Zeca Viana é, de longe, o músico mais atuante de sua geração no Recife. Baterista da Volver, ele chegou a ter, simultaneamante, mais duas bandas: Asteróide B-612 e Onopatopéia Bum, além de sua carreira solo. Zeca toca amanhã na Estação Central do Metrô do Recife, em show que faz parte do projeto Estação Arte 2009. Nele, mostrará músicas de seu primeiro álbum, “Seres Invisíveis”. Abaixo, você confere a conversa com Viana, que fala sobre a mudança para São Paulo, de influências de literatura e filosofia em seu trabalho, e de como será o show do Estação Arte.
Além do seu trabalho solo, que será mostrado nesse show da Estação Central do Metrô, você também tem o Zeca Viana & Onomatopéia Bum!, Asteróide B-612 e é baterista do Volver. Como consegue fazer tanta coisa ao mesmo tempo em uma terra em que tanta gente reclama da dificuldade de se trabalhar com música?
Eu gosto muito de música (de consumir e de criar), então esses projetos meio que refletem minha curiosidade em fazer várias coisas diferentes. Mas acho que meu primeiro projeto mesmo foi o solo, quer dizer, ele é como se fosse uma base pra tudo que aconteceu depois. Desde criança faço músicas que ficam tocando dentro da minha cabeça e, com uns 14 anos, comecei a escrever e tocar no violão. Só bem depois formei o Asteróide B-612, primeiro projeto desses que você citou.
Agora, claro que é difícil trabalhar com música no Recife, a gente sabe, mas poderia ser bem pior. Pelas cidades que eu já passei, a situação é muito mais complicada. Em João Pessoa, Natal e Fortaleza, por exemplo, Carol Morena, Foca e Felipe Gurgel, respectivamente, são pessoas guerreiras que fazem as coisas acontecerem na marra, e fazem muito bem. Aqui temos um apoio importante do poder público – claro que devemos também tentar solidificar um circuito fora dele – temos várias bandas legais, temos público, só falta vontade de fazer as coisas e reclamar menos. Mas acho que isso já está mudando com a nova geração de bandas que entendem isso. Hoje, um artista tem que se desdobrar em um pouco de tudo: produtor, designer… Acho que é isso, gostar muito do que se faz e fazer isso se tornar real.
Pretende dar seguimento a todos os seus grupos em São Paulo, para onde está se mudando com a Volver?
Na verdade já me desliguei faz certo tempo do Asteróide B-612. Eles estão se preparando para gravar material novo, são muito criativos e sei que coisa boa vai vir. Continuamos amigos, falo por telefone com Matias (tecladista) com frequência, mas a vida acaba distanciando mesmo as pessoas, é natural. No momento estamos seguindo caminhos ideológicos diferentes. No caso da Onomatopéia Bum!, Sofia acabamos o namoro, e foi natural que as coisas se afastassem. Mas estamos todos bem, continuamos amigos, adoro as meninas e quero que elas continuem fazendo o que elas gostam. Em São Paulo, o foco vai ser mesmo o Volver, mas vou levar o “Seres Invisíveis” na bagagem e no tempo livre vou dar uma circulada por lá. Já estou em contato com algumas pessoas, como Lulina e Eduardo Ramos, para viabilizar algumas coisas e quem sabe gravar meu segundo disco. Coloquei o título provisório de “Psicotransa”.
É bastante marcante em seus trabalhos a influência de Arnaldo Baptista, tanto no som psicodélico como em algumas letras, que seguem a escola literária do realismo fantástico. Como você vê isso em suas composições?
