em 25/11/2005 por Tiago Barros
Assumo que foi com um certo receio que recebi a missão de cobrir a noite metal do Pátio do Rock 2005. Não por não gostar do estilo pautado da noite (sim, apesar de nunca ter sido um autentico headbanger, até hoje ainda ouço algo de som pesado) ou por achar que iria ouvir umas tranqueiras sem solução (até porque eu só conhecia duas das oito atrações da noite), mas porque a um certo tempo atrás o RecifeRock! foi, ora vejam só, acusado de “desrespeitar o metal recifense” (ui!! que medo!!). Aà vai que de alguma forma, indireta ou não, eu fosse corroborar para que tal baboseira ainda continuasse, já que parece que os guris que professam tais coisas andaram gazeando as aulas de interpretação de texto do colégio e acham que qualquer resenha negativa mais ácida é “buta pra fudê nas bandas, véi!!”
Entretanto, essa apreensão logo se dissipou quando me lembrei que bandas como Sick Sins, Hanagorik, Dyluvian, Chaosphere, Silent Moon, Nor-K, e tantas outras das mais variadas vertentes do metal pesado, já passaram pelo site e receberam (pelo menos todas essas supracitadas) comentários mais que elogiosos (até porque fizeram por merecer tais comentários, creio eu). Então foi respirar fundo, colocar a minha mais surrada camisa preta e partir para a noite do Pátio do Rock 2005 dedicada ao louvor do venerável e supremo deus metal.
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Infelizmente, não pude chegar a tempo para assistir as apresentações do Andrômmeda e do Nob, mas ainda peguei o finalzinho do show do Ghazz (as últimas três músicas, para ser mais claro). Do pouco que vi, deu para sentir que o grupo mistura guitarras à la Deftones do primeiro álbum com um instrumental mais trabalhado, lembrando em alguns momentos a banda Tool. Claro que, tendo em vista que somente três músicas foram presenciadas por esse que esta vos relatando ao momento, não daria para fazer uma análise com o devido embasamento a respeito da apresentação do grupo, mas a banda me aparentou ser uma competente representante do estilo que se propõe a fazer, no caso, o new metal. Nesse meio tempo, sofreram um pouco com o som e tiveram uma receptividade geral bem fria do público presente, mas penso que tenham dado bem o seu recado. Ou não ?
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H.Pylori foi a próxima a subir no palco, com seu Thrash de afinações baixas, claramente influenciado pela fase mais porradeira do Soulfly. A banda foi uma das prejudicadas, quiçá a mais prejudicada, pela qualidade, ou falta de qualidade, do som no inÃcio do evento. Como a banda faz uso de afinações bem graves, seria essencial um som bem equalizado para que as bases de guitarra e baixo soassem realmente audÃveis, coisa que não aconteceu durante toda a apresentação deles. Fora que a estrutura geral de boa parte das músicas tocadas seguem praticamente a mesmÃssima fórmula, o que deixa o show deles um tanto quanto repetitivo. Em compensação, a rapaziada toca com bastante energia e possuem uma boa presença de palco, o que indica que eles podem render bem mais em um futuro não muito longuÃncuo. E, lógico, se tudo isso vier acompanhado de um som de palco mais decente, seria muito mais do que bem vindo.
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Rapidamente o Extremocaos subiu ao estrado e aà que o bicho começou a pegar de verdade. O grupo faz um Thrash-Death muito bem tocado, cheio de partes quebradas, uma espécie de amálgama entre o tecnicismo de um Meshuggah e a pancadaria old school do Sepultura fase Beneath The Remains/Arise. Aliás, do citado Sepultura eles fizeram uma versão urgentÃssima e bem mais rápida de Arise que gerou rodas de pogos monstruosas à frente do palco. Todos os membros da banda são ótimos instrumentistas, mas o excelente baixista Guto e o carismático vocalista Jonatas roubaram fácil a cena no show. Tiveram que ser interrompidos, já que iriam a tocar a segunda música fora do tempo previsto para todos os outros grupos, tamanha era empolgação deles ao se apresentar para uma platéia ensandecida com sua música. E não era para menos, pois foi definitivamente um puta show, mesmo com o som ainda não dando muitos sinais de melhora.
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Depois do arregaço que foi o show do Extremocaos, foi a vez do Gothic Metal do Empty Book dar o ar de sua graça no evento. Aliás, não sei bem dizer se eles são ou não uma banda de Gothic Metal, pois era perceptÃvel uma gama de muitas referencias no som da rapaziada, ops, e da garota que também canta e é a frontwoman do quinteto. Mas podemos dizer que vários pontos pesam para que possamos caracterizá-los como uma banda de Gothic Metal: Tem referencias de música erudita ? Tem sim, senhor, inclusive há um violinista na formação da banda; Tem os famigerados duetos vocais ao estilo “Bela e Fera” (leia-se, vocal feminino soprano em contraponto a intervenções de um vocal gutural abafado masculino, tÃpico de bandas de Metal Gótico) ? Tem sim, ora, pois!! E o clima melancólico, ma non troppo, que é de praxe para esse estilo ? Claro que tem, meu rapaz !! Então pronto, estamos diante de uma banda que pende fortemente para o Gothic Metal e, por favor, não venham me corrigir, dizendo que na verdade eles fazem Epic Metal, Folk Metal, ou qualquer designação pomposa que não quer dizer lá muita coisa, pois eu precisava terminar essa cobertura ainda essa semana, faz favor!
