REC-BEAT 2006 (Terceiro Dia) data: 27/02/2006 (Segunda) – local: Caís da Alfandega (Recife Antigo) com Backing BallCats Barbis Vocals, DuSouto (RN), Yunta Taura (Argentina), Os Brittos (RJ), Riachão (BA) e Eddie Resenha por Hugo Montarroyos – Fotos por Guilherme Moura |
O dia em que Recife descobriu Riachão
em 27/02/2006 por Hugo Montarroyos
O terceiro dia do Rec-Beat foi marcado pela diversidade (nenhuma atração tinha nada a ver com a outra), por dois ótimos shows e por aquela que talvez tenha sido a pior apresentação da história do festival. Daremos nomes aos bois abaixo.
A reportagem do RecifeRock! não conseguiu chegar em tempo de ver a apresentação da Backing Ball Cats Barbis Vocals e os Bobs Babilônias . Uma pena, pois era grande a curiosidade diante de tal show.
O potiguar DuSouto fez uma apresentação competente, misturando elementos da eletrônica com guitarra distorcida. Banda que trilha um caminho interessante e difícil de ser percorrido, o grupo, que depende da eficiência da tecnologia e do apuro humano, foi tão bem recebido que teve direito a bis. Com méritos, diga-se.
Impressionante como tudo conspira a favor do Rec-Beat. Muito disso é em função do festival ser realizado no carnaval. Assim sendo, até o tango dos argentinos do Yunta Taura foi bem recebido. Três músicos, dois casais de bailarinos e uma cantora faziam com que o Recife, por alguns momentos, lembrasse Buenos Aires. Principalmente durante as coreografias. Mas o grande destaque ficou mesmo na platéia. Um casal de senhores, ele fantasiado de Gandhi, ela, de Madre Tereza, dava show na frente do palco. Bem, o fato é que o tango acabou funcionando no carnaval.
O que não funcionou e foi bastante constrangedor foi o show de Os Brittos. Banda que reúne Guto Goffi (bateria / Barão Vermelho), Rodrigo Santos (baixo / Barão Vermelho) e George Israel (guitarra / Kid Abelha), trata-se apenas de um grupo cover dos Beatles. Nenhum problema em fazer versões da maior banda de todos os tempos, mas é meio vergonhoso ver um cara como Guto Goffi, parte viva da história do rock brasileiro, se meter em tamanho pastelão. O grupo tenta focar o repertório nas canções menos óbvias e conhecidas dos Beatles, em clima de ensaio e de descontração. Tudo bem se fosse na garagem de casa ou em um pub qualquer. Mas, em um festival, pegou mal. Ainda mais quando apresentam uma música autoral cujo refrão traz o delicado verso não levo meu cu em festa de pica. Mais lamentável ainda é saber que a banda lançará um DVD pela Sony e que se apresentará em Londres. Tremendo golpe.
Se a atração anterior cheirava a oportunismo, Riachão esbanjava espontaneidade. Aos 84 anos, fez um show comovente, emocionou e ficou emocionado, dançou, pulou, imitou cantor mudo. Foi tão espontâneo que nem o set list ele sabia. Perguntava sempre aos músicos qual música seria executada. Entre elas, destaques para Vá Morar Com o Diabo (gravada por Cássia Eller), a impagável Samba da Baleia e as ótimas Bochecha Grande e Pitada de Tabaco. Pouca gente sabia, mas estava ali no palco um bom pedaço da história da música popular brasileira, talvez o primeiro cronista musical brasileiro, um sujeito que tinha como passatempo noticiar os fatos mais importantes de sua época em ritmo de samba, cantando-os ao vivo no Rádio, em Salvador.
Às vezes o Brasil é justo. Riachão, ainda que tardiamente, foi reconhecido em vida. Seu show no Rec-Beat foi o maior de sua carreira, como ele mesmo fez questão de desabafar. Bom saber que Recife agora faz parte da história de um sujeito que é a própria História.
Um Eddie raivoso e empolgado subiu ao palco ao som de Quando a Maré Encher, emendada com Futebol e Mulher. Fez um show maduro, consistente, de banda entrosada que nem precisa olhar para o lado para saber o que está sendo feito e tocado. Mesclaram músicas de seus três discos. Tocaram várias de Metropolitano, novo álbum, e a única que pareceu meio deslocada foi a esquisitíssima Maranguape, música que parece funcionar só com seu autor, Erasto Vasconcelos. no mais, foi um show correto, de quem estava tocando em casa, para seu público e seguro de si. O Eddie vai passar o mês de março em São Paulo, em uma temporada de shows. Sua apresentação no Rec-Beat pareceu um ensaio de luxo para a turnê paulista. Se os shows forem iguais ao do Rec-Beat, é capaz de o Eddie repensar sua estratégia de ser uma banda local. Bem, a julgar pela quantidade de jornalistas e críticos de fora dançando ao som deles, parece que o grupo conseguiu, pelo menos ao vivo, cravar seu nome no desgastado clichê sucesso de crítica e de público. Enfim, fez-se justiça na Sala de Justiça.
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