma banda formada por dois guitarristas e um baterista que bebem na melhor fonte do Crazy Horse, cantam em inglês, não dão tempo para ninguém respirar (nem para eles prórpios) e que parecem fazer do palco o quintal de suas casas. As novas músicas estão ainda mais cruas, despidas de qualquer sofisticação e calcadas na combinação rock duro com blues. Fire Baby , que segundo o guitarrista e vocalista Marcelo Gomão é um blues acelerado (nunca tinha percebido isso, mas o cara tem razão) encerrou o ótimo show deles.
O local Zero8quatro tocou para um público que parecia ser dele. Várias meninas (meninas mesmo!) vestiam camisetas do grupo. A banda possuí influências óbvias de Red Hot Chilli Peppers, mas, por vezes, despeja camadas de peso em seu som. Em outros momentos, os caras investem em baladas, como em Meus Olhos , o hit do grupo. Saíram de cena aplaudidíssimos.
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Agora, quem me surpreendeu mesmo foi o Jane Fonda , também de Natal. A banda evolui muito em relação ao show deles no último PE no Rock . O som ficou mais cheio e mais pesado. A crise de identidade (ninguém sabia ao certo que tipo de música os caras faziam) foi superada, e hoje pode-se dizer que o Jane Fonda faz um rock vigoroso amparado por belas paredes de guitarras. Foi uma baita apresentação que teve ótima aceitação popular.
Outro que melhorou bastante foi o Allface . Eles trafegam por um estilo que, como já citei acima, não gosto, mas são competentes no que fazem. E é inegável o carisma do vocalista Anderson Foca, que cantou arrasado após uma semana de trabalho intenso de dedicação ao festival. Ficou sem voz diversas vezes. Se o som não é punk, sua atitude foi. Devo (e pedi pessoalmente) desculpas aos caras pelo que escrevi sobre a banda no MADA de 2004. O Allface é muito bom e bem resolvido no que faz. Embora eu deteste o estilo, é nítida a superioridade da banda entre as outras locais (e até do Recife) que se dedicam ao gênero.
O Matanza fez apenas e tão somente história em Natal . O show deles foi irretocável, incontestável e perfeito. Divertido, matador e engraçado. Colocou todo mundo na roda de pogo. Até eu, que já me aposentei há tempos, tive vontade de entrar na onda. Bom é quando Faz Mal foi antológica. Não deixou ninguém parado. Ela Roubou Meu Caminhão , Rio de Whisky e As Melhores Putas do Alabama ganharam ao vivo um vigor que é imperceptível em disco. Impressionante o carisma do vocalista Jimmy . Parece não precisar se esforçar muito para ter o público nas mãos. Aliás, parabéns aos potiguares. O público de Natal é fantástico. O Matanza repetiu o mesmo show que fizera no último Abril pro Rock. Só que, no Recife, a audiência não deu muita bola. Em Natal, a banda teve a receptividade que merece, e cravou seu nome na cidade com uma apresentação histórica.
Bem, quando estávamos indo embora (nossa van estava marcada para sair às 23h) o Mukeka di Rato começou o seu show. É apenas um palpite, mas a impressão que deu é que a banda não deixaria pedra sobre pedra com seu hardcore podreira, este sim, muito apreciado por este humilde escriba. Pena que não deu para testemunhar o massacre sonoro que eles costumam fazer.
Parabéns aos organizadores do Festival DoSol. Vocês também estão fazendo história. E, principalmente, parabéns ao público de Natal, que deu uma lição de hospitalidade, carinho e respeito com todos que subiram ao palco. Ano que vem nos encontramos de novo!
Links:
» Vamoz! no RecifeRock!
» Site do Festival doSol
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