Na verdade, gosto muito dos Mutantes desde sempre, então acho que a influência do Arnaldo veio meio que de forma inconsciente. Depois que conheci sua obra solo, descobri uma nova forma de me relacionar com a MPB e de compor em português. Arnaldo é um dos gênios da música brasileira, e de certa forma, é até um absurdo comparar essas coisas, mas acho que a pessoalidade que existe nas canções dele é uma coisa similar. O realismo fantástico de Gabriel García Márquez também é uma influência determinante. Acho que nas minhas músicas falo de forma tão pessoal que às vezes tocar essas músicas me machucam, queimam pordentro, mas, ao mesmo tempo, é uma sensação de alívio, de exorcismo. É uma experiência muito pessoal, não sei muito bem se consegui explicar.
Você estuda filosofia. Até que ponto se inspira nela – filosofia – em suas composições?
Existem coisas que eu adoro e coisas que eu detesto na filosofia, ou melhor, nos estudantes de filosofia. O que eu adoro é a necessidade da investigação, por ela mesma. A necessidade de se buscar os limites críticos da razão pura, a poeticidade da ontologia, a metafísica escondida embaixo do travesseiro. Isso está descansando atrás da linguagem. Agora, eu detesto seguidores deste ou daquele filósofo que se fecham numa dimensão de corpo material burocrático acreditando ser “esta” a verdade ou se dizendo nietzschiano, kantiano, heideggeriano… Como diria Jesus Vásquez (Professor de Filosofia da UFPE), isso é uma babaquice sem fim! Parecem cheerleaders (lembram aquelas líderes de torcida americana?) patéticas. Filosofia da Liberdade, Filosofia da Condenação, Filosofia do Coco, ou seja, Filosofias… Eu sou do tipo de cara que não gosta de sentar numa mesa de bar para falar sobre filosofia como uma coisa pronta, um “tentar sobrepor minha ideia sobre tal filósofo”, de forma cartesiana e muitas vezes sem ser fluente em Alemão ou Grego Clássico! Deixo isso para a Academia. Filosofia é antes poética, no sentido mais profundo, onde todos os limites estéticos podem se entrelaçar num horizonte ontológico, do transcendental (Kant) ao artístico (Evaldo Coutinho)!
Já pensou em seguir carreira literária? É algo que te interessa?
Eu gostaria de publicar algo sobre ontologia ou estética, mas apenas academicamente. Algo sobre cinema ou artes plásticas talvez. Mas é uma ideia muito futura, no momento estou me focando mesmo na música. Nos meus shows solo, a parte literária, no sentido lato sensu, eu deixo para as participações do meu amigo, poeta e monstro HVB (Henrique Viana Brandão), que tem uma obra literária de fato.
Como será o show de amanhã?
Faremos um show focado nos “Seres Invisíveis” e em novas composições ao lado de pessoas queridas, uma despedida dos palcos recifenses. Estarão lá Zé Mário, tocando sua telecaster amarela, ele que me acompanhou no Grito Rock Fortaleza e me conhece desde as épocas remotas; D Mingus, que participou do show no Coquetel Molotov com sua flauta etérea e sua guitarra “stoned”, integrante de uma das melhores bandas de Recife, a Monodecks; e Luiz “Poodle” Pessoa, produtor, engenheiro de sons abstratos e também do Monodecks.
Se quiser acrescentar algo, o espaço é seu!
O meu primeiro disco solo, “Seres Invisíveis”, está disponível para download na comunidade Zeca Viana. Podem chegar lá pra gente trocar ideias e tudo mais. Tem o link pra download aqui no final também. Essa sexta tem show solo meu e, no sábado, tem Volver na Torre Malakoff, espero todos lá! Um grande abraço pra todo mundo aqui do Recife Rock! …and let´s rock!
ZECA VIANA – SERES INVISÍVEIS EDIÇÃO BONUS | 52,5Mb | Bazuka Discos
http://rapidshare.de/files/46714087/Zeca_Viana_-_Seres_Invis_veis__2009__Edi__o_Bonus.rar.html
Abaixo, o release do show:
Zeca Viana abre Estação Arte 2009 em sua última apresentação em Recife!
