Entrevistão Volver: ‘A Volver Tá Mais Falada Que Ouvida’

Por Recife Rock! em 30 de março de 2005

Bruno Souto, vocalista da Volver

Finalmente! Conseguimos entrevistar a banda Volver!
em 30/03/2005 por Bruno Negaum e Guilherme Moura

Desde da final do Microfonia, estávamos tentando entrevistar a banda Volver, mas sempre aparecia alguma outra prioridade e ficava pra depois. Dessa vez não teve fuga, na terça-feira (08/03) aproveitamos a coletiva do Abril Pro Rock 2005, raptamos Bruno Souto, vocalista da Volver.

Rumamos para nossa segunda base, o bar ‘Entre Amigos’. Entre cervejas e um disputado prato de queijo com frango conversamos com Bruno Souto e Mauricio Guenes (produtor da Volver).

A atenção deles era dividida entre a entrevista e ligações interrubarnas de Fernando Rosa (Selo Senhor F) e a produção do Abril Pro Rock para fechar os detalhes da inclusão da música ‘Você que Pediu’ na compilação do festival.

Em um pouco mais de uma hora e meia de conversa, conversamos sobre os primeiros passos da Volver, a vitória no Microfonia, as mudanças de formação, o disco novo, a parceria com o selo Senhor F e os projetos para 2005.

Confira o Entrevistão com Bruno Souto, vocalista da Volver:

Entrevistão com Bruno Souto - Volver

Entrevistão com Bruno Souto - Volver

Entrevistão com Bruno Souto - Volver

Conta aí como foi que a Volver surgiu…

Eu e Diógenes tínhamos uma banda de groove, mas não deu certo e acabou. Aí eu decidi montar uma banda que tivesse as minhas influências, pra tentar tirar o tipo de som que eu viajo desde guri, e chamei Diógenes.

Demorou muito pra gente achar baixista e baterista, passaram umas nove pessoas pela banda, fora os que ensaiavam com a gente uma vez e nunca mais voltavam. E eu queria uma galera que tivesse a fim de levar a história a sério, mas muita gente não tinha perspectiva nenhuma de ganhar dinheiro e achava a nossa proposta estranha porque não existia nenhuma outra banda na cidade que tocasse este tipo de som.

Como foi a gravação da demo? E a repercussão dela na imprensa ?

Decidimos gravar uma demo com três ou quatro músicas e nosso baterista fez corpo mole, disse que não tinha grana pra ajudar na gravação, e o baixista pediu pra sair da banda. Aí eu chamei Ito, um grande amigo de Gravatá, que gravou com a gente na brodagem lá no Boca 48, com a produção de Márcio 48.

Foi massa gravar num estúdio, mas a gente tinha pouca grana e demorou a gravar porque queria “experimentar” como banda grande. E aqui pra nós, quer dizer, aqui pra nós não porque tá sendo gravado, Márcio ainda não dominava o equipamento do estúdio como hoje.

A gente conseguia um trocado ali, outro ali e acabou lançando a demo. Comecei a mandar o cd pra alguns sites e revistas, mas não tinha grana nem pros Correios e mandava um cd de quinze em quinze dias. Mandei pro Senhor F, que era um site que eu conhecia há pouco tempo, mas tinha muita banda no estilo da Volver; Urbanaque, Revista Zero, Jornal do Rock e a Playboy. O lance da Playboy foi bem interessante porque das 300 e poucas bandas que mandaram cd, eles só falaram de 21 e o nosso foi o último a ser resenhado. O cara elogiou a gente pra caralho e tal…

Pô, mas eu quero saber o mais importante… Quem era a capa da Playboy ?

Er… Pietra Ferrari, pô!

Aaaaaaaah! É, aquela revista foi muito boa mesmo…

Foi massa porque criou um falatório, mas por não ter grana ficou muito difícil pra gente de Recife querer aparecer pra uma cena nacional.

E a cena recifense ?

Rapaz, eu tinha um certo receio porque passei 5 anos em Gravatá. Mesmo antes de ir morar lá, não acompanhava a cena alternativa e quando cheguei escutava umas histórias de que Recife era muito fechada para sons que não fossem tambores. Aí eu pensei: “Pô! Pra quê que eu vou mandar cd pra esses caras? O disco vai ficar empoeirado lá e se escutarem vão falar mal”.

