Cobertura: RecBeat 2008 – Terceiro dia

Por Hugo Montarroyos em 5 de fevereiro de 2008

Justiça seja feita à programação do Rec-Beat: acertaram em cheio em todos os headliners. Devotos foi perfeito em sua comemoração de vinte anos de carreira, o Móveis Coloniais de Acaju fez uma apresentação fora do comum fechando o segundo dia do evento e o sensacional grupo chileno Panico mostrou ontem uma vigorosa mistura de “punk-eletrônico-distorcido”. É – mal comparando – como se os Pixies tivessem nascido nos anos 00. Não bastasse a perfomance dos ótimos chilenos, ainda tivemos excelentes momentos com o local Trio Pouca Chinfra e A Cozinha, com o paraense Meataleiras da Amazônia e com o incrível Chris Murray & Firebug, que provou (pelo menos para mim) que existem sim possibilidades infinitas para o reggae, e que este tem condições de superar em muito as limitações que quase sempre o prendem nas mãos de bandas pouco criativas de tal gênero.

Ontem foi, disparado, a noite mais tranqüila e de menor público do festival. Ainda assim, um público numeroso foi conferir a ótima apresentação do Trio Pouca Chinfra e A Cozinha. Trata-se de uma roda de samba das boas formada por onze músicos das mais variadas procedências, inclusive gente do The Playboys e dos inacreditáveis Embuás. Em cena esbanja competência em releituras dos geniais Adoniran Barbosa (Tiro ao Álvaro) e Nelson Cavaquinho (Juízo Final). E também demonstram maturidade em repertório autoral, caso da bela “Sinuca de Bico”. Marcelo Campello, responsável pelas guitarras e violões do Mombojó, foi recrutado para uma homenagem ao inesquecível O Rafa, grande flautista da banda falecido no ano passado. O show contou também com a participação de Júnior Black, vocalista do Negroove. Muito bom ver uma nova geração de músicos pernambucanos, a maioria ligada ao rock, tão devota de mestres do samba como Cartola.

Depois foi a vez do genial Metaleiras da Amazônia, do Pará, mostrar uma mistura enfezada de carimbó, guitarrada e até uns arroubos aqui e acolá de jazz. A banda tocou sem interrupções por mais de meia hora, colocando todo mundo para dançar ao som de seu repertório irresistível, com destaque para o trombone em primeiro plano e a guitarra que por vezes brincava de fazer rock. Dos melhores shows da edição 2008 do festival.

Quem teve uma recepção muito boa do público foi o carioca Fino Coletivo, que vive de requentar o que Jorge Benjor tão bem criou há décadas. Alguns momentos foram até interessantes, como em “Tarja Preta” ou quando o ótimo Davi Moraes emprestou toda a magia de sua guitarra ao set-list da banda. Mas no mais foi apenas monótono, com uma terrível sensação de “já vi milhares de bandas fazendo a mesmíssima coisa”. Como estamos falando do Rec-Beat, a coisa toda deu mais do que certo (para o público, que fique bem claro).

Agora, de calar a boca mesmo foi a apresentação do paulista Firebug com o canadense Chris Murray. Amparados por um reggae inacreditavelmente criativo e intenso cheio de tecladeiras e de guitarras que fugiam dos lugares-comuns do estilo, conseguiram colocar para dançar até quem não é fã do gênero.

E, como nas noites anteriores, a bola da vez foi a última atração, no caso de ontem o excepcional Panico, do Chile, banda que trafega entre batidas eletrônicas, guitarra incessante e saborosamente acelerada e uma pegada absolutamente rock. Matou a sede de uma leva de roqueiros que, mal humorados que costumam ser, não agüentavam mais a abstinência de guitarras distorcidas provocadas pela noite um tanto mais leve como a de ontem. De parar para pensar: por que costumamos desprezar tanto o que é produzido na cena rock de nossos vizinhos sul-americanos? O Panico deu uma pequena mostra ontem do quanto estamos perdendo ao desconhecer tais cenários.    
 

15 Comments

  1. damaged
    Posted 5 de fevereiro de 2008 at 13h25 | Permalink

    Agora qualquer lixo eletronico pode ser chamado de Rock
    e ainda comparado com os Pixies…

  2. Guilherme Moura
    Posted 5 de fevereiro de 2008 at 15h18 | Permalink

    Gostei muito do Metaleiras da Amazônia, mas a noite foi bem morna (e com menos público).
    Achei bonito o show do Trio Pouca Chinfra. Não entrei na onda “Uma raiz é umas flor que despreza a fama PAPAPÁ PARARÁHH” do Fino Coletivo (Samba Indie Classe Média ?). Panico é muito mais rock que eletrônica, nem parece a mesma banda dos discos, mas não vi nada demais.
    Hj verei o Firebug de novo no Nascedouro. Já o Chris Murray com violão tem um pique ‘Jack Johnson’ (o povo do backstage quase bateu em mim quando eu disse isso) :P

    Que venha o último dia!

    Uma dica: do lado direito do palco (do rio) é bem mais tranquilo, evitem ficar do lado esquerdo entre a Livraria Cultura/Paço e o beco Escuro do Mijo. Do lado direito sempre tem menos gente e não tem a gangue-dos-galegos tocando terror.

  3. Cidadão do Recife
    Posted 5 de fevereiro de 2008 at 15h26 | Permalink

    hahahahha, gangue dos galegos foi massa!!!

  4. Cidadão do Recife
    Posted 5 de fevereiro de 2008 at 15h29 | Permalink

    Rapaz, o show do Panico superou minhas expectatovas: muito bom!! Pena que o público – pelo que acompanhei – não entrou muito no clima. Acho até que boa parte não gostou muito do som dos caras.

