Se Não Fosse o RockÂ’n Roll…

Por Recife Rock! em 26 de outubro de 2005

SE NÃO FOSSE O ROCK’N ROLL…
data: 22/10/2005 (Sábado) – local: Barramundo
com The Honkers (BA), The Playboys e The Incredible Scrobbies
Resenha por Tiago Barros – Fotos por cobertura sem fotos

As três bandas garantiram uma noitada rocker de prima para quem agüentou ficar até o finai
em 22/10/2005 por Tiago Barros

Antes de tudo, a quantidade de pessoas que compareceu ao Barramundo nesse sábado foi um tanto quanto decepcionante e isso me fez enumerar alguns possíveis motivos que talvez pudessem explicar essa debanda:

1) Teriam todos viajado para assistir o Tim Festival no Rio ?

2) Preferiram assistir o show do Angra que ocorreu no mesmo dia no Clube Português ?

3) Acharam que assistir o show da M.I.A. na MTV fosse um programa mais bacana ?

4) Nenhuma das respostas. Não foram porque são todos uns bunda moles mesmo!!!

Bem, como quem viajou para ver o Tim foi um número pequeno de privilegiados (leia-se, gente com grana sobrando) e o público do Angra não é lá bem o mesmo que iria para esse evento específico, podemos elucubrar que foi um misto das duas últimas opções. Mas cá entre nós, ficar em casa para ver M.IA. e ser um bunda mole são praticamente atitudes gêmeas , que me perdoem os fãs da tchutchuca da Sri Lanka.

Voltando ao assunto em pautas, o pontapé inicial foi dado pela “banda que faz um show por ano”, a Incredible Scrobbies. Para quem nunca ouviu falar, os Scrobbies foram umas das primeiras bandas a se fazer o que atualmente se convencionou a chamar de “indie rock”, mas que há cerca de 10 anos atrás, ou até pouco menos que isso, era rotulado como “rock alternativo”. Tente agrupar a sonoridade de um Weezer dos 2 primeiros álbuns, de um Guided By Voices da fase menos lo-fi, de um Pavement dos 3 últimos discos, uma pitada de Nirvana aqui e ali e pronto, desse caldo sai o som dos Scrobbies…ou não. Iniciaram sua apresentação com aquela que, na opinião desse que vos escreve, é uma das melhores músicas da banda, a tensa Poddle Boy, canção que não segue muito a eminente veia power pop que a maioria das canções do grupo possui. Daí adiante dispararam alguns pequenos “hits” do circuito alternativo recifense de final dos 90/começo de 00, como Perfect, Love N.6, Be Happy, entre outras, quase todas cantadas pelo pequeno, porém atencioso público presente.

Outro destaque na apresentação da banda foi a balada Blue, música que gerou o bordão “toca blue”, algo que equivale para o IC o mesmo que o “toca Raul” para qualquer outra banda. Mas ao contrário da chatice sem graça que é ouvir um mané clamar por algo do finado músico baiano, o grito pela música Blue não se configura como um pedido besta sem noção, já que, além de ser uma bela balada, a banda raramente tocava a referida canção em seus shows.

Também não dá para esquecer também de destacar as bem executadas covers de Zero do Smashing Pumpikins (seria também mais uma influência ? Acho que sim), Round Here do Counting Crows e Blitzkrieg Bop do Ramones que fechou o show e foi dedicada a Zé Guilherme, tecladista dos Playboys.