“O projeto Estação Arte, realizado pela Gerência de Música da Prefeitura do Recife, em parceria com o Metrorec, começa sua série de shows na estação central do metrô, na próxima sexta (08/05), às 18h, apresentando uma das revelações da nova geração de músicos locais, Zeca Viana. O compositor, cantor e multiinstrumentista já mostrou o seu talento à frente da banda Asteróide B-612, do projeto com Zeca Viana & Onomatopéia Bum e também como baterista da banda Volver, com a qual fixa residência em São Paulo, no final do mês. Portanto, esta será a última oportunidade para conferir o trabalho solo do artista.
Em “Seres Invisíveis”, disco lançado, no início deste ano, como projeto individual de Zeca Viana são percebidas influências de diversos artistas como, Arnaldo Baptista, Syd Barrett, Tom Zé e Ave Sangria. Mesmo com pouco tempo de lançamento do disco, o cantor colheu boa repercussão, realizando shows em Fortaleza, João Pessoa e Recife, além de aparecer na lista dos melhores lançamentos nacionais de 2009 pelo site Trama Virtual.
Ao vivo, Zeca Viana assume os vocais e os teclados, ao lado de D Mingus e Luiz “Poodle” Pessoa – ambos da banda instrumental Monodecks além do músico Zé Mário. O show no Estação Arte capta a essência do disco, com timbres e ambientações que passeiam pelo pop, folk e a psicodelia sessentista, mas imprimindo identidade própria às canções. O setlist ainda conta com novas composições como, “Professora de Arte” e “Metafisicamente”, que estarão no próximo CD, batizado provisóriamente de “Psicotransa” (em fase de pré-produção)”.
Seres Invisíveis, de Zeca Viana
Onde: Estação Central do Metrô do Recife
Quando: Sexta-feira (08/05)
Informações: (81) 3232.5219 ou no site www.musicarecife.com
7 Comments
Salve Zeca, larôye!
Eu não caibo nesse ônibus que passa apressado as 5 da manhã. Acho que sou livre demais pra estar dentro dessa máquina que carrega pseudo-escravos para a imposta rotina. Ficam na casa dos passageiros o sono leve, o último cd que o adormecer cansado nao deixou que tocasse, fica o amor da mulher que dorme serena e fica a vontade de decorar o sono dos filhos.Talvez o meu erro maior seja sentar nos bares junto a loucura, contar pra elas alguns segredos sagrados e depois ir embora fingindo ser sóbrio. Aquele onibus me assusta!Seria ele o caminho certo pro fim do mundo ou seria ele toda redenção de que o bicho- homem necessita? Essas perguntas constantes sempre me acompanham no quarto. Sempre vem um fantasma vestido de raios solares.Sempre apago sem me aperceber que outro dia ja castiga meu cérebro por antecipação, e que de novo o onibus macabro faz o seu insano balé, indo e vindo , deixando no ar todo um mundo que foi, que é e que poderia ter sido.Sigo andando… Um brinde!
Zeca é sem dúvidas um dos caras mais limpeza entre esses que circulam pelo meio da música, cultura e afins recifenses. Talento, simpatia e esforço pra ser sempre melhor não faltam nesse homenzinho que de vez enquando se arrisca a circular por aê com um vestidinho totalmente zeqci! ahahahahah
Boa sorte zeca!!!
sábado estarei por lá e carregarei mais uma trupezinha pra conferir pela enesima vez o som da Volver, já que hoje infelizmente não vai dar pra conferir o seu som!
Toda a felicidade e sucesso do mundo!!!
Zeca, todo o sucesso para vocês da Volver la em Sampa.
E Carol Dreyer não é o nome do fabricante do banco hein…
Zeca neles!
Fala Viana, parabens pelo reconhecimento, pois é tudo que nos esperamos quando iniciamos um trabalho.
abraço…
Parabéns pelos comentários Zeca, fico orgulhoso em tê-lo como amigo, representante da música e cultura Pernambucana. É isso, firmeza ! Abraços Zeca!