Cobertura: The Playboys e Pocilga Deluxe no Quintal do Lima

Por Hugo Montarroyos em 8 de junho de 2008

A ficha só caiu na própria sexta-feira, no Quintal do Lima. O The Playboys já é uma banda veterana. Até aí a novidade é zero, já que o último trabalho deles, lançado no ano passado, carrega no título a idade da banda: a coletânea “10 Anos Pedindo Mesada”. Como o melhor do grupo sempre foi o humor requintado e inteligente, a informação dos dez anos de carreira acaba passando meio batida. Mas estamos diante de veteranos que já se apresentaram em alguns dos principais festivais do país, e que ainda dão mostras de vigor e renovação, até nas piadas velhas, como em “Paulo André Não Me Ouve” (maiores informações abaixo).

E mais legal ainda foi presenciar o surgimento da nova banda de André Balaio, do Paulo Francis Vai pro Céu: a boa Pocilga Deluxe. Balaio sempre contrariou a máxima titânica que reza que “a televisão deixa burro, muito burro demais”. No caso dele a televisão serviu para a construção de um humor besteirol que por vezes bate na trave da genialidade, como no caso de “Eu Queria Morar em Beverly Hills”, em que conseguiu colocar no mesmo balaio “Barrados no Baile”, “Largo da Encruzilhada” e “Cidade monumento com seus ‘hippies nojentos’”. Com a Pocilga Deluxe André mostrou que ainda está afiado, com uma banda um tanto mais madura na parte musical que o Paulo Francis Vai pro Céu e o mesmo deboche certeiro de sempre.

Pouco depois da meia-noite, com pouca gente ainda no local (e bastante do lado de fora), a Pocilga Deluxe começou os trabalhos da noite. Fazem reverências aos ícones “cafonas” do cancioneiro francês do século passado, mas é o material autoral que merece registro.

“Bandida”, por exemplo, segue o lirismo de Lupicinio Rodrigues, em letra de temática de vingança explícita, na qual o moço rejeitado deseja a desgraça de sua antiga amada, torcendo para vê-la agonizar em uma cama de hospital. E na hilária “Flávia Inflável”, que narra o amor perfeito entre um homem e sua boneca inflável. Nada que já não tenha sido feito antes, mas tudo bem acabado e engraçado, amparado por um rock simples e direto. Foi apenas a segunda apresentação da banda, que, se continuar nesse caminho, não se levando a sério e ao mesmo tempo trabalhando com seriedade, tem tudo para chegar longe.

O The Playboys já entrou em cena com a casa mais cheia, e com um público que nitidamente era deles. Apesar da falha no som (era impossível entender o que o guitarrista Filipe Novais, que assume o vocal em boa parte do material novo, cantava) deu para ter uma idéia do que virá em “Chega de Niilismo”, disco a ser lançado até o final do ano: sátira ácida ao neoliberalismo (“eu quero a ascensão da classe pobre porque eu não suporto pobre”, bradava João Neto em uma das letras), chacota com Chico Buarque, com a cinqüentenária bossa-nova, e com eles mesmos, vide “Eu Não Quero Mais Acabar no Garagem”. Mas o melhor da noite estava mesmo com ela…

Na platéia, o produtor Paulo André tentava se fazer despercebido em uma das mesas. A banda atacou com “Paulo André Não Me Ouve”, e João Neto tratou de ser novamente impagável: “Paulo André, vamos repetir a dose. Eu quero tocar no Chevrolet Hall”. O local foi abaixo com inúmeras gargalhadas, com Paulo André se mostrando um tanto desconfortável com a piada.

André Balaio foi chamado ao palco para cantar “Eu Queria Morar em Beverly Hills”, para mais uma vez ressaltar: “Esta música não é de Wander Wildner”.

E o show continuou em ótimo clima, com destaque para o baterista Lucas Rabêlo, em noite particularmente inspiradora e raivosa. “Pancadão Armorial”, “Pessoas Cult”, “Big Haule”, “Cidadão Formiga” e “Niilista de Fim de Semana” também geraram bons momentos de uma banda que, pelo visto, ainda vai continuar pedindo mesada por muito tempo. A fórmula, pudera, permanece genial: desconstruir o punk e o marxismo para reivindicar os direitos de playboys e patricinhas (alô, público do “Conexão Rio-Recife”!). Afinal, trata-se de uma classe “oprimida” e “esmagada” pelo sistema. Como é reconfortante saber que ainda há vida inteligente circulando por aí…     

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