Cobertura: Pátio do Rock 2007 – Segunda Noite Rock

Por Hugo Montarroyos em 25 de novembro de 2007

Aos cínicos de plantão: se vocês esperam encontrar nas linhas abaixo insultos gratuitos e “inteligentes”, críticas impiedosas, esculhambações com altos graus de sofisticação e destruição em massa de reputações artísticas por parágrafos seguidos, desista da leitura agora mesmo. Ontem passei a noite inteira procurando defeitos. E simplesmente não os encontrei. Com exceção de alguns vacilos aqui e acolá na qualidade do som, foi tudo perfeito. Até o reggae, ritmo que costuma me tirar do sério pela eterna repetição de dois temas (Jah e sua erva milagrosa) desceu redondo com o pessoal da Ramma Seca. E finalmente consegui enxergar em China algo diferente da imagem que fazia dele: a de um sujeito do hardcore perdido na MPB. Ele provou ser bem mais do que isso.
Aliás, há tempos que não testemunhava um festival com um nível tão elevado – e jovem – em sua programação. Coisa fina mesmo. Pena que pouca gente viu…(se bem que o show de China levou um público numeroso ao Pátio de São Pedro).

O ótimo Júlia Says acabou mostrando que é tão bom ao vivo quanto em seu EP de estréia. A dupla formada por Pauliño (guitarra e vocais) e Anthony Diego surpreendeu o público com um som nervoso, pesado, cheio e vibrante. Com o auxílio de um técnico de som nos bastidores, descarregaram camadas de eletrônica misturadas com guitarras distorcidas e letras de uma crueza que podem passar a falsa idéia de simplificação. O destaque ficou mesmo para a excepcional “Mohamed Saksak”, que ganha ainda mais corpo em sua versão “in loco”.

Um conselho ao pessoal do Amps & Lina: de agora em diante, ao preencher fichas de hotel, formulário de imposto de renda e coisas do gênero, no espaço em branco reservado à profissão, cravem a seguinte palavra: artista. É o que vocês são. O que já era lindo no EP “Curva e Linha” torna-se mágico ao vivo. A vocalista Luciana Medeiros se agiganta (pequenina que é) no palco. A banda transforma ruído em arte, “barulhinhos eletrônicos” em música, e ousa casar violino com distorção. Fico imaginando a cara que o Fábio Massari faria ao vê-los. Destacar um só momento do show seria injusto, pois o todo poucas vezes se fez tão todo como no show deles. Só para me contradizer, a voz de Luciana em “Deja Vu”, acompanhada de instrumental tão suave, refinado e agressivo, acaba levando o ouvinte à outra dimensão. Não é preciso ser nenhum gênio para saber que eles garantiram um lugar em algum dos grandes festivais de 2008. Resta saber em qual deles.

Depois o tremendo contraste. Uma banda de blues formada por três roadies de profissão que deve ser melhor do que todas as bandas para quem trabalham e já trabalharam, a Black John Band. O fato é que Joseilton Lima (baixo), Jorge Romão (guitarra e voz) e Emerson Figueiredo (bateria) deram uma aula de blues, tocaram como se estivessem no quintal de suas casas e mandaram ver belíssimos instrumentais, como “Madrugada São José” e “O Anjo”. Mas foi na espertíssima “Emparedada da Rua Nova”, em que Romão assumiu um voz rouca típica de blueseiro, jogou sua guitarra no chão, pisoteou a coitadinha e teve arroubos vocais dignos de um blueseiro nascido na outra América que a banda teve seu ápice. E que ápice!

Já o Ramma Seca é responsável por uma separação semântica que eu julgava impossível (exceção feita à Bob Marley): a das palavras “reggae” e “chato”. Com uma sonoridade envolvente, criativa, e letras que fogem aos lugares-comuns do gênero, a banda provou que o reggae não precisa se limitar a poucos e repetitivos acordes. Sem contar que as letras são incrivelmente boas. Se você é fã do gênero, não deixe de conhecê-los.

Me rendo: “Simulacro” é um baita disco, e seu show é muito bom. China mostrou que, além da já sabida ótima presença de palco, também é um grande compositor e letrista de mão cheia. E finalmente está adaptando sua voz roqueira para o novo formato que abraçou. O resultado de tudo isso é uma apresentação coesa, em que dosa nostalgia e modernidade em quantidades certeiras. Seja na releitura do clássico da dor-de-cotovelo “Alguém me Disse”, de Jair Amorim e Evaldo Gouveia,(imortalizada, entre outras, pelas vozes de Maysa e Gal Costa) ou na genial de próprio punho “Todo Malandro tem Seu Dia de Otário”, composição feita e dedicada, segundo China, ao ex-jogador de futebol Zé do Carmo. Demorei a reconhecer o talento de China, mas ele é inegável hoje. Uma ex-pedra bruta que foi finalmente transformada em jóia rara.
Sem mais o que dizer, termino por aqui.

Sem rancores, minha criança…                

18 Comments

  1. belota
    Posted 25 de novembro de 2007 at 10h01 | Permalink

    quando vc fala do Amps & Lina, eu desconheco a palavra “arista”, foi isso mesmo q vc quis dizer?
    abraço

  2. Posted 25 de novembro de 2007 at 10h07 | Permalink

    Não, belota…foi “artista” mesmo! Corrigi agora =)
    Valeu pelo toque!

    Abraço!

