em 01/09/2006 por Hugo Montarroyos
Parece que o público do Recife acordou. Após dois anos amargando um número decepcionante de presentes, enfim o No Ar: Coquetel Molotov teve a amplitude e repercussão merecidas. Resultado: média de 1.100 pessoas no primeiro dia de evento. E, quem foi ao Teatro da UFPE disposto a ver boas atrações internacionais acabou tendo uma surpresa: os melhores da noite acabaram sendo o local Diversitrônica e o gaúcho tresloucado Júpiter Maçã. Zebra? Não para quem conhecia os dois.
![]() |
A festa teve início no final da tarde, na sala de cinema, com o desastroso show de Tony da Gatorra Pai de uma infeliz invenção denominada gatorra, que nada mais é do que uma guitarra de brinquedo onde se controla tons e percussão, Tony veio escudado por dois gatorreiros, um som monocórdico e chato, e um discurso que, ainda que bem intencionado, sofre de uma ingenuidade imperdoável para a sua idade (sim, o homem é um coroa, barrigudinho, cabeludo e bigodudo, parecendo sair diretamente de um disco do Deep Purple). Poderia até soar exótico ou engraçado, mas coisas como Assassinos e outras músicas (?) supostamente de protesto acabam sendo constrangedoras mesmo. Nem a participação de Kassin tocando game-boy salvou a lavoura.
Depois foi a vez do próprio Kassin assumir o comando da sala de cinema. Sob a alcunha de Artificial, Kassin tirou todos os blips e blops de sua pick-up, variou batidas e colocou efeitos na voz para um público que parecia mais curioso do que animado.
![]() |
Quem soube de fato fazer um bom show foi o Diversitrônica. Seu formato, constituído de teclado, programação e baixo, é perfeito num certo sentido: torna a música eletrônica digerível para os roqueiros puristas, e, ao mesmo tempo, consistente para os baladeiros de carteirinha. Em pouco mais de meia hora, dialogaram com as imagens do telão, criaram climas, levaram a coisa na manha e explodiram nos momentos certos. Destaque para Última Fase, que poderia perfeitamente servir de trilha sonora de videogame.
O teatro ainda estava vazio quando o Ahlev de Bossa entrou em cena. Banda pernambucana que prima pela estranheza e pelo desconforto, o Ahlev alternou ótimos momentos de intensidade noise com outros de chatice extrema. Sob essas camadas sonoras, doses de jazz, um violão com sotaque de choro e os dois pés fincados na fase mais psicodélica do Pink Floyd. Sem contar a dúvida que deixam no ar: são desafinados de propósito? Vale o registro: umas meninas pentelhas, entre 16 e 18 anos, quase estragaram o show com um falatório que abordava todos os assuntos, menos a apresentação em questão. De uma má educação extrema.
![]() |
O francês Spleen começou seu show melhor do que terminou. Em formação primeiramente acústica, privilegiando uma aura folk e contando com o trunfo de um baita cantor, a banda acabou dando uma pálida idéia do que faz. Excessos de onomatopéias e vocais imitando percussão acabaram levando o público (a essa altura já bem numeroso) ao delírio, e dominando a segunda parte da apresentação. Em inglês, a banda acabou dedicando uma música à produtora Ana Garcia, que chegou a subir no palco para dançar em uma das canções. Para resumir a história: um bom show de uma banda sem identidade.
Já a dupla americana Cocorosie tem a identidade muito bem resolvida: é afetado, chato e pretensioso. Enfadonho, cansativo e repetitivo. Sonolento, massacrante e irritante. Ok, o público adorou. Curtiu de pé uma performance que parece feita para curar insônia. São bem produzidos e afinados ao extremo, mas, assim como nosso amigo Tony da Gatorra, é monocórdico. Todas as músicas são absolutamente iguais. Além disso, é frio e pouco intenso, inodoro, insosso. Vai ver que é por tudo isso que são adorados…Ah, são sofisticados, claro! Mas desde quando isso é qualidade?
![]() |
Mas o melhor da noite (agora já madrugada) estava nas mãos de Júpiter Maçã, que finalmente conseguiu cantar direito e no tom! Sua banda estava afiada, sua performance no palco foi insana, suas letras são absurdas de tão boas e, para completar, o cara tem uma backing vocal furiosa trajando um sobretudo nazista e uma minissaia dentro dele. Miss Lexotan 6 mg, Um Lugar do Caralho e tantos outros clássicos foram mesclados com repertório mais novo. E ninguém parecia se incomodar com o fato de já passar das três da manhã. Mas quem melhor resumiu a história foi o vocalista do The Playboys, João Neto, que na saída do teatro vestia uma camiseta escrita Cansei de ser indie.
Clique na imagem abaixo para abrir a PopUp com as fotos do no Ar: Coquetel Molotov 2006 (Primeiro Dia):

Links:
» Diversitrônica no RecifeRock!
» Ahlev de Bossa no RecifeRock!
——–