Tapa na Orelha: Sobre RecBeat, multiculturalismo e Simply Red

Por Hugo Montarroyos em 5 de fevereiro de 2010

Algumas pessoas deixaram de correr desesperadas para o litoral.

Houve um tempo, nem tão distante assim, em que a palavra “Multicultural” não era atrelada ao carnaval. Quem não fosse lá muito fã de folia, frevo e cia tinha poucas opções. Uma delas era zarpar para qualquer praia ou cidade sossegada. Outra era pegar vinte filmes e passar os quatro dias em casa vendo “Laranja Mecânica” ou qualquer outra coisa. E, finalmente, encarar destemidamente os dias de folia no meio da farra. Quando o RecBeat surgiu, ele, de cara, ganhou a simpatia de quem se sentia um E.T. no carnaval. Porque a ditadura de momo era pesada: querendo ou não, você só ouvia axé, frevo e samba 24 horas por dia (o maracatu ainda não estava na moda). Em qualquer esquina da cidade.

O grande charme do RecBeat vinha daí: um lugar onde você ouvia rock, música eletrônica, punk, carimbó, o escambau. Tudo que não tinha qualquer vinculação estética ou ideológica com o carnaval. Algumas pessoas deixaram de correr desesperadas para o litoral. Outras abandonaram o hábito de locar dezenas de filmes até a quarta-feira de cinzas. Recife finalmente tinha um programa decente para quem não gosta de folia. Só que aí vieram a prefeitura e o governo e, pimba, tatuaram a palavra “Multicultural” no céu de toda a cidade. Amplificou em três milhões o raio de alcance dos tentáculos do Rec-Beat. Todo mundo passou a vir tocar no Recife no Carnaval. Da banda mais independente até o artista mais badalado. De Ivete a Pavilhão 9, tinha de tudo para todos em todos os lugares. E aí, obviamente, o Rec-Beat precisou se reinventar. A ponto do festival preferir (e acho que ele está certo) pouco público à loucura de gente que tem sido os shows no Marco Zero nos últimos anos. Como todo mundo (e você sabe que é todo mundo MESMO) vem tocar no Carnaval, a solução encontrada pelo RecBeat foi focar em atrações menos conhecidas (Nota do editor: Como disse Gutie em entrevista ao RecifeRock! “o conceito que sempre norteou o RecBeat: prioridade para o inusitado, o irreverente, o ousado, sem esquecer o link entre tradição e novas tendências.”) que não tornasse o Paço Alfândega um inferno. Não fosse assim, perderia a sua razão de ser. Viraria apenas mais um pólo do Carnaval, como qualquer outro de qualquer periferia.

Eu demorei bastante para registrar aqui uma opinião sobre a programação deste ano. Esperava uma avalanche de críticas. Mas, ao contrário do que pensei, as primeiras opiniões foram bem positivas. De minha parte, gostei bastante. Tem um monte de gente que não conheço, e gostei justamente por isso. Quem eu conheço já estará aqui tocando em outro pólo. Essa edição está um pouco mais alternativa que o de costume. E, em alguns casos, o festival acertou na mosca. Um dos maiores acertos foi a Volver. Valeu a pena para a banda esperar tanto tempo. Subirá ao RecBeat em um belo momento da carreira, com a moral alta e clima de nova despedida, já que voltam a São Paulo logo depois do carnaval. Quem deve surprender é a Caldo de Piaba. Olho neles. Magic Slim é unanimidade. E, definitivamente, este será o RecBeat de Céu, que transita muito bem nos universos mainstream e alternativo. Estou longe de ser fã da moça, mas, nessa grade de programação, ela caiu muito bem, obrigado. No mais, quero ver Lucas Santana, Diversitrônica e Stela Campos. Sempre dá para peneirar pelo menos uns quatro shows muito legais em cada edição do RecBeat. Você, que nesse momento talvez esteja ladrando contra a escalação do RecBeat, agradeça a sorte que tem. Na minha época, não existia RecBeat. Mulicultural, então, nem se fala. Capaz da galera achar que fosse nome de cereal.

