Fracasso digital

Por Hugo Montarroyos em 17 de outubro de 2006

Comecei no jornalismo no final da década de 70 e início dos anos 80. Perambulava pelas redações da Folha de São Paulo e da Gazeta Mercantil à toa, sem função específica. Afinal, eu era um moleque de seis anos que, na falta de lugar para ficar, acabava acompanhando meu pai – este sim, jornalista – em seu trabalho. Assim sendo, testemunhei a era das máquinas de escrever, o início da informatização das redações e, agora, a tal era digital.

Na época da máquina de escrever, para se ter uma idéia, o repórter batia a matéria e gritava “sobe!”. Um contínuo vinha em passos largos, quase desesperados, catar o texto e levar para o andar de cima, onde ficavam os editores. Caso o texto fosse aprovado, ele era devolvido ao repórter, que conferia tudo mais uma vez, acatava ou não algumas sugestões e dava outro sonoro grito: “desce!”, e o texto descia para a gráfica em sua versão final, a definitiva que seria lida pelos leitores no dia seguinte.

Parece absurdo, mas o número de erros era bem menor comparado aos dias de hoje. Mas por que estou saturando sua paciência com tal monólogo? Simples: pela primeira vez na vida estou usando um blog. Apesar de trabalhar há mais de três anos no RecifeRock!, sou um analfabeto digital, um dinossauro do século passado que demorou anos para aprender a anexar arquivos, salvar textos e outras (in)utilidades da net. Até hoje, não posto nenhum texto direto para o site. Do primeiro dia até hoje, sigo um ritual: termino o texto e mando por e-mail para o editor do site gritando mentalemente: “sobe!”. E, quando o vejo publicado, tenho a mesma sensação de duas décadas atrás, quando via meu pai gritar “desce!”. Um “desce!” cheio de pressa e de orgulho pelo dever cumprido. O tempo muda menos do que a gente pensa…

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