Cobertura: No Ar: Coquetel Molotov – Segundo dia

Por Hugo Montarroyos em 21 de setembro de 2008

O texto sobre os shows das bandas da sala Cine-Pe será escrito por Breno Mendonça, e estará no ar em breve aqui.

Segundo dia de festival e novamente tudo correu tranqüilo, não fosse um pequeno detalhe: os suecos do Club 8 demoraram um bocado para começar seu show na sala Cine PE, o que irritou um pouco o público e fez com que sua apresentação (muito boa, por sinal) ocorresse quase que simultaneamente à de Catarina. Como as leis da física ainda não permitem a ninguém estar em dois lugares ao mesmo tempo, acabou se dando mal quem optou pelo confuso show de Catarina.

No mais, tudo perfeito. Som funcionando bem, iluminação linda e público disposto a conhecer coisas novas. Aliás, era o primeiro festival de muita gente ali, devido ao alto número de adolescentes que mal pareciam saídos dos quinze anos. Talvez seja o fenômeno Mallu Magalhães. Aliás, vale a pena gastar algumas linhas com ela.

Mallu é uma criança (basta conversar um pouco com ela para se convencer disto) que vem sendo engolida pelo showbizz. E só resta torcer para que essa mudança abrupta em sua vida não prejudique sua saúde e sua personalidade. Porque não dá para passar incólume por tamanho turbilhão em espaço tão curto de tempo. Na verdade, acho bastante injusto criticar alguém de 16 anos que até pouquíssimo tempo tocava no quarto de sua casa e de uma hora pra outra foi alçada a condição de nova grande descoberta da música brasileira. É complicado porque estamos diante de um talento que ainda precisa ser bastante lapidado. E, por outro lado e ao mesmo tempo, boa parte da graça reside justamente nessa falta de lapidação, em sua espontaneidade “bruta” que destoa de toda a classe artística já calejada e veterana na cínica dança da indústria do entretenimento. Não deve ser fácil, da noite para o dia, passar da condição de fã para parceira de seus ídolos. O choro dela abraçada com Marcelo Camelo no palco ilustrava claramente isso. Ela talvez ainda esteja na fase de achar que tudo não passa de um sonho, e o medo de acordar deve ser grande. Deixemos então a menina crescer para mostrar ao que realmente veio. Por enquanto, o que ela já fez está de muito bom tamanho.

Catarina de Jah, segundo release, é olindense, tem 28 anos, é DJ e agora cantora. É preciso enfatizar bem este AGORA. Ela faz uma mistura confusa de ritmos latinos e regionais tentando dialogar com uma certa contemporaneidade. É insegura no palco, e não resite às provocações da platéia. Ao ouvir “Toca Ana Julia”, devolve com um “Eu não sei tocar Los Hermanos, não!”, sem esconder uma certa irritação. Ao tentar soar engraçadinha, pede desculpas ao público em nome de suas dançarinas – que, obviamente, não devem existir -, e diz que elas estavam com medo de encarar a platéia indie do festival. “Elas juraram que foi um problema com o mega-hair”. E, querendo ironizar o público presente, tratou de brindá-lo com piadas intraduzíveis. “Outra síndrome do verão é a síndrome de Mario de Andrade”. Silêncio mortal”. “Ri, minha gente”. E, finalmente, rimos por ela aceitar sua derrota como humorista. Talvez fosse melhor colocá-la na Sala Cine-PE. Ficou evidente que o AGORA cantora é bem AGORA mesmo. É preciso dar mais tempo a ela.

Algumas fontes bem confiáveis garantiram que o violinista Owen Pallett, do Final Fantasy, nada tem a ver com o Arcade Fire. Que apenas teria feito uma breve colaboração com o grupo canadense, mas que não seria, como foi vendido ao público, o “violinista do Arcade Fire”. Não consegui tirar a dúvida nem com ele nem com a produção do Coquetel Molotov. Falha grave minha, reconheço. Fica aqui o espaço aberto para a produção do festival esclarecer minha incerteza. De qualquer forma, o show dele foi bem bonito, transitando no limite da fronteira entre o golpe e a genialidade. Ele toca por cima de bases pré-gravadas, o que dá a errônea impressão de que qualquer um poderia fazer o mesmo. Mas quando seu violino fica em primeiro plano, constatamos que estamos diante de um músico de outro planeta, dono de um talento incomensurável. E, o mais bacana, foi aplaudido de pé ao final de seu show intimista, ousado e que funcionou às mil maravilhas num teatro. Só que desconfio que boa parte deste entusiasmo todo foi creditada ao seu “vínculo” com o Arcade Fire.

