Minutos antes de subir ao palco para seu show no Abril pro Rock, Lobão concedeu ao RecifeRock! a entrevista abaixo. Educado, bem-humorado e feliz da vida, o cantor falou de detalhes da produção de seu “Acústico MTV”, da criação de um programa com músicas ao vivo na emissora no qual será o apresentador e de como sua obra passou a ser encarada pelo público desde o lançamento do Acústico.
Eu tive oportunidade de ver a sua passagem de som, e você estava tão concentrado que acho que nem percebeu que os portões foram abertos ao público com você ainda passando o som.
Lobão – Sabe o que aconteceu? Nosso equipamento foi extraviado. Perdemos a tarde inteira. A gente chegou no Recife e teve a notícia de que o equipamento não veio. E a gente não sabia em que lugar do Brasil o equipamento estava, se numa aeronave que estava indo pra Amazônia ou pro Rio Grande do Sul. E correu o risco muito sério de a gente não poder tocar. Aí o equipamento chegou no último momento. Então a gente tinha só 15 minutos para passar o som. Só dispúnhamos daquele momento. Então eu não podia me dar ao luxo de ver nada além da minha função ali naquela hora.
Mas você chegou a perceber que tinham uns 40 “privilegiados” ali vendo a passagem?
Lobão – Eles aplaudiram, né? (risos). Foram bem simpáticos. Mas é que eu estou muito concentrado. Sabe o quê que é? (faz expressão séria). Eu estou querendo muito mostrar esse show porque as pessoas disseram: “ah, o Lobão fez um acústico e tal”, mas só que esse acústico tem um diferencial. Como é que nenhum crítico sacou que a sonoridade dos violões é uma coisa animal? E eu acho que esse show do Abril pro Rock tem uma visibilidade, tem muita gente de imprensa. E a gente quer mostrar que não é uma coisa normal. Você pode ver que a gente vai tocar depois de um monte de gente com guitarra. E vamos nos garantir! A pressão vai ser intensa.
O seu acústico serviu entre outras coisas para dar uma maior visibilidade a um material seu dos últimos dez anos da sua obra que ficou meio ofuscado no universo independente. Você tem sentido uma resposta popular a músicas como, por exemplo, “A Vida é Doce”, que não tocou nas rádios na época de seu lançamento?
Lobão – É impressionante porque a gente tem feito shows e as pessoas cantam “El Desdichado”. A gente tocou em Belo Horizonte e só viu as pessoas cantando (imita o som da multidão cantando) “Eu sou o poderoso…” a letra toda! “A Vida é Doce”, “A Queda”, que o caras se amarram. “Você e a Noite Escura”, que todo mundo adora. “O Mistério”. Porra, tá muito legal! Na verdade, na verdade… (pausa) com este acústico a gravadora quer atingir o público “adulto-contemporâneo”, que é um eufemismo pra “careta”. Então a gente começou a tocar pra adulto-contemporâneo” e era tudo vazio, um público quarentão sentado nas mesas. E graças a Deus neste acústico não dá pra ter nostalgia. O som é muito pesado. E a gente tem uma proposta de linguagem de violão. É uma proposta, cara! É uma linguagem moderna. As pessoas não estão entendendo que não é só uma releitura. E as pessoas quando pensam em releitura pensam que é sempre pra menos. E não é assim. É pancada! A linguagem dos violões, ela foi toda muito elaborada, ela está ali, e os caras tocam pra caralho! E as pessoas não percebem isso. Eu falei outro dia com um crítico que eu não vou dizer o nome, e ele falou: “mas eu ouvi o seu disco e não achei nada demais”. E eu falei assim: “você não reparou que o som processado dos violões tem uns…”, e ele falou “ah, mas isso não me interessa, eu não entendo nada disso”. E eu falei: “porra, se você não entende nada disso, quem é que vai entender? Se você é o crítico musical…”.
Por falar nisso, quantos violões você usa no show?
Lobão – Hoje eu estou tocando pouco. Eu vou tocar com quatro violões. A tendência agora é a gente secar mais porque não queremos viajar com violões de cinco mil dólares e arriscar a ser tudo extraviado.
A sua revista, a “OutraCoisa”, está se mudando pra São Paulo agora. Você está mais distante dela ultimamente, do preparo de cada edição?
