RESENHA: Nuda – EP Menos Cor, Mais Quem

Por Hugo Montarroyos em 21 de maio de 2008

Nuda - EP Menos Cor, Mais Quem

Nuda – EP Menos Cor, Mais Quem (SMD/Independente)

Escute: Nuda – Colibrilho
[audio:http://media.trama.com.br/tramavirtual/mp3/m_48/241938.mp3]

Pode parecer fácil, mas muitas vezes é uma tarefa inglória “traduzir” uma obra musical para os leitores. Sobretudo se tal obra dialoga com elementos à primeira vista tão díspares e de encaixe tão inusitados numa primeira audição. Com o Nuda e seu EP “Menos Cor, Mais Quem” sinto a obrigação de recorrer a dois termos de caráter um tanto “sofisticado”, ou pelo menos, assim como o grupo em questão, longe do usual: HISTOLOGIA – Anatomia microscópica de tecidos e órgãos; estudos dos tecidos orgânicos. E HISTOGÊNESE – (Embriol.) – Formação e desenvolvimento dos diferentes tecidos do embrião.

Agora vamos trocar em miúdos. Ou ser reducionista mesmo, já que o trabalho da gente muitas vezes – quase sempre – é reduzir o trabalho alheio em algumas poucas definições, em sua maioria equivocadas. Pois aqui vai mais uma: imagine se Thom Yorke tivesse nascido no Brasil, ou formado o Radiohead após ser influenciado pelos ritmos brasileiros. O Nuda é mais ou menos isso.

Lançando mão de um lirismo assustador, com letras que beiram a perfeição, o Nuda parece uma banda formada por gente que leu muito, e no caso não se limitou “apenas” à leitura de partituras. Alguns exemplos: em “Colibrilho (Gota e Muda)”, em que uma guitarra bem fase Radiohead-The Bends se faz traduzir em MPB, extrai-se o seguinte verso: “eu quero o brilho de um colírio clarear o sou do ser do vão de ver”. E a coisa não fica “só” nisso.

Em “Deus, Às Estéticas”, canção que reúne no mesmo “mói” (palavra tão cara ao grupo) Jair Oliveira e novamente Thom Yorke, eles dizem: “e ela passa devagar no compasso de me ter a divagar/ puta e santa em furta cor de invadir o mais furtivo invasor/ com ela eu sambo em qualquer tom cinza-azul ou Tom Jobim”. Já deu para perceber que não estamos diante de uma banda qualquer, mas de um grupo que trabalha suas letras com tanto carinho como trata de seu som.

Se suas letras são sofisticadas, sua música é ainda mais difícil de ser classificada. Porque a generalização, o recorte de um Thom Yorke abrasileirado ainda é muito pouco para traduzi-la. Aí vem “Duns”, para confundir ainda mais com um baião com nuances de (de novo!) Radiohead. E outro acerto literário, talvez o maior deles: “do par, a parte que te cabe não me cabe tocar não/ pra que de arrebanhar o vasto se eu já desvendo encanto à imensidão”.

Todas as composições são da dupla Rapha (voz e guitarra) e Scalia (bateria), e é de fato assustador o manancial de repertório lingüístico e musical que o Nuda apresenta nos pouco mais de 22 minutos do EP. E, como eles não partilham da cartilha da obviedade, optam por abrir o disco com sua faixa mais fraca, “Alumia”, que pode perfeitamente afugentar o ouvinte da viagem que seria prolongar a audição deste “Menos Cor, Mais Quem” em todo o seu percurso. Deixe passar a estranheza que causa a faixa de abertura e se permita se aventurar pelo todo.

Afinal, o Nuda não é apenas um Thom Yorke brasileiro. É também… Ou seja, para decifrá-lo, seria necessário um exercício de histologia e de histogênese. Às vezes é melhor aproveitar sem tentar decifrar…

Cotação – ótimo

www.myspace.com/sitionuda

Nuda

5 Comments

  1. Posted 21 de maio de 2008 at 14h43 | Permalink

    Ha tempos declaro meu amor por essa banda que já é belíssima na concepção do nome, da identidade visual, das letras e das músicas, alem dos meninos serem mt gente boa, esforçados, instigados e tem um espírito de união e brodagem que não se encontra em mts bandas.

    A principio tem pessoas que estranham o seu som, justamente por tamanha originalidade e personalidade, aliados a criatividade e talento. As suas músicas entram na alma, arrepiam de tão belas. Eles vão longe!!!

    E uma dica: assistam o show deles que é foda! So faltou falar da (particularmente) melhor música: Fato mamado vado! Parabens galera, vcs merecem todo reconhecimento.

  2. Posted 21 de maio de 2008 at 16h27 | Permalink

    esvreveu bem hugo, botou quente!!

    e sem dúvida, “fato mamado vado” é a melhor música.

  3. Gabriel Caetano
    Posted 22 de maio de 2008 at 9h11 | Permalink

    O Hugo não gosta de reggae! O Hugo não gosta de reggae! hahah
    Parabéns pelo texto, mô véi. Espero que ainda volte a estudar lá com a gente.
    Abraço. :)

  4. Petra Lopes.
    Posted 22 de maio de 2008 at 12h00 | Permalink

    Impossível não se derreter em elogios a NUDA , mesmo que disfarçados em palavras de critico/profissional.
    A resenha definiu bem o que eles são mesmo.

    Parabéns pela resenha e parabéns a banda que é incrível.

  5. Alcides Vespa
    Posted 23 de maio de 2008 at 12h43 | Permalink

    A primeira vez que vi essas caras tocando me senti “nu” de tudo que ja tinha ouvido e visto, e olha que era o 3° ou 4° show deles. Assisti tudo muito impresionado e tive a certesa de que estava ali uma banda muito bem vestida de sua propria criação. Acho que quase um ano depois minha convicção instantanea pela surpresa encontrada naquele dia se justifica nas muitas manifestações de reconhecimento.
    Saúde amigos, à boa música!

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