Cobertura: No Ar: Coquetel Molotov 2009 – Primeiro dia

Por Hugo Montarroyos em 19 de setembro de 2009

(Os shows do Auditório Tabocas serão escritos por Breno Mendonça)

Para quem acompanha a história desde o início, em 2004, é impressionante o quanto o No Ar: Coquetel Molotov cresceu desde então. Goste-se ou não da programação, é inegável o crescimento do festival durante esses anos, principalmente no  quesito estrutura (luz e som impecáveis em todos os shows)..  Sem contar que o Beirut fez uma apresentação histórica ontem. Aliás, a banda é um caso à parte. O raro fenômeno de grupo que estoura entre a molecada porque é, de fato, muito bom. O show de ontem serviu para dissipar qualquer vestígio de dúvida em relação a isso. Mas o mais bacana de tudo é que o “No Ar: Coquetel Molotov” começou na segunda-feira passada, com a excelente “Mostra Play The Movie,” no Teatro Apolo, que exibiu filmes de alta relevância e boa parte ainda inédita por aqui. Além de vários debates sobre temas que giram em torno do mercado musical e um pocket show ao final de cada dia.

Entre o filmes exibidos, os destaques e atenções ficaram todos com o emocionante “Loki”, sobre a vida de Arnaldo Baptista, e “Guindable – A Verdadeira História dos Ratos de Porão”. Ambos fizeram com que o público lotasse o Teatro Apolo. “Loki” deixou todo mundo com um nó na garganta, e não foram poucos os que choraram. Não é pra menos. Trata-se da história de alguém que enlouqueceu e conseguiu voltar. Se “Loki” entrar em cartaz no circuito comercial, não perca, pois é uma experiência única escutar e ver Mutantes no cinema.

Já “Guindable – A Verdadeira História dos Ratos de Porão” é um registro corajoso em que todos os músicos que passaram pelo Ratos de Porão passam a limpo suas histórias, falando com franqueza sobre temas espinhosos como envolvimento com drogas e passagens pela polícia. Um dos trechos mais hilários mostra a banda fazendo playback de “Sofrer” no “Milk Shake”, programa de 1991 apresentado por Angélica, e no Programa do Gugu”.

Outro filme que merece registro é “Ruído das Minas – A Origem do Heavy Metal em Belo Horizonte”, belo documento que traz imagens raras do Sepultura tocando em início de carreira, quando Max tinha 16 anos e Igor, 14. Paralelamente, é contada a história do selo “Cogumelo” e de bandas como Overdose, Sarcófago, Chakal e tantas outras. E, também, do mal estar que o sucesso do Sepultura acabou gerando nas bandas daquela geração.

Entre os shows, só consegui ver o do excelente grupo cearense “O Garfo”, que está em turnê de divulgação do novo (e recomendado) ep, “Epizod”.

Só por essa Mostra Play The Movie o pessoal do Coquetel Molotov já merece todos os aplausos do mundo. Evento bem organizado que contou com exibição de filmes inéditos no circuito comercial da cidade, debates e shows. E tudo de graça.

Mas essa mostra foi “apenas” um pequeno aperitivo para o que viria depois. A organização acertou na mosca ao mudar o festival do Teatro da UFPE para o Teatro Guararapes. Porque o público praticamente dobrou desde o ano passado. Gente que trabalha com música há quase três décadas dizia que nunca viu o local com tanta gente. Tanto que o “pré-show” do Beirut foi um show à parte, com o apresentador desesperadamente pedindo ao público para sentar e não invadir o palco. Foi preciso um cordão de isolamento para garantir a segurança da banda e do público. Chegou um momento em que pensei que o desastre seria inevitável. Mas, como bem disse o jornalista baiano Luciano Mattos, o show de Salvador serviu como laboratório para as demais apresentações do Beirut.

