A regularidade talvez tenha sido uma das principais marcas da 15º edição do RecBeat. Poucos (aliás, pouquíssimos) shows foram realmente ruins. A maioria oscilou entre bom e ótimo. Alguns, também em pouca quantidade, foram apenas razoáveis.
Outro fato que merece destaque: 90% dos shows contaram com som perfeito, o que já é uma marca consolidada do festival nos últimos anos.
O terceiro dia – e talvez o festival – foi mesmo de Céu. Todas as atenções estavam voltadas para a paulista. Tanto que o surpreendente público que lotou o Paço Alfândega no agitado show do grupo espanhol Ojos de Bruxo não se mexeu durante toda a apresentação deles, dando claros sinais de que estava se poupando para quando Céu entrasse em cena. A noite contou ainda com bela apresentação do Diversitrônica e a surpresa belga Madensuyu, que fez um dos melhores shows do festival. Só Stela Campos destoou um pouco, mas não chegou a comprometer.
Para quem conhece o Diversitrônica de outros carnavais, não é nenhuma novidade o fato de serem muito bons. Novidade mesmo foi vê-los tocando com toda a estrutura que o RecBeat oferece. E eles sem aproveitaram bem dela. A banda faz música eletrônica, mas como conta com baixista e baterista em sua formação, fica menos mecânica, mais pesada e extremamente interessante. Suas músicas, quase sempre muito longas, tiveram ótima acolhida pelo público. Assim como a apresentação de A Banda de Joseph Tourton, foi dos melhores shows de abertura que o RecBeat já viu.
A paulistana Stela Campos morou seis anos no Recife. Acompanhou e participou da fomentação de toda cena musical de Pernambuco no início dos anos 90. Sua banda, Lara Hanouska, circulou pelo underground pernambucano. Mas Stela tem um problema grave que pouca gente abordou desde então: sua voz. Tudo bem que ser cantora nunca foi sua proposta, mas, ainda que seja à frente de uma banda de rock, seu vocal não colabora. Por outro lado, para quem a acompanhou em outros projetos, é nítido que evoluiu em outros critérios. Sua banda, por exemplo, parece melhor e mais ensaiada do que qualquer outra em que já esteve. Dois momentos distintos do show colaboraram para a impressão de bipolaridade que ele teve: primeiro, na boa versão que fez para “Criança de Domingo”, do Funziona Senza Vapore, imortalizada na voz de Chico Science. Depois, apresentou uma versão improvisada e frustrante para “Baile Perfumado”, música de Zeroquatro cantada por ela em trilha sonora de filme homônimo. Um retrato perfeito do que foi seu show: cheio de altos e baixos.
A banda belga Madensuyu subiu ao palco do RecBeat com o formato mais desgastado da última década: guitarra e bateria. Mas, apesar do que a formação sugere, nada ali lembra o White Stripes. Tocando ladeados sobre uma plataforma, a dupla vai de pós-punk, rock inglês dos anos 80, um pouco de gótico e muito, muito peso em algumas passagens. Incrivelmente difícil de definir, e muito fácil de se deixar envolver. O show não perdeu o interesse em um só instante, e a cada segundo éramos levados para uma dimensão musical diferente. Animada, a dupla sentiu que a plateia respondia positivamente à sua música, e tratou de se multiplicar como se fossem seis tocando no palco. Sei que os shows de Céu e da Original Olinda Style empolgaram mais, mas isso já era esperado. Improvável é que uma banda belga roube a cena no RecBet. Para mim, melhor show desta edição do festival. Depois Gutie me contou como havia descoberto a banda: a partir de um texto de Fábio Massari. O Reverendo nunca se engana…
A Ojos de Bruxo foi justamente o oposto: gente demais no palco, com direito até a dançarina de flamenco sapateando. O problema da banda espanhola é que ela quer ser muita coisa ao mesmo tempo, e acaba ficando sem identidade. A necessidade de traçar uma linha entre tradição e modernidade também incomoda, pois acaba diluindo o que é tradicional e tornando careta o que deveria ser moderno. No mais, seu show é grandioso, de encher os olhos, mas em momento algum chega a empolgar. Talvez funcionaria melhor se fosse escalada em outro dia. Na noite de Céu, não teve vez.
Não sou fã de Céu. Permaneço achando que ela é mais uma entre centenas de cantoras brasileiras modernas a pipocar no mercado. Mas, mesmo não sendo fã, dá para apontar algum defeito em seu show no RecBeat? A produção é impecável, a banda é maravilhosa (o baixista é sensacional) e, sim, a menina canta muito. Some-se a isso tudo uma multidão disposta a cantar junto e pronto, você tem um show perfeito.