E por falar nos Playboys, foram justamente os mesmos que adentraram ao palco, despejando sua ironia punk em cima de tudo e todos. Não faltou para quase ninguém nesse show: mangue boys, punks de butique, estudantes do CAC, mauricinhos, patricinhas, indies, nenhum deles escapou da verve debochada do grupo. A irreverente banda tem investido cada vez mais no uso dos teclados, o que tem deixado o seu rock despojado com uma interessante pegada synth pop, ou, melhor, synth punk. Mas o grande problema é que eles abusam um pouco desse expediente, já que a maioria das suas cançoes tende a seguir a mesmíssima fórmula e o show fica bastante cansativo da metade para o final. Quando fogem um pouco dessa excessiva homogeneidade, como na funk e impagavelmente intitulada Pancadão Armorial e na bem sacada Paulo André Não Me Ouve, os resultados são bem melhores. Mas a impressão é que o sarcasmo proferido ad nauseam pela banda se sobressai a passos largos frente à música em si e audiovisualmente o grupo parece que não se sustentaria sem as piadas e a teatralidade cômica do vocalista João Neto. Mas vale salientar que a banda possui um considerável séquito de fãs, pena que poucos se encontravam presentes.

Os soteropolitanos do The Honkers entraram em seguida e fizeram mais um dos seus costumeiros catárticos shows em terras recifenses, o segundo feito aqui nesse fim de semana, já que eles tinham tocado no dia anterior no projeto Gororoba na Moeda. Quem já assistiu a banda por esses lados sabe bem o que esperar de uma apresentação ao vivo deles: Uma cacetada de roques garageiros tocados com energia e volume saindo pelo ladrão e a performance beirando a insanidade total do vocalista Rodrigo Sputter, um sujeito que aparenta ser tranqüilo antes e depois do show, mas que se transforma em um frenético demente de olhos esbugalhados quando esta no palco, com direito a voadoras desferidas nas paredes, acrobacias em cima de uma cadeira, um semi strip tease, entre outras porra-louquices. Aliás, vale salientar que esse era o terceiro show que a banda estava fazendo nesse fim de semana (além de terem tocado na Rua da Moeda na sexta, os caras tocaram em João Pessoa horas antes de virem se apresentar novamente aqui nesse mesmo sábado), mas parecia ser o primeiro show deles da semana toda, tamanha era energia que rapaziada ainda conseguia transmitir nessa apresentação.

Seria preciso mesmo citar algum destaque? Talvez não, até porque a apresentação toda foi um esporro do início ao afim, mas não dá pra negar que This Is An Old World (música que se fosse tocada por alguma banda gringa, muitos críticos “hypeiros” estariam pagando pau por aí), Devil Girl (psychobilly de primeira para deixar os papais do gênero, o The Cramps, com orgulho dos seus pupilos baianos) e a cover que já virou hours concours nas apresentações deles, Monkey Man, do Specials, foram três momentos nos quais até quem deveria estar apenas “a trabalho” por lá, como eu, por exemplo, agitou e bateu a cabeça bastante ao som delas.

O único fato inesperadamente chato ocorrido foi no finalzinho do show, enquanto os decibéis atingiram volumes ainda mais altos e o Sputter ficava mais uma vez só de cueca, ou seja, enquanto rolava aquela putaria costumeira que sempre ocorre no final das apresentações dos Honkers, o proprietário do Barramundo mandou apagar a luzes e pediu para a banda parar a apresentação, pois, como o mesmo me explicou algum tempo depois, achou que ia todo mundo ficar pelado no palco e isso poderia ofender algumas pessoas presentes. Claro que isso causou um certo mal estar no recinto, tanto que eu mesmo tive que me prestar a explicar para o pessoal da organização do bar que aquilo não ultrapassaria tanto assim os limites dos bons costumes, se é que já não tinha ultrapassado. Mas, vamos ser sinceros, não foi um final digno de um show de rock visceral como esse ? Além de mais uma apresentação bombástica, a banda também já tem mais uma boa estória para contar no seu currículo.

Apesar de todos desses pequenos pesares, as três bandas garantiram uma noitada rocker de prima para quem agüentou ficar até o final. E quem preferiu ficar em casa nesse sábado para ver o show da M.I.A na MTV, só posso dizer uma coisa: Só lamento!!!

Links:
» The Playboys no RecifeRock!
» Site da The Honkers

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