Mas a noite começou em clima bem mais sossegado, com o bom show do percussionista Jam da Silva. Talentoso, Jam teve a ousadia de colocar cuíca para dialogar com a música eletrônica. E conseguir – coisa rara – passar a impressão de fazer aquilo com a maior naturalidade, sem forçar a barra. Escudado por um belo time que contava com Garnizé (ex-baterista do Faces do Subúrbio) e Areia (baixista dos mais requisitados da região), Jam levou um público seu para o festival, e acabou conquistando a outra metade da platéia. Entre as boas composições, destaque para “Dia Santo”, parceria dele com Isaar. Os mais maldosos chegaram a sugerir que Jam da Silva seria uma espécie de “Carlinhos Brown indie”. A comparação é injusta, e Jam provou ontem que é possível estabelecer uma relação entre o armorial e a música contemporânea sem cair na cilada de fazer música “para inglês ver”.

Depois veio um show que dividiu opiniões: Thiago Pethit e Tiê. E a coisa foi confusa. Porque, se Tiê realmente comprova que tem talento e é boa compositora, é nítido que ela ainda é muito verde no palco. Seu show, assim como o de Thiago, foi muito bem recebido pelo público, mas deixou uma sensação de vazio. O palco parecia enorme para ela. Tanto que ela encerrou o show meio desajeitada, sem saber ao certo o que fazer, típico de quem ainda não está acostumado a tocar em grandes palcos. Esperava bem mais.

Já o francês Sebastien Tellier soube explorar cada centímetro do palco com muita propriedade. Dono de uma presença forte, misturou camadas de dance music com um quê de rock. E foi justamente esse “quê de rock” que fez toda a diferença. Tocou guitarra como se estivesse entregando a sua alma ali, e nem o fato de solar deitado em posição fetal fez a coisa parecer ridícula. E isso tem uma explicação: havia uma música muito poderosa que preenchia cada lacuna do teatro, o que dividia as atenções com os malabarismos de Tellier. E, quando a música chama mais atenção do que qualquer trejeito histriônico, é porque não estamos diante de uma sonoridade qualquer. Sebastien Tellier encerrou o show ao piano, e foi impressionante como ele conseguiu dar um sotaque “dance music” tocando um instrumento absolutamente tradicional. Belo show.

E aí veio o Beirut. E, com ele, uma boa dose de desespero dos seguranças, da produção e do apresentador. Tudo levava a crer que terminaria em desastre. Todas as regras foram quebradas: cadeiras foram pisadas, bebidas e cigarros consumidos no teatro. E, talvez, justamente por conta disso, a coisa não descambou para a violência. O show inteiro transcorreu sem incidentes, e a banda, de ótimo astral, fez um baita show.

O Beirut me parece um dos raros casos de sucesso que se justifica pelo talento, pela música. Porque, por mais que o Beirut esteja estourado por causa da MTV, novela, filme, comercial ou seja lá o que for, a verdade é que a banda é incrivelmente boa. E seria da mesma forma se fosse um grupo underground conhecido apenas por meia dúzia de gatos pingados. Ontem, vi, música a música, que todo o frisson da molecada em torno da banda é justificável e absolutamente compreensível. Desde a abertura, com “Nantes”, passando por “Postcards” e “My Wyfe”, o que se viu foi um show perfeito, sem falhas, com o público cantando todas as letras do grupo. Até a versão desajeitada para “Aquarela do Brasil”, de Ary Barroso, soou legal e espontânea. O som e a iluminação estavam perfeitos. Os caras estavam num astral fantástico. O público era todo deles. Tinha como dar errado? Após o show, uma menina invadiu o palco para dar uma rosa para a banda, gesto que explica melhor do que mil palavras o que foi a apresentação do Beirut Espero, sinceramente, que você não tenha perdido.

