Cobertura: Eliminatórias Microfonia 2008 – segundo dia

Por Hugo Montarroyos em 23 de outubro de 2008

Direto ao ponto: essas foram, de longe, as eliminatórias mais equilibradas das três edições do Microfonia. Ao contrário dos outros anos, onde de certa forma era fácil apontar cinco favoritos, dava para citar pelo menos umas oito bandas que estariam tranqüilamente entre as quatro finalistas. Ou seja, não há muito a ser contestado sobre o resultado. Até porque três dos selecionados estariam na minha lista, caso fosse jurado. Colocaria apenas a A Banda de Joseph Tourton no lugar de A Comuna. Mas como as duas têm propostas semelhantes, acaba dando quase na mesma a indicação de uma ou de outra.

No mais, eliminatória é algo cruel, que nem sempre condiz com a verdade, depende de uma série de variantes e raramente é justa. Aliás, o termo “justiça” daria pando para manga para um enorme debate filosófico aqui, mas como a intenção não é essa, sejamos pragmáticos mesmo: A escolha de Candeias Rock City, A Comuna, The Keith e Voyuer foi acertada. Todas fizeram boas apresentações, souberam escolher covers que combinasse com seus perfis e mostraram uma qualidade essencial que por vezes passa despercebida: identidade. Todas eram absolutamente bem resolvidas, com propostas claras. Outro fator a ser considerado é a sorte de tocar no segundo dia. Se sua banda fizer um bom show no segundo dia, a chance dela ser selecionada é bem maior do que a de quem fez uma boa apresentação no primeiro dia. A coisa está mais forte e viva na memória dos jurados.

Comecemos com quem não foi selecionado: A Banda de Joseph Tourton faz um som interessantíssimo que mescla elementos de jazz com ritmos brasileiros, construindo uma sólida parede sonora que deixa “espaço” livre para uma guitarra preencher com “improvisos”. E, melhor de tudo, não soa hermético. Não precisa ser músico ou até mesmo entender de para apreciar o som. Existe um elemento pop ali. A versão que fizeram para Coco Dub, de Chico Science & Nação Zumbi, é tudo que se espera de um cover: burilar a música até que ela se molde ao som da banda, fazendo com que ela pareça autoral, ou que pelo menos não soe estranha ao seu repertório.

A Ilíada 1 mostrou uma série de problemas. O primeiro de organização: chegaram atrasados. Talvez por conta disso tenham ficado nervosos e renderam aquém do esperado. Mas suas canções passavam uma certa fragilidade, como se fora uma tentativa frustrada de copiar o estilo de compor do Los Hermanos. A escolha do cover também foi equivocada: “Você Pode Ir na Janela”, além de extremamente mais depressiva que o repertório autoral da banda, foi mal executada. Mas o mais grave de tudo é pedir desculpas depois do show. Uma coisa que deve servir de exemplo para toda e qualquer banda: o palco é seu, o momento é seu. Se alguém tiver achando ruim, que vá catar minhoca no asfalto. Você até pode saber que fez uma apresentação abaixo da média, mas jamais peça desculpas no palco. Pega muito mal…

Errata: o vocalista de A Ilíada 1pediu desculpas pelo atraso do show da banda, e não pela sua apresentação.

O Gigantesco Narval Elétrico dividiu opiniões no Uk Pub. Alguns acharam a melhor banda da noite. Outros, a pior. Para mim, poderia estar sem maiores problemas entre as quatro finalistas. Fazem um som psicodélico com pegada garageira, ou o inverso, dá na mesma. A versão de I’m So Glad, reverência ao Cream, mostrou-se emblemática: a criatividade acima da técnica. Fiquei com a nítida impressão de que a banda foi mal compreendida.

A Black Flowers chegou já calejada em sua segunda eliminatória de Microfonia. Fez uma apresentação repleta de todos os (bons) clichês do hard rock, mas esbarrou em um problema sério: seu vocalista fazia questão de ser a cópia fiel de Axl Rose, emoldurando todos os vícios vocais do líder do Guns N’ Roses. Talvez isso tenha pesado na decisão final do júri, embora tenham feito uma bela apresentação, com direito a cover bem sacado de “The Your Mother Down”, do Queen.

Dez anos de estrada fazem a diferença. O Ugly Boys tocou como se estivesse no quintal de casa. Apresentou seu punk simples e direto. Talvez pela crueza e simplicidade que caracteriza o estilo, fiquei com a impressão de terem o melhor som da noite. Pelo menos o mais limpo. Outra que poderia perfeitamente estar entre as finalistas.