Ah, quase esquecia do Simply Red. Posso estar tremendamente enganado, mas duvido que o público deles seja o mesmo do Abril pro Rock. Se ele ainda existe, é o que Lobão chama de “adulto-contemporâneo”, que é um belo de um eufemismo para careta: gente que usa gravata, está na faixa dos quarenta e tantos e que tem uma bela grana para ostentar. Bem parecido com o do APR, não?

Boa folia! Use camisinha (se tiver sorte), não se meta em briga e lembre-se sempre que alguém que te ama muito o espera de volta em casa (essa eu roubei de Cannibal). Nos vemos no RecBeat.

28 Comments

  1. Posted 6 de fevereiro de 2010 at 13h52 | Permalink

    hugo, poucas pessoas conseguem ter uma leitura tao certeira do rec-beat como vc alcançou nesse seu texto. fico gratificado ao saber que tem gente entendendo….abrs

  2. Posted 6 de fevereiro de 2010 at 16h29 | Permalink

    E, em alguns casos, o festival acertou na mosca. Um dos maiores acertos foi a Volver. Valeu a pena para a banda esperar tanto tempo. Subirá ao RecBeat em um belo momento da carreira, com a moral alta e clima de nova despedida, já que voltam a São Paulo logo depois do carnaval

    ???????????????????????????????????????

  3. ze
    Posted 6 de fevereiro de 2010 at 18h57 | Permalink

    A salvação do carnaval de pernambuco

  4. Posted 7 de fevereiro de 2010 at 0h58 | Permalink

    Hugo,
    clap clap clap clap clap de pé.

  5. Perfect Strangeer
    Posted 7 de fevereiro de 2010 at 8h13 | Permalink

    Volver se despedindo de novo? eu nao aguento isso.

  6. Posted 8 de fevereiro de 2010 at 0h06 | Permalink

    galera da volver tá acumulando muitas milhas, kkkkkk

  7. Posted 8 de fevereiro de 2010 at 14h03 | Permalink

    pois eh, eu vi que a coisa não deu certo no ABRIL PRO ROCK com 4 mil pessoas cantando TODAS as músicas junto com a VOLVER! IN-VE-JO-SO! A banda tem um grande publico em Recife, muito grande mesmo, chegue lá no Rec Beat pra vc ver! TODO MUNDO CANTANDO! A banda foi pra São Paulo pra conquistar ainda mais coisas e deu tão certo que eles estão morando lá agora!

  8. Posted 8 de fevereiro de 2010 at 15h04 | Permalink

    E pra quem não conhece ainda a música do Ze Manoel, vai ser uma surpresa boa o show no sábado. o recbeat multicultural não podia ter deixado de fora esse menino pernambucano de petrolina que tá encantando muita gente Brasil afora. O show dele é lindo, encantador e eu não perco de jeito nenhum! :D

  9. Posted 9 de fevereiro de 2010 at 14h41 | Permalink

    A Volver tem competência para tar onde está não é atoa que chegaram na minha humilde opinião ser um dos melhores shows do abril pro rock,botando um nome como Marcelo Camelo no bolso que era atração principal vai ser show show da Volver
    o joseph torton eu nunca pude ir um um show para ter uma opinão formada mais pelo cd é bom

  10. Posted 9 de fevereiro de 2010 at 16h53 | Permalink

    NXZERO tb faz shows para milhares de pessoas. volver vai abrir para eles. suck this!

  11. Posted 9 de fevereiro de 2010 at 16h58 | Permalink

    e vai surgir nego aqui ainda dizendo que NXZERO faz rock and roll…

    por mim podem tocar até para o papa. mas pelo amor de deus…não usem o nome do rock em vão amigos!!