15 Comments

  1. Posted 19 de setembro de 2009 at 15h58 | Permalink

    Boa cobertura
    acho q a melhor q eu ja vi

  2. Emannuel Alves
    Posted 20 de setembro de 2009 at 0h49 | Permalink

    Boa cobertura
    acho q a melhor q eu ja vi aqui no reciferock [2] imparcial e justa. parabéns

  3. Posted 20 de setembro de 2009 at 8h27 | Permalink

    Cobertura otima,que show maravilhoso pois todas as pessoas que passaram por lá estavam entregues a mutidão que fo prestigiar o maravilhoso espetáculo da musica em variados estilos. Adorei ,vibrei …….

  4. Posted 20 de setembro de 2009 at 8h45 | Permalink

    amei

  5. diogo
    Posted 20 de setembro de 2009 at 18h49 | Permalink

    entrou um cara fumando maconha do meu lado pô

  6. gabriel
    Posted 20 de setembro de 2009 at 19h27 | Permalink

    e vc pediu um pega?

  7. Posted 20 de setembro de 2009 at 20h10 | Permalink

    Foi tudo mt lindo!!! Incrivel como o festival cresceu, eu que tambem acompanho desde o inicio, aquele show com o Teenage Fanclub. Estão de parabens!!! E fiquei chocada com o guararapes lotado!

    So tenho uma queixa: porque o show do Sebastien Tellier foi tão curto? Como trazer uma cara genial desses, vindo la da França, e so permitir pouquissimo tempo para ele? Vacilaram nisso, apenas.

  8. Posted 21 de setembro de 2009 at 10h45 | Permalink

    Infelizmente perdi, mas gostei muito da cobertura do hugo. Agora, gostaria de saber porque esse evento somente ocorre em teatros, isso termina limitando a curtição dos shows, acha que já está na hora de fazer o festival em um lugar como o pavilhão do centro de convenções.

  9. Posted 21 de setembro de 2009 at 14h26 | Permalink

    e a loirinha que organiza o festival…..uhhhhhh

    que loucura de gata!!!

  10. Posted 21 de setembro de 2009 at 16h58 | Permalink

    o pavilhão do centro de convenções é ruim, joão. o abril passou uns 5 anos lá e só piorou com o lugar. deixa a galera no teatro mesmo. parabéns ao molotov desse ano!

  11. Posted 21 de setembro de 2009 at 17h53 | Permalink

    Boa cobertura!
    E, realmente, não perdi o Beirut! Uffa!
    :D

    Muitas felicitações ao pessoal do Coquetel.
    Enxergo muita competência nesse projeto!

  12. Posted 24 de setembro de 2009 at 14h37 | Permalink

    nossa gostei mt da cobertura!
    e eu estava la no primeiro dia!
    foi realmente perfeito!
    simplismente inesquecivel!
    nao so pelo lindo show do Beirut mais por td a
    programacao!

    foi inacreditavel!

  13. Perfect Stranger
    Posted 25 de setembro de 2009 at 18h00 | Permalink

    Só quero ver depois quantas bandas de RECIFE vão tocar na SUÉCIA !!!

  14. Posted 26 de setembro de 2009 at 5h04 | Permalink

    Rapaz as bandas Recifenses fazem várias turnês européias mais exige um pouco da ralação de cada uma um exemplo é a Nação Zumbi que só vive fora ,outro exemplo é o Cordel do Fogo Encantado,Devotos vai agora para Europa em 2010 temos é que agradecer os festivais por darem ao público de Recife oportunidade para ver bandas suecas que se não fosse por esse meio dos festivais trazerem bandas suecas a gente nunca irá ver por aqui vê se um recbeat coloca uma banda como essas com o Beruit ou como Loney Dear
    tiveram esse ano um ponto positivo não colocaram o Júlia Says para quem gosta de letra boa o Júlia Says não tem.

  15. Posted 26 de setembro de 2009 at 11h34 | Permalink

    Devotos e Subversivos vão pra Europa em 2010, já tão fechando os shows parece.

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