Vencedoras:

A Comuna certamente se “beneficiou” com o fato de dois dos jurados serem músicos. Não resta dúvida de que são exímios instrumentistas. O cover de “Rock N’ Raul“, de Caetano Veloso, parecia mais um manual de intenções do tipo “temos orgulho da música brasileira”. No mais, fica nítida a influência da tropicália e do jazz. Boa banda, embora seja a de perfil mais dissonante do festival e do Abril pro Rock.

Foi bonito de ver/ouvir o The Keith. A banda até parecia já veterana. E com um vocalista com tripla qualidade: possuí excelente voz, sabe cantar e tem presença de palco. E as influências vão dos anos 60 até à geração 00 que redescobriu aquela que talvez tenha sido a década fundamental do rock n’ roll. E o cover de “Ever Fallen in Love”, do seminal Buzzcocks, beirou a perfeição. Tecnicamente o melhor show da noite. E a certeza de uma banda que ainda vai dar muito o que falar.

Verter “I Wanna Be Your Dog” em batidas “dance” com direito a latidos de cachorro como pano de fundo foi o sacrilégio (no bom sentido) da noite. O Voyeur mandou muito, mas muito bem mesmo. Ju Orange é uma senhora vocalista. A performance da banda foi incontestável (embora a enxurrada de futuros comentário aqui venha dizer o contrário). Ok, segue direitinho a cartilha do Cansei de Ser Sexy, e aí, novamente, entra o fator gosto pessoal. E, no que se propõem a fazer, são extremamente competentes. E talentosos.

Bem, sobre Candeias Rock City tudo já foi dito no texto anterior.

Parabéns aos selecionados. Aos que ficaram de fora, não desistam. À todos: continuem fazendo o que acreditam independente do que terceiros digam. Nos vemos na final.

Surpresa

E a noite ainda contou com um show-surpresa do trio Macaco Bong, que, como de costume, arrebentou em cima do palco, tocando as pedradas do seu “Artista Igual Pedreiro”.

Autalizado em 23/10/08 às 16:55

19 Comments

  1. rique
    Posted 24 de outubro de 2008 at 9h05 | Permalink

    É isso aí florinha, finalmente um comentário sensato.

  2. Criança Chorona
    Posted 24 de outubro de 2008 at 9h37 | Permalink

    Quando eu crescer eu quero morar em candeias
    UÉÉÉÉÉNNNNN!!!

  3. Posted 24 de outubro de 2008 at 10h12 | Permalink

    Po Leo, que gafe… É uma poesia de Jomard Muniz De Brito. Preste atenção em tudo que foi falado ali.

  4. gláuber
    Posted 24 de outubro de 2008 at 10h17 | Permalink

    léo ferreira, acho muito mais danoso a recife o provincianismo vigente de pessoas como você, que confundem orgulho da cultura local com complexo de vira-latas defensivo, alheio ao tanto de bem que pode trazer o que vem de fora.

  5. GB
    Posted 24 de outubro de 2008 at 11h40 | Permalink

    UH CANDEIAS AE

  6. Eduardo Tavares
    Posted 24 de outubro de 2008 at 12h44 | Permalink

    Se essa lógica de bandas ´´Candeienses´´ se aplicasse mesmo, a SEU FULÔ estaria na lista dos classificados…se isso que você falou tiver alguma relatividade, seria com bandas classificadas para as Eliminatórias….

    Enfim, não fui esse ano, por falta de interesse mesmo na proposta da parada. Acho que o lance visual/perfomance/agito do público que parece ser tão importante no rock atual não me atrae tanto.

    O lance bom mesmo foi que despertei o interesse de conhecer bandas como Gigantesco Narval Elétrico, que pelo ouvi falar curti fazer um som experimental/psicodélico/progressivo setentão e A Comuna fazendo um som para os ´´ouvidos´´ ,conquistando um espaço por aí…mesmo que poucas pessoas despertem interesse;

  7. Alexandre Morais
    Posted 24 de outubro de 2008 at 13h10 | Permalink

    Po Leo, que gafe…[2]
    No dia que Bohemia Wisse for importada, você me avisa!!!
    E outra coisa, cerveja nacional no geral é uma bosta, vou te dar uma dica, toma umas belgas que são as melhores do mundo, a minha preferida é a Leffe!!!
    Sobre a roupa, espero que você não tenha um tênis adidas(alemão), all-star(americano), nike(americano)… e só use sapatos de marcas tipo bical(Brasileira), Olympikus(Brasileira), Penalty(Brasileira), roupas rota do mar… essas marcas nacionais, viva seu protecionismo.
    Quando for falar de algo, tenha ciência!!!