E fiz o inverso, mandei pra fora, isso criou um interesse aqui e aí eu comecei a mandar…

Marcelo Benevides, que na época trabalhava na Folha de Pernambuco, ligou pra mim e eu levei o cd no outro dia, ele foi um cara que deu muita força, depois disso rolou uma notinha no JC. E era aquela coisa de “Rolou uma notinha no jornal! Que massa!”… Começo de banda é um tesão do caralho!

E os primeiros shows do Volver ?

A gente tocou no Capibar. A galera pensava que Volver era uma banda de cara com terninho e tal. Eu lembro que Gleisson, baterista da Rádio de Outono, ligou dizendo que escutou, achou massa e que tava fazendo uma festa e queria que a gente tocasse. Foi massa porque rolou uma chamada desse show no “NE-TV”, foi uma coisa que a gente não esperava. E pra um show de bandas sem nenhum nome, a Rádio de Outono já tinha tempo de banda, mas ainda tava se estruturando, até que tinha uma galera legal. O segundo show foi com Rd0 e The Honkers, e rolaram umas matérias legais.

E quem era a banda na época? O que você lembra do primeiro show ?

Era eu, Diógenes, Lucas, que fez o primeiro e último show no Volver no mesmo dia, e Márcio na bateria. Eu lembro do meu nervosismo e dos contatos que fizemos. Conhecemos vocês, o Coquetel Molotov e a galera da Superoutro. Foi bom porque a gente não conhecia ninguém. E eu pensava assim: “A gente não conhece ninguém e toca um som que o povo não está acostumado a ouvir aqui no Recife, vai demorar pelo menos uns três anos pra gente começar a aparecer!”.

Entrevistão com Bruno Souto - Volver

E o que rolou depois ?

Teve um show na federal (UFPE), uma calourada, Pátio de São Pedro com Astronautas e o Coquetel Molotov Independente, no Barramundo. A galera que tava no Barramundo disse que a melhor música do nosso show foi uma em que Fernando, que era baixista da Rádio de Outono, tocou baixo com a gente… Ah! Teve o Concurso de Bandas da UFPE, que deixou a gente meio “traumatizado”. Me disseram que eles sem querer divulgaram uma lista onde Azabumba era a vencedora antes mesmo de começar os shows! Se eu tivesse visto perguntava se tinha algum arrumadinho ali. E no dia da apresentação, a qualidade do som melhorou muito no show da Azabumba.

Pô, antes do Microfonia não rolaram nem dez shows.

E o Microfonia? Por que tu não queria participar ?

Depois do lance da Azabumba eu fiquei meio cabreiro. Pra mim já tava tudo armado e a gente ia perder pra uma banda merda pra caralho, saca?

E quem foi que disse “Vamos nos inscrever!” ?

Foi Diógenes. Dois dias antes do prazo pras inscrições, eu dei uma de doido e não assinei, já pra ver se despistava e a gente não entrava no concurso. Aí no último dia de inscrição a galera pediu pra eu assinar e não recusei, eram três contra um.

E a entrada de Fernando na banda ? Vocês roubaram o baixista da Rádio de Outono ?

Não foi bem assim. Teve um certo mal estar no começo, mas depois melhorou. Pipa foi delicadamente colocado pra fora da banda e a gente queria chamar um brother pra tocar por enquanto, aí só me veio Fernando na cabeça porque uma vez ele me disse que se não tocasse na Rádio de Outono tocava com a gente. Depois Gleisson me disse que não gostou muito porque ia tirar o foco de Fernando na Rd0, só que as coisas já estavam tão bem armadas que seria impossível chegar pro cara e pedir pra ele sair.

O primeiro show dele foi na semi-final do Microfonia, né ?

Foi sim. E vou dizer uma coisa, eu tava confiante. Eu já sabia que ia pra final, mas lá ia ser um lance imprevisível.

Entrevistão com Bruno Souto - Volver

Quando foi que vocês ganharam confiança ?

Quando saiu o nome das doze semi-finalistas me disseram que os jurados gostaram muito da Volver, aí adquirimos confiança e foi legal porque acabou com a timidez e o nervosismo antes de subir ao palco.

O que vocês acharam do boato que surgiu dizendo que a Volver já tinha vencido antes mesmo do concurso começar ?

No primeiro momento eu fiquei puto, mas eu não me troquei com a galera do blog de vocês. Eles inventaram uma história impossível, disseram até que a gente já ia gravar o clipe. Nós ainda nem sabemos quando vamos gravar o clipe! Eu não quis brigar com o pessoal do blog, só quis responder às acusações no palco.

