Cobertura: No Ar: Coquetel Molotov 2009 – Segundo dia

Por Hugo Montarroyos em 20 de setembro de 2009

Ontem foi o dia mais atípico da história do No Ar: Coquetel Molotov. O público, que novamente lotou o Teatro Guararapes, era formado por fãs de Milton Nascimento, fato que acabou gerando um saudável “conflito” de gerações entre os expectadores. A partir de certo momento, quando foi se aproximando a hora do show de Lô Borges com Milton Nascimento, começou a chegar no local um grande número de senhores e senhoras. Além de muitas crianças. A explicação é menos óbvia do que parece. Não foi só o fato da presença de Milton Nascimento que fez com que o perfil do público do festival mudasse. Acontece que o evento cresceu, e deixou de ser aquele festival em que víamos as mesmas pessoas todos os anos. O primeiro dia, com o Beirut, já mostrou isso.

E, como no dia anterior, tudo funcionou às mil maravilhas. Luz e som perfeitos em todos os shows. E uma platéia que parecia mais disposta – e mais educada – em ver todos os shows, ao contrário do que aconteceu no dia do Beirut.

Começo pedindo mil desculpas a Jr. Black, pois só vi a última música de seu show. Ou seja, estou desabilitado para emitir qualquer opinião. Quem viu, por favor, poste nos comentários como foi.

Sou fã incondicional de Maurício Takara. O Hurtmold é uma de minhas bandas preferidas. Mas, ao contrário de todos os outros projetos de Takara (praticamente sócio do festival, pois tocou em quase todas as edições), algo parecia fora de lugar com seu São Paulo Underground. O show foi extremamente chato, monótono, repetitivo, monocórdio. E, pior de tudo, muito pretensioso. Parecia que estavam tocando para eles mesmos, sem dar a menor bola para o público. Este, por sua vez, aplaudiu educada e timidamente o grupo. Amigos meus, que provavelmente entendem muito mais de música do que eu, gostaram do show. Eu, sinceramente, não suportei a infinita jam instrumental que foi a apresentação deles, e respirei aliviado quando terminou. Tenho a nítida sensação de que não fui o único.

E aí aconteceu um fenômeno bem bacana. Os suecos do Loney, Dear tocaram para o público de Milton Nascimento. E foram muito bem recebidos. E com justiça. Dos suecos que já tocaram no festival, o Loney, Dear me pareceu o mais honesto e bem resolvido musicalmente. Seguem a cartilha do Belle & Sebastian, mas de forma que deixa claro que os escoceses são apenas uma influência. Ou seja, não copiam seu som. E ainda misturam folk, rock, música caipira americana. Tudo muito bem feito, resolvido, arranjado e executado. Foram aplaudidos de pé no final. E com justiça.

Mas a grande surpresa da noite veio no final. Para incredulidade do público indie do festival, Lô Borges e Milton Nascimento fizeram um show lindo. Se duvidar, o melhor desta edição do Coquetel Molotov. Ou, talvez, até mesmo da história do festival. Porque tudo ganhou um saudável contorno de iconoclastia. Por alguns momentos, o Coquetel Molotov deixou de ser um evento fechado em si mesmo e passou a ter a cara de um show comum, popular. O público era constituído por todas as faixas etárias possíveis e imagináveis. Ao meu lado, uma senhora que foi sozinha para ver apenas Milton Nascimento. Do outro lado, três meninas que mal pareciam ter saído dos 15 anos, também estavam ali por causa do Bituca. Lô Borges entrou em cena com sua excelente banda, e foi tratando de tocar alguns clássicos do Clube da Esquina, como “Trem Azul” e “Paisagem da Janela”, esta última cantada por todos no teatro. Até que Milton Nascimento é chamado e aclamado pelo público. Até eu, que estou longe de ser fã do cantor, fiquei emocionado. Mas sei reconhecer um bom show, e o de ontem foi sensacional. Ainda mais por tocarem “Resposta”, imortalizada na versão do Skank, e praticamente um estranho no ninho em um festival indie. Milton está debilitado. Mas seu carisma e presença de palco impressionam. Dá até para perdoar o fato dele dizer que a maioria presente não conhecia Leila Diniz (pior que rola um medo de Milton estar certo). Para mim, a imagem que ficará guardada na memória é a de Milton voltando para o segundo bis, sozinho, de violão em punho, para tocar “Um Cafuné na Cabeça, Malandro, Eu Quero Até de Macaco”. Com voz e violão, Milton conseguiu deixar todo o teatro de pé e hipnotizado. E, assim como compreendi perfeitamente por que a molecada é fã do Beirut, entendi por que várias gerações gostam de Milton Nascimento. Trata-se do raro caso de artista que transcende os limites do gosto pessoal.

