Bandas locais fazem um festival decente e dão tapa de luva nos corneteiros da “cena” recifense
*Por John Heinz
Para quem estava sentindo falta de uma cobertura d’A noite do desbunde elétrico, o RecifeRock! tomou tenência e mandou esta criança aqui conferir a terceira edição do festival, que rolou neste sábado, no Armazém 14.
O Armazém tava daquele jeito de sempre: um galpão no Cais do Recife, som sofrível no começo – que vai melhorando aos poucos – e, desta vez, com o adicional das goteiras das chuvas que caíram durante a noite. Muito embora tudo isso, e a noite de opções na cidade (Reggae no Português, alguns shows de rock espalhados, e claro, o Rei no Chevrolet Hall), o público pagou para ver e compareceu em bom número.
Foi nessa molhadeira que as cortinas se abriram para o Sabiá Sensível e sua festa dos bichos. As impagáveis imitações de todo tipo de ave e as declamações poéticas de Anaíra Mahin poderiam ser só um fetiche, mas tem mais coisa nesse viveiro. Os Sabiás tem composições criativas, muita descontração na apresentação e uma tal de uma música da Capivara, que em muito lembra o meu conterrâneo Falcão, aquele do brega. Divertido e original como poucos nesse Recife complexado. Um pequeníssimo detalhe, só sobre a coordenação das três vocalistas no palco, que por vezes deixa o som um pouco estridente. Nada que não possa ser superado.
Em seguida, os ‘Kinks’ do Mangue, Canivetes. Duvida? O terninho estava lá. O Power chord estava lá. Cerca de 200 pessoas, com direito a menininhas dançando na beira do palco, tudo estava lá. Ray Davies? Bem, Ray não estava, mas a dedicação do vocalista Marcionílio Jr e do guitarrista Juvenil compensaram a perda e fizeram um bom show. Banda redonda em cima do palco. Nem precisaram tocar muito do segundo disco, “Segundas Intenções Estão Sempre em Primeiro Lugar”. A maioria do repertório foi de músicas ainda não registradas em cd, algumas a pedido do público. A empolgação dos rapazes era visível.
Jean Nicholas dispersou um pouco o público no começo, mas seu folk não decepcionou o velho Zimmerman. Pelo contrário. Fez uma apresentação bonita de se ver, acompanhado por uma ótima banda. Num momento de consolidação do estilo, Jean vem fazendo um trabalho de respeito. Fora a carreira solo e a função de vocal n’Os Insites, participou da coletânea MySpace Heroes e do documentário “Nas Paredes da Pedra Encantada”, sobre o lendário disco “Paêbirú”. Em conversa no backstage, falou também da inserção em outros tipos de público, e da mobilidade que esse formato de apresentação oferece, pelo fato de não precisar de muita estrutura. Às vezes é só ele, a gaita e o violão.
Depois de Jean, Cabelo de Sapo. Confesso que foi sofrível acompanhar o show deles. Uma boa banda não é feita só de músicos bons tecnicamente falando, ou de músicas sobre Recife e Olinda. Faltou atitude, presença de palco. Eles mesmos pareciam não acreditar no som que faziam. Não convenceu nem empolgou.
Já era Dia das Mães quando entrou o Love Toys. Por vários motivos, o Love Toys é uma banda única no cenário de Recife. Seja pelo fato de cantar em inglês, pelo rock sujo, pelo vocal, pelo estilo… Além da qualidade, esbanjam disposição. A galera correspondeu e formou uma roda de pogo que durou o show inteiro. Se você gosta de rock e ainda não botou o Love Toys na sua lista de melhores bandas pernambucanas, tá na hora de colocar.
A chuva comia lá fora quando veio o Gigantesco Narval Elétrico, que muita gente viu, mas pouca gente entendeu. É o preço do rock psicodélico: ninguém é obrigado a entrar no clima e ser lisérgico. Quem quis entender mesmo, se juntou no pé do palco, como o próprio Jean Nicholas e Zeca Viana na sua enésima despedida. Palmas para o estilo, que anda ganhando espaço, vide Ex-Exus e Burro Morto (PB). Na minha opinião, eles tem muito a cara do Recbeat. Não seria estranho vê-los na edição do próximo carnaval.
A boa surpresa ficou para o final. Quase três da manhã, estava eu sentado na lateral do palco, acompanhando a preparação da última banda da noite, o Dunas do Barato. Escondida atrás das caixas estava a figura franzina da vocalista Natália Meira. Sem esconder o nervosismo, ela bebia litros e litros de água. Já temia pela saúde da menina, quando enfim eles começaram a tocar, naquela que seguramente seria a melhor apresentação da noite. Diego Firmino, Rodrigo Padrão e Gilvandro formam uma banda acima do padrão, em técnica e em feeling. As composições são consistentes, tanto da parte de Juvenil, aqui trajado numa infame fantasia de Presto, do desenho Caverna do Dragão, quanto da tal menina franzina que precisava de um caminhão-pipa antes do show. O desempenho dela é uma coisa à parte. Afinadíssima, o sentimento que ela coloca nas canções é comovente. No que a sua timidez permite, conversa com um e com outro amigo-tiete na beira do palco. Timidez que constrasta com o “atrevimento” da excelente execução de Superbacana, de Caetano Veloso. E eu fiquei procurando o motivo de tanta insegurança minutos atrás…
No geral, a lição mais importante do “A Noite do Desbunde Elétrico” foi a de como não ser soberbo no mundo da música. Foi um festival “real”, viável, sem extravagâncias. Nada de superpatrocínio do Estado, nem de dezenas de roadies fazendo todo o serviço, nem camarins de mil toalhas brancas. Tinham, sim, bandas carregando o próprio equipamento, trabalhando na produção, cuidando das entradas, dividindo o caixa. A prova maior de que não adianta ficar esperando um empresário mágico bater na sua porta e fazer tudo por você e sua banda.
Quanto à qualidade das apresentações, estamos servidos de bons grupos por aqui, alguns que com certeza teriam/terão destaque nacional. Isso passa, no entanto, pela valorização destes grupos e pelo fortalecimento da cadeia de cultura, inclusive para permitir a vinda de bandas “de fora”. Ter shows magníficos de fora é excelente, mas as big bands de hoje um dia não foram ninguém, e só puderam ser alguma coisa pelas oportunidades conseguidas nos seus lugares de origem. Ninguém nasce gigante. E, melhor do que sustentar os grupos gigantes é permitir que novos grupos gigantes, médios e pequenos apareçam.
4 Comments
Uma pena que tenha sido no msmo dia do show da Profiterolis, n pude ir, tomara q aconteça outros shows com o desbunde, pois quero muito ver, parabéns a galera que fez e faz o Desbunde.
sobre o comentario da banda Cabelo de Sapo, os caras tava sem um componete que perto do show saiu da banda, talves por isso essa morgaçâo toda. E outra o som da guitarra não tava saindo legal, no palco tava saindo distorção mas no PA não.Mas mesmo assim concordo com o comentário do recife rock. puf.
vi gente grauda no show prevendo que a
cabelo será a próxima aposta de muitos festivais ano que vem e que a banda é um das mais promissoras da nova safra e pode esperar que ano que vem só dá a cabelo na área! Não entendi a bronca com os meninos eles detonaram no armazem!
po, o cara reclamando de novos baianos, caetano, gal… e pedindo rock and roll?
quando isso que vc provavelmente acha que é rock estava chegando com o milho, novos baianos, caetano, gal, lanny gordin já estavam indo com o fubá, bolo, o caralho a quatro!