13 Comments
Exatamente Hugo, o baixista de ceu é sensacional.
Existe uma enxurrada de cantoras e existe Céu.
Seu som, com forte influência jamaicana, é seu diferencial.
Como se não bastasse ainda canta pra caralho!
PS: Está longe de ser verdade que o público não se mexeu durante o show do Ojos de Bruxo. Tiveram bastante intereção com a platéia e foram bastante aplaudidos.
Eu achei divertido, e só. Quer dizer, tá mais que bom.
Só mais uma cosita.
O show de Céu foi bonzão e tal.
Mas, acreditem, o show no teatro da UFPE foi ainda melhor.
Não em termos de intereção com o público, e sim, em termos de performance vocal e da banda.
Qualidade de som de teatro, todos sabem, é diferente.
InterAção, óbvio.
Arnaldo Antunes – Pátio de São Pedro
Eu nem queria saber o que haveria de show no Marco Zero e nem mesmo no Rec Beat: Segunda feira era o show de Arnaldo Antunes!O Patio exalava o clima carnavalesco. Quanta purpurina! O mundo gay mostrava as suas garras de fora sem o menor pudor….Viva a diferença…Quando cheguei tocava o JR Black, o som nao estava lá essas coisas e ainda vou descobrir o que separa os grandes dos pequenos…um dia descubro… Logo apos sobe ao palco karina Blur, o seria Bur , ou BUhr…nao sei….mas novamente me vem a convicção que um dia descubrirei!!!!Após uma passagem de som de meia hora mais ou menos, eis que é apresentando Arnaldo Antunes! Subitamente, musica a musica, me vem com clareza o que separa os grandes dos pequenos: Carisma, experiencia, simplicidade e voracidade quando se faz da musica extensao da alma. O show foi baseado totalmente no novo disco intitulado Ie Ie Ie…Arnaldo com sua ja conhecida verve poetica nas letras que desafiam o senso comum dominava totalmente o palco, o auxilio luxuoso de Edgar Scandurra nas guitarra dava o tom da festa. O ex Ira nao se conteve e disse : Valeu Recife ! Isso que é carnaval! Arnaldo Antunes confessou que ” depois de ser recebido e tratado tão bem da vontade de nao ir mais embora”… Musicas como ” Invejoso”, ” Longe” , ” Consumado” fizeram daquela noite de carnaval de segunda feira um dia pra se lembrar…No final, a banda volta ao palco e toca mais 3 musicas, entre elas o hino hit ” Socorro” entoado em peso por todo Patido de Sao Pedro.É um gigante Titã mostrando como é que se faz…Nota: Otto desfilava com uma ruiva pelas ruas, feliz da vida e com um copo na mão!!
Pô, o foda é isso, André, tem show pra caralho!
Fica difícil escolher.
O show de Otto foi do caralho lá no Marco Zero e a mocinha é Karina Buhr, que aliás lançou um cd muito do bom por esses dias.
O nome dele: Eu Menti Pra Vc.
Baixem, ou comprem, que vale a pena.
Madensuyu sensacional realmente. Muito bom o show da Diversitronica e céu com muito publico e pouca empolgação. Nao digo que é ruim, so nao viajo mesmo nela.
A banda de apoio dela é muito bom e a moça ainda traz guizado pro show, é ate sacanagem com as outras bandas.
Hugo, só uma correçãozinha: “Criança de Domingo” não é do Fellini, e sim do Funziona Senza Vapore, projeto que reunia 3 integrantes do Fellini (Cadão, Salvagni e Jair) e Stela Campos. Inclusive, na versão original, Stela faz o backing vocal :)
Valeu, Tarta!
Corrigido =)
Abraço!
Ojos de Brujo sem identidade?! Oo
Não aguento mais ler suas críticas…
Achei Ojos bem chato tb, mas a melhor definição foi de Thiago Soares:
“Vamo combinar: aquela coisa podry Ojos de Brujo é banda de receptivo de aeroporto na Espanha, né? Clichê uó. Quanta perda de tempo, ”
http://twitter.com/thikos/status/9174394138
Nesse dia assisti mais um show historico da nação zumbi, desta vez na Varzea, e cheguei a conclusão de que o carnaval tem que recheado com a NZ, pois cada show é diferenciado sem cair no mesmismo.
Na revista Billboard desse mês tem uma reportagem sobre o carnaval de Recife e o cara fala que o show do Ojos de Brujo foi o melhor e o mais empolgante do Rec Beat.
É ou não é uma maravilha?
Cada um com suas percepções.
One Trackback
[…] LEIA MAIS AQUI […]