PE No Rock 2004 (Segundo Dia)

Por Hugo Montarroyos em 26 de setembro de 2004

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PE NO ROCK 2004 (SEGUNDO DIA)
data: 25/09/2004 (Sábado) – local: Ancoradouro
com Girimum e Seus Maxixes, Sickness, Physalia, The Playboys, Fuzer, Terra Prima, Fiddy, Nitrominds (SP), Dyluvian, Os Cachorros, Sociedade HC e DFC (DF)
Resenha por Hugo Montarroyos – Fotos por Bruno Negaum

DFC faz show matador no PE No Rock
em 25/09/2004 por Hugo Montarroyos

No segundo dia do PE NO ROCK 2004, já tradicionalmente marcado pela ênfase ao hardcore, as coisas voltaram aos eixos. O público foi maior (não lotou, mas compareceu em bom número), os shows foram, em sua grande maioria, bons, e, como sempre, os técnicos de som deram uma mãozinha (desnecessária, por sinal) aos Cachorros. Ou seja, tudo de volta ao normal no PE NO ROCK.

A constatação mais marcante e imediata continua sendo o amadorismo de determinadas bandas. Exemplos; a) o Sickness, que no ano passado tocou no palco 2 e este ano ganhou a oportunidade de exibir-se no principal, quase não toca porque os integrantes da banda chegaram muito atrasados no Ancoradouro (não, não morreu ninguém. Foi puro vacilo mesmo). Estavam escalados para subir no palco a partir das 18h55. Como não chegaram no horário, acabaram tendo direito a apenas vinte minutos de show, já no final da noite, abrindo para o DFC.

b) o Fiddy, que acabou fazendo o melhor show do palco 2 da edição 2004 do PE, quase não consegue começar a tocar porque esqueceram do pedal do bumbo da bateria. Tiveram que pedir emprestado, de última hora, já no palco. Foi constrangedor ouvir os apelos dos caras para que alguma alma caridosa de outra banda cedesse o material.

Fora esses dois deslizes, tudo transcorreu da melhor maneira possível.

Falando em mancadas, começo me desculpando com o pessoal do Girimum e Seus Maxixes. Cheguei atrasado e peguei apenas o final da última música da apresentação deles. Não estou autorizado a emitir qualquer juízo de valor em relação aos caras, mas, pelo pouquinho que vi, fiquei com a sensação de que perdi um baita show.

Physalia

As meninas do Physalia foram prejudicadas pelo péssimo som do palco 2. A timidez também atrapalhou um bocado. Para ter idéia do nervosismo, elas quase não se comunicaram com o público durante todo o show. Ainda assim, mostraram um hardcore soft que, se ainda carece de maturidade, ao menos deixa a impressão no ar de que a banda tem futuro. Precisa ganhar mais presença de palco, aproveitar o fato de ser um grupo feminino e ousar mais. Por outro lado, se já é difícil para muito marmanjo barbado manter uma banda de hc, o que dizer então de um grupo de meninas que ainda não completou vinte anos? Valeu o batismo de fogo em grandes festivais.

The Playboys

O The Playboys cumpriu a promessa e fez uma apresentação no mínimo hilária. Ou os supostos punks de plantão (me refiro ao público) são extremamente bem-humorados ou são burros mesmo. Foram sistematicamente ridicularizados pelo The Playboys durante todo o show e ainda assim fizeram questão de pogar durante toda a apresentação deles. Já de começo, os “punks perfumados” dedicaram o show às comunidades (!) de Boa Viagem, Piedade, Casa Forte e Espinheiro (para quem não é daqui, vale a explicar que são bairros de classe média-alta da capital pernambucana). Colocaram no público uma surreal patinadora vestida de coelhinho, que fazia o merchandising da banda, tentando vender o CD da banda, “Brincando de Punk”, aos presentes.

Igualmente esdrúxula foi a presença de um zé mané à direita do palco regendo a banda como se fora um maestro. Aliás, teve de tudo no show deles; pai-de-santo baixando o espírito de Chico Science, quebradeira de brinquedos no final do show e o escambau. É tanta informação visual e discursiva que o som acaba ficando em segundo plano. Bom deixar registrado que foi uma apresentação muito boa, bem melhor que a do último Panorock.

