
em 12/12/2003 por Guilherme Moura
Apesar de ser louco por bandas punk com vocais femininos, eu ainda não tinha tido a chance de escutar com atenção a banda Dominatrix. O som das meninas é bem simples, punk rock rápido com letras em inglês com temática feminista.
Pra conhercemos mais sobre a banda Dominatrix, publicamos essa super-entrevista com a vocalista e guitarrista da banda, Elisa.
Nos vemos no show!
Entrevista cedida pelo site Hard Grrrls (http://www.hardgrls.kit.net)
1- Gostaríamos de saber mais sobre a banda: quando e como começou,formações, materiais lançados, influências anteriores ? E como é hoje ?
Elisa – A banda surgiu no fim de 1995 com a formação Elisa, Estela, Isabella e Diego, mas só no começo de 1996 foi que começamos a usar o nome Dominatrix. Em janeiro de 96, lançamos nossa primeira demo chamada “Pink Hair Rules”, gravada com Elisa (g/v), Isabella (b/v) e Estela (bateria). Em março de 96, tocamos nosso primeiro show, com as bandas No Class e No Violence. Em maio, com mais uma integrante chamada Ana (guit), lançamos a segunda demo chamada “Little Grrls”. Em setembro de 96, a banda grava duas faixas para a coletânea “SP Punk vol II”.A partir do fim de 1996, a banda contou com uma nova guitarrista, Eliane (hoje do Hats e Lava), e lança, em março, a demo “March 8th”. Em abril de 1997, Eliane deixa a banda. No mês seguinte, como um trio, o DMX lança a quarta demo, intitulada “all we want is girl unity”, e é convidada a fazer parte do “cast” da gravadora Teenager in a Box. Seu disco de estréia, “Girl Gathering”, é lançado em agosto de 97, contando com as músicas das duas últimas demos. O disco é rapidamente vendido, esgotando das prateleiras nove meses depois. Em junho de 98, a banda grava então seu segundo álbum, chamado “Self Delight”, uma parceria da Teenager in a Box com a gravadora Clorine Records, da Elisa. No fim de 1998, Mayra entra na banda e a faixa “Redial” do disco “Self Delight” aparece na coletânea HC SCene vol 3. Em junho de 99, a banda gravou três faixas para o split com a banda Street Bulldogs, que saiu em agosto do mesmo ano pela Clorine Records. Em 2000, a banda lançou o duas músicas (“Burn your house down” e “Halo”) na coletânea “Ataque de Nervos”, lançada pela Antimidia Records. Em 2001, lançou 4 músicas em um cd split (“Split Bike”) com a banda Dance of Days, pela gravadora Teenager in a Box. Flávia entra na banda. No ano de 2001, o Dominatrix fez turnê pela Alemanha e pela Holanda, com bandas como S.O.L. e Ebola e tocou no prestigiado festival feminista LadyFest Amsterdam. Durante os meses de fevereiro e março de 2003, o Dominatrix fez turnê nos EUA com a banda Haggard, do selo Mr. Lady. Tocamos 14 shows em cidades como Los Angeles, Portland, Olympia, Seattle etc. Demos entrevista para o zine Punk Planet e para várias rádios independentes. Tocamos em faculdades e em lugares clássicos como o Gilman Street, em Berkley, CA. Em Portland, OR, gravamos um EP com quatro músicas inéditas que saiu em agosto de 2003. No mesmo EP, há quatro faixas bônus. As mesmas que saíram no “Split Bike”. As influências da banda vão de Team Dresch, Sleater- Kinney, até Deftones e At the Drive-in.
2- Porque o nome Dominatrix ?
Elisa – ¨Dominatrix¨ veio de uma música do Bratmobile chamada “Panik”.
3- Vocês costumam fazer uma turnês no exterior, certo?Como é o publico, é muita diferença do publico daqui ?
Elisa – A Europa é super receptiva. Os EUA também, só que são menos interessados em saber sobre outros países. O público aqui é mais, digamos, apaixonado pelas bandas, pq é mais carente de shows. Lá nos EUA, eles tem basicamente todos os shows das bandas que mais gostam vindo a sua própria cidade.
4- O que vocês acham quando ligam a TV no domingo, em qualquer canal, onde a programação são mulheres semi nuas?
