É provável que você não saiba quem é Alex Antunes. Então vale uma recapitulação: Alex é jornalista, escritor, músico e (agora) ator. Foi editor da Bizz nos anos 80 e criou a revista Set, sobre cinema. Sua banda, Akyra S. e As Garotas que Erraram, marcou época no underground paulistano, e recentemente foi descoberta pela imprensa gringa. Seu livro, A Estratégia de Lilith, está sendo roteirizado para o cinema. O responsável pela adaptação tem no currículo filmes como Amarelo Manga, Bastio das Bestas e Baile Perfumado. Ele foi também um dos primeiros jornalistas a apostar no Skank como futuro grande nome do pop nacional (ninguém é perfeito, Alex). Trabalhou como figurante no novo filme do Zé do Caixão e atualmente escreve para a edição brasileira da revista Rolling Stone. Fora tudo isso, é um sujeito boa praça, dono de uma prosa inimitável e de uma inteligência fora do comum. Senhoras e senhores, com vocês, Alex Antunes.
Em que fase anda a roteirização do seu livro, “A Estratégia de Lilith”? Já há previsão de filmagem?
O projeto venceu um edital do Minc chamado BO, ou seja, para filmes de baixo orçamento, com custo até 1 milhão.
Vai ser rodado ainda este ano. O roteirista é o Hiltinho Lacerda, de Amarelo Manga, Baixio das Bestas, Árido Movie, Cartola e O Baile Perfumado. O diretor é o Chiquinho, Francisco César Filho, um cara importante do movimento curtametragista estreando em longa.
Sua banda, Akira S., foi “redescoberta” pela imprensa americana. Como foi isso? Você esperava?
Foi pela imprensa mundial, na verdade, incluindo referências na Mojo, Uncut, Wire, entre outras revistas e sites americanos e europeus. O momento mais glorioso da minha vida foi a banda ser chamada de “uma espécie de Duran Duran com o Ian Curtis no vocal” (risos). Nesse link do orkut dá pra ter uma noção: www.orkut.com (link).
Essa repercussão toda foi resultado de uma coincidência, a presença de faixas da banda tanto na coletânea alemã Não Wave quanto na coletânea inglesa The Sexual Life of the Savages. Se fosse só uma ou outra, seria uma curiosidade. Como saíram as duas ao mesmo tempo, virou tendência (risos).
Uma grande parte dos comentários destaca o fato de serem bandas brasileiras completamente antenadas com o que rolava em Nova York e Londres à época.
Bom, na real tinha uns dois ou três bons anos de atraso, mas agora é tudo anos 80 (risos).
As bandas daquele underground (principalmente paulistano, mas também de outros lugares, como o Black Future, que era do Rio) acabaram chamando a atenção por não fazer bossa nova ou coisa que o valha. O curioso é que os organizadores das duas coletâneas tinham feito logo antes coletâneas de funkcarioca, e acabaram descobrindo que nos anos 80 o país tinha tido uma cena pós-punk interessante.
A revista “Set” foi uma criação sua?
Foi. Quando virei editor da Bizz em 86, comecei a insistir com o pessoal da editora que tínhamos que fazer uma revista de cinema e vídeo. As seções de crítica de cinema e vídeo da Bizz ganharam uma indicação e um prêmio Abril por renovar a crítica cinematográfica – na época a crítica de cinema era mais”européia”, e inauguramos um estilo pop, coerente com a Bizz, que serviu de parâmetro para a revista em seus primeiros números. Mas hoje eu não gosto da revista, acho hollywoodiana demais, num momento em que nem Hollywood se suporta.
Como foi participar do novo filme do Zé do Caixão?
Foi o momento mais glorioso da minha vida. Eu já disse isso, né? (risos).
Cara, indescritível estar num set de filmagem no meio de uma locação maluca (uma pedreira gigantesca com rios de enxofre), contracenando com 60 atrizes e atores dos grupos Oficina – incluindo o próprio Zé Celso – e Satyros, comandados pelo Zé do Caixão.
Estávamos todos no purgatório; eu num grupo que tinha que escalar uma encosta pra arrancar pedaços de um boi podre, mas tinha gente sendo castrada, costurada, o escambau. Acho que fui bem, depois fui chamado pra filmar closes mastigando vermes – vermes de polvilho, felizmente (risos).
Escrevi uma matéria pra Rolling Stone 3 (a que tem a Ivete na capa). Vi trechos do copião e acho que vai ser um filmaço.
Você era muito amigo do Celso Pucci (músico e jornalista mais conhecido como (Minho K), e chegou a contar detalhes da precoce morte dele em um texto. Você pode resumir a história aqui?
O Minho K era meu colega de faculdade, e moramos juntos – nós e o Cadão Volpato (jornalista e vocalista do Fellini). Acho que esse texto que você citou dá uma idéa de quem era o cara: www.lexlilith.org/000058.html
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[…] em April 30, 2007 @ 9:10 am http://www.reciferock.com.br/2007/03/05/entrevista-alex-antunes-parte-1/ […]