Fuzer

Depois dos punks perfumados de mentira foi a vez dos perfumados de verdade entraram em cena. O Fuzer, quando crescer e se revoltar, será uma grande banda. Por enquanto não passam de um bando de moleques chorões que tocam pra cacete e insistem em cantar as dores de cotovelo juvenis tendo como base o punk e o hardcore. A parte instrumental é muito bem construída, tocada com raiva, raça e competência. O problema é quando abrem a boca e começam a diluir tudo que construíram na parte sonora com a pobreza discursiva do emo. Mas a banda fez um bom show e mostrou que um dia poderá ser um Nitrominds da vida. Por enquanto, o Fuzer continua sendo Fuzer e permanece tão subversivo e destrutivo quanto um copo de leite.

Terra Prima

Agora, quando a banda é boa de verdade, consegue romper os limites do gosto pessoal. Estou longe de ser fã de metal melódico, mas devo admitir que o show do Terra Prima me deixou boquiaberto. Com uma produção impecável (iluminação perfeita e som idem), o show começou com uma apresentação de um casal de bailarinos. Depois o que se viu foi uma banda de uma competência monstruosa, que adiciona consistência a um ritmo ao qual julgava desprovido de qualquer relevância. Daniel Pinho, além de conseguir a proeza de ser um virtuose na guitarra sem soar pentelho, alcança feito ainda mais difícil; ao comandar sua banda, com direito aos típicos agudos que marcam o gênero, se livra de cair no estereótipo ridículo estabelecido pelo pessoal do Massacration. Ou seja, não vestem em momento algum a carapuça do risível, algo tão comum depois que a banda formada pelos caras do Hermes e Renato reduziu a pó todo e qualquer grupo que se dedica a tal estilo.

Foi um show vibrante, impressionante, de uma técnica apurada e pouco comum de testemunhar. Digo sem medo de exagerar, pois já vi Angra e Shaman ao vivo (ossos do ofício). O Terra Prima é bem melhor, pode acreditar.

Fiddy

O Fiddy parece uma banda saída de algum filme de David Lynch. Ou seja, é bizarro e ao mesmo tempo muito bom. Vestidos de preto e ostentando ridículas gravatas amarelas, os caras instigaram o público como ninguém no palco 2 foi capaz de fazer. Possuem uma alfaia na formação, que parece estar ali só para irritar devido a inutilidade de tal instrumento no show (impossível ouvi-lo diante de tamanho azougue sonoro). Com dois vocalistas estridentes e um instrumental que não se decide entre o thrash metal e o samba do crioulo doido espacial, o Fiddy fez este ano o mesmo que o Nor-k tinha feito em 2002; surpreendeu pela ousadia do novo, do estranho, do insano. Destruíram “Manguetown”, de Chico Science e Nação Zumbi, e ainda assim a banda conseguiu cativar a tal ponto que não ligamos a mínima para tamanha blasfêmia. Tomara que vingue em algo concreto e que não fique conhecido apenas como o patinho bizarro de 2004. Foi irritante de tão contraditório, muito bom por ser tão estranho. Coisas do universo rock…

Nitrominds

O Nitrominds mostrou um hardcore encorpado e maduro. Com apenas três integrantes, conseguiu armar a roda de pogo calcado no típico hc californiano. Apresentaram a nova e consistente “On The Road”, que entrega de cara a fórmula do grupo, a saber: velocidade, peso e substância. O grande destaque da banda é o baixista Lalo, que mais parece um canguru em cena. Ninguém nesse meio chega aos dez anos de carreira por mero acaso. Se tem uma coisa que o Nitrominds possui de sobra é a tal da competência, elemento que anda um pouco em falta nos dias vigentes… Eis o segredo da longevidade.

Dyluvian

A outra banda de metal da noite, o Dyluvian, também se garantiu legal. Apesar da formação estranha (ninguém é cabeludo nem veste preto), quebrando todos os paradigmas do estilo, eles fizeram um autêntico show de metal, tocando além de boas composições próprias, ótimos covers, como foram os casos de “Enter Sadman”, do Metallica, e “Tom Sawyer”, do Rush.