No geral, a banda possui muito bons músicos (destaque aparte para o baterista Ricardo) e conseguem fazer um som bastante intrincado e cheio de alternâncias rÃtmicas/melódicas. Mas é justamente aà que reside também um ponto negativo da banda, já que são tantas e tantas mudanças de andamento (algumas delas me soaram bem desnecessárias, diga-se de passagem) que acabam tornando as músicas do Empty Book maçantes de serem ouvidas. Sem falar que em alguns poucos, mas muito evidentes momentos as harmonias feitas pelo violino, instrumento dissonante por natureza, não casavam bem com o resto do instrumental. Aparando essas arestas, a banda pode soar bem mais convidativa ao ouvinte casual de som pesado, já que técnica possui de sobra.
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Com simplesmente 19 anos de estrada, o Cruor adentra ao palco para ensinar a molecada o que é o verdadeiro metal circa 80, com o som do festival dando finalmente sinal de melhoras, glória! A banda, que é uma verdadeira “lêndea viva” do metal pernambucano, andou desaparecida por uns tempos, mas voltou a ativa esse ano sem mostrar sinal algum de cansaço ou acomodação. Estou aqui no momento me policiando ao máximo para não usar frases como “foi um show avassalador”, ou “eles não pouparam a platéia de seus petardos metálicos”, e muitas outras frases do mesmo quilate que remetem diretamente á publicações brasileiras de metal de duas décadas atrás, mas o Cruor realmente fez todo o headbanger presente nesse dia se sentir como se estivesse de volta aos anos 80, onde a cena Metal estava em fervilhando em todo o mundo. Sim, não há praticamente nada de moderno no Heavy-Thrash perpetrado pela banda, mas os caras tocam com tamanha competência e naturalidade que você fica querendo mandar a “mudernidade” à s favas. Vale lembrar que foi o único show da noite onde teve gente subindo no palco para cantar junto com o vocalista, onde rolaram stage dives e até um momento onde um banger subiu para pedir as baquetas do baterista. Ou seja, se você que se diz “guerreiro do metal” e não assistiu esse show em particular, perdeu, preibói! E não vá vacilar assim nos próximas apresentações que provavelmente eles virão a fazer, pelo amor que você tem a sua discografia do Slayer!!!
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Depois da festa metálica que foi a apresentação do Cruor e para encerrar de vez a noite, o Terra Prima e seu Metal Melódico virtuoso fizeram as honras. Tocaram para uma platéia bem mais reduzida do que a estava no inÃcio, porém, todos os que resistiram até o final provavelmente estavam esperando pela banda, dada a calorosa e animada recepção que tiveram com o grupo. A banda conta com excelentes músicos (algo que é praticamente uma imposição para qualquer banda que se aventura a fazer o som que o Terra Prima faz) e demonstraram ter um bom domÃnio de palco também. Pecam pelo excesso de açúcar nos refrões, que mais se assemelham aos de um grupo de Hard Rock farofa como Bon Jovi do que com aos de um de Metal propriamente dito, mas, sejamos honestos, a maioria das bandas de Metal Melódico soam assim, então eles parecem estar seguindo o caminho padrão. Algumas músicas possuem certos elementos particulares, como partes onde há levadas de música flamenca e até de forró, mas talvez seria mais interessante caso esses mesmos elementos estivessem mais inseridos na estrutura geral das músicas do que apenas aparecendo em um trecho especÃfico.
De qualquer forma, a apresentação deles foi um verdadeiro banquete para quem curte o estilo por eles adotados, com direito a covers do Helloween e do Angra, solo individual de todos seus integrantes e o escambau.
Esse terceiro dia do Pátio do Rock 2005 termina então com um saldo positivo, porém uma coisa deve ser dita, frisada e se possÃvel revista com muito mais apuro: A situação do som beirando o vexaminoso, que parece ser uma caracterÃstica nem um pouco positiva de qualquer evento que role no Pátio de São Pedro, precisar ser melhor averiguada pela organização dos eventos que rolam por lá. Muitas apresentações desse dia foram prejudicadas por isso e, pelo que pude confirmar posteriormente, também não foi muito diferente nos outros dias do Pátio do Rock. Nós do RecifeRock sabemos bem que não é nada fácil organizar esse tipo de festival. Contudo, vemos também a situação das bandas penando para mostrar seu trabalho sem as devidas condições necessárias. Será que falta mais investimento especificamente nisso ? Ou será que falta encontrar técnicos de som que saibam realmente trabalhar com rockÂ’nÂ’roll ? Seja qual for o problema, esta mais do que na hora de ser corrigido.
Clique na foto abaixo para abrir a PopUp com as fotos do Pátio do Rock 2005 (Terceira Noite):

Links:
» Terra Prima no RecifeRock!
» Empty Book no RecifeRock!
» Extremocaos no RecifeRock!
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