Abril Pro Rock 2006 (Terceiro Dia)

Por Recife Rock! em 24 de abril de 2006

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ABRIL PRO ROCK 2006 (TERCEIRO DIA)
data: 23/04/2006 (Domingo) – local: Pavilhão do Centro de Convenções
com Orquestra Imperial (RJ), Cachorro Grande (RS), Cidadão Instigado (CE), Camille (França), Lafayette os Tremendões (RJ), Frank Jorge e Volver (RS/PE), Parafusa (PE), Carfax (PE), Iupi (PE) e Maquinado (PE)
Resenha por Hugo Montarroyos (palco 1) e Sofia Egito (palco 2) – Fotos por Bruno Negaum

em 23/04/2006 por Hugo Montarroyos (palco 1) e Sofia Egito (palco 2)

PALCO 2

Por Sofia Egito

Iupi

Às 18 horas em ponto a Iupi começou seu show. Pouco mais de 500 pessoas prestavam atenção ao som. Emo? Sim, mas também ska, pop rock e hard (easy?) core. Abriram com “Quem Foi Que Disse” numa versão com violino e contrabaixo acústico e mandaram “Dúvida” logo em seguida, descabelando a franja dos fãs que pulavam lá na frente. Amarelo (vocal) também estava animado e – menos quando empunhava um violão – explorava o palco como podia. Os fãs cantaram e curtiram a meia hora de show, enquanto os demais ouviram indiferentes, esperando o que ainda estava por vir.

Carfax

E o que estava por vir, depois de Cidadão Instigado no palco um, era Carfax. O show começou com uns problemas técnicos com o microfone de Pompi (vocal e guitarra) e com os volumes de uma das guitarras e da bateria, mas já em “Retalhos”, cantada por Iana e por muitas das mais de mil pessoas na platéia, os problema estavam amenizados. Uma das guitarras estava muito alta durante todo o show, mas isso não deve ter sido problema para a banda com o som mais pesado da noite. Iana e Pompi dividindo os vocais, elementos eletrônicos, riffs pesados. Foi assim durante “Ainda Queima”, “Aqui, Ali ou Em Qualquer Lugar”, “Corpo Fechado” e “Pega Ladrão” – nessas duas últimas, Marquinhos e Diógenes do Ticuqueiros participaram tocando metais. A banda estava enérgica, especialmente o baixista que bateu cabeça o show inteiro, pra, no final, meter seu baixo no chão e abrir a boca da platéia inteira. Foi muito aplaudida.

Parafusa

O show mais lotado no palco dois ficou a cargo da Parafusa. Começando com a alto-astral “Tudo Bem”, os meninos mandaram um repertório que conquistou o público, principalmente em “Maria”, quando um coro de “paparapapa” se fez ouvir em alto e bom som. O som não deu dor de cabeça e a iluminação, maravilhosa, me chamou atenção pela primeira vez na noite. Tocaram as famosas “Vou Cantar Noutro Quintal” e “A História do Boi Tatau” e ainda fizeram uma versão dos Mutantes. O público dançou e aplaudiu bastante. Deixou gosto de “quero mais”.

Maquinado

Maquinado era um grande ponto de interrogação pairando a cabeça dos presentes até as dez e meia da noite. no palco, Lúcio Maia (Nação Zumbi), Fernando Catatau (Cidadão Instigado) e Júnior Boca (Otto) impunham cada um uma guitarra. O baixista e o baterista eram os mesmos do Cidadão Instigado. Além disso, Catatau e Lúcio Maia tinham teclados e samplers à disposição. O que se ouviu foi o que eu chamaria de trip-hop regional: entre um reggae, uma ciranda e um samba, psicodelias espaciais e viagens guitarrísticas, na maioria das vezes com bases eletrônicas. O público olhou meio atravessado para isso tudo, aplaudindo pouco. O baixo mal se ouvia e, pra completar, os técnicos do palco um estavam ajustando o som do Cachorro Grande durante o show psicodélico. Siba ainda fez uma participação (?) quando Lúcio Maia deu “play” numa gravação. Estranho. O público aplaudiu ao final, mas ficou aquela sensação de banda pra ouvir em casa, no CD, com mais atenção.

Frank Jorge + Volver

Depois de Cachorro Grande, o já cansado público pára, à meia-noite, em frente ao palco dois para ouvir a banda pernambucana mais gaúcha que existe, junto com um de seus ídolos gaúchos: Volver e Frank Jorge: promessa de Paulo André para o Porto Musical que acabou não rolando. Tocaram algumas músicas do Frank que as quase mil pessoas presentes não conheciam, mas pararam pra ouvir: “Prendedor”, “Vida de Verdade” e “Falando da Chuva” foram algumas delas. Tocaram ainda “Nunca Diga”, conhecida na voz de Fernanada Takai, do Pato Fu e “Amigo Punk” (com participação de Nervoso, do Nervoso e Os Calmantes), que despertaram reações na platéia. A Volver também teve seu espaço com “Você Que Pediu”, “Máquina do Tempo” e “Mister Bola de Cristal” que fez o público – já velho conhecido – cantar e dançar. Matou a vontade que tinha ficado desde o carnaval.