Os Cachorros

Os Cachorros entraram em cena e, com eles, o protecionismo da produção do festival. É impressionante como o som fica absurdamente alto durante a apresentação deles. É uma constante na história do PE NO ROCK. Justiça seja feita, foi totalmente desnecessário tal recurso, pois o estrago seria o mesmo se o som estivesse na mesma freqüência oferecida às demais bandas. Os caras destruíram e mostraram que a nova formação, com um vocalista a mais, veio muito bem a calhar. Abriram com “Tatuagem” e prosseguiram com um set list matador. Só ontem percebi que “Puta que Pariu” tem uma levada meio samba, tipo bateria da Mangueira. “Pedofilia” e “Tubarão” também foram responsáveis por bons momentos, garantindo a alegria dos freqüentadores da roda de pogo, que foi bem mais animada no show deles do que no do Nitrominds. Ajax já virou uma entidade mitológica de tão folclórico que consegue ser. Seus palavrões soam inofensivos e até engraçados, por mais que a intenção seja chocar. Não choca porque não existe ali nenhuma forçada de barra, nenhum tipo de afetação. Goste-se ou não dos Cachorros, uma coisa temos que admitir; trata-se de uma banda autêntica. Deve ter sido um dos melhores (senão o melhor) show da carreira deles. Como disse antes, não precisava da benevolência dos técnicos de som.

Sociedade HC

O baixista Renato leva o prêmio de operário-padrão do hardcore. Logo após tocar com os Cachorros, o baixista correu para o palco 2 para empunhar seu baixo a serviço da ótima Sociedade HC, criativa banda de hardcore que conta ainda em sua formação com Adriano (vocal/Campo Minado), Paulo (guitarra/ex-Os Cachorros) e Perna (bateria/Armas da Verdade). O peso alcançado pelo grupo é impressionante, o que garantiu mais uma formação de roda-de-pogo chapada. Roda de pogo esta, aliás, que ficava sem saber como agir diante dos caminhos apontados pela sonoridade do Sociedade HC. Por alguns momentos (poucos, é verdade) parece mais uma banda de Jazz. O grande destaque do grupo reside na figura de Perna, baterista criativo e raivoso, que consegue ir da secura do hc até a técnica apurada do Jazz com a mesma facilidade de quem rouba doce de criança. Bom show para uma banda que ainda vai dar muito o que falar.

Sickness

O Sicknesss ainda tentou fazer algo com os 20 minutos que lhe foram concedidos aos 47 minutos do segundo tempo, mas o desgaste emocional provocado pela oportunidade desperdiçada era nítido, e a banda fez um show frio, morgado, de quem parecia estar batendo ponto numa fábrica, cumprindo um dever qualquer. Às vezes precisamos de uma bela porrada na cara para amadurecer. Creio que o Sickness sairá desse episódio mais forte.

DFC

Como todo filme clichê, o melhor estava reservado para o fim. O DFC fez uma das apresentações mais destruidoras que este escriba já viu. O caos foi instaurado de uma maneira grotescamente divertida. Os seguranças tiveram trabalho redobrado, pois a roda de pogo, outrora pacífica, transformou-se num pandemônio durante o show do DxFxCx. Entre clássicos da banda como “Voto Nulo” e “Mundo Canibal”, o descontrole coletivo surgia; pessoas invadiam o palco, se escondiam dos seguranças atrás da bateria, davam moshs seguidos, roubavam o microfone para cantar com Túlio. Uma verdadeira festa do inferno.

Apresentaram uma música nova, delicadamente intitulada “Vai se Fuder no Inferno”, que estará no disco “O que tá Mal Vai Piorar”, a ser lançado ainda esse ano. Ainda fizeram questão de homenagear o paulistano Lobotomia, tocando “Nada é Como Parece”.

O DFC foi responsável por momentos de histeria coletiva, de “transe hardcórico”, de anarquia estabelecida. Foi o melhor desfecho da curta história do PE NO ROCK. No final do show, no backstage, contei pelo menos 11 pessoas que não eram da banda descendo do palco. O retrato perfeito do descontrole provocado pela banda. Enfim, um autêntico show de hardcore, como todos deveriam ser.

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