  3. belota
    Posted 25 de novembro de 2007 at 10h09 | Permalink

    mas comentando sobre o fest infelizmente eu só fui sabado, gostaria de ter visto os outros dias e principalmente edt mas infelizmente nao deu =[ mas imagino q aproveitei a melhor noite
    de bom gosto e novo

  4. eu no sabado
    Posted 25 de novembro de 2007 at 15h31 | Permalink

    Ontem(sábado),foi uma noite incrível…Ramma seca teve uma apresentação espetacular e China também foi mto bom!Parabéns à Ramma seca!!!Fazem um som diferente,criativo e contagiante:)

  5. Yara
    Posted 25 de novembro de 2007 at 18h26 | Permalink

    Amps & Lina detonou!!! Amps, sei que vocês vão longe!!!!

  6. china
    Posted 25 de novembro de 2007 at 20h45 | Permalink

    sem rancores…

  7. Posted 25 de novembro de 2007 at 23h26 | Permalink

    ahhh o amor….

  8. Cidadão do Recife
    Posted 26 de novembro de 2007 at 2h41 | Permalink

    que mexe com minha cabeça e me deixa assiiim…

  9. André
    Posted 26 de novembro de 2007 at 8h41 | Permalink

    Finalmente li uma matéria sua que foi realmente
    verdadeira ao meu ponto de vista é logico
    realmente o china tem talento pra dar e vender
    e infelizmente não tem o reconhecimento que merece com seu trabalho solo,como tem com a del rey mais é assim mesmo acho que quem gosta,gosta quem não gosta não gosta
    quem sou eu pra julgar alguem china fez um show no patio do rock que pagaria 15 reais muito bem pago.
    e volto a dizer pernalonga o baterista que tá acompanhando china só não é melhor que pupilo da nação zumbi o resto ele bota todos do nordeste no bolso =)

  10. Posted 26 de novembro de 2007 at 9h57 | Permalink

    Valeu ao pessoal do Recife Rock e principalmente a Hugo pela excelente divulgação e cobertura do Pátio do Rock!

    O evento realmente ta de parabens, a qualidade das bandas e shows foi muito boa!!!

  11. MONICA GUSMAO
    Posted 26 de novembro de 2007 at 10h11 | Permalink

    A BANDA & AMPS Parabéns pelo excelente trabalho desenvolvido que cresça a cada ano, e faça a música Pernambucana cada vez mais crescente e valorizando todos estes artistas de todos os bairros de Recife e das cidades do nosso Pernambuco.

  12. Posted 26 de novembro de 2007 at 14h04 | Permalink

    A banda Black John Band,fica muito grato pelo comentário,a banda tem suas influências de blues claro, mais também de um bom Rock and Roll, Jazz, Funk e soul music,parabéns a todos os intregantes da banda.

  13. Luf
    Posted 26 de novembro de 2007 at 17h53 | Permalink

    As bandas arrasaram no sábado!! foi muito bom…
    corroboro da opinião de q realmente poderia ter mais gente, pq realmente foi algo digno de ser apreciado, em especial a banda Amps & Lina, que me arrancou muitos aplausos, principalmente quando entrava em cena o violino.
    Parabéns pra td mundo!

  14. Posted 26 de novembro de 2007 at 18h34 | Permalink

    gostei da sonoridade mas sei lá,acho q as vocalistas de rock ou pop em geral deveriam deixar de ser mais uma PITT….

  15. lorena
    Posted 27 de novembro de 2007 at 5h41 | Permalink

    que asneira… por favor, quem fez esse comentário em nome da amps&lina, se identifique!

  16. Posted 27 de novembro de 2007 at 9h28 | Permalink

    Com esse comentário sobre a Pitty, claro q nao foi ninguem da Amps & Lina!

    Por favor, comentem o q acharem mesmo, ta blz, mas nao assinem como sendo a banda. Valeu,

  17. Yara
    Posted 28 de novembro de 2007 at 9h56 | Permalink

    O mundo seria tão mais belo se as pessoas fossem sinceras e se mostrassem como elas realmente são… Sem usar nomes fictícios ou o que é pior usar o nome da própria banda que critica. Primeiro, acho que faltou criatividade, segundo, acho que os argumentos são fracos e quebradiços… Mostra a imaturidade e a vontade de aparcer, ops, imaturidade hehehe.

    Meu caro ou cara, leia mais, escute mais música ou melhor estude e durante esse processo fique calado para não passar vergonha!!!

    Acho que quando você estava engatinhando a Amps & Lina já estava tocando, então meu amigo (a) mais respeito!!!

  18. Posted 28 de novembro de 2007 at 15h22 | Permalink

    Tudo bom Hugo!!!

    Aqui é Jorge… Sou o vocalista da BLACK JOHN BAND.
    Gostamos muito da sua visão em relação a nossa banda.
    Que bom que temos profissionais como você, para a cobertura de um evento tão importante como esse, que alguns veículos não dão a importância necessária.
    Posso este enganado mais nos três jornais da cidade, não saiu nem uma virgula de cobertura, de um evento, como você próprio disse, pode ter levado a galera do Amps e Lina a um grande festival de 2008.

    Também estou escrevendo para pedir que você nos deixe informados sobre as seletivas que acontecem para o REC BEAT e ABRIL PRO ROCK.

    A cidade precisa de profissionais como você na área.
    Um abraço BLACK JOHN BAND.

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