  12. Posted 9 de fevereiro de 2010 at 20h44 | Permalink

    ze vc é um verme. será que tu é o Deus do rock ou apenas um imbecil que tem opniões quase adolescentes que fica perdendo tempo num site falando mal dessa ou daquela banda fazendo o som lixo que vc faz. cara, na boa, se mata.

  13. Posted 9 de fevereiro de 2010 at 21h59 | Permalink

    alto nível esse comentario ai de cima

  14. Posted 9 de fevereiro de 2010 at 22h31 | Permalink

    no dia q alguem aí em cima ouvir anos 50,60 e 70
    poderão opinar sobre musica
    do contrario sao leigos no assunto….

  15. Fábio
    Posted 10 de fevereiro de 2010 at 9h40 | Permalink

    Bom dia. Hoje eu li no JC que Deeder Zaman (ex asian dub foundation) tocará no rec beat com Julia Says, eu não vi o nome de nenhum dos dois na programação, sabes onde eles tocam?

    Valeu,

  16. Posted 10 de fevereiro de 2010 at 11h55 | Permalink

    Fabio, o Deeder Zaman vai tocar na Tenda Eletrônica, não no palco do Recbeat. Só não sei o dia.

    abs.

  17. Posted 10 de fevereiro de 2010 at 14h50 | Permalink

    Hugo saca só o início desse texto aí… foi publicado no Jornal da Paraíba. Peguei no site do Rec Beat. Total semelhança com o seu… e acho que não é mera coincidência por pela data o seu foi publicado primeiro. É obvio. Estou passada!

    Festival Rec-Beat aproxima o Nordeste da música pop da América Latina
    Por Carolina Queiroz

    “Houve um tempo, nem tão distante assim, em que havia pouca alternativa para o carnaval. Quem não fosse lá muito fã de folia, frevo e companhia tinha poucas opções. Ou zarpava para uma cidade mais sossegada, ficava em casa, ou encararia destemidamente os dias de folia em meio a farra.

    Quando o ‘Rec-Beat’ surgiu, de cara, ganhou a simpatia de quem se sentia um ‘estranho no ninho’ bem no meio da festa, já que a ditadura carnavalesca era contundente: você só ouvia axé, frevo ou samba.

    Desde 1995, o carnaval em Pernambuco não é mais o mesmo. Foi neste ano que surgiu o ‘Festival Rec-Beat’, que é hoje um dos maiores eventos carnavalescos do calendário pernambucano, consagrando ritmos alternativos em plena folia. Com a mistura explosiva de blues, rock, música flamenca, ragga, surf e outros gêneros.

    O charme do ‘Rec-Beat’ sempre foi a opção de ouvir, em pleno carnaval, tudo que não tinha vinculação estética com ele e o que parecia improvável na época logo se revelou um sucesso. Reunir bandas de rock e de outros estilos que não são (oficialmente) carnavalescos para tocar no berço do frevo é, no mínimo, ousado. Diversão, irreverência e originalidade são ingredientes deste evento, que apresenta sempre novas e diferentes atrações para quem participa do carnaval pernambucano…”

  18. ui
    Posted 10 de fevereiro de 2010 at 18h52 | Permalink

    a casa caiu

  19. Posted 11 de fevereiro de 2010 at 1h18 | Permalink

    Carol Augusta, muito obrigado! Não tinha conhecimento desse texto do Jornal da Paraíba.

    É a tercera vez que isso acontece. A primeira foi com a “Trip”, que copiou um trecho enorme da minha cobertura do “Skol Hip Hop”. Depois, o site da “Rolling Stone”, que pegou boa parte da minha cobertura do RecBeat. E agora o “Jornal da Paraíba”. Sinceramente, me sinto até lisonjeado. Se copiaram, é porque acharam legal. Gostaria muito que a menina que “fez” o texto viesse cobrir o RecBeat, assim “trocaríamos” umas ideias…..

  20. Posted 11 de fevereiro de 2010 at 9h24 | Permalink

    Acho deprimente que um profissional de comunicão tenha que recorrer a cópia de outro texto de um colega de profissão. Presumi-se, no mínimo, a falta de conhecimento da jornalista, o que é mais deprimente ainda.

