Cobertura: Grito Rock Porto de Galinhas (primeiro dia)

Por Recife Rock! em 3 de fevereiro de 2009

Mombojó se destaca na primeiro noite do Grito Rock Porto
Texto por John Heinz

Neste fim de semana rolou em Porto a edição pernambucana do Festival Grito Rock, que acontece em mais de 40 cidades do Brasil e em outras cidades da América do Sul, no maior festival integrado do país. Quem organizou a parada por aqui foi a galera do Lumo Coletivo, que já vinha preparando o evento há um bom tempo: organizou os debates na Livraria Cultura, e a prévia do Grito, no Quintal do Lima. O Festival aconteceu em Porto de Galinhas no Muru Muru, uma casa mezzo restaurante, mezzo boate, onde cabe facilmente mais de 500 pessoas e fica próximo a pracinha.

Coube aos Ex-exus abrir os trabalhos do festival e deles mesmos, no primeiro show da banda. Tarefa ingrata: com um pé na psicodelia, a tentativa foi de criar um ‘clima’ que não deu certo. A casa vazia, claro, o grande motivo. Mas faltou também à banda um cuidado maior na produção pra favorecer a proposta do som. Um jogo de luz aqui, um gelo seco ali não fariam mal nenhum. Psicodelia mesmo só a máscara de papangu que um dos integrantes usava, lembrando que o Carnaval e o ‘sucesso’ tão chegando por aí. O que conta mesmo é que a música é boa, o EP é bom, e a banda promete. Fica pra próxima.

Já com mais gente na platéia, apareceu o Chambaril e seu som pornochanchada. Por incrível que pareça, a batida rock industrial e o suíngue sem-vergonha, no melhor significado que a palavra deve ter, funcionam muito bem, e já se podia ver um ou outro casalzinho chamegando na platéia. É isso que eles querem mesmo, a safadeza rolando no ar. Destaque pra “Mendes” e “Bicho bola”. Até a flauta doce em “Miami Motel” soa sensual. É, eu também não sabia que a flauta doce podia fazer som afrodisíaco…

A terceira banda foi a AMP. Covardia total. Sabe aquilo tudo que diz o release da banda, “rock bem cantado, bem tocado, bem pesado”? É tudo verdade. Os caras são monstruosos no palco. Um peso maldito, que toma conta de tudo. É bom frisar que não é à toa que eles estão assim. Além de tecnicamente muito bons, a estrada que eles percorreram nos últimos tempos não é mole. Aumenta que é rock, Festival do Sol, Calango, Porão do Rock… No Muru Muru, um show pra todo mundo ficar de cara, ou como escreveu no meu caderno uma amiga deles na platéia, “Tudo lindo, AMP foi lindo!”. E o que a gente pode afirmar é que a AMP está definitivamente na lista dos melhores sons de Pernambuco atualmente.

E então veio a Cabruêra. E à Cabruêra cabe um comentário mais detido. Pra quem não conhece, eles são um dos grupos mais emblemáticos da música paraibana e nordestina. Construíram uma carreira consolidada no Brasil e na Europa, com todo o mote do ‘resgate’ do regionalismo e tudo que envolve essa expressão. Apesar das semelhanças com o movimento que rolou aqui por Pernambuco na década de 90, sustentaram uma identidade própria, independente do som que Chico Science fazia. Acontece que a morte de Chico estabeleceu uma espécie de “nova ordem” musical, e a partir daí, ou se reinventava o regionalismo, ou se vivia à sombra do malungo. Da reinvenção, dois exemplos: a própria Nação Zumbi, e o Cordel do Fogo Encantado, que usa e abusa da cultura popular sem ficar preso ao rótulo de Manguebeat. Não foi isso que aconteceu com a Cabruêra.

Com a Cabruêra e o seu show de ontem, que não chegou a ser ruim, o processo foi diferente. É como se eles estivessem num limbo: de um lado, ainda presos ao tipo de som regionalista que eles faziam antes, e de outro, uma tentativa de coisa nova, mas amorfa, sem identidade, soando por vezes cópia (fraca) do Cidadão Instigado. Nesse ano estarão lançando disco novo, o “Visagem”, gratuito pra download no Overmundo. Esperamos que a crise da Cabruêra mostre que, apesar de ser uma excelente carta na manga, não há como se limitar ao “truque da caneta bic”  por toda a vida. [ Nota do editor: “truque da caneta bic” é quando a banda usa uma caneta bic para ‘tocar’ violão ].

Da Paraíba veio também o Burro Morto, pra fazer um show muito bom. Também com um som lisérgico, sofisticado, e agora com gente pra ouvir, a proposta acabou vingando e o público entrou na onda. É difícil de descrever a sensação que eles provocam, mas é algo parecido como uma viagem coletiva. Inevitável comparar com The Pink Floyd Sound. Banda muito aplaudida.