6 Comments

  1. Posted 20 de setembro de 2009 at 22h40 | Permalink

    ótimo texto… muito bem escrito. parabéns pela cobertura que vocês fizerama através dos textos.

  2. Davi Q.
    Posted 20 de setembro de 2009 at 23h30 | Permalink

    Bom texto, legal vocês sempre escrevendo =]
    O show de Jr. Black foi animal… muito bom.
    E vocês esqueceram da cobertura do auditorio tabocas…
    Dos que eu me lembro o show de zombie zombie foi legal…
    Mas Radistae apavorou… muito massa msmo!

  3. Edson
    Posted 21 de setembro de 2009 at 8h21 | Permalink

    O bruno retratou bem o que aconteceu,o Milton é um dos grandes caras da nossa música,vc pode ater não gostar ,e não parar para escultar Milton Nascimento,más se vc olhar um show do cara e não gostar é como renegar seu proprio país,o cara canta pra caralho,sem duvida o melhor te todo o festival.

    http://www.myspace.com/alfolia

  4. Posted 21 de setembro de 2009 at 17h26 | Permalink

    Sábado foi FODAAAA!!!!

    Zombie Zombie foi lokoooo de bom!!! Surreal assistir um show dakeles.

    So acho que o show do LONEY,DEAR surpreendeu a todos e foi emoção pura, excelência musical, composições com melodias belissimas, músicas crescentes, e super simpatia no palco. Melhor banda sueca a passar no coquetel e um dos melhores shows de todas as edições.

    Lô borges que deixa mt a desejar quando canta…ate irritou em alguns momentos, apesar das belissimas composições. Milton arrasou mesmo!!!! Foi maravilhoso!! PARABENS!!!

  5. Posted 21 de setembro de 2009 at 23h38 | Permalink

    Eu também também não aguentei o São Paulo Undergrand não fiquei de lado de fora procurando a banca do Recife Independente que por sinal não foram,mais o Loney Dear foi foda,e quando a produção do Coquitel Molotov fazer a divulgação das atrações façam direito pois avisaram que ia ser o clube de esquina e faltou muita gente,mais o Lô Borges com o Milton valeu o ingresso,eu já era fâ do Lô Borges descobrir ele com o Paralamas virei mais fâ ainda.Sem Falar os Suecos do Loney Dear arebetaram .
    Agora fico a fazer uma pergunta para o pessoal da Comunidade do Coquitel Molotov falava que o ingresso nos outros anos tavam mais baratos e desse ano tava caro agora fica a pergunta onde a gente vai pro um show só do Lô Borges ou só do Milton Nascimento por 40 reais ou só do Loney Dear?
    Quanto a molecada que estava lá encontrei muitos amigos meus que falaram que não iam entrar por causa que não conheciam o Lô Borges ou Loney Dear.

  6. Átila Zapata (Autores do Regresso)
    Posted 24 de setembro de 2009 at 16h22 | Permalink

    Galera Parabéns! Munto boa a programação do Coquetel Molotov 2009. Estão todos de parabéns. É por pessoas com identidade como vocês, que Recife existe como baluarte da música e cultura nacional.
    Abraços a todos!

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