Entrevista – Lobão

Por Hugo Montarroyos em 15 de abril de 2008

Minutos antes de subir ao palco para seu show no Abril pro Rock, Lobão concedeu ao RecifeRock! a entrevista abaixo. Educado, bem-humorado e feliz da vida, o cantor falou de detalhes da produção de seu “Acústico MTV”, da criação de um programa com músicas ao vivo na emissora no qual será o apresentador e de como sua obra passou a ser encarada pelo público desde o lançamento do Acústico.
 

Eu tive oportunidade de ver a sua passagem de som, e você estava tão concentrado que acho que nem percebeu que os portões foram abertos ao público com você ainda passando o som.

Lobão – Sabe o que aconteceu? Nosso equipamento foi extraviado. Perdemos a tarde inteira. A gente chegou no Recife e teve a notícia de que o equipamento não veio. E a gente não sabia em que lugar do Brasil o equipamento estava, se numa aeronave que estava indo pra Amazônia ou pro Rio Grande do Sul. E correu o risco muito sério de a gente não poder tocar. Aí o equipamento chegou no último momento. Então a gente tinha só 15 minutos para passar o som. Só dispúnhamos daquele momento. Então eu não podia me dar ao luxo de ver nada além da minha função ali naquela hora.

Mas você chegou a perceber que tinham uns 40 “privilegiados” ali vendo a passagem?

Lobão – Eles aplaudiram, né? (risos). Foram bem simpáticos. Mas é que eu estou muito concentrado. Sabe o quê que é? (faz expressão séria). Eu estou querendo muito mostrar esse show porque as pessoas disseram: “ah, o Lobão fez um acústico e tal”, mas só que esse acústico tem um diferencial. Como é que nenhum crítico sacou que a sonoridade dos violões é uma coisa animal? E eu acho que esse show do Abril pro Rock tem uma visibilidade, tem muita gente de imprensa. E a gente quer mostrar que não é uma coisa normal. Você pode ver que a gente vai tocar depois de um monte de gente com guitarra. E vamos nos garantir! A pressão vai ser intensa.

O seu acústico serviu entre outras coisas para dar uma maior visibilidade a um material seu dos últimos dez anos da sua obra que ficou meio ofuscado no universo independente. Você tem sentido uma resposta popular a músicas como, por exemplo, “A Vida é Doce”, que não tocou nas rádios na época de seu lançamento?

Lobão – É impressionante porque a gente tem feito shows e as pessoas cantam “El Desdichado”. A gente tocou em Belo Horizonte e só viu as pessoas cantando (imita o som da multidão cantando) “Eu sou o poderoso…” a letra toda! “A Vida é Doce”, “A Queda”, que o caras se amarram. “Você e a Noite Escura”, que todo mundo adora. “O Mistério”. Porra, tá muito legal! Na verdade, na verdade… (pausa) com este acústico a gravadora quer atingir o público “adulto-contemporâneo”, que é um eufemismo pra “careta”. Então a gente começou a tocar pra adulto-contemporâneo” e era tudo vazio, um público quarentão sentado nas mesas. E graças a Deus neste acústico não dá pra ter nostalgia. O som é muito pesado. E a gente tem uma proposta de linguagem de violão. É uma proposta, cara! É uma linguagem moderna. As pessoas não estão entendendo que não é só uma releitura. E as pessoas quando pensam em releitura pensam que é sempre pra menos. E não é assim. É pancada! A linguagem dos violões, ela foi toda muito elaborada, ela está ali, e os caras tocam pra caralho! E as pessoas não percebem isso. Eu falei outro dia com um crítico que eu não vou dizer o nome, e ele falou: “mas eu ouvi o seu disco e não achei nada demais”. E eu falei assim: “você não reparou que o som processado dos violões tem uns…”, e ele falou “ah, mas isso não me interessa, eu não entendo nada disso”. E eu falei: “porra, se você não entende nada disso, quem é que vai entender? Se você é o crítico musical…”.

Por falar nisso, quantos violões você usa no show?

Lobão – Hoje eu estou tocando pouco. Eu vou tocar com quatro violões. A tendência agora é a gente secar mais porque não queremos viajar com violões de cinco mil dólares e arriscar a ser tudo extraviado.

A sua revista, a “OutraCoisa”, está se mudando pra São Paulo agora. Você está mais distante dela ultimamente, do preparo de cada edição?