Lobão – Não, na verdade eu estou deixando ela crescer. Normalmente eu a edito quando eu quero. Mas agora o que vai acontecer é que eu também me mudei pra São Paulo. E como eu estou na MTV, a gente está pensando em fazer um programa musical de banda que eu vou apresentar lá. Então a gente vai fazer um link com a revista. E ver se consegue fortalecer essa cena que está muito caída. A MTV está muito decidida a mudar o perfil, em colocar mais clipe no ar, de ter mais jornalismo. Tem uma cultura lá de informação pedagógica mesmo, de ensinar as pessoas sobre música e cultura pop de uma forma que não seja pedante, que não seja careta e que as pessoas curtam aprender pra poder entender. Senão a gente vai ficar cantando numa língua morta, porque as pessoas não entendem. A gente está tomando esse cuidado. E vamos ver…Porque eu estava falando aqui anteriormente: você no dia de hoje, enquanto artista, tem que ser multifacetado, ser muito esperto e ficar sempre muito atento com o que está acontecendo e saber de tudo que se passa ao seu redor. E como eu não toco no rádio, cara, as pessoas estão adorando meu debate na tv. Tem muita gente que vem ver meu show por causa do “Debate MTV”. Então a gente tem que rebolar. Porque não se toca na rádio. A rádio não está fechada apenas para mim, mas para todo o segmento. E olha que “Eu vou Te Levar” tem 120 mil downloads lá no Youtube e o disco vendeu 20 mil cópias. Foi o grande fracasso de vendas de um Acústico…o que vendeu menos vendeu 800 mil cópias, pra você ter uma idéia. E eu vendi 20 mil entre DVDs e CDs! Aí eu fui fazer um GNT agora e eles pediram para eu levar três músicas para o expectador escolher. E aí eu escolhi “Rádio Blá”, “Por Tudo que For” e “Eu Vou te Levar”, ou seja, dois mega hits e o “Eu Vou te Levar”. E “Eu Vou te Levar” ganhou com 53%. E aí você pensa: “aonde é que esses caras estão ouvindo essa música, se a gente não toca em lugar nenhum?”. É um mistério, né? Mas pra mim está sendo ótimo. Eu estou me divertindo muito. Porque os caras pensam que eu vou morrer, e pô, faz trinta anos que eu estou pra morrer, né? (risos). “Agora ele foi!” (risos). Eu vi um cara da “Veja” dizendo “agora que a Terra seja grata!”, quando eu fiz o Acústico. Aí ganhamos um Grammy, né? Aí ganhamos prêmio de melhor disco de rock. Ganhamos prêmio de melhor evento nacional do ano. E ganhamos melhor DVD! Isso pra mim é o que importa. Porque eu estou com o meu material, muito bem cuidado, que custou mais de um milhão e duzentos mil. Foi uma mega-produção. A gente fez um tratamento super decente para as minhas músicas, um puta arranjo, e está tudo registrado. E é isso que importa.
12 Comments
Lobão se garante demais e a entrevista tá ótima!
“A gente chegou no Recife…” Até Lobão fala correto NO RECIFE, acho q foi apenas o terceiro show da carreira-solo do velho Lobo que perco na minha cidade, mas dessa turnê MTV, prefiro o dvd em casa.
Justiça a obra dele, mas com todos os senões, essa turnê não iria a show nenhum.prefiro “o gosto antigo da novidade” (citação do belo álbum da Carfax), que lance um novo álbum, pois para mim e que acompanham o trabalho do “apresentador da MTV”, o set não tinha nenhuma novidade.
vale a ênfase dele sobre a técnica (violões das mais variados e timbres legais, outtros instrumentos de cordas, regências e afins)e vale citar também a produção que é do Miranda (Ídolos/SBT), que já produziu muita coisa bacana da década de 90. Mas ainda sim não funcionou para mim e muitos fãs “antigos” (20 mil cópias é reflexo disso, pois no esquema das revistas ele vendeu três álbuns mais de 250 mil), mas ele continua mandando bem, mesmo assim.
Olá, pessoal Recife Rock!
Estou enviando uma sugestão/nota para o blog!
AGRADEÇO SE JÁ PUDEREM DIVULGAR, ANTES DO EVENTO, JÁ QUE ABRIMOS GRATUITAMENTE O FÓRUM PARA O PÚBLICO.
Gostaria tb do email de vcs!
Um abraço,
Jacqueline Araújo
ASCOM AESO
Produção fonográfica é tema de fórum na AESO
Silvério Pessoa e Lula Queiroga são alguns dos palestrantes
LOCAL: cine-teatro AESO/Olinda
QUANDO: de 22 a 24 de abril, das 08:45 às 13h
As Faculdades Integradas Barros Melo (AESO) promovem de 22 a 24 de abril o “Fonograma”, primeiro fórum de debates sobre produção fonográfica em Pernambuco. O evento é uma realização do Curso de Produção Fonográfica da instituição – pioneiro no Nordeste -, coordenado por Gustavo Almeida.Para participar do Fórum os interessados devem se inscrever gratuitamente no site da instituição: http://www.barrosmelo.edu.br
O Fórum será realizado em três módulos: produção sonora e audiovisual, mediador Pedro Severien (jornalista crítico cinematográfico e coordenador de cinema de animação da Barros Melo); gravação de discos e distribuição musical, mediador Bruno Nogueira (jornalista crítico musical da Folha de Pernambuco e professor da Barros Melo) e Estúdios de gravação – técnica e negócio, mediador Marcos Toledo (jornalista crítico musical do Jornal do Commercio).
