O terceiro (e último dia) do Mada foi tomado pela expectativa criada em torno da apresentação de Mallu Magalhães. A principal pergunta que pairava entre os jornalistas era: será que vai dar gente? Qual será o grau de apelo dela com o público. Respostas: deu muita gente, mais até do que nos shows de Lobão e do Pato Fu. E a menina é mesmo um fenômeno.
Mallu Magalhães é uma criança prodígio. Como todos os precoces, parece viver em um mundo paralelo, particular. Às vezes dá a impressão de que sua idade mental beira os nove anos. E é isso que acaba desarmando todo mundo. Depois do show dela, resolvi cumprimentá-la. “Oi, Malu!” Ganhei um abraço forte no pescoço, desses que as crianças dão em sua mais pura inocência. “Gostei do seu show”. Novo abraço, agora acompanhado de um sorriso de orelha a orelha e de um “brigada” que parecia sair de uma menina de menos de nove anos até. “Você vai tocar no Recife dia 29 de setembro, né?”. “É”, ela responde. E depois começa a protestar. “Mas 29 de setembro é meu aniversário!”. O produtor dela me corrige e diz que as datas são 19 e 20 de setembro”. E ela começa a entregar o jogo, falando e pulando feito criança que ganhou uma bicicleta: “eu e o Marcelo Camelo já estamos ensaiando algumas coisas. Está ficando bem legal”. Pois é…Além do show dela, Mallu Magalhães vai dar uma canja com Marcelo Camelo. Pelo que vi da apresntação dela em Natal, tudo indica que o show dela no Teatro da UFPE vai ser arrasador. Quer saber? Quero que minha filha (se tiver uma um dia) seja igual a Mallu Magalhães.
Voltando um pouco no tempo: a grande surpresa da noite acabou sendo a banda de abertura, a ótima Rosa de Pedra, de Natal. Com predominância feminina (uma rabequeira muito boa e um cantora idem), alfaia e som de raiz misturado com guitarras, tinha tudo para dar errado, para ser mais um clone mal feito de Chico Science e do Mestre Ambrósio. Mas não é. A banda mergulha ainda mais fundo nas tradições caboclas, e tem até a manha de chamar ao palco três dançarinas de música regional que despejam catimbó por todos os poros. Catimbó de verdade, desses que só encontramos nos terrenos de canbomblé. Verdadeiro trabalho de pesquisa antropológica. Foi bonito de ver, e muito bem recebido pelo público presente. Merecido.
Deu pena dos paraibanos do Sem Horas, que tocaram na seqüência. Mostrando uma empolgação digna de quem está em cima de um palco, a banda teve diversos problemas técnicos. Na música de abertura o microfone do vocalista pifou, o que foi suficiente para deixar a banda nervosa e desestabilizada. Uma pena, pois trata-se daqueles grupos de rockabilly ingênuo que em condições normais teria tudo para fazer um belo show. Não às toa, só relaxaram no final da apresentação, com a ótima versão para “Papai me Empresta o Carro”, de Rita Lee.
Depois foi a vez da carioca Macanjo imitar o Los Hermanos até não mais poder. Naipe de metais igual, vocal igual, temáticas iguais…uma das músicas chama-se simplesmente “Arlequim”. Precisa dizer mais? O Rio de Janeiro, definitivamente, é hoje o túmulo do rock.
Aí veio mais uma banda na linha “bonitinha mas ordinária”. Era a Falcatrua, das Minas Gerais. Sei que é um trocadilho fácil, mas o nome da banda é diretamente proporcional à música que produzem. Começa parecido com Kid Abelha, depois lembra Titãs, e quando acham que não podem se parecer com mais ninguém, tocam covers de Tim Maia. Ok, são bons músicos, o som do palco estava ótimo, o show foi profissionao. E daí? E a criatividade? Vergonhoso…
E veio o fenômeno Mallu Magalhães. E ninguém mais tirou os olhos do palco. E a menina só tem 15 anos! E é de uma espontaneidade absolutamente desconcertante, o que talvez explique boa parte de seu sucesso em tempos de tamanho cinismo e de artistas completamente pré-fabricados e embalados para o consumo. Ali está uma garota de 15 anos que nitidamente toca sem a menor direção musical ou de palco. E é aí que reside todo o seu apelo. Além de um talento monstruoso. Tanto que a banda que a acompanha mais atrapalha do que ajuda. Ela entra em cena, fala ao microfone e nada de sua voz sair. Quando sai (a voz), diz que vai começar tudo de novo. Volta ao backstage, entra de novo em cena, dá boa noite e apresenta a banda. Depois disso foram cerca de 45 minutos de folk de alta qualidade. A menina é simplesmente sensacional, possui uma voz maravilhosa e é de fato talentosíssima. Desarma qualquer um. Espero sinceramente que ela não seja estragada pelo showbizz. E, no fim das contas, é muito bom saber que a nova referência da gurizada é uma guria que tem como referências Bob Dylan e Johnny Cash. Boa sorte, Mallu!