Depois que todas as bandas tocaram na final, quem você pensava que ia ganhar ?

Se a gente não ganhasse, ficava em segundo lugar. Sem desmerecer as bandas, mas eu acho que Retrôvisores ainda estava muito verde, e Mellotrons era a maior concorrente, tanto é que a gente ganhou por um ponto de diferença. O que eu acho que prejudicou eles foi o fator língua, porque eu acho o som deles do caralho, mas se fosse jurado não ia escolher uma banda que canta em inglês.

Entrevistão com Bruno Souto - Volver

E como foi tocar pra um público daquele tamanho ?

Rapaz, foi muito massa. Eu pensava que ia ficar mais nervoso, mas tomei uma antes de subir no palco e fiquei tranqüilo. Quando a última música acabou e vi a recepção do público, soube que a gente ia ganhar. Fiquei olhando um monte de cabeça ali e a galera gritando “já ganhou, já ganhou”!

Vocês já tinham planos para gastar o dinheiro ?

A gente queria gravar o disco. Se não rolasse o “Microfonia”, íamos gravar outra demo.

E não rolou medo do “Microfonia” roubar suas músicas ?

Rolou sim e foi uma das desculpas que eu usei pra não assinar a inscrição, mas eles não roubaram nossas músicas. Só iam usar se precisassem, e nem precisaram.

Os concursos de música no Recife tinham uma tradição de dar o prêmio às bandas “farofas”… ‘Severinos Atômicos’… ‘O Surto’… Não rolou medo de que rolasse isso de novo ?

Não, pelo júri a gente já sabia que a banda vencedora ia ser de qualidade. Os nomes da “Astronave” e “Aeso” estavam em jogo, o “Abril Pro Rock” não ia colocar qualquer banda pra tocar e eu via que os jurados sacavam de som. Acho que o pessoal de Recife tem uma cabeça melhor, se fosse em São Paulo tenho certeza de que ia ganhar uma banda lixo.

Pronto! Vocês ganharam o “Microfonia” e estavam com o dinheiro no bolso. E agora ?

Eu já tinha dito a Léo D que se a gente ganhasse o Microfonia ia gravar com eles lá no Mr.Mouse. Uma coisa que eu achei legal foi que Gomão, vocalista da Vamoz!, indicou os caras pra gente. Ele disse que os caras eram tão bons que colocavam a banda um passo à frente, e que a gente ia ter que se virar pra chegar no nível onde eles iam botar o nosso som. E na coletânea da “Monstro Discos”, a música que tem a melhor qualidade é a da Vamoz!, que foi gravada no Mr Mouse. E depois disso falei “vamos fazer com eles!”.

Entrevistão com Bruno Souto - Volver

O que é que sobrou do Microfonia ? 4 mil reais no bolso, um clipe, as fotos e o que mais ?

As fotos que vamos tirar, uma vaga no Abril Pro Rock e o reconhecimento, né?

E qual é o nosso propósito agora? A Volver tá mais falada que ouvida. Todo mundo que tem um certo interesse pelo rock de Recife já ouviu falar, mas não escutou o som. Aí a gente quer colocar esse pessoal pra escutar.

[ resposta interrompida pelo telefone de Bruno – era a produção do Abril Pro Rock sobre o fechamento da compilação do festival ]

E a gravação do cd ?

Nós fomos pro estúdio (Mr Mouse) e falamos que iam ser onze músicas, mas quando eu cheguei em casa vi que só tínhamos oito. Aí eu fiz três nas pressas, ensaiamos e a gravação rolou muito bem. Pô, os caras sacam muito! Entramos no estúdio em 17 de janeiro e saímos em 17 de fevereiro com o cd masterizado já.

Quantas horas vocês passaram em estúdio ?

Rapaz… Passou de oitenta, visse? O dinheiro que pagamos foi pra oitenta horas…

Foi o dinheiro do “Microfonia” todinho, pagamos à vista quinze dias antes de gravarmos.

Vocês deram aquele cheque grandão que ganharam na final do “Microfonia” pra eles, né ? Tô sabendo!

Não teve cheque não! Os caras da Aeso deram quatro mil reais em dinheiro! A gente saiu da faculdade com o dinheiro no bolso e assustado…

Quatro mil reais em dinheiro ?

Foi. E a gente contando ? cheio de nota de dez reais!

Entrevistão com Bruno Souto - Volver

E o show do Festival de Verão? O que vocês estavam esperando ?

