por Breno Mendonça
O primeiro dia do festival No Ar Coquetel Molotov 2008 reservou para a Sala Cine UFPE alguns dos melhores shows de todo o festival. Burro Morto e Guizado destacaram-se com shows espetaculares. A Banda de Joseph Tourton mostrou qualidade e carisma e agradou bastante a platéia. O único senão da noite ficou pela banda potiguar Bandini, que destoou em tudo das demais.
Abrindo o festival, a Burro Morto fez uma apresentação digna de uma banda com grande experiência e com anos de estrada. Na verdade, seus músicos fazem e fizeram parte de grupos paraibanos já rodados, que resolveram se reunir em um projeto voltado à música instrumental. É perceptível, no som do Burro Morto, elementos de música com raízes percussivas como o afrobeat, o dub, e também uma veia rock forte, com tendências prog-kraut bem evidentes. O show no Sala Cine surpreendeu a todos . Mesmo quem já havia escutado as músicas via myspace ficou boquiaberto com a energia e intensidade da apresentação e da nova dinâmica que as músicas ganham ao vivo. A cozinha do grupo (baixo, bateria e percussão) é impecável, com grande destaque paro o baterista, o camarada manda muito. O som deles, apesar de ter um jeitão de Jam, é muito coeso e redondo. Na hora me lembrou um Guru Guru (ou um Amon Duul) abrasileirado. Muito foda, melhor surpresa de todo o festival, melhor show da noite ao lado do Guizado. O Burro Morto pode tranqüilamente trilhar o caminho que já vem sendo desenvolvido por grupos como Macaco Bong, ou mesmo o Hurtmold.
Em seguida a Sala Cine ficou um pouco menor, ou mais apertada e calorenta, pois iria ter início a apresentação d’A Banda de Joseph Tourton, que atraiu um séquito de amigos/fãs e curiosos que estavam ansiosos para ver o grupo instrumental que em pouco tempo de existência já estava tocando em um festival como o No Ar. A música que eles fazem é um espelho das influências dos integrantes, uma gurizada que vêm crescendo ao som do Hurtmold, Mombojó, Mundo Livre… A real da Joseph Tourton é a seguinte: é massa ver uma gurizada como essa, cheia de energia e carisma mandar um som como esse. É perceptível algo do Hurtmold mais forte aqui e ali. Mas nada que beire a chupação. Ao contrário, eles buscam claramente uma identidade. Rola uma honestidade de amigos que se juntaram para tirar um som e estão se divertindo. Têm potencial e bons músicos, coisas boas virão deles. O show foi muito bom, muito bem recebido e aplaudido.
Na sequência tivemos o desnecessário Bandini, do Rio Grande do Norte. O grupo não esconde que tem uma banda clássica, o Joy Division, como sua grande influência e formata suas canções (ou pelo menos tenta) à imagem e semelhança dos mesmos. O que acontece é que suas músicas são apenas pastiches mal executados com uma roupagem moderninha. A relevância de uma banda assim é mínima, existem milhares de outras com a mesma “proposta”. O show foi bastante fraco, os caras estavam nervosos. Não compensaram na performance a falta de originalidade. Pareceu-me uma banda ainda muito verde e imatura quanto à sua concepção musical, que não justificou sua inclusão no festival. Como produto pode até ser vendável, certamente várias pessoas gostaram de sua apresentação, mas acho que a busca de uma identidade pode ser o diferencial que poderá levar a banda a algum lugar de destaque. Por enquanto fica a má impressão deixada no Sala Cine.
Finalizando os trabalhos, e elevando o nível consideravelmente, o Guizado, de Guilherme Mendonça, subiu ao mini palco do Sala Cine e mostrou como se dilui e processa influências para criar algo novo e interessante. O Guizado está inserido em uma quase-cena paulista (na verdade sediada em São Paulo, pois são músicos de todo o Brasil) de artistas que colaboram entre si e têm a diversidade de influências e a inventividade como premissas de seus trabalhos. Junto a Guilherme estavam o baterista Curumim e músicos do Cidadão Instigado. O show consiste de batidas pré-gravadas com a banda tocando e improvisando em cima. Uma aura psicodélica permeia todo o som do grupo, inclusive as projeções aumentam essa impressão, mas a veia jazzística também pulsa forte no trompete de Gui e nas levadas de Curumim, assim como elementos de dub, grime, free-jazz, tudo em perfeita harmonia com as melodias da guitarra. A música do Guizado é original, criativa, sofisticada, mas, sobretudo, acessível. E teve grande resposta do público presente.
2 Comments
O Guizado é a melhor coisa surgida nos últimos tempos.
Sensacional!
Parece que os shows da sla cine UFPE foram melhores do que os pagos, pelo menos gostei muito do segundo dia de festival gratuito.