Elisa – Achamos isso terrível. O ideal seria se pessoas mais inteligentes e menos preconceituosas trabalhassem na TV. Porque a televisão é uma realidade impossível de se destruir, então de repente podíamos infiltrar pessoas revolucionárias dentro desse universo. Como dizia Jello Biafra: ¨não destrua a mídia, seja a mídia.¨
5- Bom, uma vez me perguntaram porque a maioria das Riot Grrrls é homossexual… E eu não soube responder, vocês saberiam?Aproveitem para dar a opinião de vocês sobre o movimento Riot aqui no Brasil. [Gaby]
Elisa – Hum, boa pergunta. será que a maioria é gay mesmo? Não tenho conhecimento exato pra afirmar isso. Mas que muitas riot grrrls são gays, isso é verdade. Talvez seja porque o riot grrrl não é só um movimento feminista, é um movimento pró-gay. E muitas meninas gays punks se identificam com o movimento e, portanto, se juntam a ele. Eu acho que o movimento riot grrrl no Brasil está muito parado. Temos focos importantes no país, como coletivos, bandas, zines. Só que precisamos nos movimentar mais, precisamos fazer algo além de blogs e fotologs sobre festinhas de amigos e fofocas alheias. A juventude está desperdiçando seu potencial revolucionário na disseminação eletrônica de fatos efêmeros, achando que sua vida intima é digna de publicação na internet. Ou seja, estamos usando uma arma poderosíssima de comunicação para fazer com que meros ¨achismos¨ fiquem com cara de conhecimento.
6- Primeiramente gostaria de saber como faço pra adquirir cds de vocês, moro em Campo Grande – Minas Gerais – e aqui não se encontra nada sobre? Já que o feminismo prega a igualdade e é contra qualquer tipo de preconceito, o que vocês acham da presença de homens no movimento feminista e riot grrrl, sendo que não é apenas as mulheres que sofrem com o machismo. [Airton]
Elisa – O cd novo Beauville está disponível através da highlight@highlightsounds.com.br. Os outros serão reprensados pois estão esgotados. Toda pessoa, independente de ser homem ou mulher, é importante na luta feminista. A presença de homens no movimento feminista é interessante no sentido de subtrair ao máximo o machismo da vida cotidiana. Mas acho que o movimento feminista deve ter um discurso voltado pra mulher, pois ainda estamos em busca de nossa identidade. Eu acho importante espaços apenas para mulheres, como por exemplo uma oficina sobre saúde sexual. Muitas mulheres precisam estar rodeadas apenas por mulheres para poderem falar de seus problemas. Acho que minha opinião é clara e diz que não quero separar a sociedade em espaços sexuais, tipo um apartheid de gêneros, como alguma pessoas ignorantes e idiotas acham.
7- Dentro dessa cena, onde várias pessoas não sabem dividir as coisas, muitas consideram a banda dominatrix uma banda de “lésbicas” e até zombam, com isso, qual a posição de vocês diante a esse atrito ? [Jotha]
Elisa – Metade da banda é gay. Eu acho que ser gay não é motivo de zombaria. Pra mim é motivo de orgulho. Sou extremamente feliz com o que sou e simplesmente acho incrível que muitos gays e lésbicas punks se identificam com a gente. Acho um absurdo as pessoas fazerem piadas com homossexualidade, principalmente dentro do punk/HC. Primeiro porque heterossexual contando piada de gay é sempre sem graça, porque simplesmente a maioria deles não sabe o que é cultura gay. Segundo, a cena punk deveria ser um lugar pra onde a gente foge da sociedade machista e homofóbica e a reprodução desses preconceitos dentro da cena só nos faz questionar o quão libertário somos.
8- O que é falado no começo da música “Powerplay Kite” do Girl Gathering, antes de entrar a música mesmo e antes do “I don’t wanna hear your fucking judgment about me…” ? [*Dope Sick Beta*]
Elisa – Tem uma música de ninar clássica francesa que diz assim: ¨Au clair de la lune, Mon ami Pierrot. Prête-moi ta plume, Mon mari est sot. Sa chandelle est morte, Et manque de feu. Ouvre-moi ta porte. Pour baiser un peu¨. A Isabella mudou umas partes e gravou com distorção pra parecer uma vitrolinha velha. Sinceramente, não sei o que a letra significa totalmente.
Continua…
Links:
» site Hard Grrrls
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