A gente esperava uma multidão enlouquecida no palco, e só tinham quarenta pessoas na frente do palco.

Pô, vocês estavam disputando contra as pernas de Ivete…

Não sei se aquilo foi por maldade ou desorganização da produção, mas foi uma porcaria pra quem tocou em termos de público.

Mas rolou cachê, né ?

Rolou e ajudou bastante!

[O telefone de Bruno toca novamente… uma ligação de Brasília, é Fernando Rosa do selo Senhor F sobre a compilação ]

Aproveita e fala sobre o resultado do cd…

A gente quis deixar ele com uma cara mais de “ao vivo”, pro som ficar mais próximo do que a gente é no palco. Não ficou fiel, mas tá mais que um disco de estúdio.

Eu achei o disco muito bom, ele tem uma energia que há muito tempo eu não vejo em bandas brasileiras, tá ligado? Acho que nos anos 80 e 90 as bandas perderam essa história de não se levar muito a sério e fazer um som com alegria. Tudo que há de mais feliz no rock a gente colocou no disco, sem medo de nada. A gente sabe que vai ter neguinho dizendo “pô, já não bastam essas bandas gaúchas e agora vem uns caras de Pernambuco fazer um som desses!” Tem uma parcela da crítica que vai meter o pau, que é a mesma que mete o pau em Cachorro Grande e tá naquele lance de “indie”, o indie do pejorativo, mas o espaço está se abrindo, tem muita banda boa que está acabando com o preconceito com este tipo de som.

Pra vocês, qual é o público da Volver ?

Cara, eu não sei. Pelo o que eu escuto, a gente tá atingindo muito uma parcela adolescente e também a galera que curte um bom e velho rock. A gente é pop até a medula, e por isso tá atingindo um público variado. O disco é rock, mas a gente é pop.

Entrevistão com Bruno Souto - Volver

E não rola preconceito com esta história de ser pop ?

Não, a gente é pop de raíz. Eu escuto The Beatles, Frank Jorge, Brian Wilson e Roberto Carlos dos tempos áureos. Tem condições de o cara não ser pop ouvindo uns sons desses? Eu sou pop até a alma! Mas é no bom sentido da palavra, não é pra atingir um público alvo.

Você acha que a banda deve viajar? O que vocês estão planejando para o futuro ?

Meu irmão, eu acho que toda banda que tiver o mínimo de perspectiva de se projetar nacionalmente tem que sair daqui.

Não tem muito espaço aqui ?

Tem um certo espaço sim, mas vai estagnar. O cara vai tocar em alguns lugares e pronto. As possibilidades se restringem. Tipo, como é que uma cena vai se sustentar se não tem nenhuma rádio que toque música daqui? A cena de Porto Alegre é auto-sustentável? É, mas se você for lá tem quatro rádios FM que tocam bandas de lá, as lojas de disco vendem os cds de bandas locais e existem altas casas de show… Aqui não dá pra gente, velho! É meio complicado…

Como rolou a parceria com o Senhor F? E qual vai ser a distribuição ?

Desde a demo que o pessoal gosta da banda. A gente tava preocupado em lançar logo o cd por causa do Abril Pro Rock, porque é importante você chegar no festival com material na mão. A gente deu prioridade à Fernando Rosa, porque além dele ter muitos contatos, gosta da banda. Cara, se você for assinar contrato, assine com alguém que goste do seu som e quer que a banda cresça junto com o selo. Pra gente foi a melhor coisa que aconteceu porque ele é um cara que, se não for o que conhece mais de rock do Brasil, é um dos que estão no top 5. Mandei o disco assim que ficou pronto e ele disse que foi um dos melhores disco do ano pra ele, que a mulher dele não agüenta mais escutar as mesmas músicas e a filha dele já sabe as letras decoradas!

Entrevistão com Bruno Souto - Volver

Você disse que ele falou dos discos que mais emocionaram ele…

É, ele me disse que nos últimos tempos três discos emocionaram ele: “Mofo”, o primeiro disco do Mofo, “Carteira Nacional de Apaixonado”, do Frank Jorge e “Canções Perdidas Num Canto Qualquer”, da Volver. Eu achei um puta gancho.

E vocês não pensaram que podiam estar num selo melhor ?

Acho que é um passo de cada vez. O nosso vínculo é só de mil cópias. Se aparecer um cara no Abril Pro Rock, por exemplo, querendo lançar o cd e isso nos interessar, podemos fazer. Quando acabarem as mil cópias, a gente faz mais mil com eles se não aparecer outra proposta. O disco vai ser distribuído pela Tratore e pela Monstro Discos.

