Há alguns anos eu pude acompanhar de perto a formação de uma banda deveras talentosa. Instigante, com sonoridade própria e muito bem definida. Na época, eles me pediram para fazer assessoria de imprensa para o grupo. Neguei por dois motivos: embora seja jornalista, não tenho características nem o dom para fazer assessoria de imprensa, atividade, ao meu ver, muito mais ligada ao marketing do que ao jornalismo; e os caras são (eram) totalmente desorganizados, desinteressados. Além de ser um sufoco reuní-los para a simples tarefa de ensaiar.
Não bastasse tudo isso e eles são (continuam sendo) insípidos no palco, e falam muito mal, ficam nervosos e gaguejam quando precisam se expressar em um microfone, seja em shows ou em programas de TV.
Pois o grupo, de uns tempos para cá, deu para aparecer em tudo quanto é festival de Pernambuco. Tocaram no Sopa Diário recentemente e fazem ao menos um show por semana. O que aconteceu então, já que eles continuam nulos no palco e se expressando mal?
Bem, a primeira arma eles já tinham, que é a sua música. O que mudou foi que eles finalmente encontraram alguém capaz de colocá-los no roteiro, de encaixá-los ns festivais e de os emplacarem nos programas de tv. Bingo!
Por que escrevi tudo isso? Simples. Porque faz tempo que a música deixou de vencer apenas pela música. Em grande parte dos casos, os próprios membros de um grupo fazem as vezes de produtor e de assessor de imprensa. Mas, quando isso não ocorre, tão essencial para uma banda quanto a composição de um belo refrão é o trabalho do profissional que se desdobra em mil para chamar a atenção para seu grupo.
Pode parecer besteira, mas eu, por exemplo, já dava como liquidada a carreira da banda que vi surgir. Aliás, estou cansado de ver carreiras não decolarem por falta da “pessoa certa” no time.
O principal continua sendo compor e tocar, mas, em tempos tão esquizofrênicos de divulgação, onde todo mundo tem acesso a tudo a qualquer hora, é primordial que um produtor vá direto ao ponto, pegue os atalhos e divulgue logo com quem mais interessa. Continuar sempre tocando é o segredo para chegar a qualquer lugar. E, muitas vezes, para continuar tocando é necessário alguém que “carregue o piano”, que lhe mantenha na mídia, que cave espaços para você.
Se você, assim como eu, não tem as manhas para isso e o talento natural para a divulgação, encontre alguém que o faça. Talvez seja o fator que falte para sua banda estourar.
20 Comments
Boa a chamada aí da materia…
Parabéns Hugo
Bom texto Hugo!
Concordo em muitas coisas , só num sei se em Recife existam tantos programas de tv e rádio que fique indispensavel alguem que não seja da banda fazer a “frente”. Talvez uma banda em que seus integrantes tenham o mínimo de vocabulário e saber o que quer realmente daria pra fazer isso principalmente com a internet hoje. Acho que mais importante do que tentar tocar em algum lugar ou aparecer em midias decadentes é fazer um contato direto com o publico. Num adianta aparecer na Tv e colocar 50 pessoas num show .
abç e parabens!
Qual é a banda?
” Por que escrevi tudo isso? Simples. Porque faz tempo que a música deixou de vencer apenas pela música. ”
Essa frase que o Hugo colocou no texto sintetiza perfeitamente o momento musical de hoje.
Nesse mesmo momento em que essa observaçao real foi feita, os Intrusos ( spam???) conseguiram que a musica Inveja fosse escolhida para virar toque de celular em uma grande empresa de telefonia.
Sabendo que nao conhecemos ninguem na operadora ficamos felizes ao ver que ainda , mesmo que em rarissimas vezes, a musica pode ser reconhecida sem apadrinhamentos ou afins, e conquistar algo por sua propria força.
Penso tambem que essa coluna “Tapa na Orelha ” é a mais sobria do Recife Rock e , portanto, nao deve demorar tanto a aparecer!
Parabens pela visao !
Parabéns! belo texto. Eu entendo o trabalho de um produtor e da assessoria de imprensa como alguém que vai tirar das costas da banda um trabalho que ela não precisa fazer, banda tem que se preocupar com a música, em tocar, em fazer um show ducaralho, isso sim vai trazer mais shows e fazer com que o trabalho de “backstage” seja validado.