Lobão – Não, na verdade eu estou deixando ela crescer. Normalmente eu a edito quando eu quero. Mas agora o que vai acontecer é que eu também me mudei pra São Paulo. E como eu estou na MTV, a gente está pensando em fazer um programa musical de banda que eu vou apresentar lá. Então a gente vai fazer um link com a revista. E ver se consegue fortalecer essa cena que está muito caída. A MTV está muito decidida a mudar o perfil, em colocar mais clipe no ar, de ter mais jornalismo. Tem uma cultura lá de informação pedagógica mesmo, de ensinar as pessoas sobre música e cultura pop de uma forma que não seja pedante, que não seja careta e que as pessoas curtam aprender pra poder entender. Senão a gente vai ficar cantando numa língua morta, porque as pessoas não entendem. A gente está tomando esse cuidado. E vamos ver…Porque eu estava falando aqui anteriormente: você no dia de hoje, enquanto artista, tem que ser multifacetado, ser muito esperto e ficar sempre muito atento com o que está acontecendo e saber de tudo que se passa ao seu redor. E como eu não toco no rádio, cara, as pessoas estão adorando meu debate na tv. Tem muita gente que vem ver meu show por causa do “Debate MTV”. Então a gente tem que rebolar. Porque não se toca na rádio. A rádio não está fechada apenas para mim, mas para todo o segmento. E olha que “Eu vou Te Levar” tem 120 mil downloads lá no Youtube e o disco vendeu 20 mil cópias. Foi o grande fracasso de vendas de um Acústico…o que vendeu menos vendeu 800 mil cópias, pra você ter uma idéia. E eu vendi 20 mil entre DVDs e CDs! Aí eu fui fazer um GNT agora e eles pediram para eu levar três músicas para o expectador escolher. E aí eu escolhi “Rádio Blá”, “Por Tudo que For” e “Eu Vou te Levar”, ou seja, dois mega hits e o “Eu Vou te Levar”. E “Eu Vou te Levar” ganhou com 53%. E aí você pensa: “aonde é que esses caras estão ouvindo essa música, se a gente não toca em lugar nenhum?”. É um mistério, né? Mas pra mim está sendo ótimo. Eu estou me divertindo muito. Porque os caras pensam que eu vou morrer, e pô, faz trinta anos que eu estou pra morrer, né? (risos). “Agora ele foi!” (risos). Eu vi um cara da “Veja” dizendo “agora que a Terra seja grata!”, quando eu fiz o Acústico. Aí ganhamos um Grammy, né? Aí ganhamos prêmio de melhor disco de rock. Ganhamos prêmio de melhor evento nacional do ano. E ganhamos melhor DVD! Isso pra mim é o que importa. Porque eu estou com o meu material, muito bem cuidado, que custou mais de um milhão e duzentos mil. Foi uma mega-produção. A gente fez um tratamento super decente para as minhas músicas, um puta arranjo, e está tudo registrado. E é isso que importa.               

12 Comments

  1. Duda
    Posted 16 de abril de 2008 at 1h17 | Permalink

    Lobão se garante demais e a entrevista tá ótima!

  2. Posted 16 de abril de 2008 at 17h16 | Permalink

    “A gente chegou no Recife…” Até Lobão fala correto NO RECIFE, acho q foi apenas o terceiro show da carreira-solo do velho Lobo que perco na minha cidade, mas dessa turnê MTV, prefiro o dvd em casa.

  3. Posted 16 de abril de 2008 at 17h37 | Permalink

    Justiça a obra dele, mas com todos os senões, essa turnê não iria a show nenhum.prefiro “o gosto antigo da novidade” (citação do belo álbum da Carfax), que lance um novo álbum, pois para mim e que acompanham o trabalho do “apresentador da MTV”, o set não tinha nenhuma novidade.
    vale a ênfase dele sobre a técnica (violões das mais variados e timbres legais, outtros instrumentos de cordas, regências e afins)e vale citar também a produção que é do Miranda (Ídolos/SBT), que já produziu muita coisa bacana da década de 90. Mas ainda sim não funcionou para mim e muitos fãs “antigos” (20 mil cópias é reflexo disso, pois no esquema das revistas ele vendeu três álbuns mais de 250 mil), mas ele continua mandando bem, mesmo assim.

  4. Jacqueline Araújo
    Posted 17 de abril de 2008 at 15h46 | Permalink

    Olá, pessoal Recife Rock!
    Estou enviando uma sugestão/nota para o blog!
    AGRADEÇO SE JÁ PUDEREM DIVULGAR, ANTES DO EVENTO, JÁ QUE ABRIMOS GRATUITAMENTE O FÓRUM PARA O PÚBLICO.
    Gostaria tb do email de vcs!

    Um abraço,
    Jacqueline Araújo
    ASCOM AESO

    Produção fonográfica é tema de fórum na AESO
    Silvério Pessoa e Lula Queiroga são alguns dos palestrantes

    LOCAL: cine-teatro AESO/Olinda
    QUANDO: de 22 a 24 de abril, das 08:45 às 13h

    As Faculdades Integradas Barros Melo (AESO) promovem de 22 a 24 de abril o “Fonograma”, primeiro fórum de debates sobre produção fonográfica em Pernambuco. O evento é uma realização do Curso de Produção Fonográfica da instituição – pioneiro no Nordeste -, coordenado por Gustavo Almeida.Para participar do Fórum os interessados devem se inscrever gratuitamente no site da instituição: http://www.barrosmelo.edu.br

    O Fórum será realizado em três módulos: produção sonora e audiovisual, mediador Pedro Severien (jornalista crítico cinematográfico e coordenador de cinema de animação da Barros Melo); gravação de discos e distribuição musical, mediador Bruno Nogueira (jornalista crítico musical da Folha de Pernambuco e professor da Barros Melo) e Estúdios de gravação – técnica e negócio, mediador Marcos Toledo (jornalista crítico musical do Jornal do Commercio).

