![]() SÁBADO ROCK data: 11/10/2003 (Sábado) – local: Capibar com Parafusa, Autistas e Pasárgada Resenha por Hugo Montarroyos – Fotos por Bruno Negaum |
em 11/10/2003 por Hugo Montarroyos
Chegamos ao Capibar por volta das 23h . Para nosso espanto, o Parafusa, que deveria fechar a noite, já estava na metade do show, pois ainda iria tocar em outro local. Corremos em direção do palco. Não é uma tarefa das mais fáceis falar sobre o Parafusa, ainda mais sem causar polêmica. Mas, vamos lá. Acho muito injusto e tenho muito medo que a banda seja estigmatizada como o “Los Hermanos do Recife”, até porque o grupo é bem mais do que isso e, se duvidar, os caras são até melhores músicos que os barbudos cariocas.
A técnica dos caras é impressionante. O som é nostálgico, o teclado conduzido por Juliano faz você viajar no tempo, o grupo é coeso, diferente, de vanguarda. Só ouvindo para ter noção. Apenas um problema. Não recomendo ver um show deles desacompanhado, pois as texturas musicais, as letras e a atitude deles são de uma melancolia e de um lirismo que não são muito recomendáveis àqueles que não possuem um coração forte.
Vale ressaltar que a qualidade do som do Capibar (apesar de alguns problemas técnicos na caixa de som do baixo) estava muito boa. Terminado o show, engatamos um papo com o pessoal do Parafusa (os caras, além de ótimos músicas, são muito educados) e Marcelo Gomão, guitarrista e vocalista do Vamoz! (que deverá tocar no próximo Sábado Rock no Capibar).
Enquanto isso, os Autistas (ô nome ruim para um grupo) se preparavam para entrar em cena. Trata-se de uma competente banda de cover que tem, no geral, bom gosto na escolha do repertório. Tocaram duas versões lindas para “Black Star” e “The Bends”, ambas do Radiohead. O versátil vocalista Artur dá conta do recado na boa, além de ser carismático. Outro destaque da banda é o ótimo baterista Marcelo. Aliás, a banda toda é redonda e já pode (aliás, deve) ousar vôos maiores, como se preocupar em construir um repertório autoral. No
mais, tocaram “Cara Estanho”, do Los Hermanos, garantindo a alegria da mulherada presente, e, única derrapada da noite, resolveram mandar duas músicas do Coldplay. Tudo bem, o Lúcio Ribeiro, da Folha de São Paulo, gosta, nove entre dez “descolados” adoram a banda, mas, particularmente, não entendo o auê em torno desse grupo., que não passa de um simulacro, substrato e pastiche do Radiohead. Tudo o que eles fazem hoje, o Radiohead já havia feito muito melhor em 1995 no excelente e obrigatório álbum “The Bends”. Mas a rapaziada gosta, paciência…
Ainda tocaram “Save a Prayer”, do Duran Duran, duas covers do Weezer e uma do Placebo. Agradaram geral e saÃram do palco aplaudidos e com a sensação de ter feito o dever de casa.
Fechando a noite, o psicodélico Pasárgada mostrou uma formação inusitada para os padrões locais. Duas guitarras, bateria, percussão, baixo e flauta conduziam a poesia militante em forma de som, calcado nos Mutantes. Domingos é um guitarrista fantástico, mas está longe de ser um bom vocalista. Por vezes, o grupo soa criativo ao extremo, com lindos duelos entre guitarra e flauta, permeados pelo apoio da percussão e a ótima condução das baquetas do baterista Fred. As letras são incrivelmente boas, produzidas por gente que tem cuidado com a parte literária e filosófica dos textos. Mas o grande destaque acabou sendo “Luzes da Cidade”, que contou com a inusitada participação da mexicana More, que literalmente brincou com fogo fazendo malabarismo com duas correntes em chamas enquanto a banda mandava ver no instrumental.
Ao final do show, fui dar os parabéns ao Guitarrista Domingos que, num poço de humildade, disse “Pô, velho, poderia ter sido melhor”. Concordo. Muita coisa devia ser melhor, mas, falando francamente, acho que a banda cumpriu seu papel. Se você tem mais de 25 anos e gosta de música trabalhada sem ser chata, há boas chances de você gostar do Pasárgada.
Depois, nos reunimos com os amigos, trocamos figurinha, jogamos conversa fora e demos por encerrada uma noite que, sem muito alarde, conseguiu ser agradável, atrair um público interessante e não cansar em momento algum.
Essa é a proposta do Sábado Rock no Capibar e, quer saber, foi tão bom, me senti tão em casa e familiarizado que em momento algum tive a impressão de “estar perdendo” minha noite de sábado trabalhando. Coisa rara.
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