Depois foi a vez do Cordel do Fogo Encantado. E com ele veio um temporal tão grande, mas tão grande, que não deu para ver mais nada. Nem o show do próprio Cordel (que tem um público bem relevante em Natal), nem o americano Josh Rouge (uma pena) e muito menos Seu Jorge (obrigado, chuva!). Juro que queria ter visto o Montage encerrar a noite, mas era impossível. Só deu para entrevistar Lirinha e Gutie (novo empresário de João do Morro) e tentar sobreviver ao toró que caía na capital potiguar. Às vezes Lirinha irrita…
No mais, a impressão geral do Mada não foi das melhores: é tanta banda ruim se apresentando que qualquer show mais redondinho acaba tomando ares de sobrenatural. Ou seja, a verdade é que muita gente não merecia tocar naqueles palcos. Talvez a solução fosse uma curadoria, porque o critério de seleção das bandas revela uma amadorismo incrível. Tomara que melhore em 2009…
10 Comments
O 3o dia foi realmente muito bom
Nossa primeira headline saida da internet é mesmo um fenomeno. Agora, sinceramente, ela esconde a falta de maturidade em todos os sentidos num teórico conceito pra qual a fatia do críticos conceito diz ameem.
É um saco essa linha caretinha de achar tudo q é esquisito o máximo…o povo previsível.
O Cordel é fantástico, o Lirinha único.A parte que te irrita é onde o conceito e o público se encontram. Pois é, o natural é tudo acontcer de vez enquando né?! Sem vigílias.
Rosa de Pedra achei bem legal, mais um feliz representante da nossa cultura nordestina e distante de chcio e cia.
Sem horas, sem dúvida honesto mas q mais?
Macanjo. Não que eu tenha achado grande coisa mas comparar com o Os Hermanos na voz e nipe é ignorancia demais.O cara canta agudo, sem teclados e trombone… essa veio do Google né?!
Falcatruas representa mesmo um rock 80 mas bem honesto. As composiç˜eos transitam bem entre o pop/rock/ e até na leveza q tanto falata nesse bando de carranca do underground.Ordinária? Tipo Familiar? Q bom então né?
Seu Jorge um puta representante de um vislumbre de renovação da nossa Mpb.
Depois de 5 hs em pé fui vencida pelo cansaço ..Ah..não pela chuva.
essa falcatrua é uma das piores bandas do mundo. verdadeira falcatrua sonora
Então quer dizer que Mallu Magalhães fes um show redondinho e vc teve a impressão de ser sobrenatural?
hugo seu pedófilo!!
;)
Opa!
Muito legal a sua crítica sobre o Rosa de Pedra. Sou uma das tais bailarinas e dirijo a companhia que fez essa participação especial (e por sinal, sou jornalista também hehe). Acredito que você foi bastante sensível à nossa intenção artística. Trocando em míudos, pode-se dizer que você captou bem o espírito da coisa!
Muito legal, valeu!
Nada de bom no terceiro dia…
cordel só fez show para seus fãs ridiculos…eta grupinho ruim…
Hugo, permita-me discordar fontalmente de você quando diz que o Rio de Janeiro hoje é o túmulo do rock.
Tem muita coisa, no mínimo interessante, sendo feita por lá – principalmente de caráter mais experimental e fora do circuitão.
Pescando rapidamente alguns exemplos (se tu deres uma fuçada rocheda no myspace descobrirás bem mais coisas):
Supercordas (e projetos paralelos):
http://shroomrecords.blogspot.com/
Digital Ameríndio
http://profile.myspace.com/index.cfm?fuseaction=user.viewprofile&friendid=183511726
MoMo
http://profile.myspace.com/index.cfm?fuseaction=user.viewprofile&friendid=78867004
Pelvs
http://profile.myspace.com/index.cfm?fuseaction=user.viewprofile&friendid=119012967
Do Amor
http://profile.myspace.com/index.cfm?fuseaction=user.viewprofile&friendid=167948937
B Negão
http://profile.myspace.com/index.cfm?fuseaction=user.viewprofile&friendid=138492513
Dell Tree
http://profile.myspace.com/index.cfm?fuseaction=user.viewprofile&friendid=108148281
Novadelic
http://profile.myspace.com/index.cfm?fuseaction=user.viewprofile&friendid=185960898
Les Deux Machina
http://profile.myspace.com/index.cfm?fuseaction=user.viewprofile&friendid=115283746
Rabotnik
http://profile.myspace.com/index.cfm?fuseaction=user.viewprofile&friendid=131256584
Binário
http://profile.myspace.com/index.cfm?fuseaction=user.viewprofile&friendid=57509673
Chelpa Ferro
http://profile.myspace.com/index.cfm?fuseaction=user.viewprofile&friendid=154442103
A não ser que estejas referindo-te a uma concepção específica de “rock”…
Autoramas, Matanza, Canastra, Moptop, Jason, Rockz também são do Rio de Janeiro =) Pelas minhas contas, já tem mais bandas de rock legais que no Recife =P
Isso sem contar no projeto + 2 (Kassin, Veloso e o outro cara), Orquestra Imperial, Do Amor, Jonas Sá e outras bandas que passam pelo mesmo circuito de shows de rock.
Bruno……
Ou tu é ruim de conta ou é cabra-cega mesmo!
Sim……… faltaram os falecidos Losermanos po!!!!
ORA ORA!!!!!
Pega os melhores musicas dessas bandas e vê se da meio nação zumbi em criatividade e originalidade!!! UUURG!!
Nóis é bairrista mermo!!! E VIVA!
Corrigindo..
“pega os melhores músicos…” blablablabla
hoho
One Trackback
[…] abaixo, reproduzo parte do texto de Hugo Montarroyos, originalmente publicado no RecifeRock: O terceiro (e último dia) do Mada foi tomado pela expectativa criada em torno da apresentação […]