Participam como palestrantes, representantes das produtoras: “Carranca/ Onomatopéia idéias sonoras”, “Candeeiro Records/Musak”, “Fábrica Estúdios/Buzzina” , “Estúdio Mr. Mouse” e “Sonic.OS”. O evento conta ainda com as presenças do cantor Silvério Pessoa e Lula Queiroga, representando a produtora, Luni Produções.
O objetivo do evento é possibilitar um intercâmbio entre as áreas ligadas a música, mapear o comportamento da produção local e fazer um link entre a academia e o mercado. “O Fórum pretende ainda elencar novos postos de trabalho para os profissionais que precisam migrar do mercado tradicional – o das grandes gravadoras – para o atual, onde a Internet aparece como nova ferramenta de compra e venda de produtos fonográficos”, explica o professor e organizador do Fonograma, Gustavo Almeida.
O projeto é o primeiro do estado dedicado exclusivamente a entender à logística da produção local e vai fazer parte do calendário anual de eventos promovidos pela Barros Melo.
PROGRAMAÇÃO COMPLETA
Dia 22.04 – Terça-feira
PRODUCAO SONORA E AUDIOVISUAL
Mediador: Pedro Severian (AESO-Barros Melo)
Palestrantes:
– Carlos Borges(Carranca-Onomatopeia)
-Rodrigo Coelho(Sonic.OS)
-Lula Queiroga(Luni)
-Caca Barreto(Muzak-Candeeiro)
Dia 23.04 – Quarta-feira
GRAVACAO DE DISCOS E DISTRIBUICAO MUSICAL
Mediador : Bruno Nogueira(AESO-Folha de Pernambuco)
Palestrantes:
-Pablo Lopes( Fabrica-Buzzina)
-Marcelo Soares(Muzak-Candeeiro)
-Prof . Adriano Araújo(AESO-Araujo e Soares associados)
– Silvério Pessoa
Dia 24.04 – Quinta- feira
ESTUDIOS DE GRAVACAO – TECNICA E NEGOCIOS
Mediador: Marcos Toledo(Jornal do Commercio)
Palestrantes:
– Luizinho Referencia (MW Studio)
– Gera Vieira( Carranca-Onomatopeia)
– Leo D. e Willian Paiva(Mr. Mouse)
Com informações Ascom Barros Melo
( fórum na AESO )Já me sinto lá…
eu não conheço muito a obra de lobão, mas acho ele um chato sem igual.
RAfael
Isso so comprova o que vc falou..
porque conhecendo a obra dele ele fica mais simpático, andré?
Rafael,
Simpatia por simpatia João Gilberto é um “canhão”, mas é João Gilberto, saca? Lobão tem suas particularidades, as pessoas que o vêem falando difícil tem essa impressão, mas sempre fora assim e ele não fez faculdade pra porra nenhuma.sabe usar o makerting pessoal como poucos e tem álbuns e canções diferenciadas até quando é um “plagiador” (A Vida é Doce, que tem os arranjos copiados das bandas Britânicas da década de 90, como Portishead e Primal Scream) ele é acima da média dos demais, portanto, conhecendo a obra é melhor que achar se é arrogante, mentiroso ou gente fina.
Em 2001 (no próprio abril pro rock que o mesmo trouxe Arnaldo “já morreu” Batista) foi muito receptivo com todos(imprensa ou não), tanto quanto soube que o mesmo fora este ano, portanto não deve ser uma coincidência, acredito, tá respondido?
Certamente a resposta deveria ter sido solicitada ao xará Araújo (intruso), mas como também me manifestei e hj é feriado (sem muita coisa a fazer) mandei a minha resposta, blz?
RAfael..
Vc nao precisa tomar chá com o Lobao pra medir a qualidade musical dele..
Os meninotes do Fresno são legais… A Wanessa Camargo é legal… O NX-sei-lá-o-que é legal… Então a qualidade das músicas dele deve ser uma loucuuuuuuura!!!!!!
Sem comentário, simpatia deve ser sinônimo de talento e eu ainda não tinha percebido :-p