Porto Musical – Balanço geral

Por Hugo Montarroyos em 14 de fevereiro de 2007

Há três anos me faço a mesma pergunta: como cobrir o Porto Musical? Que direcionamento dar a um evento de tal porte? Como filtrar as informações e passá-las de uma forma clara e, ao mesmo tempo, fugindo da obviedade e da imbecilidade que costumam acompanhar a clareza? É que o volume de informações descarregadas ali é tão grande que qualquer um se sente um pouco desnorteado no final do dia.

E a coisa ficou ainda mais complicada este ano. Paralela e simultânea ao Porto Musical, acontecia no Terminal de Passageiros a Feira de Música Brasil. Ou seja, mais uma tonelada de informações.

Só para ter uma idéia do abacaxi a ser descascado, eis os números colhidos pela Folha de São Paulo: R$ 8 milhões em expectativas de negócios; 900 pessoas se inscreveram em conferências e rodadas de negócios; 250 artistas se apresentaram em shows realizados em três palcos; 200 expositores montaram estandes na FMB; 36 convidados nacionais e internacionais ministraram conferências no Porto Musical; 2100 pessoas passaram pela feira.

Os números são expressivos. Mas são frios, não passam de números. Eles não expressam o conteúdo das palestras. A satisfação que dá ver uma banda do Ceará fechar um show na França em pleno boteco no Recife Antigo. Ver jornalista entrevistando jornalista. Um mundaréu de gente trocando informações. Mais parece uma internet ambulante, palpável.

Por falar em palestras, duas merecem destaque. O lendário Pena Schmidt, em tempos de especulação, foi dos sujeitos mais práticos e filosóficos em sua conferência. O CD, para ele, não morrerá. Ele entrará no rol dos presentes, ao lado de flores e chocolate. E, se formos pensar direitinho, ele já é isso. Pena desconstruiu alguns mitos, reiterou outros e concluiu, de forma meio óbvia, que tudo pode se esvanecer, menos o talento. É óbvio, bobo e simplista. E, ainda (ou por isso mesmo) assim ele está coberto de razão.

Uma palestra que deveria ter sido aberta ao público, devido ao seu caráter didático, foi a de Kiko Ferreira, diretor da Rádio Inconfidência, de Belo Horizonte. Ele conseguiu, em pouco mais de meia hora, explicar como as picaretagens nos bastidores das rádios foram responsáveis pela criação de três gerações de zumbis na chamada “classe média brasileira”. Rapaz, na boa: fiz duas faculdades e uma pós-graduação. Isto não me faz melhor nem pior do que ninguém, mas significa que consegui angariar um bom repertório teórico ao longo dos anos. Pois bem: a palestra de Kiko deveria constar como matéria obrigatória em todos os colégios e universidades do país. Esclarecedora, embasada e terrivelmente assustadora de tão verdadeira.

Bem, são essas coisas que não saíram (e nem vão sair) nos jornais que considero mais importantes que os números. É todo dia que você vai encontrar Gabriel, do Autoramas, imitando Elvis em frente a Torre Malakof? É todo dia que você vai encontrar milhares de “doidos” que pensam e acreditam nas mesmas coisas que você acredita? Enfim, embora o nível das palestras tenha subido muito, é na periferia do Porto Musical que se concentra o volume mais interessante de informações, e não necessariamente nas conferências. Acho que em 2008 saberei que direcionamento adotar na cobertura do Porto Musical.

Aviso: ano que vem será o último que o evento será realizado no Recife. Depois, o Porto Musical fica itinerante.

p.s: uma frustração que carrego via Porto Musical. Ano passado, passei uma hora entrevistando o grande Alex Antunes, jornalista, escritor e vocalista do Akira S. & As Garotas que Erraram. Só no final do dia descobri que a porcaria do gravador digital estivera desligado o tempo todo. Procurei Alex de novo, e, ao saber do ocorrido, ele me veio com a seguinte gentileza: “mas você é uma bicha mesmo”. Me pediu um tempo para regravar tudo e sumiu na multidão. Duas horas depois, ele bate no meu ombro e diz que poderia gravar naquele momento. A bateria do gravador tinha acabado…
Este ano, ao encontrá-lo, apenas caí na risada. Alex Antunes será sempre a melhor entrevista que não fiz na vida. Sorry, Alex!

3 Comments

  1. Estuardo Calderón
    Posted 13 de agosto de 2007 at 22h27 | Permalink

    Quando será o próximo Porto Musical? Quais serão as maiores atrações? que produtores internacionais estarão presentes?

  2. gustavo
    Posted 12 de janeiro de 2009 at 23h21 | Permalink

    vai ter Porto Musical em 2009? até agora não anunciaram nada. será que vai ser mais um fiasco? o primeiro de 2009…

  3. André Ferraz
    Posted 13 de janeiro de 2009 at 10h32 | Permalink

    Ei tem no site do Porto Musical: Cronograma 2008/2009
    O Porto Musical informa que a data de sua realização em 2009 não será mais em fevereiro de 2009, conforme anunciado. Em breve a nova data do evento será divulgada no site oficial e na imprensa.

    E vai ser quando??? no abril?? kkkkkk

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