[ Toca o telefone novamente… últimos acertos da compilação ]

Volver é uma banda indie ? O que você acham desse rótulo que os jornais botaram ? Você se sente confortável com isso ?

Não, porque no começo eu achei esse “indie” pejorativo. Mas é aquele negócio, se tá dando gancho pra matéria e colocaram a gente no meio, massa.

Por quê pejorativo ?

Porque me vem à cabeça aquele negócio de bandinha indie que canta inglês ao invés de bandas independentes mesmo, que é o verdadeiro significado da palavra.

E essa nova cena, que não é apenas ‘indie’… É bom estar nesse meio ?

Pô, eu acho! As bandas são amigas, é um ajudando o outro.

Recife tem muitas bandas , mas o que você acha do espaço que existe pra elas ?

Por incrível que pareça, ainda tem muito veículo que ainda está preso ao manguebeat. Só que tá mudando, velho. Na rádio não tem nada, só programas isolados com um acesso muito restrito, não atinge o público.

E o fim da Rádio Cidade? Afetou ?

Afetou consideravelmente. Quer queria, quer não, era uma rádio de grande porte, né? Tocava as músicas das bandas daqui e o pessoal escutava e ia conhecendo. Mas agora o negócio tá meio difícil. Como é que a cena vai se sustentar se não tem veículo que mostre os produtos? Neguinho vai ficar vendo MTV e vai ficar gostando de Pitty e Dead Fish, mas tem coisa legal por aqui também e o povo não tem acesso.

Entrevistão com Bruno Souto - Volver

A Volver já tem quase dois anos de banda. Mudou alguma coisa na mídia em relação às bandas de Recife desde o começo da carreira de vocês ?

O espaço tá bom pra essa cena indie, até me surpreendi com a receptividade da imprensa com essas novas bandas porque pensava que isso não ia acontecer. Os três jornais estão dando a maior força mesmo, fazendo as coisas acontecerem. Recife tem bandas com potencial pra estourar como Parafusa, Rádio de Outono e Superoutro. E ninguém tá fazendo um som parecido com o outro, cada um tem o seu tipo de som próprio e o único vínculo é a amizade e a vontade de crescer. Tem Mellotrons e Retrovisores também, Recife não fica devendo pra ninguém…

O que é que tu lê sobre as bandas de fora ? O que é que você faz pra ficar atualizado sobre o rock brasileiro ?

Virtualmente, Senhor F e RecifeRock. O Senhor F num lance mais nacional, as bandas que eles gostam são as que eu me identifico, e RecifeRock pra acompanhar a cena local.

Qual foi o teu primeiro contato com a música gaúcha ?

Rapaz, o primeiro contato que eu tive com o rock gaúcho foi um cd do Júpiter Maçã, o “A Sétima Efervescência”, disco de primeira.

E como conhecesse? Pegasse o disco nas cegas? Como surgiu o interesse ? O que é que tu lia pra saber das bandas gaúchas ?

A Bizz, velho. Todo mês eu tava na banca pra pegar a revista, os caras eram super antenados em termo de rock brasileiro. Tinha muita coisa boa acontecendo, aí fiquei sabendo do Júpiter Maçã. Nessa época eu morava em Gravatá e alugava muito cd pra passar pra mp3 e ouvir em casa. Aluguei trinta cd’s de uma só vez pra passar pro computador e um deles foi o de Júpiter, só que eu não escutei! Só fui ouvir direito anos depois.

E isso foi quando?

Em 2002, por aí que foi surgindo o interesse…

Então, quer dizer que você nem chegou a ver o Wander Wildner e Jupiter Maçãs no Abril Pro Rock?

Não, eu não tinha conhecimento. Eu tava meio por fora, velho. Gosto de Beatles e Jovem Guarda desde pirralho, mas passei uma época que todo pirralho passa que é aquela em que só se ouve mainstream pra não ficar de fora e não ser excluído da galera e também passei uma fase ouvindo muito Gun’s Roses. Eu descobri o rock gaúcho mais a fundo quando tava gravando a demo da Volver e acessei o Senhor F. Um universo inteiro se abriu pra mim e descobri que tinha muita banda underground fuderosa pelo Brasil.

Entrevistão com Bruno Souto - Volver

Vocês tocam uma música da The Faichecleres. Como vocês conheceram o som da banda?

