(Os shows do Auditório Tabocas serão escritos por Breno Mendonça)
Para quem acompanha a história desde o início, em 2004, é impressionante o quanto o No Ar: Coquetel Molotov cresceu desde então. Goste-se ou não da programação, é inegável o crescimento do festival durante esses anos, principalmente no quesito estrutura (luz e som impecáveis em todos os shows).. Sem contar que o Beirut fez uma apresentação histórica ontem. Aliás, a banda é um caso à parte. O raro fenômeno de grupo que estoura entre a molecada porque é, de fato, muito bom. O show de ontem serviu para dissipar qualquer vestígio de dúvida em relação a isso. Mas o mais bacana de tudo é que o “No Ar: Coquetel Molotov” começou na segunda-feira passada, com a excelente “Mostra Play The Movie,” no Teatro Apolo, que exibiu filmes de alta relevância e boa parte ainda inédita por aqui. Além de vários debates sobre temas que giram em torno do mercado musical e um pocket show ao final de cada dia.
Entre o filmes exibidos, os destaques e atenções ficaram todos com o emocionante “Loki”, sobre a vida de Arnaldo Baptista, e “Guindable – A Verdadeira História dos Ratos de Porão”. Ambos fizeram com que o público lotasse o Teatro Apolo. “Loki” deixou todo mundo com um nó na garganta, e não foram poucos os que choraram. Não é pra menos. Trata-se da história de alguém que enlouqueceu e conseguiu voltar. Se “Loki” entrar em cartaz no circuito comercial, não perca, pois é uma experiência única escutar e ver Mutantes no cinema.
Já “Guindable – A Verdadeira História dos Ratos de Porão” é um registro corajoso em que todos os músicos que passaram pelo Ratos de Porão passam a limpo suas histórias, falando com franqueza sobre temas espinhosos como envolvimento com drogas e passagens pela polícia. Um dos trechos mais hilários mostra a banda fazendo playback de “Sofrer” no “Milk Shake”, programa de 1991 apresentado por Angélica, e no Programa do Gugu”.
Outro filme que merece registro é “Ruído das Minas – A Origem do Heavy Metal em Belo Horizonte”, belo documento que traz imagens raras do Sepultura tocando em início de carreira, quando Max tinha 16 anos e Igor, 14. Paralelamente, é contada a história do selo “Cogumelo” e de bandas como Overdose, Sarcófago, Chakal e tantas outras. E, também, do mal estar que o sucesso do Sepultura acabou gerando nas bandas daquela geração.
Entre os shows, só consegui ver o do excelente grupo cearense “O Garfo”, que está em turnê de divulgação do novo (e recomendado) ep, “Epizod”.
Só por essa Mostra Play The Movie o pessoal do Coquetel Molotov já merece todos os aplausos do mundo. Evento bem organizado que contou com exibição de filmes inéditos no circuito comercial da cidade, debates e shows. E tudo de graça.
Mas essa mostra foi “apenas” um pequeno aperitivo para o que viria depois. A organização acertou na mosca ao mudar o festival do Teatro da UFPE para o Teatro Guararapes. Porque o público praticamente dobrou desde o ano passado. Gente que trabalha com música há quase três décadas dizia que nunca viu o local com tanta gente. Tanto que o “pré-show” do Beirut foi um show à parte, com o apresentador desesperadamente pedindo ao público para sentar e não invadir o palco. Foi preciso um cordão de isolamento para garantir a segurança da banda e do público. Chegou um momento em que pensei que o desastre seria inevitável. Mas, como bem disse o jornalista baiano Luciano Mattos, o show de Salvador serviu como laboratório para as demais apresentações do Beirut.
Mas a noite começou em clima bem mais sossegado, com o bom show do percussionista Jam da Silva. Talentoso, Jam teve a ousadia de colocar cuíca para dialogar com a música eletrônica. E conseguir – coisa rara – passar a impressão de fazer aquilo com a maior naturalidade, sem forçar a barra. Escudado por um belo time que contava com Garnizé (ex-baterista do Faces do Subúrbio) e Areia (baixista dos mais requisitados da região), Jam levou um público seu para o festival, e acabou conquistando a outra metade da platéia. Entre as boas composições, destaque para “Dia Santo”, parceria dele com Isaar. Os mais maldosos chegaram a sugerir que Jam da Silva seria uma espécie de “Carlinhos Brown indie”. A comparação é injusta, e Jam provou ontem que é possível estabelecer uma relação entre o armorial e a música contemporânea sem cair na cilada de fazer música “para inglês ver”.
Depois veio um show que dividiu opiniões: Thiago Pethit e Tiê. E a coisa foi confusa. Porque, se Tiê realmente comprova que tem talento e é boa compositora, é nítido que ela ainda é muito verde no palco. Seu show, assim como o de Thiago, foi muito bem recebido pelo público, mas deixou uma sensação de vazio. O palco parecia enorme para ela. Tanto que ela encerrou o show meio desajeitada, sem saber ao certo o que fazer, típico de quem ainda não está acostumado a tocar em grandes palcos. Esperava bem mais.