Mas o melhor da noite mesmo tava guardado pro Mombojó. Histeria losermânica na abertura com “Merda” (e o perdão do trocadilho), galerinha cantando junto em “Saborosa”, gente que foi pra Porto só pra vê-los e foi embora de busão logo de manhã, os momentos mais empolgantes da noite foram na apresentação dos recifenses. Depois de tanto tempo sem tocar por aqui, a platéia do festival fez questão de deixa-los à vontade. Com a reestruturação da banda, na formação guitarra-baixo-bateria-teclado, estão tocando um som mais cru, mais limpo, sem muita firula.  Não que saia da estética que costumavam fazer, mas a mudança é perceptível. Continuam competentes. Boa parte do show foi de novidades, com “Justamente”, “Amigo do Tempo” e “Pa pa pa”, essa última com direito a tiozinho subindo no palco pra dançar. Além disso, “Faaca”, “Deixe-se Acreditar” e “Anti-Monotonia”, parceria com Junior Black e que por causa dessa reforma ortográfica eu fiquei sem saber se escreve com hífen ou sem. Alguém me ajude nos comentários, por favor.

O fato é que já de manhã a casa ferveu com o Mombojó, e no que depender de quem foi a Porto na sexta à noite, o sucesso dos caras vai continuar no próximo disco. O Saltos Ornamentais, responsáveis pela discotecagem, não parou de repetir uma pergunta pro público: “Por que vocês não estão em Alanis?” A resposta, na real: porque quem tava ali queria ver era Mombojó.

Atualizado: 04.02 – 01h00
Em breve… as fotos!

10 Comments

  1. João do Ibura
    Posted 3 de fevereiro de 2009 at 21h32 | Permalink

    Pela segunda vez fiquei intrigado com o seu comentário sobre a cabruera, pois sempre achei uma banda interessante, principalmente porque tem(ou tinha) influencia do rock progressivo, todavia, a última vez que assisti aum show deles foi no porto musical/digital que rolou paralelo a feira musica brasil, então, eu pergunto, esse comentario sobre “não há como se limitar ao truque da caneta bic por toda a vida.” quer dizer que atualmente não tem outra coisa mais relevante na banda do que o referido “arranjo” do guitarrista?

  2. Posted 3 de fevereiro de 2009 at 21h52 | Permalink

    Também viajei no comentário. Mas, no geral, curti a cobertura :)

  3. pqp
    Posted 4 de fevereiro de 2009 at 8h37 | Permalink

    é um título, então mantém o hífen, jumento. ou você espera que todos os discos sejam reeditados com os nomes mudados nas capas?

  4. Posted 4 de fevereiro de 2009 at 11h30 | Permalink

    Queria agradecer pessoalmente e em nome do Lumo Coletivo pela força que o pessoal do Recife Rock vem dando aos nossos projetos. Valeu, meninos! É bom encontrar pessoas dispostas a ajudar nessa busca por meios sustentáveis na produção independente. Vamos discutindo mais, produzindo mais, analisando muito mais ainda!

    Só tenho uma ressalva a fazer sobre a chamada “crise da Cabruêra”.

    De acordo com o que eu presenciei e nos comentários que chegaram a mim, a Cabruêra foi um dos shows mais instigantes do festival, sem dúvidas.

    Banda madura, bem resolvida demais no palco, à vontade para brincar e interagir com o público com um desprendimento que outras bandas mais novas ainda não conseguem ter. O truque da caneta bic não é pra ser entendido como uma grande sacada hermeto-pascoálica, é só um jeito de tirar um som que vai fazer todo mundo chegar junto pra dançar na frente do palco. E fez.

    Fico pensando se toda banda, nordestina ou não, que quiser utilizar elementos típicos daqui na música que faz vai sempre ter que topar com críticas que se limitam a fazer as comparações mais óbvias e superficiais com o mangue de chico science. Como se chico tivesse esgotado as possibilidades de se trabalhar a influência da música regional com outros sons.
    Mas esse já é outro papo, só queria mesmo deixar registrada a minha discordância com a tua opinião, John.

    No site do Grito Rock Porto de Galinhas já estão os vídeos das bandas do primeiro dia. Quem quiser tirar suas próprias conclusões sobre os shows, inclusive da Cabruera, pode passar lá: http://www.gritorockporto.blogspot.com

  5. Posted 4 de fevereiro de 2009 at 14h28 | Permalink

    Só falando um pouco mais sobre a questão da Cabruêra.

    Não há dúvida que eles são excelentes. São ótimos músicos, Edy é um monstro no baixo. Fizeram um bom show, a galera entrou no clima. [/b]A questão é que só se cobra mais de quem pode dar mais. [b] Por tudo que fez e faz a Cabruêra, tenho certeza de que eles podem estar muito melhor do que estão hoje. Não foi ontem nem anteontem que comecei a ouví-los, e sei do que são capazes. Hoje, na minha opinião, eles fazem um som “requentado”, longe da ótima forma que eles exibiam quando começaram com o regionalismo.