Quando foi que a música venceu pela música?
Bach ganhava dinheiro compondo música para funeral
Acho que os clássicos venceram pela música mesmo, embora todos os compositores da época fizessem música de encomenda para exaltar Deus ou mesmo qualquer mecenas. A diferença é que elas sobreviveram (e melhor do que todas as outras)muito bem até hoje, ainda que o objetivo principal do compositor fosse pagar o aluguel.
As coisas mudaram muito. Não dá mais pra banda pensar só em fazer música, tem que saber administrar as coisas tambem e entender o processo pra não ficar pra trás.
Antes de tudo eu penso que a qualidade e a honestidade na musica que se faz é fundamental.
Se vai ganhar dinheiro ou nao, isso é outro papo.Porém, quando a verdade esta explicita nos versos e nas melodias algo bom sempre acontece, mesmo que nao nos renda um milhao de euros…
Passando a etapa de produzir com qualidade(se imagina que todo mundo busque isso mesmo que seja pra satisfação pessoal), tem que se entender o processo, senão fica fazendo show em estúdio.
Vai dar o cu mermão, que texto bosta. O principal sempre foi a música, você pode me chamar de ingênuo, mas ingênuo é você e quem tenha essa idéia.
Sua banda não vale merda se a música não é boa e ponto final.
Jão, vc já ligou o rádio nos últimos anos? A política é justamente o contrário…trabalhei numa rádio que não queria tocar Belle & Sebastian porque achava a banda boa demais, a audiência poderia estranhar…
Diz ai qual o nome da banda ?
Essa rádio não presta não por não querer tocar Belle & Sebastian, e sim, por achar essa bandinha boa demais. eheheheheheh
Hugo, falou o óbvio; mas as vezes o óbvio precisa ser lembrado.
Em várias épocas, a música venceu pela música. O Led Zeppelin foi a banda mais execrada pela mídia em todos os tempos…no começo, Robert Plant tinha crises de nervos com tantas agressões que a banda recebia. No final, a música venceu e seus detratores sumiram pelas nuvens da mediocridade.
O problema Hugo, é que tem banda demais, fica uma grande confusão e o público não consegue distinguir direito, o que é sincero e o que é banda de produtor, banda armação, banda de marketeiro, banda amiga de jornalista de jornal e tv, banda disso e daquilo. E aparece quem é mais malandro, mais espertinho. E quem sofre é o mercado, com a falta de apoio e credibilidade do público de Recife.
Há tem muita gente por aqui que consegue aparecer pela própria música,sem o apoio de produtores descolados, jornais de aluguel, jornalistas, produtoras, programas de rádio e o escambáu. E Hugo sabe muito bem quem consegue.
o nome da banda é MULA MANCA E A TRISTE FIGURA!
oi Hugo admiro seu trabalho, más, ás pessoas que muitas vezes falam,as vezes estão fazendo o mesmo, um dia quis colocar um baners no recife rock, e não aceitaram, por qual motivo eu não sei,tocar no pátio de São Pedro só por milagre, pois já começa pela forma como vc é recebido pela brecha da porta, e ele diz que quer dar apoio as bandas novas, já ia esquecendo um dia fui ao Burburinho e o cara disse na cara dura que só tocava bandas que ele conhecesse.ai como ficamos, tem que sair de Pernambuco para alguém lá fora falar bem para ter reconhecimento?
Concordando com o autor do texto e fechando num exemplo bem específico e próximo:
O próprio reciferock cede à tendência de dificultar/não facilitar a sobrevivência de bandas independentes ao deixar de divulgar produções independentes. O resultado é que cada vez menos bandas estão se beneficiando do site, e cada vez mais fica necessário um “marketeiro”.
É verdade. todo semana a gente se reune e monta uma lista chamada “A banda que vamos distruir dessa vez”. Porque obviamente quem a gente falar mal aqui, vai deixar de existir de tão poderoso que é o site.
Cacete, Luis. A gente põe no site tudo que recebe. Se você não manda nada, não tem do que reclamar. Os emails estão espalhados por todo canto. A única exceção é a agenda, porque o site tá sendo reformulado para que possa ser atualizada de maneira mais fácil.
cansei do recife rock!