Criança ou não, Mallu Magalhães já superou a esfera virtual e hoje é uma artista de verdade para o público. Foi muito tietada nos bastidores, distribuiu autógrafos, tirou fotos com fãs, dividiu as atenções no backstage com Marcelo Camelo. Seu show foi extremamente competente. Ela não vacilou um só minuto (temi que ela não segurasse a onda ontem), e, em seu jeito atabalhoado e fofo (perdão, a palavra é essa mesmo), tirou, sabe-se lá de onde, a seguinte frase: “eu queria chamar ao palco dois bancos e o Marcelo Camelo”. E a histeria estava novamente armada. Juntos, cantaram “Janta”, acompanhada pelo público como se fora do repertório do Los Hermanos. Desta vez, Mallu conseguiu conter um pouco a emoção, e não desabou como no dia anterior. No mais, ainda é muito cedo para dizer qualquer coisa sobre Mallu. É uma menina de 16 anos dona de um talento e carisma inquestionáveis. O tempo se encarregará de dizer qual será o lugar dela quando crescer e não tiver mais lição de casa para fazer.

Não há muito para falar sobre o show do sueco Peter Bjorn And John. Trata-se de um trio competente, de boa pegada roqueira e que possui um belo show. Boa parte do público já havia ido embora quando eles entraram em cena, e a parte que ficou os recebeu muito bem. Deixaram o hit “Young Folks” para a parte final de sua apresentação, e ainda voltaram, entusiasmados, para um longo bis. Belo show, mas, no fim das contas, o que vai ficar na memória do público nesta edição do No Ar: Coquetel Molotov são as apresentações de Marcelo Camelo e de Mallu Magalhães. E com toda justiça.

23 Comments

  1. JHON
    Posted 21 de setembro de 2008 at 15h54 | Permalink

    Haja Saco! todo mundo quer ser moderno e gostar de Marcelo Camelo e Mallu Magalhães, só falta dize que acha Mafalda o máximo.

  2. mari
    Posted 21 de setembro de 2008 at 16h34 | Permalink

    Fui pelo show da Mallu, e acabei me apaixonando pela música de Owen Pallett. Simplesmente genial. Também gostei de Peter Bjorn and John, mas acho que nunca vou ouvir algo mais bonito que a The Butcher do Final Fantasy. Torço para que este não seja o último show de Owen Pallett no Recife (:

  3. jairo
    Posted 21 de setembro de 2008 at 18h10 | Permalink

    Achei interessante a avaliaçao dos shows. Essa participaçao sueca foi muito insosa, embora voce nao tenha dito isso. quanto a Mallu Magalhaes, é como foi dito, uma menina, nao se pode tentar critica-la como um artista com anos de estrada, ainda nao. o fato de muitos adolescentes prestigiarem os shows me deixou meio irritado, confesso que eles trazem uma energia mas sobretudo são muito incontrolados, e incontidos, a tietagem demasiada prejudica a apreciacao dos shows, aquela coisa de fa de Los Hermanos esterico, irrita. por isso compreendo o tanto de gente que nao aguenta mais ir a shows assim. O show de Marcelo Camelo, por exemplo, foi muito prejudicado pela histeria, na minha opiniao.
    Queria só deixar aqui a informacao sobre Owen Pallett que conheco, ele toca sim com o Arcade Fire, quando convidado, em alguns shows, foi ele que fez o arranjo de cordas do album Funeral, o primeiro do Arcade Fire. Agora, vendeu-se sim, a imagem dele como “O” violinista do Arcade, inclusive algumas pessoas pensavam que ele ia tocar musicas do grupo. Isso é compreensível porque o Arcade Fire tem, talvez, a maior repecussão dentre os trabalhos que ja fez. Ele tem diversos trabalhos paralelos, o trabalho com o Arcade Fire é um deles. Considero o show dele uma amostra de talento e arte pura. Nunca o tinha visto tocar, é sensacional, só quem viu pra saber.

  4. luciana
    Posted 21 de setembro de 2008 at 19h16 | Permalink

    A noite do sábado foi mt interessante, tirando o atraso da sala cine, problemas de atraso de vôo parece q do Akin. E prejudicou mt a sueca Club 8, pois foi simultâneo ao show do teatro, Catarina.

