em 03/10/2006 por Hugo Montarroyos
Um monstro chamado Fiddy
Por Hugo Montarroyos
É tremendamente gratificante quando você constata que uma boa idéia deu certo. A maior prova disso foi a dificuldade que os jurados tiveram em selecionar quatro das doze bandas que disputaram as eliminatórias do Microfonia. Se na edição passada o desnÃvel entre os selecionados era visÃvel, o equilÃbrio neste ano acabou sendo surpreendente.
Novamente um Downtown lotado presenciou as performances de seis bandas que não fariam feio em lugar nenhum. A década de 60 acabou sendo o mote das duas primeiras da noite. Tocando com raça e esmero, o bom Canivetes já deixou no ar a senha de que a parada seria dura para os jurados. Com sonoridade absolutamente calcada em The Who, Rolling Stones e demais contemporâneos, apresentaram bom repertório próprio e um ótimo cover da clássica “Can’t Explain”, do já citado de The Who.
O Os Insites acabou sendo “prejudicado” no sorteio da ordem das bandas. Com uma proposta basicamente igual ao do Canivetes, seu show acabou parecendo uma extensão do primeiro. Ainda que seja uma boa banda – tanto que é a segunda vez que são selecionados para o Microfonia -, algo acabou dando errado no show deles, que foi um tanto confuso, meio amarrado e um pouco nervoso. Erraram também ao escolher um cover de Júpiter Maçã, que acabou não funcionado. Enfim, foi uma apresentação burocrática. Ao contrário do Canivetes, que pareceu mais desencanado.
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Quem fez uma apresentação mais solta e consistente foi o Ghazz, bela banda de metal que sabe aliar virtuosismo e peso nas doses certas. Com formação clássica, o grupo se destaca pelo bom trabalho de guitarras e bateria. Nem tão pesado quanto o Sepultura e nem tão xarope quanto o Metallica atual, a banda se equilibra na boa no fio da navalha que corta tantas bandas do gênero: personalidade. Olho neles.
“Reincidentes” no Microfonia, o talentoso Johnny Hooker apareceu com nova proposta. Guitarra e baixo agora seguem a cadência de batidas eletrônicas que servem de base e amparo para o som. Com presença de palco marcante, voz personalÃssima e bom trabalho de timbres, Johnny Hooker desponta como um das figuras mais curiosas e emblemáticas da geração 00 do Recife. Para o bem e para o mal. Goste-se ou não dele. Verdade que ele trocou David Bowie por Madonna e largou o punk para embarcar na eletrônica. Johnny Hooker fez isso. E chegou lá de novo. Não é pouco…
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Duas coisas a serem ditas sobre o The Kichutes: a) tocaram a cover mais legal das eliminatórias, Dance With Myself, de Billy Idol, que possui um dos riffs mais poderosos da história. b) é uma banda que ainda vai dar o que falar. Nitidamente influenciado pelo The Strokes, mostraram que são bons ao vivo, mas ainda falta algo. Talvez sujeira, um pouco mais de distorção e malvadeza. Fizeram uma ótima apresentação, mas pareceu um pouco verde ainda.
Em 2003 eu vi uns malucos tocando no Dokas. Eram oito ou nove guris no palco, fazendo um som que, na falta de definição, acabei definindo como “Faith no More com alfaia”. Escutei a demo que fizeram, e achei fraquinha e mal gravada. Um ano depois, vi os caras no PE no Rock. Continuei achando fantástico ao vivo, mas achava que teria curta duração, que sua proposta não colaria/duraria muito. Enfim, veio uma demo bem melhor, e a seleção para o Microfonia. Resultado: não há como descrever a cara dos meu colegas de júri ao verem o Fiddy (corruptela para “filho de rapariga”). A pergunta que todos faziam era: “de onde esses caras saÃram?”. Vamos lá: nove doidos fardados de preto e com gravatas amarelas, incluindo aà dois vocalistas, tecladeira infernal e uma alfaia, uma presença de palco dos diabos, um senso de humor bizarro e, mais importante, música. Não é só teatro, eles realmente tocam bem e fazem um som estranho, denso, esquisito e surreal. O cover de “Uni-duni-tê”, – aquela joça sórdida do “gênio” da pasteurização Michael Sullivan cantada pelo Trem da Alegria -, foi das coisas mais engraçadas já testemunhadas por esses lados desde sempre. E o pior, ficou bom. Eles conseguem ser engraçados sem cair no ridÃculo. Enfim, fecharam as eliminatórias do Microfonia como o festival merecia: deixou no ar um clima de renovação e um gosto de esperança.
O sorriso estampado na boca de todos os jurados no final das eliminatórias confirmava o óbvio: Recife tem mais doze bandas para mostrar ao mundo. Durma com uma bronca dessas!
Clique na imagem abaixo para abrir a PopUp com as fotos do segundo dia das Eliminatórias do Microfonia 2006:

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