Rec-beat 2006 (Quarto Dia)

Por Hugo Montarroyos em 15 de março de 2006

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REC-BEAT 2006 (Quarto Dia)
data: 28/02/2006 (Terça) – local: Caís da Alfândega (Recife Antigo)
com Nação Zumbi, Turbo Trio (RJ), Mawaca (SP) + 3 Ceguinhas (PB), Sonic Jr (AL), Mula Manca e a Triste Figura, The Playboys e Fethxa
Resenha por Hugo Montarroyos – Fotos por Guilherme Moura

Pra variar, Nação Zumbi…
em 28/02/2006 por Hugo Montarroyos

Está cientificamente comprovado: no carnaval, quando o assunto é música, vale tudo. Tango, índio político e politizado, eletrônica alagoana, coral étnico, punk burguês. A impressão que dá é que qualquer ritmo que subir ao palco do Rec-Beatserá bem recebido, tamanha a disposição do folião em ouvir qualquer som amplificado. Para utilizar uma palavra muito bem empregada por Rogerman no Alto José do Pinho, sobra “tolerância” para a diversidade no Rec-Beat. Ainda bem.

Com mais de uma hora de atraso, o grupo Fethxa, formado por índios da tribo Fulniô, de Águas Belas, começou sua apresentação. Dedicaram a primeira música ao falecido produtor Felipe Melo. Desfilaram cocos e ritmos tribais e conquistaram o público. Mas pecaram aos 45 do segundo tempo. Resolveram fechar o show com uma canção composta em homenagem ao prefeito do Recife. Ficou no ar a impressão de que o índio aprendeu o jogo do homem branco, onde para sobreviver na selva de pedra é preciso jogo de cintura e muita politicagem. Era esperar demais que em pleno 2006 ainda existisse índio inocente. Bem, de qualquer forma, os poucos presentes aprovaram o show.

Quem se beneficiou com o atraso foi o The Playboys. O grupo deu sorte e tocou para um Paço Alfândega quase lotado. Fizeram a apresentação mais engraçada da história do Rec-Beat. O vocalista João Neto, trajando paletó e cueca, viveu (literalmente) seu dia de Mick Jagger e Bono. Fez discurso pró-burguês, achincalhou os imitadores de Chico Science, andou de skate, colocou Chorão no seu devido lugar (no lixo dos escritórios de Marketing) e comandou uma inexplicável e improvável roda de pogo. A banda soube aproveitar a oportunidade e provou que funciona bem em palco grande. E mostrou coragem, naquele que talvez tenha sido o maior suicídio comercial da história do rock pernambucano. Antes de tocar Paulo André não Me Ouve, o grupo colocou no palco um boneco gigante do produtor do Abril pro Rock. Após se ajoelhar diante dele e implorar para tocar no festival, João Neto solta a seguinte pérola: “Paulo André quer pogar com vocês”. Eis que o boneco é arremessado para a platéia, que o mutila incessantemente na roda de pogo, jogando os pedaços para o alto durante toda a execução da música. É preciso admitir que foi hilário. Mas, os perfumados fizeram uma opção com tal gesto. De agora em diante é melhor mandar releases e CDs para eventos como o Tim Festival, Claro que é Rock e Rock in Rio. A não ser que encare tudo com muito bom humor, o produtor do APR continuará “surdo” aos apelos dos niilistas de fim-de-semana. Mas que foi histórico, foi.

O Mula Manca e a Triste Figura pegou um osso duro de roer: entrar em cena logo após o The Playboys. Começaram muito bem, com gana, raça e presença de palco. Fantasiado de “dinheiro”, o vocalista Tibério resumiu bem a cadeia produtiva de Pernambuco no setor da música: “A única coisa que falta é dinheiro, o resto a gente tem”. Entre erros e acertos, afinadas e desafinadas, a banda acabou com o saldo positivo, muito em função de “Ireny” e do clima circense que o grupo proporciona. O problema é que por vezes a banda parece intelectualizada demais, correndo o risco de cair na pura chatice. Ainda mais no carnaval, época em que o povo quer mais é pão e circo mesmo. Bem, só no Brasil é pecado soar inteligente. O Mula Manca está tentando encontrar a intercessão entre música e literatura. Caminho corajoso, assim como a apresentação que fizeram. Não é música fácil de ser assimilada, bebe em demasia na fonte da MPB dos anos 60 e 70 e é preciso um certo repertório e paciência para entender a proposta deles. Com tantos “senões”, não existe meio termo: ou você adora ou detesta. no Rec-Beat, estiveram mais para o primeiro termo.

O alagoano Juninho faz valer como nunca o velho chavão de “banda de um homem só”. Seu Sonic Jr conseguiu transformar o carnaval em uma imensa rave. Sozinho, Juninho comanda as bases programadas, toca bateria e percussão, e canta. E, mais impressionante ainda, consegue fazer tudo isso sem soar como mera atração de circo. Excessivo nos movimentos e econômico e até humilde na hora de falar, Juninho se transforma em muitos em cena. Coloca muita banda composta por oito integrantes no chinelo. Mas, como nada é perfeito, o Sonic Junior foi o primeiro a ser prejudicado em função do atraso no início da noite, e teve sua apresentação cortada em pelo menos meia hora. no fim das contas foi até bom, pois ficou uma sensação de “quero mais” no ar.

Atração mais inusitada desta edição do Rec Beat, o grupo feminino vocal Mawaca também teve seu show encurtado. Esbanjando erudição, o Mawaca cantou uma música croata, levou cordas para o palco (violoncelo e violino) e chamou ao palco as 3 Ceguinhas, da Paraíba, que garantiram a empatia com o público. Fenômeno social dos mais bem-vindos, as ceguinhas pediam esmola em João Pessoa em um passado bem recente, abandonando a humilhante atividade após serem descobertas e protagonizar o filme A Gente é Para o que Nasce, de Roberto Beliner.

Outro prejudicado pelo “adiantado da hora” foi BNegão e seu Turbo Trio. À frente de uma mesa composta por quatro integrantes que cuidavam das batidas, BNegão comandou o funkão carioca e cantou a ótima e apropriada “A Verdadeira Dança do Patinho”, da sua banda Os Seletores de Freqüência. Basta dizer que, em menos de vinte minutos de show, baixou até a cavalaria da polícia militar para conter os ânimos do público.

Aqui passo a escrever na primeira pessoa. Temendo por minha integridade física e sem ter lugar para ficar nas ruas devido à massa humana que ali estava, me refugiei no backstage durante a apresentação da Nação Zumbi. Resultado: não vi nada, mas ouvi tudo. E, do que escutei, posso deduzir que foi o melhor show da fase Futura. Aliás, boa parte do set list é dedicada ao disco novo, que funciona cada vez melhor ao vivo. E, meu amigo, se não explodiu uma guerra civil com o final hardcore que fizeram em Da Lama ao Caos, viveremos em clima de eterna paz.

Escrever sobre a Nação Zumbi é chover no molhado, tarefa fácil.

Já escrever sobre o Rec-Beat, meu caro…

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