    Não tou pedindo pra eles se limitarem ao regionalismo nem serem cópia de Chico Science ou de qualquer outra coisa. Só acho que pelo que eu já ouvi e acompanhei deles, podia ser muito melhor.

    É isso,
    Essa é a parte boa dos comentários, a diversidade.

    Abraços,
    John.

  6. Posted 4 de fevereiro de 2009 at 17h31 | Permalink

    Eu ja vinha visto o Cabruea, alguns anos atras, la praça do Arsenal, na frente da Torre Malakof e senti a banda na epoca sim, um lance manguebeat, nessa apresentaçao do Grito Rock, notou-se claramente que a busca do som proprioe caracteristico ja esta acontecendo. E sim, junto com a AMP e o Burro Morto, foram as bandas mais fodas da noite.

  7. De olho
    Posted 4 de fevereiro de 2009 at 19h27 | Permalink

    Então, decidi ter um pouquinho d etrabalho e pesquisar todas as bandas que já tocaram em eventos que o lumo organizou sozinho ou junto com algum outro coletivo, ou banda, sei lá o que mais. aí vai as bandas e a quantidade de vezes que tocaram

    Nuda (PE)- 3
    Camarones – 2
    Macaco Bong – 1
    Calistoga – 1
    A Comuna (PE)- 2
    Tabacos de Guevara (PE)- 1
    Seu Fulô e a Fuleragem (PE) – 1
    A Banda de Joseph Tourton (PE) – 2
    The Playboys (PE) – 1
    Canivetes (PE) – 1
    Tanga de Sereia (PE) – 1
    Ínsula (PE) – 2
    Burro Morto – 1

    Depois desses eventos vem o grito rock…as bandas selecionadas pela inscrição foram:

    Amp (PE) – 1
    Gigante Animal – 1
    Cabruêra – 1
    Trio Pouca Chinfra (PE) – 1
    Burro Morto – 2 (porque já tinah sido convidado pra outro festival)
    Nuda – 4 (já tinha sido convidada pra TRÊS festivais do Lumo)
    Ex-Exus (PE) – 1

    12 bandas pernambucanas tocaram nos eventos do lumo nesse tempo de existência. alguns detalhes, observações etc…

    Nuda – faz parte do coletivo e foi convocada 4 vezes pra tocar! sim 4 vezes…uma delas foi pela “seleção” do grito rock. aí me diz, de 200 bandas inscritas não tinha nenhuma no mesmo patamar ou melhor que a Nuda pra dá uma mudada? acho difícil…

    Ex-exus – A Ex-exus também foi “selecionada” para o grito rock. mas engraçado, tem 3 integrantes da comuna nela…hmmmm…

    Lumo coletivo? ou Lumo panelinha? se for pra aparecer esses coletivos tentando alavancar um número X de bandas a pulso, eu prefiro ficar sem eles!

    um abraço.

  8. De olho
    Posted 4 de fevereiro de 2009 at 19h30 | Permalink

    Ah sim e lembrando que a maior diversidade de bandas apareceu quando eram eventos que eles não organizavam sozinhos…se fosse pegar só os que eles organizaram sozinhos acho que o número de bandas cai para 6 ou 7.

    êêêê diversidade maravilhosaaaa…

  9. Gerusa
    Posted 5 de fevereiro de 2009 at 17h55 | Permalink

    Não concordo com o John,. Para mim a CABRUÊRA foi a banda que conseguiu levantar o público que estava disperso e apático. O show foi ótimo! e a banda se mostrou madura, segura e bem definida.

    O fato dele gostar mais do formato antigo, não quer dizer que a banda esteja pior. Afinal mais do que nunca, hoje a CABRUÊRA é referência no circuito alternativo e justamente por isso participa de muitos festivais nacionais e internacionais.

    Mombojó levou a galera fã, que canta junto…Bacana demais!!Mas isso não é o suficiente para definir que foi a melhor banda e nem o melhor show da noite. Aliás, definir o que melhor ou pior depende muito do gosto pessoal de quem opina, né mesmo?

    Na MINHA opinião a CABRUÊRA está apenas diferente. Não ter a presença do zabumba e da alfaia não os distancia da identidade criada para a banda ou a falta de regionalismo. A linguagem prevalece. Afinal todas as músicas fazem conexão com este universo (do popular, do regional), nos ritmos, nas releituras das músicas de domínio público… Se não se percebe isso é porque se presta atenção somente na formatação dos instrumentos.

    Por isso, na boa…vamos deixar de bairrismo e comparações (CABRUÊRA nada haver com CHICO SCIENCE. Por favor, né?)e vamos aplaudir o trabalho destes bandas que se apresentaram no evento e que representam tão bem a nossa cultura.

    E quanto a melhorar, esta busca deve ser de todos. Sem exceção!

  10. João do Ibura
    Posted 6 de fevereiro de 2009 at 9h28 | Permalink

    Sinceramente, nos primieros shows que vi da cabruera, achei mais proximo do cordel do fogo encantado do que de chico sciense.

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