  8. Sérgio Santos
    Posted 24 de outubro de 2008 at 14h31 | Permalink

    Adianto que nada tenho contra as bandas selecionadas, e que meu texto não tem relação com elas. Pelo contrário, tenho o maior respeito pelo esforço dos músicos. Quem já tocou, como eu, sabe como são difíceis as coisas nessa área.

    Geografismos e utensílios da cozinha (panelas) à parte, uma pergunta básica:

    Onde estão as bandas de metal dessa querida cidade?

    Será que elas estão tão ruim das pernas (e dos braços) assim?? Não basta o preconceito dos editais e eventos públicos da cidade?

    Acompanho alguns eventos que eventualmente rolam na cidade, mas a minha impressão é de que os espaços para bandas de metal têm caído bastante.

    Enquanto isso a gente tem que lidar com uns “vanguardismos” que são apenas tediosos.

  9. Tina
    Posted 24 de outubro de 2008 at 14h54 | Permalink

    Talvez nao tenha compreendido bem o comentário geral acerca das bandas que tocaram na eliminatória, mas gostaria de enterder como se pode criticar negativamente uma banda por tentativa de frustrada de cópia(Ilíada 1/Los Hermanos) e elogiar outra quando esta fez a mesma coisa(Voyeur/Cansei de Ser Sexy)? Quando se escolhe um estílo, nos dias de hoje, é inevitável a comparação de algo já existente. Todas as banda fizeram o que se proporam e muito bem. O instrumental da primeira banda foi impecável, mas como dizer que “eu quero ser seu cachorro” não seria depressivo? Vamos entender hein?

  10. Eduardo Tavares
    Posted 24 de outubro de 2008 at 15h26 | Permalink

    faz sentido, Tina.

  11. Paula
    Posted 24 de outubro de 2008 at 15h32 | Permalink

    A galera quer arrumar mesmo o q falar, haha.

  12. Posted 24 de outubro de 2008 at 15h38 | Permalink

    Sérgio Santos, tu reclama de preconceito e ao mesmo tempo fala desses “vanguardismos que sao apenas tediosos”. Pra mim isso é preconceito da mesma forma. É bom fazer uma auto-análise antes de analisar os outros, cara.

  13. .
    Posted 24 de outubro de 2008 at 18h22 | Permalink

    vão arrumar uma balaio de roupa pra lavar. q falta do q fazer. mais de 40 comentários sobre… NADA! HUAHUAUAHUA

    recife da vontade de morrer mesmo

  14. geovanni
    Posted 24 de outubro de 2008 at 21h22 | Permalink

    Ei, ai ta certo, tinna falou e disse. Acho q essa ai tu devia explicar Hugo Montarroyos.Please!!!!! Ate eu to curioso pq faz sentido> Valeu.

  15. Posted 25 de outubro de 2008 at 11h33 | Permalink

    eu toco flauta no iron maide. cheguei lá bem tarde mas tinha muita menininha bonitinha por lá. lá tava massa. achei muito FOOOODA as banda. certamente fiquei um pouco decepcionado porque a iron maide não foi classificada pra eliminatoria lá.

    mas ano que vem eu tô aí. vou me mudar pra barra de jangada ou praia do xaréu, pra ver se eu vou mais longe do que o pessoal de candeias.

    inté brasil!

  16. Sérgio Santos
    Posted 25 de outubro de 2008 at 14h24 | Permalink

    Raphael,
    longe de mim ser preconceituoso, o que eu quis dizer (e que não ficou claro), é que vez ou outra surgem bandas e artistas caracterizados como geniais, quando na verdade estão bem longe disso. Por outro lado, não nego que essa é uma análise bastante subjetiva.

    O que eu não admito é aceitar algo como genial só porque a imprensa diz que é.

    (Curioso perceber que hoje em dia é fácil ver uma banda de brega tosca tocando em barzinho de universitário pseudo-cult.) É mais ou menos nesse sentido que eu falo.

    Repito que não me refiro a nenhuma das bandas classificadas.

    abraços

  17. Henrique
    Posted 27 de outubro de 2008 at 11h02 | Permalink

    Uma outra visão do Microfonia, por Ney Hugo, para o portal fora do eixo:

    http://www.foradoeixo.org.br/noticia.php?id=579

  18. Felipe
    Posted 27 de outubro de 2008 at 15h18 | Permalink

    Infelizmente tá fora do ar!

  19. Posted 29 de outubro de 2008 at 12h51 | Permalink

    Como estou por fora, Jésux! Mas as confusões e briguinhas continuam as mesmas, hein? Ê-la-iá!

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