  21. Posted 12 de fevereiro de 2010 at 14h14 | Permalink

    Processa geral Monta!!!!!!!!!!!!!!!

    hehehehehehehe

    Rapaz, é mais ou menos por ai mesmo, o recbeat vai ser divertido pelo desconhecido, mesmo achando que Cidadão deve ser um dos shows do festival.

    :)

  22. Posted 12 de fevereiro de 2010 at 15h40 | Permalink

    Af, tem que ter alguém aqui batendo boca. E o cara tem que virar especialista em ROCK pra ouvir?????? Se nego quiser idolatrar nx zero, ema ema ema. Sorte de quem for curtir o show, cantar e até chorar por um autógrafo.

    Fico eu pensando que esse tipo de pensamento aí como o do renato, a geração dos nossos pais teve quando a gente corrida pra pegar o LP novo do Guns!

    Agora eu vou levantar uma bola:
    QUEM AQUI DEU ALGUMA SUGESTÃO DE PROGRAMAÇÃO PARA O RECBEAT??? (vale email “perdido” pra prefeitura, cartinha, sinal de fumaça, sequestro do secretário – “o resgate é um show do sepultura!”)

    Aproveitem o carnaval motherfuckers!

  23. Posted 14 de fevereiro de 2010 at 15h40 | Permalink

    Realmente o Recbeat acertou na mosca!!! Conseguiu afastar o publico. Foi perfeito!!! Vou seguir Otto,Siba e Fuloresta e se quiser um cerveja vou pro Bomber. A unica coisa ruim e que eles só vão abrir até o Sábado. Uma pena.

  24. nandafox
    Posted 15 de fevereiro de 2010 at 12h46 | Permalink

    O marco zero parece uma cena da Divina comédia do Alighieri em cores berrantes, n dá , n tem condições de ser ficar ali, n fico nem a pau mais, prefiro a tranquilidade do paço mesmo, que tá muito bom msmo. Parabéns pelo teu texto, Hugo, vou ser redundante, vc acertou na mosca, como sempre !!!

  25. Posted 15 de fevereiro de 2010 at 18h07 | Permalink

    Eu trabalho próximo ao marco zero e praticamente vi toda a montagem das estruturas do carnaval ali no bairro do recife antigo.Já era de se esperar a falta de espaço ali naquele ambiente,pois ao meu ver houve um grande exagero também nas estruturas de mesa de som(na frente do palco e tomando a visão de quem estivesse mais afastado na rua marquês de Olinda), camarotes de emissoras , uma extensa grade reservando muito espaço na frente do palco( pois eles eram pra ter bolado algo que após a abertura do carnaval e apresentação dos batuqueiros, retirassem aquela área reservada e no dia do encerramento do carnaval estabeleceria a área novamente) .
    Muita estrutura metalica, enfim exageradamente mesmo.
    Não fui ainda ao Recife antigo,mas olhando pela TV tenho uma real noção do que o povo deve está passando ali.

  26. Felipe
    Posted 17 de fevereiro de 2010 at 19h01 | Permalink

    Sempre existem pessoas pra apontar e depreciar o trabalho dos outros.

  27. Posted 22 de fevereiro de 2010 at 11h46 | Permalink

    Hugão, já te falei que tu é meu orgulho? Apesar de não ter ido um dia ao RecBeat, adoro ler teus textos e confirmar o teu bom gosto, boas dicas e saber (pelo reciferock) o quanto o evento foi um sucesso.

  28. marco da lata
    Posted 10 de março de 2010 at 16h30 | Permalink

    que saudade do recbeat em olinda, pagando 5 paus pra ver mundo livre, devotos e uns batuques fracos. mas só ia que realmente caçava o que fazer maqueles tempos. hoje cai tudo do céu de graça no colo da galera. quero ver quem vai reclamar do preço do apr esse ano….

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