    Participam como palestrantes, representantes das produtoras: “Carranca/ Onomatopéia idéias sonoras”, “Candeeiro Records/Musak”, “Fábrica Estúdios/Buzzina” , “Estúdio Mr. Mouse” e “Sonic.OS”. O evento conta ainda com as presenças do cantor Silvério Pessoa e Lula Queiroga, representando a produtora, Luni Produções.

    O objetivo do evento é possibilitar um intercâmbio entre as áreas ligadas a música, mapear o comportamento da produção local e fazer um link entre a academia e o mercado. “O Fórum pretende ainda elencar novos postos de trabalho para os profissionais que precisam migrar do mercado tradicional – o das grandes gravadoras – para o atual, onde a Internet aparece como nova ferramenta de compra e venda de produtos fonográficos”, explica o professor e organizador do Fonograma, Gustavo Almeida.

    O projeto é o primeiro do estado dedicado exclusivamente a entender à logística da produção local e vai fazer parte do calendário anual de eventos promovidos pela Barros Melo.

    PROGRAMAÇÃO COMPLETA

    Dia 22.04 – Terça-feira
    PRODUCAO SONORA E AUDIOVISUAL
    Mediador: Pedro Severian (AESO-Barros Melo)
    Palestrantes:
    – Carlos Borges(Carranca-Onomatopeia)
    -Rodrigo Coelho(Sonic.OS)
    -Lula Queiroga(Luni)
    -Caca Barreto(Muzak-Candeeiro)

    Dia 23.04 – Quarta-feira
    GRAVACAO DE DISCOS E DISTRIBUICAO MUSICAL
    Mediador : Bruno Nogueira(AESO-Folha de Pernambuco)
    Palestrantes:
    -Pablo Lopes( Fabrica-Buzzina)
    -Marcelo Soares(Muzak-Candeeiro)
    -Prof . Adriano Araújo(AESO-Araujo e Soares associados)
    – Silvério Pessoa

    Dia 24.04 – Quinta- feira
    ESTUDIOS DE GRAVACAO – TECNICA E NEGOCIOS
    Mediador: Marcos Toledo(Jornal do Commercio)
    Palestrantes:
    – Luizinho Referencia (MW Studio)
    – Gera Vieira( Carranca-Onomatopeia)
    – Leo D. e Willian Paiva(Mr. Mouse)

    Com informações Ascom Barros Melo

  5. André Mantra
    Posted 17 de abril de 2008 at 15h59 | Permalink

    ( fórum na AESO )Já me sinto lá…

  6. Rafael
    Posted 18 de abril de 2008 at 13h22 | Permalink

    eu não conheço muito a obra de lobão, mas acho ele um chato sem igual.

  7. andre araujo
    Posted 18 de abril de 2008 at 15h12 | Permalink

    RAfael

    Isso so comprova o que vc falou..

  8. Rafael
    Posted 18 de abril de 2008 at 20h23 | Permalink

    porque conhecendo a obra dele ele fica mais simpático, andré?

  9. André Mantra - respondendo
    Posted 21 de abril de 2008 at 15h44 | Permalink

    Rafael,

    Simpatia por simpatia João Gilberto é um “canhão”, mas é João Gilberto, saca? Lobão tem suas particularidades, as pessoas que o vêem falando difícil tem essa impressão, mas sempre fora assim e ele não fez faculdade pra porra nenhuma.sabe usar o makerting pessoal como poucos e tem álbuns e canções diferenciadas até quando é um “plagiador” (A Vida é Doce, que tem os arranjos copiados das bandas Britânicas da década de 90, como Portishead e Primal Scream) ele é acima da média dos demais, portanto, conhecendo a obra é melhor que achar se é arrogante, mentiroso ou gente fina.

    Em 2001 (no próprio abril pro rock que o mesmo trouxe Arnaldo “já morreu” Batista) foi muito receptivo com todos(imprensa ou não), tanto quanto soube que o mesmo fora este ano, portanto não deve ser uma coincidência, acredito, tá respondido?

  10. André Mantra - Justificando
    Posted 21 de abril de 2008 at 15h47 | Permalink

    Certamente a resposta deveria ter sido solicitada ao xará Araújo (intruso), mas como também me manifestei e hj é feriado (sem muita coisa a fazer) mandei a minha resposta, blz?

  11. andre araujo
    Posted 21 de abril de 2008 at 16h10 | Permalink

    RAfael..

    Vc nao precisa tomar chá com o Lobao pra medir a qualidade musical dele..

  12. Posted 5 de setembro de 2009 at 13h14 | Permalink

    Os meninotes do Fresno são legais… A Wanessa Camargo é legal… O NX-sei-lá-o-que é legal… Então a qualidade das músicas dele deve ser uma loucuuuuuuura!!!!!!

    Sem comentário, simpatia deve ser sinônimo de talento e eu ainda não tinha percebido :-p

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