Dualidade dá o tom do palco principal…

Por Hugo Montarroyos

O palco principal da terceira e última noite do Abril pro Rock mostrou duas faces de um mesmo festival, dois lados de uma mesma moeda, duas metades de um mesmo pedaço. Ou seja, foi a dualidade em pessoa, o protótipo escancarado da irregularidade, o sonho e o pesadelo numa mesma noite, o maniqueísmo da dupla personalidade dos autores dos contos infantis. Não entendeu bulhufas? Trocando em miúdos: abrigou shows fantásticos e outros que resvalaram na mais pura chatice. O bom e o mau. O bem e o mal, para o bem e para o mal. Nem mais, nem menos. Sem tirar, nem pôr. Enfim…

Cidadão Instigado

Primeira atração a subir no palco principal, o cearense Cidadão Instigado, banda do talentoso Fernando Catatau, oscilou momentos sublimes com outros de verdadeiro tédio. Sublime: quando se despiu de todo o discurso expereimental-eletrônico-intelectualóide e apostou no bom e velho brega rasgado e desesperado. Tédio: quando fez o inverso, ou seja, na maior parte do tempo. O Cidadão Instigado parece ser a banda mais superestimada dos últimos tempos. Seu complicado disco “O Método Túfo de Experiência”, assim como seu show, é apenas curioso. Só isso. A apresentação do Cidadão Instigado acabou dividindo o público, que ficou entre a reverência dos fãs e o bocejo dos demais.

Camille

Quem acabou desarmando todo mundo e jogou todas as fichas na simplicidade como melhor veículo para a sofisticação foi a francesa Camille. Acompanhada apenas por piano, violoncelo e acordeon, Camille é dona de um estilo absolutamente novo, e ao mesmo tempo mais datado do que leite estragado. Seu grande trunfo é não cair na armadilha do circo. Autoditada, sua voz alcança tons absurdos, difíceis de classificar. Camille soltou sua porção brasileira e rebolou, seduziu, dançou e cantou muito. Carregou consigo um papel, onde explicava em português o que significava cada uma de suas canções. Em uma delas, chamou quatro caras e duas garotas para dançar. O destaque acabou ficando com Ênio, guitarrista do Mellotrons, que resolveu mostrar o que o Brasil tem e deu uma bela encoxada na moça enquanto dançavam lambada. no mais, foi uma apresentação surpreendentemente (e merecidamente) aplaudida. Camille alia doses de delicadeza com fúria. Consegue envolver toda uma platéia com o recurso de apenas um intrumento: sua voz. Dos melhores shows que o Abril pro Rock já recebeu. O gênero? Jazz contemporâneo, eletrônica medieval, rock sem batida. Mas talvez a palavra que caiba melhor seja “minimalista”.

Lafayette e os Tremendões

Lafayette e os Tremendões fizeram o show mais animado da noite. Amparados por Lafaytte, histórico tecladista que mudou a história da música brasileira, e pelo repertório da melhor fase de Roberto Calos (a dos anos 60), os Tremendões liderados pelo autorama Gabriel Thomaz deitaram e rolaram. Com um time de músicos afiados, a banda transformou o pavilhão do Centro de Convenções numa “Velha Tarde de Domingo”. China foi convocado para cantar “Esqueça”. E, além de Lafaytte, o outro grande homenageado da noite foi o compositor Getúlio Cortes, que acabou presenteando a banda com a inédita “Pão-duro”. Em tempo: para quem não conhece Cortes, vale salientar que ele é autor de “Negro Gato” e de algumas das mais belas canções imortalizadas pela voz de Roberto Carlos. Deu saudade das jovens tardes de domingo que não vivemos.

Cachorro Grande

O cachorro é grande, feio, malvado, fedorento, morde, baba e tem raiva. Ou seja, é perfeito. Sobretudo quando o assunto é estética rock n’ roll. Poucas bandas no país possuem uma performance tão vigorosa, insana e competente como o Cachorro Grande. Filhote do palco dois do Abril Pro Rock, o cachorro cresceu e simplesmente engoliu o palco principal. Donos de uma pequena obra-prima roqueira chamada “As Próximas Horas Serão Muito Boas”, os tresloucados gaúchos arrasaram com “Hey, Amigo” e “Que Loucura”. Nem o microfone falhando foi capaz de deter o vocalista Beto Bruno em “Tudo por Você”. Ele, o guitarrista Marcelo Cross e o excepcional baterista Gabriel Azambuja são sinônimos ambulantes de cerveja gelada, cigarro vagabundo, mulher gostosa, paz e amor. Tudo que um roqueiro precisa para viver feliz. Engraçado foi ver a fila de meninas (meninas mesmo) na entrada do backstage à caça de um autógrafo. Imagina se o Cachorro Grande tocasse na rádio…

Orquestra Imperial

A Orquestra Imperial foi uma das coisas mais sem sentido a pisar em um palco do Abril pro Rock. A começar pelo horário: fechar um festival com uma “banda de baile” não parece ser a solução mais coerente. Com uma formação que incluía “apenas” dezoito pessoas no palco e a intenção de fazer um show dançante, a Orquestra Imperial acabou encontrando o óbvio: um público bastante escasso e cansado demais para dançar. O hermano Rodrigo Amarante não possui carisma suficiente para segurar a peteca sozinho, e acabou sendo chato de doer ver o grupo fazer piadas sem graça com Sérgio Malandro, Silvio Santos, Nirvana e outros tantos. Nem Jorge Mautner, com seu maracatu atômico, conseguiu salvar a lavoura. Sorte de quem foi embora mais cedo. E foram muitos.

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