Palco Pernambuco

Por Hugo Montarroyos em 6 de junho de 2006

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PALCO PERNAMBUCO
data: 03/06/2006 (Sábado) – local: Chevrolet Hall
com Lula Queiroga, Eddie, Cordel do Fogo Encantado, Nação Zumbi e os convidados Céu (SP), Otto e Siba e a Fuloresta
Resenha por Hugo Montarroyos – Fotos por Guilherme Moura

Pernambuco no palco da elite branca
em 03/06/2006 por Hugo Montarroyos

Pernambuco no palco da elite branca

Às vezes é difícil separar música de política. Saber o que é joio e o que é trigo. E, principalmente, às vezes as coisas são tão “subliminares” que não conseguimos enxergar quando uma está a serviço da outra. Todo esse blá-blá-blá pseudo-ideológico acima serve para ilustrar uma verdade difícil de digerir: o Palco Pernambuco foi um evento puramente eleitoreiro, assim como qualquer Recifolia da vida o foi outrora. Indiretamente – ainda que neguem – Lula Queiroga, Eddie, Cordel do Fogo Encantado e Nação Zumbi tocaram para arrecadar votos para um certo candidato ao governo de Pernambuco de tendências destras. Aliás, o Palco PE é uma iniciativa bancada pelos irmãos do atual governador e candidato. Percebeu a ligação, eleitor? O triste jogo do poder. Não foi à toa, por exemplo, que o Eddie deixou de tocar em seu bom show “Fuleragem”, pretensa música de protesto e inconformismo de seu mais recente disco, “Metropolitano”. E também não foi em vão o fato do politizado Mundo Livre não aceitar fazer parte de tal jogo político. Enfim, é difícil deixar a política de lado quando tal evento tem gosto, cheiro e local de direita. Realizado no C Hall (me recuso a digitar nome de marca), com ingresso ao preço de 40 reais e 20 meia, a cerveja custando 3,00 e o refrigerante, 2,50, parecia ser evento para privilegiados. Lirinha falava em Morro da Conceição para um público que sequer deve pagar promessas lá. Otto gritava “Alto José do Pinho” para jovens que jamais estiverem lá. Até a roda-de-pogo era bem comportada, sincronizada, parecendo mais baile de carnaval. Ou seja, não havia ali espaço para confronto de classes, pois uma só ocupava o local, nossa Daslu da música. Nosso candidato de linha burguesa, atual governador, deve ter conseguido alguns votos…Ok, registro feito, vamos nos concentrar na parte artística:

A reportagem do RecifeRock! pede desculpas ao figuraça Lula Queiroga, pois não chegou em tempo de ver seu show. Na sequência, o Eddie fez uma bela apresentação, se aproveitando bem de um palco grande e provando que é uma banda maior do que os palcos em que costuma se apresentar. Foi um pouco estranho ver o grupo tocar para uma platéia engomadinha, mas tal contraste acabou sendo bem interessante. Afinal, no final das contas todo mundo só queria mesmo era tomar uma cachaça, gritar “pode me chamar”, entrar no clima “futebol e mulher” e abraçar toda a dialética praiana do Eddie. Tecnicamente, foi o melhor show da noite.

Um Cordel do Fogo Encantado em tom de superprodução entrou feito um azougue no palco. Amparado em sólida base percussiva e no carisma de Lirinha, o Cordel conduziu muito bem um show que abriu espaço para várias músicas novas. Elas apontam para um Cordel mais dendo, lento e pesado. Conversando depois com a reportagem do RecifeRock! , Lirinha disse que considerava “Transfigurado”, a ser lançado em julho próximo, o primeiro álbum da banda, pois os outros dois foram, segundo ele, “apenas registros sonoros do trabalho que a banda fazia na época”. Lirinha diz que este disco será mais rico musicalmente, que teve um maior apuro no trabalho das músicas e nas gravações. Resta esperar.

No mais, “A Matadeira” continua sendo mais punk do que 90% das bandinhas daqui que têm a pachorra de dizer que tocam punk.

E, fora as músicas novas, nenhuma novidade no show deles. Tudo como sempre. Ou seja, permanece ótimo. Ah, choveu…

Depois de mais de uma hora de espera, eis que entra em cena a Nação Zumbi. Sem precisar se esforçar muito, empolgou com facilidade a platéia elitizada do CH. “Hoje, Amanhã e Depois” foi saudada como hit, assim como “Maracatu Atômico”, “Meu Maracatu Pesa Uma Tonelada” e “Quando a Maré Encher”. Os convidados tiveram participação meramente decorativa. A incensada Céu foi engolida pela voz de Jorge do Peixe em “Prato de Flores”. Siba com sua Fuloresta do Samba acabou ficando deslocado e quase sem função em “Rios, Pontes e Overdrives”, e depois tocou uma interminável ciranda que colocou o embonecado público para dançar. Mas, interessante mesmo foi a participação de Otto. Claramente sem condições de entrar em cena, fez o que pôde (ou o que sabe): pulou pouco e gritou muito. Otto é mais folclore do que qualquer outra coisa. Ao contrário de seus anfitriões, que, mesmo quando não são brilhantes, acabam sendo acima média.

Bem, ninguém aqui quer bancar o papel de dono da verdade. Não há nada de errado em receber um bom cachê para fazer um trabalho honesto. Apenas não se engane: todos ali sabiam que o tal do Palco Pernambuco foi planejado como plataforma eleitoral. Salve, Zeroquatro, salve!

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Links:
» Nação Zumbi no RecifeRock!
» Cordel do Fogo Encantado no RecifeRock!
» Eddie no RecifeRock!

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