Baixei muita coisa da “Parada Senhor F”, e essa música foi uma delas. Aí fiz uma coletânea com bandas que ia baixando só por causa do nome. Quando ouvi a banda fiquei de cara. Baixei The Faichecleres, Bidê ou Balde, Wonkavision, Sapatos Bicolores, Blue Jeans…

Falando nisso… Quais covers vocês já tocaram ?

Já rolou do The Faichcleres, Frank Jorge, The Clash e Rolling Stones.

Fabrício Nobre (dono da Monstro Discos e um dos integrantes do MQN) disse que a versão de vocês da música do The Faichecleres é mais legal que a original…

É, mas Fernando Rosa disse que esse é um lance meio perigoso porque a cover pode chamar mais atenção que as nossas músicas próprias. No começo, a gente resolveu tocar sem dizer de quem é a música pra não rolar isso.

[ pausa para comer um prato de queijo com frango… tava bom! ]

E os planos da banda pro futuro?

Vamos esperar a receptividade do Abril Pro Rock, vai ter uma galera massa da imprensa, em maio vamos tentar tocar no Festival Bananada 2005 e na Noite Senhor F, vamos fazer mais shows aqui e em julho tentar tocar no Porão do Rock. Tudo é especulação, não tem nada certo ainda.

E rodar o Brasil com o cdzinho ? Vai rolar ?

A intenção é essa. E queremos passar uma temporada em São Paulo tocando e divulgando pra ver o que acontece porque eu acho que você tem que tentar. A perspectiva aqui é praticamente nula. Lá tem muita banda, mas a gente pode achar um espaço.

Você tem medo da Volver ser rotulada como a “sensação do rock recifense” pela mídia ?

Pô, velho! É uma faca de dois gumes… Muita gente tem preconceito, já eu não tenho. Se estão falando muito eu escuto, mas não vai mudar a minha opinião. Tá, rolou uma hype do caralho com o The Strokes e eu escutei e achei fuderoso.

Você não tem medo de que apareça por aqui um clone de Volver ?

Eu queria, ia incentivar a galera a fazer bandas legais nesse estilo. Eu acho que o cara tem que fazer sem planejar, tem que ser o mais despretensioso possível. Banda que começa com pretensão tende ao fracasso. Banda é uma família e você gasta muito do seu tempo nela, muito neguinho vai ver que é uma farsa e vai desistir.

Vocês falam muito de amor nas letras. Não rola um medo disso ficar muito repetitivo ? Já tem tanta banda emo…

Tem lance de amor, mas é um lance autobiográfico. Eu escrevo sobre mim e sobre as histórias que meus amigos contam. Eu acho legal fazer letra, mas me preocupo mais com a melodia da música. Muita gente diz que eu sou um letrista do caralho e que tenho um ótimo senso pop, mas eu não acho isso.

Entrevistão com Bruno Souto - Volver

Pra fechar… Qual foi a pergunta que nunca fizeram para a Volver ? O que é que a banda tem de legal que ninguém nunca falou ?

Eu acho que a gente estar no Recife fazendo um som que ninguém nunca fez aqui é muito interessante. É até uma virtude está indo no caminho contrário das bandas daqui. Não tinha nada parecido aqui, mas vamos fazer porque é o que a gente gosta e isso é um mérito. Espero que crie uma escola, já tem um bocado de guri tirando cover de Volver nos estúdios por aí. Ah! Tem outra coisa que eu falar, mas foge dessa história da Volver. É um disco de covers da banda que eu vou fazer com músicos de outras bandas daqui de Recife para homenagear os 40 anos da Jovem Guarda. Vai rolar Renato e Seus Blue Caps, The Fevers, Roberto Carlos… é uma espécie de tributo.

Falando nisso.. A última música do disco de vocês é bem diferente das outras. Vocês estão pensando num novo caminho para o segundo disco ?

Pô, eu não pensei quando eu fui compondo pra fazer o disco. A gente fez as onze músicas primeiras músicas e gravou.

Vocês já pensam no segundo disco ?

Não. O primeiro nem saiu aind…

[ TEC… acabou a fita… qualquer dia conversamos mais… ]

É isso… Obrigado Bruno Souto, Mauricio Guenes e os garçons rock’n roll do Entre Amigos (uhuuuuuu!)

Bruno Souto depois aturarnos por mais de uma hora... ganhou uma camiseta como brinde.

Links:
» Volver no RecifeRock
» Site do Selo Senhor F

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