    Sobre o Owen Pallett, na verdade foi uma das melhores apresentações do festival, pois alem de funcionar mt bem no teatro cheio, ele realmente é genial, tem um talento excepcional.

    Não foi um golpe, ele não tocou em cima de bases pre-gravadas, ele simplesmente tocava e gravava ao vivo, acrescentando loops e mais loops de gravações de várias formas de tocar violino, fazendo hora percussivo (dando o tempo e batida), hora grave (como um contra-baixo ou cello), hora arcadas rápidas, hora com efeitos de pedal (dando um peso), e fazia a linha melódica do violino em cima do tudo que gravou na hora, cheio de sons bem diferentes, como uma banda completa e excelente, ainda sabendo dosar o vazio e o cheio, hora tirando os loops, hora tocando tudo ao mesmo tempo.

    Alem de cantar lindamente e tocar ao mesmo tempo, nao so o violino mas o sintetizador. BRILHANTE!!!! Por isso foi aplaudido de pé, pois mts ali nem sabiam quem era Arcade Fire.

    Peter bjorn and jonh fechou o festival perfeitamente, como uma grande banda gringa com a cara da proposta inicial do coquetel molotov.

  5. Caio
    Posted 21 de setembro de 2008 at 19h55 | Permalink

    Arcade fire?
    Até hoje não entendo o crédito exacerbado dado a essa banda… pra não dizer que acho o som deles pão-com-ovo

    Owen supera de longe!
    Gênio musical, cantor dono de uma voz que fica na mente de qualquer um, irreverente e contagiante, fizeram valer os 10 reais mais bem pagos da minha vida ^^

  6. Nika
    Posted 21 de setembro de 2008 at 19h55 | Permalink

    Owen Pallett foi genial.

  7. mariano
    Posted 21 de setembro de 2008 at 20h17 | Permalink

    tão querendo fazer suco com fruta verde!!!
    malu deu sono, vi um monte de gente indo embora no meio do show. no comerço fiquei curtindo, mas não aguentei até o final não! tem futuro! ou não…

  8. fernando
    Posted 22 de setembro de 2008 at 1h03 | Permalink

    europe ainda existe?! malmsteens só serve pras agradar os metaleiros farofa do abril pro rock e só. ainda bem que os organizadores do coquetel molotov não pensam em trazer essas bandas merdas que tu falasse jhon!

  9. Fernanda Maia
    Posted 22 de setembro de 2008 at 5h55 | Permalink

    Gostei muito do show de Marcelo Camelo e de Mallu Magalhães. Eles merecem elogios. Porém, os demais grupos nacionais que se apresentaram no Coquetel Molotov possuem, em sua maioria, as músicas e as letras (quando as têm) monótonas e repetitivas. Canções que não têm nada a acrescentar. Rien de rien.

    A respeito dos grupos estrangeiros, prefiro nem comentar, ainda me dá dor de cabeça quando penso…
    Ainda me arrisco em dizer que há bons grupos musicais estrangeiros desconhecidos para nós, como: Kings of convenience, Smog, Kath Bloom (canta muito bem), José Gonzaléz, Leonard Cohen entre tantos outros .

    Espero que Recife se encontre, principalmente em relação a música porque é nela que encontramos a liberdade e a evolução, e Recife está pedindo pra ser condenado à estagnação.

    Obs: Agradeço a referência dos grupos estrangeiros desconhecidos a Carlos Gomes.

  10. Pierluigi Orlandini
    Posted 22 de setembro de 2008 at 12h26 | Permalink

    Concordo com o que Hugo disse com reação à menina, achei insossa também a participação dos nórdicos, esse pedro, bruno e joão são o moptop da suécia.

  11. madá maciel
    Posted 22 de setembro de 2008 at 14h45 | Permalink

    hugo, eu acho que final fantasy e júlia says também vão ficar na memória do público. eu também não entendi porque a catarina não tocou na sala cine. enfim, amigos influentes é uma coisa absurda, não é?

  12. Rafael
    Posted 22 de setembro de 2008 at 17h01 | Permalink

    Na verdade, Hugo, não se tratava de bases pré-gravadas aquilo que rolou no show do Final Fantasy não, ele usava algum pedal-sampler, que ele incusive esqueceu de ligar no início de uma das músicas.

  13. Luis
    Posted 22 de setembro de 2008 at 17h55 | Permalink

    Dizer que o destaque da noite foi mallu magalhães e marcelo camelo (pseudo-cult) quando teve aquele violonista, Owen, é idiotice.