Já o francês Sebastien Tellier soube explorar cada centímetro do palco com muita propriedade. Dono de uma presença forte, misturou camadas de dance music com um quê de rock. E foi justamente esse “quê de rock” que fez toda a diferença. Tocou guitarra como se estivesse entregando a sua alma ali, e nem o fato de solar deitado em posição fetal fez a coisa parecer ridícula. E isso tem uma explicação: havia uma música muito poderosa que preenchia cada lacuna do teatro, o que dividia as atenções com os malabarismos de Tellier. E, quando a música chama mais atenção do que qualquer trejeito histriônico, é porque não estamos diante de uma sonoridade qualquer. Sebastien Tellier encerrou o show ao piano, e foi impressionante como ele conseguiu dar um sotaque “dance music” tocando um instrumento absolutamente tradicional. Belo show.
E aí veio o Beirut. E, com ele, uma boa dose de desespero dos seguranças, da produção e do apresentador. Tudo levava a crer que terminaria em desastre. Todas as regras foram quebradas: cadeiras foram pisadas, bebidas e cigarros consumidos no teatro. E, talvez, justamente por conta disso, a coisa não descambou para a violência. O show inteiro transcorreu sem incidentes, e a banda, de ótimo astral, fez um baita show.
O Beirut me parece um dos raros casos de sucesso que se justifica pelo talento, pela música. Porque, por mais que o Beirut esteja estourado por causa da MTV, novela, filme, comercial ou seja lá o que for, a verdade é que a banda é incrivelmente boa. E seria da mesma forma se fosse um grupo underground conhecido apenas por meia dúzia de gatos pingados. Ontem, vi, música a música, que todo o frisson da molecada em torno da banda é justificável e absolutamente compreensível. Desde a abertura, com “Nantes”, passando por “Postcards” e “My Wyfe”, o que se viu foi um show perfeito, sem falhas, com o público cantando todas as letras do grupo. Até a versão desajeitada para “Aquarela do Brasil”, de Ary Barroso, soou legal e espontânea. O som e a iluminação estavam perfeitos. Os caras estavam num astral fantástico. O público era todo deles. Tinha como dar errado? Após o show, uma menina invadiu o palco para dar uma rosa para a banda, gesto que explica melhor do que mil palavras o que foi a apresentação do Beirut Espero, sinceramente, que você não tenha perdido.
15 Comments
Boa cobertura
acho q a melhor q eu ja vi
Boa cobertura
acho q a melhor q eu ja vi aqui no reciferock [2] imparcial e justa. parabéns
Cobertura otima,que show maravilhoso pois todas as pessoas que passaram por lá estavam entregues a mutidão que fo prestigiar o maravilhoso espetáculo da musica em variados estilos. Adorei ,vibrei …….
amei
entrou um cara fumando maconha do meu lado pô
e vc pediu um pega?
Foi tudo mt lindo!!! Incrivel como o festival cresceu, eu que tambem acompanho desde o inicio, aquele show com o Teenage Fanclub. Estão de parabens!!! E fiquei chocada com o guararapes lotado!
So tenho uma queixa: porque o show do Sebastien Tellier foi tão curto? Como trazer uma cara genial desses, vindo la da França, e so permitir pouquissimo tempo para ele? Vacilaram nisso, apenas.
Infelizmente perdi, mas gostei muito da cobertura do hugo. Agora, gostaria de saber porque esse evento somente ocorre em teatros, isso termina limitando a curtição dos shows, acha que já está na hora de fazer o festival em um lugar como o pavilhão do centro de convenções.
e a loirinha que organiza o festival…..uhhhhhh
que loucura de gata!!!
o pavilhão do centro de convenções é ruim, joão. o abril passou uns 5 anos lá e só piorou com o lugar. deixa a galera no teatro mesmo. parabéns ao molotov desse ano!
Boa cobertura!
E, realmente, não perdi o Beirut! Uffa!
:D
Muitas felicitações ao pessoal do Coquetel.
Enxergo muita competência nesse projeto!
nossa gostei mt da cobertura!
e eu estava la no primeiro dia!
foi realmente perfeito!
simplismente inesquecivel!
nao so pelo lindo show do Beirut mais por td a
programacao!
foi inacreditavel!
Só quero ver depois quantas bandas de RECIFE vão tocar na SUÉCIA !!!
Rapaz as bandas Recifenses fazem várias turnês européias mais exige um pouco da ralação de cada uma um exemplo é a Nação Zumbi que só vive fora ,outro exemplo é o Cordel do Fogo Encantado,Devotos vai agora para Europa em 2010 temos é que agradecer os festivais por darem ao público de Recife oportunidade para ver bandas suecas que se não fosse por esse meio dos festivais trazerem bandas suecas a gente nunca irá ver por aqui vê se um recbeat coloca uma banda como essas com o Beruit ou como Loney Dear
tiveram esse ano um ponto positivo não colocaram o Júlia Says para quem gosta de letra boa o Júlia Says não tem.
Devotos e Subversivos vão pra Europa em 2010, já tão fechando os shows parece.