  5. Diego Albuquerque
    Posted 5 de fevereiro de 2008 at 15h53 | Permalink

    Porra Hugo, eu concordo em quase tudo dessa vez, e eu vi todos os shows… hahahaha

    Inclusive comentei que a panico parecia o pixies com um cara colocando um noise eletronico no meio, tambem falei que o cd parece um lance eletronico e a parada é bem mais rock, achei o show do Panico curto, mas agradavel pro publico. Faço um adendo que alguns momentos foram chatos, mas no geral o show foi bom.

    Foda mesmo foi a FIREBUG, e aquilo e SKA porra!!! :P

    O cris murray trouxe o ar jack jonson mesmo, mas nao comprometeu… hahahahahahaha

    noite relax pra aguentar o grand finale do reacbeat desse ano…

  6. Posted 5 de fevereiro de 2008 at 17h12 | Permalink

    firebug é ska! :)

  7. rick
    Posted 5 de fevereiro de 2008 at 18h02 | Permalink

    foi massa!!

    ah se todos os carnavais fossem assim!!

  8. Denis
    Posted 5 de fevereiro de 2008 at 19h48 | Permalink

    Saquei todas as bandas nesse dia, gsotei mesmo foi de Trio pouca chinfra e a cozinha (muito bom ,foda mesmo) e FIREBUG e CHRIS MURAY foi diemais, aquilo sim é ska de ótima qualidade, todo mundo que tava ali curtiu, muito foda a apresentação dos caras. Pânico eu não gostei da apresentação, mais confesso que deve ter sido ótimo pra quem curte o estilo.

    E fica duas dicas aqui:

    1-A prefeitura bem que poderia botar mais banheiros pra o porte do evento (não so esse mais todos os polos ta precisando de banheiros)

    2-A PM bem que poderia ser mais atenta, teve uma hora que chegou uma gangue de 30 a 50 galegos no polo e os PMS nao se ligaram (estavam olhando as garotas que passavam), so foram notar o stress quando o clarão abriu no meio da multidão…sei não viu, por isso que não confio em Policia.

    No mais a noite foi massa, e hj estou la pra ver Pato Fu.

  9. RicardoB
    Posted 5 de fevereiro de 2008 at 21h09 | Permalink

    Gosto é gosto. Passei à margem do Rec e não me arrependo. Parabéns mesmo pra Prefeitura de Olinda, que nos brindou com o show Maravilhoso do OTTO(Bateu tudo que vi nesse carnaval,inclusive o DEvotos) pois como sempre, o clima do rec-beat no paço Alfandega não tava dos melhores.

  10. Outra pessoa
    Posted 6 de fevereiro de 2008 at 14h10 | Permalink

    Perdi o show do Trio pouca chinfra. Conheço o trabalho e sei q realmente sao bons e todos elogiaram o show, mas particularmente fica aqui a critica para a abertura de espaço para bandas de releituras tocando em festivais de tematica inovadora. É facil conquistar o publico com musica dos outros. Mas carnaval pode tudo ne…

    Metaleiras da amazonia se tem proposta inovadora, nao vi. Usaram do carimbó e colocaram guitarra que ficou apagada pelos metais e nao fez diferença. Banda fraca em relação a sua proposta e boa para tocar no carnaval, pois o pessoal dançou brega ao som do carimbó. Vai entender…

    Fino coletivo que é uma boa banda em cd, ao vivo deixou mt a desejar. Mais uma vez ficou a sensação de lugar comum e cansou o publico. Foi minha decepção.

    E Panico foi simplesmente sensacional. Ao vivo eles crescem tanto em musica e performance, sendo que tudo mt sincero, sem apelação. Rock de primeira com pegada punk e eletronica. Vocalista performatico e carismatico. Excelente!!!

  11. Posted 7 de fevereiro de 2008 at 11h29 | Permalink

    Achei mais fraco. Aguardei ansiosa pela Fino Coletivo, mas fizeram um show mt burocrático. Eles tem bom material pra show e nao sei pq nao rolou legal.

    Então, so destaco mesmo o show da Panico, pois ja tinha sacado o som deles no myspace, mas ao vivo virou outra banda, e que banda! Putz, até agora to besta que vi um show desses e de graça. Valeu!

  12. OutOfBody
    Posted 7 de fevereiro de 2008 at 15h16 | Permalink

    gostei do Panico, boa performance do vocalista
    soa bem atual o som

  13. Um cara
    Posted 8 de fevereiro de 2008 at 4h18 | Permalink

    Firebug foi mt bom!!
    é ska dos bons!! ska eh eh uma variação do reggae
    o ska nasceu do reggae ! o ska eh um reggae acelerado
    ritimo jamaykano!
    abraços!

  14. Diogo paranóia
    Posted 8 de fevereiro de 2008 at 9h27 | Permalink

    ao contrário irmão..o reggae que nasceu do ska.. hehehe

  15. joão do ibura
    Posted 8 de fevereiro de 2008 at 10h19 | Permalink

    Não passei pelo recife antigo nesse dia, pois fui assistir os shows de olinda e do polo ibura, contudo, pelos comentários parece que foi a melhor noite do rec beat. Portanto não me arrependo, pois concordo com RicardoB no que diz respeito ao show de OTTo, considero o melhor que vi no carnaval. Agora seria bom a prefeitura do Recife arrumar meios de minimizar a demora dos shows nos polos descentralizados, pois o último desse dia no polo ibura terminou já amanhecendo, digo, o penultimo, pois ainda tinha aquelas orquestras de frevo que quase ninguem fica para assistir.

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