  14. D
    Posted 22 de setembro de 2008 at 19h03 | Permalink

    cadê as resenhas da sala cine dos dois dias?

  15. Cecilia
    Posted 22 de setembro de 2008 at 20h33 | Permalink

    Pra mim catarina foi o melhor show da do sábado. O canadense também agradou bastante, mas o que ele faz já bastante manjado e cansativo, já que todas as músicas tem a mesma estética. Em relação a mallu, pela primeira vez posso dizer que concordo, mas em parte, com montarroyos. Pra uma garota de 16 anos ela realmente é muito boa.

  16. astro
    Posted 22 de setembro de 2008 at 23h25 | Permalink

    owen, sem palavras.
    foi o que de melhor esteve presente no festival.
    apesar, da falta de conhecimento do publico em geral.
    discordo da amiga que disse que o que ele faz eh manjado e cansativo. manjado? quem faz? vc pode estar querendo se referir aos pedais com gravacao e repeticoes, os loops, ver artistas usarem recurso parecido nao quer dizer que o que ele faz eh manjado. nunca vi ninguem com tamanha desenvoltura pra fazer o que ele faz. e suas musicas beiram a perfeição, procure ouvir seus discos, são os arranjos de corda mais belos e criativos que existem na musica pop, afora que ele canta muito bem, tambem. me sinto um merda por nao conhece-lo antes tão bem quanto de uns dias para cá…o q eu andei ouvindo??!! posso afirmar que passou no palco do molotov um genio. e as pessoas nem se deram conta direito de tão aturdidas que ficaram. como disseram, “soh quem viu pra saber”, e tem que ter “visto” mesmo, não apenas estado lah presente.

  17. Thomas Edward Yorke
    Posted 22 de setembro de 2008 at 23h49 | Permalink

    O melhor show sem dúvida foi do Owen Pallett, sozinho salvou o segundo dia de show.
    Literalmente sozinho.
    Quanto a Mallu Magulhães, é apenas esforçada. E de esforço o mundo ta cheio.
    Johnny Cash, se revirou no túmulo quando ela fez aquela versão. ARGH!
    A banda tambem não ajudou.
    Catarina, melhor ficar calado.
    PBJ, foi legal… quem ficou até o final não perdeu.
    No geral o Festival foi bom.

    Não tragam mais Marcelo Camelo, quanto mais longe os fã de Los Hermanos ficarem, melhor.

  18. Thomas Edward Yorke
    Posted 22 de setembro de 2008 at 23h52 | Permalink

    Catarina, cantou uma música.
    Logo veio outra em seguida e depois repetiu a 1.
    Em um intervalo de 3 músicas ela cantou 2 iguais.
    Um fenônemo.

  19. astro
    Posted 22 de setembro de 2008 at 23h53 | Permalink

    to morrendo de rir aqui, esse thomas eh um hilario…

  20. André Mantra
    Posted 23 de setembro de 2008 at 0h36 | Permalink

    For a minute there, i lost myself…

    http://www.myspace.com/littlejoymusic

    Acho q esta banda será a bola da vez

  21. grilowsky
    Posted 23 de setembro de 2008 at 14h25 | Permalink

    Mallu Magalhães, meu deus… q grande piada!!

  22. Cecilia
    Posted 23 de setembro de 2008 at 19h35 | Permalink

    Astro, com já disse Owen agradou muito não discuto o que ele toca e canta, realmente é muito bom. Porém, o uso dos pedais em todas as músicas da mesma forma, com a mesma estrutura torna o show bastante cansativo. Não precisa ir muito longe pra dizer que já fazia isso a muito tempo atrás. Lenine, por exemplo, já usava esse pedal para fazer loops com sua voz e depois catar em cima.

    Portanto, se o show tivesse outras coisas além disso seria perfeito, mas confesso que depois da 4 música, não tinha mais o que se ver ali, apenas repetições.

  23. João do Ibura
    Posted 26 de setembro de 2008 at 9h23 | Permalink

    Já pensaram na possibilidade da mallu magalhães ja´ ser uma atração préfabricada do showbiss,forçando está em estado de lapidação. Tudo bem que é bem melhor do que a maioria das forçações de barra da industria fonografica, mas não podemos nem dizer que ela promete com o que têm mostrado.
    Nesse dia somente assisti os 3 primeiros shows do sala cine UFPE(motivo de ordem economica), talvez por isso esteja enganado quanto a apresentação de mallu nesse festival, mas pelos comentários parece que não.
    Quanto aos fãs de marcelo camelo,quero distância!

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