Festival de Jazz 2006 (Primeiro Dia)

Por Hugo Montarroyos em 30 de agosto de 2006

FESTIVAL DE JAZZ 2006 (PRIMEIRO DIA)
data: 19/08/2006 (Sábado) – local: Teatro Santa Izabel
com Judy Carmichael e Antigua Jazz Band
Resenha por Hugo Montarroyos – Fotos por Divulgação

Temas de Duke Ellington dominam primeiro dia de festival
em 19/08/2006 por Hugo Montarroyos

Judy Carmichael - Foto de divulgação

Temas de Duke Ellington dominam primeiro dia de festival

Pensava em algum gancho que pudesse servir como mote de cobertura para o Festival de Jazz 2006. Afinal, aqui é um espaço de predominância roqueira, e é pouco provável que leitores deste site tenham algum interesse especial por jazz. Aí esbarrei em meu próprio preconceito. E por que não? Oras, se já cobrimos o Abril pro Brega, por que não cobrir o outro lado da moeda? E, no frigir do ovos, eles, rock, brega e jazz, têm ao menos um ponto de convergência: são ritmos que nasceram marginais, subversivos, rejeitados pela sociedade. Alguns aspectos em especial me interessavam nessa cobertura:

a) O jazz já foi considerado música de quinta categoria, era tocado em puteiros e hoje ascendeu às classes dominantes.

b) Se prestar atenção, você verá sem maiores dificuldades que trata-se de uma das principais raízes do rock.

c) Não é todo dia que tem um festival dedicado ao gênero no Recife.

Foi com tais questões em mente que me dirigi ao Teatro de Santa Izabel, praticamente lotado em seu primeiro dia de festival. Público formado predominantemente por casais de meia-idade, mas também por jovens curiosos e até mesmo por alguns músicos das novas bandas roqueiras do Recife. A primeira atração a subir no palco do teatro foi a pianista americana Judy Carmichael. Trata-se de uma senhora de New Orleans (berço do jaaz) que recria o estilo de tocar piano do Harlem das décadas de 20 e 30 do século passado. Acompanhada de um guitarrista e do excepcional trompetista Randy Sandke (que já tocou com monstros do naipe de Benny Goodman, John Pizarelli e Art Garfunkel), Judy abriu seu show com “I Found New Baby“, música popular americana de domínio público de meados da década de 20. Desmasnchou-se em simpatia ao se comunicar com o público em português e aliou destreza, suavidade e agressividade em quase uma hora de espetáculo. Em sua apresentação, talvez pelo formato em trio, talvez pela forma despojada e ao mesmo tempo elegante de tocar, ficou claro que estávamos diante das origens do rock. A reportagem do RecifeRock não resistiu e foi levar um papo com ela após o show. Extremamente simpática, Judy disse que anda sem tempo para gravar seu novo disco, que já está todo na cabeça dela. Além dos shows, ela dá aulas de jazz e tem um programa de rádio e outro de tv sobre o gênero. Tudo isso pode ser conferido nos sites www.jazzinspired.com e www.judycarmichael.com. O fato é que Judy foi aplaudida como se fora a Madonna. E aí o monstro do preconceito bateu mais uma vez na minha porta: por que diabos alguém com conteúdo tão melhor, mais intenso e interessante não faz o mesmo sucesso que sua conterrânea mais famosa?

Antigua Jazz Band - Foto de divulgação

Depois foi a vez da orquestra argentina Antigua Jazz Band fazer um verdadeiro tributo a Duke Ellington. Com imensa formação que privilegia os sopros, mas que também não abre mão do baixo, piano e bateria (olha o rock aí!), os argentinos conseguiram conquistar fácil uma platéia que não é lá muito afeita aos talentos de nossos hermanos. Jogaram baixo, é verdade. Desfilaram pelo público tocando estranho instrumento percussivo, contaram piadas e exibiram uma simpatia rara de se ver em argentinos (outro preconceito). Reverenciaram Ellington com “Take The a Train” e “C. Jam Blues“, e ainda brindaram o público com clássicos como “Crazy Rhythm” (Meyer, Kahn, Caesar) e “Old Man Blues“. É duro dizer isso, mas os argentinos foram (merecidamente) aplaudidos de pé. Pior foi conversar com os sujeitos depois e descobrir que são gente boníssima. Enfim, foi uma noite em que voltei um pouco mais sábio e bem menos preconceituoso para casa.

Links:
» Judy Carmichael – Site Oficial

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